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CAPÍTULO 34
- Como agente de ligação com a Casa Branca - dizia Rachel Sexton, tentando manter a voz firme enquanto se dirigia ao grupo de pessoas na tela à sua frente -, minhas tarefas incluem eventuais viagens para locais de importância política ao redor do globo, a análise das situações e posterior elaboração de relatórios para o presidente e para a equipe da Casa Branca.

Uma gota de suor se formou no alto de sua testa e Rachel removeu-a de maneira sutil, amaldiçoando o presidente mentalmente por tê-la colocado naquela situação sem nenhum aviso prévio.

- Nenhuma de minhas viagens anteriores havia sido para um lugar tão exótico - disse Rachel, apontando o trailer cheio de equipamentos em torno dela. - Inacreditavelmente, estou falando com vocês, neste momento, de uma geleira com 90 metros de espessura situada acima do Círculo Ártico.

Ela pôde sentir a expectativa e a perplexidade se espalhando nas faces das pessoas. Todos sabiam, é claro, que haviam sido espremidos dentro do Salão Oval por um bom motivo, mas certamente não esperavam que estivesse relacionado a eventos ocorrendo acima do Círculo Ártico.

O suor começou a escorrer novamente. Concentre-se, Rachel. Isso é só parte do que você faz diariamente.

- Estou perante vocês, nesta tarde, com grande honra, orgulho e, acima de tudo, muita emoção.

Olhares vagos na tela.

Que se dane, pensou ela, raivosamente secando o suor. Eu não pedi para estar aqui. Em uma situação daquelas, sua mãe provavelmente diria:

"Quando não souber bem o que dizer, apenas diga!" A frase continha uma das crenças básicas de sua mãe, a de que qualquer desafio pode ser superado quando se fala a verdade, não importa qual seja.

Respirando fundo, Rachel endireitou-se na cadeira e olhou firme para a câmera.

- Pessoal, mil desculpas. Vocês não devem entender como posso estar suando em bicas numa geleira... Bem, estou um pouco nervosa.

As pessoas se mexeram um pouco. Houve risadas contidas.

- Além disso, seu chefe só me avisou com 10 segundos de antecedência que eu iria me deparar com toda a sua equipe reunida. Esse batismo de fogo não é exatamente o que eu esperava em minha primeira visita ao Salão Oval.

Mais risadas desta vez.

- E - disse ela, olhando para baixo da tela - eu certamente não imaginei que estaria sentada na mesa do presidente... muito menos sobre ela.

Essa última tirada provocou gargalhadas e sorrisos abertos. Rachel sentiu sua musculatura relaxar. Basta ir direto ao assunto agora.

- Vou lhes explicar a situação. - Ela podia reconhecer a própria voz

agora. Clara e serena. - O presidente Herney tem estado fora da mídia durante esta última semana não por falta de interesse em sua própria campanha, mas porque esteve profundamente envolvido com um outro assunto. Uma questão que lhe pareceu muito mais importante.

Rachel fez uma pausa, percorrendo sua audiência com o olhar.

- Uma grande descoberta científica foi feita aqui, neste lugar chamado geleira Mune, no Ártico. O presidente irá informar o mundo inteiro a esse respeito durante a coletiva de imprensa hoje, às oito da noite. A descoberta foi feita por um esforçado grupo de americanos que tem sofrido uma série de reveses nos últimos tempos e merece algo de bom. Estou me referindo à NASA. Vocês podem sentir-se orgulhosos sabendo que seu presidente, aparentemente com uma clarividente confiança, fez questão de apoiar a NASA durante este período difícil. Agora parece que sua lealdade foi recompensada.

Foi só então que Rachel percebeu o quanto aquele momento era histórico. Sentiu sua garganta se contraindo, mas abstraiu-se da tensão e seguiu em frente.

- Como uma agente de inteligência especializada na análise e verificação de dados, sou uma dentre diversas pessoas que o presidente chamou para verificar e corroborar os dados da NASA. Examinei-os pessoalmente e também conversei com diversos especialistas tanto do governo quanto civis, cientistas cuja reputação está acima de qualquer dúvida e cuja magnitude está além de influências políticas. É minha opinião profissional que os dados que irei lhes mostrar em seguida são inteiramente factuais em sua origem e imparciais em sua forma de apresentação. Além disso, é minha opinião pessoal que o presidente está agindo de boa-fé e fazendo jus às responsabilidades de seu cargo e à confiança depositada nele pelo público norte-americano. Ele mostrou cuidado e prudência admiráveis ao retardar esta declaração que certamente gostaria de ter feito na semana passada.

Rachel viu as pessoas trocarem olhares surpresos antes de voltarem toda a sua atenção para ela.

- Senhoras e senhores, vocês estão prestes a ouvir aquilo que, tenho certeza, será uma das mais interessantes informações já divulgadas nesta sala.



CAPÍTULO 35
A imagem transmitida para a Força Delta pelo microrrobô que circulava no interior da habisfera poderia certamente ganhar um prêmio num festival de filmes de arte. As luzes eram fracas, o poço de extração reluzia e havia um asiático bem vestido deitado sobre o gelo, com um casaco estendido em volta dele como se fosse uma grande asa. Ele estava tentando obter uma amostra de água.

- Temos que impedi-lo - disse Delta-Três.

Delta-Um concordou. A plataforma de gelo Milne escondia segredos que sua equipe tinha que proteger usando a força se necessário.

- Como vamos detê-lo? - perguntou Delta-Dois, ainda segurando o joystick. - Esse microrrobô não está equipado para ataque.

Delta-Um deixou transparecer sua raiva. O microrrobô que estava no interior da habisfera era um modelo de reconhecimento, com o peso reduzido ao mínimo para ganhar maior autonomia de vôo. Era tão mortífero quanto uma mosca.

- Devemos chamar o controlador - declarou Delta-Três.

Delta-Um observou atentamente a imagem de Wailee Ming, sozinho e precariamente debruçado sobre o poço de extração. Não havia ninguém por perto e aquela água quase congelada não lhe daria muito tempo para gritar.

- Me passa os controles.

- O que você vai fazer? - perguntou Delta-Dois, entregando-lhe o joystick.

- Aquilo que fomos treinados para fazer - respondeu Delta-Um com rispidez, assumindo o comando. - Improvisar.



CAPÍTULO 36
Wailee Ming estava deitado sobre seu estômago ao lado do buraco de extração, com o braço direito estendido por cima da borda tentando pegar uma amostra de água. Não havia ilusão de ótica nenhuma. A poucos palmos da água, ele podia ver tudo claramente. Isto é incrível!

Alongando-se mais um pouco, Ming passou a proveta entre seus dedos,

tentando encostá-la na superfície da água. Só precisava de mais alguns centímetros.

Não conseguindo estender seu braço além daquele ponto, ele decidiu posicionar-se mais perto do poço. Pressionou a ponta das botas contra o gelo e recolocou firmemente a mão esquerda na borda. Mais uma vez, estendeu o braço direito o máximo que pôde. Quase lá. Chegou um pouco mais perto. Isso! A borda da proveta desceu abaixo da superfície da água e, enquanto o tubo se enchia, ele olhava admirado.

Então, sem aviso algum, algo inexplicável aconteceu. Do nada, saindo da escuridão, como uma bala disparada de uma arma, uma pequena ponta de metal atingiu seu olho direito.

O instinto humano de proteger o olho está tão profundamente arraigado que, apesar do cérebro de Ming lhe avisar que qualquer movimento rápido poria em risco seu equilíbrio, ele estremeceu. Foi uma reação rápida, mais pela surpresa do que pela dor. A mão esquerda, mais próxima de seu rosto, lançou-se instintivamente para proteger o globo ocular atingido. Sua mão ainda estava em movimento quando ele percebeu que cometera um erro.

Como todo o seu peso estava lançado para a frente, ao remover seu único ponto de apoio Wailee Ming se desequilibrou. Quando se recompôs já era tarde. Deixou cair a proveta e tentou segurar-se no gelo liso para evitar a queda, mas não conseguiu. O paleontologista escorregou e caiu na escuridão do poço.

A queda foi rápida, mas, assim que sua cabeça mergulhou na água gélida, pareceu que tinha se chocado contra concreto a 80 quilômetros por hora. O líquido em volta era tão frio que dava a mesma sensação de ácido corroendo a pele. Provocou um espasmo de pânico instantâneo.

De cabeça para baixo na escuridão, ele ficou temporariamente desorientado, sem saber para onde se virar em direção à superfície. O casaco grosso protegeu seu corpo do choque térmico, mas apenas durante um ou dois segundos. Quando conseguiu se ajeitar e colocar a cabeça para fora, tentando respirar, a água já havia chegado às suas costas e ao seu peito, engolfando todo o corpo em um torniquete de gelo que esmagava seus pulmões.

- Só...corro - tentou gritar, mas sua voz saiu engasgada. Mal conseguia puxar ar suficiente para soltar um gemido. Sentia-se como se todo o ar houvesse sido sugado dele.

- Sooo...coor... - Seus gritos eram tão fracos que nem ele mesmo conseguia ouvi-los. Ming lutou para chegar à extremidade do poço e tentou puxar seu corpo para fora. A parede à sua frente era de gelo vertical. Não havia onde se segurar. Debaixo da água, chutava o gelo com as botas, tentando encontrar um ponto de apoio. Nada. Estendeu o braço para cima, tentando alcançar a borda, mas ela estava uns 30 centímetros além de seu alcance.

Seus músculos estavam começando a não responder. Mexeu as pernas com mais força, tentando levantar-se um pouco para conseguir alcançar a borda. Seu corpo parecia feito de chumbo e seus pulmões pareciam ter se contraído a zero, como se esmagados por uma jibóia. Seu casaco encharcado estava ficando cada vez mais pesado, puxando-o para baixo. Ming tentou tirá-lo, mas sentiu o tecido grudado no corpo.

- Socorro...

O medo tomou conta dele.

Ming havia lido uma vez que a morte por afogamento era a pior que se podia imaginar. Nunca imaginara que estaria tão próximo de passar por essa experiência. Seus músculos se recusavam a cooperar com sua mente, e o esforço para manter a cabeça fora da água parecia sobre-humano.

Suas roupas encharcadas o puxavam para baixo e seus dedos dormentes arranhavam as paredes de gelo.

Seus gritos só podiam ser ouvidos em sua mente. Ele já não tinha mais voz.

Então, finalmente, submergiu. Estar consciente da proximidade da própria morte era algo terrível. No entanto, ele estava ali, afundando lentamente em um buraco de 60 metros de profundidade no gelo. Milhares de pensamentos cruzavam sua mente. Lembranças da infância. Sua carreira. Pensou se o encontrariam flutuando na água ou se iria afundar até o fim do poço e ficar congelado. Uma tumba eterna nas profundidades da geleira.

Seus pulmões gritavam por oxigênio. Segurou a respiração, ainda tentando subir à superfície. Respire! Lutou contra o reflexo, trincando os dentes para manter os lábios cerrados. Respire! Tentava em vão nadar para cima. Respire! Naquele momento, numa luta mortal entre instinto e razão, a necessidade de respirar ultrapassou sua capacidade de manter a boca fechada.

Wailee Ming inalou.

A água que invadiu seus pulmões parecia óleo fervendo e ele sentiu-se como se estivesse sendo queimado de dentro para fora. A água é cruel, não mata instantaneamente. Ming passou sete pavorosos segundos inalando a água gélida, de forma cada vez mais dolorosa, sem que seu corpo pudesse extrair dali o ar de que desesperadamente necessitava.

No final, quando deslizou rumo às profundezas escuras, sentiu sua consciência se esvaindo. Em torno dele, na água, pôde ver pequenos traços reluzentes.

A visão mais bela de toda a sua vida.

CAPÍTULO 37
O portão de encontros da Ala Leste da Casa Branca fica localizado na Avenida Executiva Leste, entre o Departamento do Tesouro e o Parque Leste. A cerca reforçada e os blocos de concreto faziam com que essa entrada tivesse um ar quase intimidador.

Do lado de fora do portão, Gabrielle Ashe olhou para o relógio, sentindo-se cada vez mais nervosa. Eram 16h45 e ninguém havia feito contato ainda.

PORTÃO DE ENCONTROS DA ALA LESTE, 16h30. VENHA SOZINHA.

Aqui estou, pensou ela. Cadê você?

Gabrielle analisava os rostos dos turistas que passavam, esperando alguma reação. Alguns homens olhavam para ela e depois continuavam andando. Ela estava começando a pensar se aquilo tinha sido uma idéia sensata quando percebeu que o agente do serviço secreto dentro da guarita estava observando-a. Olhando uma última vez para a Casa Branca

através da grande cerca, Gabrielle suspirou e virou-se, decidida a partir.

- Gabrielle Ashe? - chamou o agente do serviço secreto atrás dela.

Gabrielle virou-se, seu coração aos saltos.

O homem fez sinal para que ela se aproximasse. Era magro e tinha um rosto sem expressão.

- Seu contato já pode recebê-la. - Ele destrancou o portão principal

para que entrasse.

Os pés de Gabrielle ficaram colados ao chão.

- Devo entrar?

O guarda assentiu.

- Disseram-me que lhe pedisse desculpas por fazê-la esperar.

Ela olhou para a porta aberta e ainda assim não conseguia se mover. O-que está acontecendo? Aquilo certamente não era o que ela esperava.

- Você é Gabrielle Ashe, não é? - perguntou o guarda, com ar de impaciência.

- Sim, senhor, mas...

- Então sugiro que me acompanhe.

Gabrielle achou que não tinha muita alternativa. Assim que passou pelo portão, ele fechou-se atrás dela.



CAPÍTULO 38
Dois dias sem ver a luz do sol haviam reajustado o relógio biológico de Tolland. Apesar de ser apenas fim de tarde, seu corpo insistia em lhe dizer que já estavam no meio da noite. Tolland já fizera os últimos ajustes em seu documentário, transferira todo o arquivo digital para um DVD e estava atravessando o domo. Quando chegou à área iluminada onde iria ocorrer a coletiva, entregou o disco para o técnico de mídia da NASA encarregado de supervisionar a apresentação.

- Obrigado, Mike - disse o técnico, piscando enquanto olhava o DVD em suas mãos. - Acho que isso vai redefinir o que chamamos de "imperdível" na TV, não é?

Tolland deu um risinho cansado.

- Espero que o presidente também pense assim.

- Não tenho dúvida. De qualquer forma, seu trabalho está feito, então sente-se, relaxe e aproveite o espetáculo.

- Obrigado! - Tolland estava de pé na área de imprensa, observando a animação do pessoal da NASA, que continuava celebrando a descoberta do meteorito com latas e mais latas de cerveja canadense. Por mais que desejasse se juntar a eles, sentia-se física e emocionalmente exausto.

Olhou em volta para ver se encontrava Rachel, mas aparentemente ela ainda estava conversando com o presidente.

Ele quer colocá-la no ar, pensou Tolland. Não tinha razões para censurá-lo: Rachel seria a pessoa ideal para completar o elenco da apresentação do meteorito. Além de ser bonita, ela emanava uma autoconfiança e um equilíbrio que Tolland poucas vezes sentira nas mulheres que encontrava. Por outro lado, é claro, muitas das mulheres que conhecia eram de televisão, o que significava que eram dominadoras sedentas de poder ou então belas apresentadoras, "personalidades" a quem faltava justamente personalidade própria.

O apresentador afastou-se em silêncio da comemoração e foi andando em meio à teia de caminhos estendida pelo domo, pensando onde estariam os outros cientistas civis. Se estivessem tão cansados quanto ele, certamente estariam na área de repouso, tirando uma soneca antes do grande momento. Mais à frente, ele viu o círculo de cones colocados em volta do poço de extração. O espaço vazio do domo acima dele parecia ecoar vozes de memórias distantes. Tolland tentou não lhes dar ouvidos.

Não dê atenção aos fantasmas, pensou consigo mesmo. Muitas vezes eles voltavam, em momentos como aquele, em que estava cansado ou sozinho - momentos de triunfo ou celebração pessoal. Ela deveria estar com você agora, ouviu a voz dizer-lhe. Sozinho na escuridão, sentiu-se puxado em direção às lembranças que queria esquecer.

Célia Birch tinha sido sua namorada na época da faculdade. Num Dia dos Namorados, Tolland a levou ao restaurante predileto dela. Conforme o combinado, na hora da sobremesa, o garçom trouxe numa bandeja uma rosa e um anel de diamantes para Célia. Com lágrimas nos olhos, ela disse

uma única palavra que deixou Tolland imensamente feliz: "Sim."

Os dois compraram uma casa pequena, perto de Pasadena, onde Célia tinha arrumado emprego como professora de ciências. Apesar do salário modesto, já era um começo. A casa também era próxima ao Instituto Scripps de Oceanografia, em San Diego, onde Tolland conseguira o trabalho de seus sonhos a bordo de um navio de pesquisas geológicas.

Por conta disso, Tolland precisava passar dias longe de casa, mas seus reencontros com Célia eram sempre apaixonados e empolgantes.

Enquanto estava longe, no mar, ele começou a fazer vídeos de suas aventuras para Célia, criando minidocumentários de seu trabalho. Após uma determinada viagem, ele voltou com um vídeo caseiro granulado que gravara de dentro de um submersível de pesquisa em águas profundas.

Era a primeira filmagem já feita de uma estranha lula quimiotrópica

até então desconhecida. Enquanto narrava as imagens que filmava, Tolland quase não cabia dentro daquele pequeno submarino, tamanha era sua animação.

"Literalmente milhares de espécies desconhecidas vivem nestas profundezas! Nós apenas começamos a investigar. Há mistérios aqui que nenhum de nós sequer consegue imaginar", dizia ele, entusiasmado, no vídeo.

Célia ficou encantada com a empolgação do marido e também com sua explicação científica didática. Decidiu mostrar o vídeo para sua turma de ciências e o minidocumentário tornou-se um sucesso imediato. Os outros professores queriam usá-lo também. Os pais dos alunos queriam fazer cópias. De um momento para outro, todos passaram a aguardar ansiosamente a próxima aventura de Michael. Foi então que Célia teve uma idéia. Ligou para uma amiga que trabalhava para a cadeia de televisão NBC e enviou-lhe a fita.

Dois meses depois, Michael Tolland chamou Célia para dar uma volta com ele na praia de Kingman. Era o lugar preferido deles, aonde sempre iam para compartilhar seus sonhos e desejos.

- Há algo que quero lhe contar - disse Tolland.

- O que é? - perguntou Célia. .

Tolland mal podia se conter.

- Recebi um telefonema da NBC semana passada. Eles acham que eu poderia ser o apresentador de uma série de documentários sobre os oceanos. Isso é perfeito! Querem fazer um piloto para o próximo ano. Não é inacreditável?

- É ótimo! Você vai se sair muito bem - ela o beijou, feliz.

Seis meses depois, o casal estava velejando perto de Catalina quando Célia se queixou de uma dor na lateral do corpo. Nenhum dos dois deu muita atenção ao assunto durante algumas semanas, mas a dor piorou.

Célia resolveu ir ao médico e fazer exames.

De repente, a vida de Tolland desmoronou, tornando-se um pesadelo horrível. Célia estava gravemente doente. "Estágios avançados de um linfoma", disse o médico. "É raro em alguém tão jovem, mas pode acontecer."

Célia e Tolland foram a várias clínicas e hospitais, consultaram especialistas, mas a resposta era sempre a mesma: não havia cura.

Não vou aceitar isso! Tolland largou seu trabalho no Instituto Scripps, deixou de lado o documentário da NBC e concentrou sua energia e seu amor para ajudar Célia a se restabelecer. Ela lutou bravamente, suportando as dores com uma graça que só fazia aumentar o amor que o marido sentia por ela.

Michael traçava planos para quando ela melhorasse. Mas não era isso que o destino lhes reservava. Sete meses depois, ele se viu sentado ao lado da mulher, já em estado terminal, numa enfermaria sombria de hospital. Já nem reconhecia mais seu rosto. A brutalidade do câncer só encontrava paralelo na brutalidade da quimioterapia. Sobrara apenas um corpo devastado. As horas finais foram as piores.

Célia morreu num domingo de céu azul em junho. Tolland sentiu-se como um navio arrancado de suas amarras e jogado sem rumo num mar tempestuoso, seu compasso destruído. Passou semanas completamente fora de controle. Os amigos tentaram ajudar, mas ele não podia aceitar que sentissem pena dele.

Preciso tomar uma decisão, ele finalmente se conscientizou. Trabalhar ou morrer.

Obstinadamente, lançou-se de volta ao trabalho. O programa Maravilhas dos mares literalmente salvou sua vida. Nos quatro anos que se seguiram, o documentário se tornou um sucesso. Apesar dos esforços bem-intencionados dos amigos, Tolland não conseguia iniciar nenhum novo relacionamento. Todos os encontros com mulheres terminavam em decepção mútua ou em completo fracasso, até que ele finalmente desistiu e culpou suas constantes viagens por seu isolamento. Seus melhores amigos, porém, sabiam que no fundo Michael ainda não estava pronto.

Sem perceber, Tolland havia caminhado até chegar perto do poço de extração do meteorito. De repente, algo chamou sua atenção, tirando-o de seus devaneios. Ele afastou sua mente dos antigos fantasmas e aproximou-se do buraco. Sob o domo escurecido, a água do poço tinha adquirido uma beleza mágica, quase surreal. A superfície estava

reluzindo como se fosse um lago enluarado. O olhar de Tolland foi atraído por pequenos fios de luz na camada superior da água, como se alguém houvesse salpicado faíscas azul-esverdeadas sobre ela. Olhou

durante um bom tempo para aquela cintilação.

Algo ali lhe parecia peculiar.

À primeira vista, achou que a água estava apenas refletindo o brilho dos focos de luz do outro lado do domo. Depois, percebeu que não era nada disso. As cintilações possuíam uma coloração esverdeada e pulsavam com um ritmo definido, como se a superfície da água estivesse viva e iluminada de dentro.

Preocupado, Tolland ultrapassou a área demarcada pelos cones para olhar mais de perto.


Do outro lado da habisfera, Rachel Sexton saiu de dentro do trailer e mergulhou na escuridão. Ela parou por um instante, procurando alguma referência ao seu redor. A habisfera era agora uma enorme caverna, iluminada apenas pelo fulgor incidental que se espalhava, vindo das fortes luzes projetadas contra a parede norte. Como o escuro a deixava um pouco tensa, dirigiu-se para a área de imprensa.

Rachel tinha ficado feliz com o resultado de sua apresentação para a equipe da Casa Branca. Depois que retomara o controle após a manobra inesperada do presidente, tinha conseguido transmitir de forma direta tudo o que sabia sobre o meteorito. Enquanto estava falando, via as expressões no rosto da equipe presidencial passando da completa incredulidade para uma crença esperançosa, até chegar, finalmente, a uma aceitação repleta de espanto.

- Vida extraterrestre? - tinha ouvido um deles dizer. - Você sabe o que isso significa?

- Sim - respondeu um outro. - Significa que vamos ganhar a eleição.

Rachel aproximou-se da área de imprensa pensando no anúncio que viria em breve. Não pôde deixar de pensar se seu pai realmente merecia o rolo compressor que estava prestes a passar por cima dele, esmagando sua campanha com um único golpe.

A resposta, claro, era sim.

Todas as vezes que Rachel sentia algum tipo de piedade por seu pai, tudo o que tinha a fazer era lembrar-se da mãe, Katherine. A dor e a vergonha que Sedgewick Sexton causara à esposa - chegando tarde em casa todas as noites, com um ar feliz e cheiro de perfume - eram imperdoáveis, assim como o pretenso zelo religioso atrás do qual ele se ocultava, enquanto mentia e traía Katherine, sabendo que ela jamais

o deixaria.

Sim, ela concluiu, o senador Sexton vai receber aquilo que realmente merece.

Na área de imprensa, as pessoas continuavam a comemorar alegremente, latas de cerveja em punho. Rachel passou entre as pessoas como alguém de fora que estivesse em meio a uma grande festa de família. Estava procurando Tolland.

Corky apareceu subitamente ao lado dela.

- Procurando Mike? Rachel se surpreendeu.

- Ah, bem, mais ou menos...

Corky balançou a cabeça, desapontado.

- Eu sabia. Ele acabou de sair daqui. Achei que tinha ido descansar. - Corky percorreu o domo com o olhar. - Ainda assim, acho que vai ser fácil alcançá-lo. - Ele sorriu e apontou. - Mike fica absolutamente fascinado toda vez que vê água.

Rachel olhou na direção em que Corky estava apontando, para o centro do domo, onde podia ver a silhueta de Michael Tolland de pé, olhando para o poço de extração.

- Mas o que ele está fazendo? - perguntou ela. - É perigoso ficar assim tão perto.

Corky deu outro sorrisinho.

- Provavelmente fazendo pipi. Vamos dar um empurrão nele.

Rachel e Corky atravessaram o domo em direção ao poço. Quando chegaram mais perto, Corky gritou:

- Ei, Aquaman, esqueceu a roupa de mergulho?

Tolland virou-se. Mesmo na penumbra, Rachel percebeu que ele estava com uma cara séria. Parecia também que seu rosto estava estranhamente iluminado, como se houvesse luz vindo de baixo.

- Tudo bem, Mike? - ela perguntou.

- Na verdade, não - respondeu Tolland, apontando para a água.

Corky passou pelos cones e juntou-se a Tolland próximo à beira do poço. Seu humor jovial pareceu dissipar-se assim que olhou para a água. Rachel juntou-se a eles e ficou surpresa de ver os pequenos filetes de luz azul-esverdeada cintilando na superfície. Como se fossem partículas de poeira de néon flutuando na água. Pareciam pulsar

em um tom de verde. O efeito era lindo.

Tolland pegou uma lasca de gelo do chão e atirou-a no poço. A água

ficou fosforescente no ponto de impacto, espirrando com um brilho

esverdeado.

- Mike - disse Corky, agitado -, por favor, me diga que você sabe o que é isso. Tolland franziu a testa.

- Sei exatamente o que é. Minha pergunta é: que diabos está fazendo aqui?


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