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CAPÍTULO 65
Rachel Sexton sentia-se como se estivesse sendo queimada viva.

Está chovendo fogo!

Tentou abrir os olhos, mas tudo o que conseguiu enxergar foram algumas formas vagas e luzes ofuscantes. Estava chovendo. Uma chuva terrivelmente quente. Batendo em sua pele nua. Ela estava deitada de lado e podia sentir o chão quente sob seu corpo. Curvou-se o máximo que pôde em posição fetal, tentando proteger-se do líquido escaldante que caía sobre ela. Sentiu o cheiro de um agente químico, talvez cloro, e tentou arrastar-se para longe, mas não conseguiu. Mãos fortes seguravam seus ombros, mantendo-a no lugar.

Deixem-me sair, estou em chamas!

Instintivamente, lutou para escapar, mas foi novamente detida pelas mãos que não a deixavam sair.

- Fique onde está - disse um homem. O sotaque era de um americano; e o tom, profissional. - Já vai terminar.

O que vai terminar?, pensou Rachel. A dor? Minha vida? Ela tentou ajustar o foco. As luzes daquele lugar eram fortes. Viu que a sala era pequena e atulhada. Teto baixo.

- Estou queimando! - o grito de Rachel saiu como um sussurro.

- Você está bem - assegurou-lhe a voz. - A água está apenas morna. Confie em mim.

Ela percebeu que estava seminua, vestida apenas com suas roupas de baixo encharcadas. Não conseguia sequer se sentir envergonhada: havia outras questões muito mais importantes.

Sua memória começou a voltar numa torrente de imagens. A geleira. O GPR. O ataque. Quem? Onde estou? Tentava juntar as peças, mas sua mente estava entorpecida, como um conjunto de engrenagens enferrujadas. Em meio à confusão completa surgiu um pensamento claro:

Michael e Corky... onde eles estão?

Com a visão ainda turva, só conseguia enxergar os homens que estavam de pé diante dela. Todos usavam os mesmos macacões azuis. Ela queria falar, mas sua boca não se movia. A sensação de ardência em sua pele estava cedendo agora, dando lugar a profundas e pontiagudas ondas de dor que passavam por seus músculos como tremores sísmicos.

- Não tente lutar - disse o homem que a segurava. - O sangue precisa voltar a fluir por seus músculos. - Falava como um médico. – Tente mover seus membros o máximo que puder.

O corpo de Rachel estava sendo dilacerado por uma enorme dor, como se cada um de seus músculos estivesse sendo espancado com um martelo.

Continuava deitada no chão, sentindo seu tórax se contrair e mal conseguindo respirar.

- Mexa seus braços e pernas - insistiu o homem. - Não importa o quanto isso doa.

Ela tentou. Cada movimento era como uma faca sendo enfiada em suas juntas. Os jatos d'água se tornaram novamente mais quentes, como se sua pele estivesse sendo escaldada. A dor avassaladora não cedia.

Quando achou que não iria mais agüentar, alguém lhe deu uma injeção. A dor se dissolveu rapidamente, cada vez menos intensa, retrocedendo. Os tremores diminuíram. Ela sentiu sua respiração se normalizar.

Uma nova sensação se espalhou por seu corpo: estranhas alfinetadas. Em toda parte. Agulhas sendo espetadas, mais pontiagudas a cada vez.

Milhões de golpes de pequenos objetos muito afiados que se intensificavam quando se mexia. Tentou ficar imóvel, mas os jatos d'água continuavam a golpeá-la. O homem que estava de pé segurou seus braços e começou a movê-los.

Deus, como isso dói! Rachel estava fraca demais para lutar. Lágrimas de dor e de exaustão rolavam por seu rosto. Fechou os olhos com força, tentando se esquecer do mundo.

Finalmente, as alfinetadas começaram a se dissipar. A chuva parou. Quando ela reabriu os olhos, sua visão estava mais clara.

Pôde ver Corky e Tolland deitados perto dela, trêmulos, seminus e ensopados. Pela angústia em seus rostos, Rachel sentiu que haviam passado por uma experiência similar. Os olhos castanhos de Tolland estavam injetados e sem brilho. Quando ele viu Rachel, conseguiu dar um sorriso pálido. Seus lábios, ainda roxos, tremiam.

Rachel tentou sentar-se para entender que lugar estranho era aquele.

Todos os três estavam deitados no chão de um pequeno banheiro com chuveiros.




CAPÍTULO 66
Rachel foi levantada do chão e sentiu braços vigorosos secarem seu corpo e colocarem um cobertor em volta dela. Depois de ser acomodada numa espécie de mesa de exames, seus braços, pernas e pés foram vigorosamente massageados. Tomou outra injeção no braço.

- Adrenalina - disse uma voz.

A droga percorreu suas veias como uma força vital, revigorando seus músculos. Apesar de ainda sentir um vazio gélido contraindo suas entranhas, o sangue parecia retornar gradualmente aos seus membros.

De volta do mundo dos mortos.

Tolland e Corky estavam deitados perto dela, tremendo dentro de cobertores enquanto os homens massageavam seus corpos e lhes aplicavam injeções também. Não havia dúvida de que aquele estranho grupo de homens salvara suas vidas. Muitos deles estavam completamente molhados, provavelmente por terem entrado vestidos nos chuveiros para ajudá-los. Quem eram ou como tinham conseguido resgatá-los a tempo era um enigma. Não fazia muita diferença naquele momento. Estamos vivos.

- Onde... estamos? - Rachel conseguiu balbuciar, sentindo uma terrível dor de cabeça simplesmente por ter falado.

O homem que a massageava respondeu:

- Você está na cabine médica de um...

- Comandante presente! - gritou alguém.

Rachel sentiu uma agitação ao seu redor, enquanto tentava sentar-se. Um dos homens de uniforme azul ajudou-a, segurando-a e puxando o cobertor para cobri-la.

O homem que havia entrado era um negro altivo. Bonito e imponente no seu uniforme caqui.

- À vontade - disse ele, aproximando-se de Rachel e fitando-a com seus olhos pretos e cheios de vitalidade. - Sou Harold Brown – continuou com uma voz grave. - Comandante do L7SS Charlotte. E vocês são?

USS Charlotte, pensou Sexton. O nome era vagamente familiar.

- Sexton... - ela respondeu. - Sou Rachel Sexton.

O homem olhou para ela intrigado. Chegou mais perto e examinou-a atentamente.

- Mas que diabos. É você mesma.

Rachel ficou confusa. Ele me conhece? Ela estava bastante segura de que nunca o vira antes. Quando seus olhos desceram do rosto do comandante para as insígnias em seu peito, ela reconheceu o emblema familiar da águia segurando uma âncora com as palavras U.S. NAVY ao redor.

Lembrou-se de onde conhecia o nome Charlotte.

- Bem-vinda a bordo, senhorita Sexton - disse o comandante. – Você compilou muitos dos relatórios de reconhecimento deste submarino. Eu sei quem você é.

- Mas o que vocês estão fazendo nestas águas? - ela balbuciou.

- Para ser sincero, eu ia lhe fazer a mesma pergunta - ele respondeu.

Ao ver que Tolland tinha se sentado e estava abrindo a boca para dizer alguma coisa, Rachel sacudiu firmemente a cabeça, fazendo-lhe sinal para que ficasse em silêncio. Não aqui. Não agora. Ela tinha certeza de que Tolland e Corky iriam querer falar logo sobre o meteorito e o ataque que haviam sofrido, mas certamente não eram tópicos que devessem ser discutidos na frente da equipe de um submarino da Marinha.

No mundo da inteligência, independentemente da dimensão da crise, manter segredo vinha antes de tudo. Todas as questões relativas ao meteorito continuavam sendo informações confidenciais.

- Preciso falar com o diretor do NRO, William Pickering - ela disse ao comandante. - Em local privado e imediatamente.

Ele levantou as sobrancelhas, surpreso por alguém lhe dar ordens, sobretudo em seu próprio submarino.

- Tenho informações confidenciais de que ele precisa ser notificado.

O oficial olhou para ela durante algum tempo.

- Certo. Vamos trazer seu corpo de volta à temperatura normal e então eu coloco você em contato com o diretor do NRO.

- Mas é urgente, senhor, eu... - Rachel parou no meio da frase. Ela havia acabado de ver um relógio na parede em cima do armário de remédios.

Marcava 19h51.

Ela piscou, olhando para ele.

- Aquele... aquele relógio está certo?

- Este é um submarino da Marinha, senhorita Sexton. Nossos relógios são pontuais.

- E este é o fuso de Washington?

- Correto, 19h51, horário de Washington.

Meu Deus!, ela pensou, espantada. São só 19h51? Rachel tinha a nítida impressão de que muitas horas tinham se passado desde que havia desmaiado. Então não eram nem oito horas ainda? O presidente ainda não entrou no ar para falar sobre o meteorito! Ainda posso tentar detê-lo!

Ela deslizou na mesma hora para fora da cama, agarrando o cobertor e enrolando-o em torno do corpo. Suas pernas tremiam.

- Preciso falar com o presidente agora mesmo.

O comandante ficou confuso.

- O presidente de quê?

- Dos Estados Unidos!

- Achei que você queria falar com William Pickering.

- Não há tempo. Preciso falar com o presidente.

O comandante não se moveu. Era um homem grande e seu corpo bloqueava o caminho.

- Até onde sei, o presidente está prestes a dar uma coletiva muito importante ao vivo. Duvido que possa receber chamadas pessoais.

Rachel ficou tão séria e ereta quanto suas pernas trêmulas lhe permitiam e encarou-o.

- Comandante, o senhor não tem uma posição dentro da hierarquia de segurança que me permita entrar em detalhes sobre a situação, mas o presidente está prestes a cometer um terrível engano. Tenho informações urgentes para ele. Acredite em mim.

O comandante olhou para ela novamente, inquisitivo. Depois consultou o relógio.

- Nove minutos? Não consigo estabelecer uma ligação segura com a Casa Branca em um tempo tão curto. Tudo o que posso lhe oferecer é um radiofone. Em linha aberta. Ainda assim teríamos que emergir até profundidade de antena, o que levaria alguns...

- Faça o que for preciso! Agora!



CAPÍTULO 67
A central de atendimento da Casa Branca ficava no térreo da Ala Leste.

Havia sempre três telefonistas de plantão. Naquele momento, apenas duas estavam sentadas diante do painel. A terceira estava correndo a toda a velocidade em direção à Sala de Imprensa, carregando nas mãos um telefone sem fio. Ela tentou passar a ligação para o Salão Oval, mas o presidente já havia saído em direção ao local da coletiva. Ela havia tentado ligar para os celulares de seus auxiliares diretos, mas, antes de pronunciamentos televisionados, todos os telefones celulares dentro da sala eram desligados para evitar interrupções.

Sair correndo com um telefone sem fio diretamente para o presidente numa hora daquelas parecia no mínimo questionável. Ainda assim, quando a agente de ligação entre a Casa Branca e o NRO ligou dizendo que tinha informações urgentes de que o presidente precisava tomar conhecimento antes de entrar em cadeia nacional, a telefonista não pensou muito e saiu em disparada. A pergunta agora era se ela chegaria ou não a tempo.
No pequeno gabinete médico a bordo do Charlotte, Rachel estava com o fone agarrado ao ouvido, esperando para falar com o presidente.

Sentados ali perto, Tolland e Corky ainda pareciam bastante atordoados. Corky estava com uma escoriação profunda no rosto e tinha recebido cinco pontos na ferida. Todos os três haviam recebido roupas de baixo térmicas e grossos macacões de vôo da Marinha, além de grandes meias de lã e botas militares. Segurando uma xícara quente de café requentado, Rachel estava quase se sentindo humana novamente.

- Por que a demora? - perguntou Tolland, agitado. - Faltam só quatro minutos!

Rachel não sabia o que estava acontecendo do outro lado. Ela havia conseguido falar com uma das telefonistas da Casa Branca, explicado quem era e que aquilo era uma emergência. A telefonista pareceu simpática, colocou a chamada em espera e agora, supostamente, estava tentando, com prioridade máxima, passá-la para o presidente.

Quatro minutos, pensou Rachel. Vamos, depressa!

Fechando os olhos, ela tentou se concentrar. Tinha sido um dia daqueles. Estou em um submarino nuclear, pensou consigo mesma, sabendo quanta sorte tinha de estar ali. De acordo com o comandante do submarino, o Charlotte estava em missão de rotina, patrulhando o mar de Bering dois dias antes, quando havia captado estranhos sons vindos da plataforma de gelo Milne - perfurações, ruído de jatos, várias comunicações codificadas por rádio. Tinham sido redirecionados para lá e instruídos a manter silêncio e ouvir. Há cerca de uma hora, captaram uma explosão na geleira e se aproximaram para averiguar. Foi então que ouviram o S.O.S. de Rachel.

- Faltam só três minutos! - Tolland estava bastante ansioso, olhando seu relógio sem parar.

Rachel também estava ficando nervosa agora. Por que estava demorando tanto? Por que o presidente não tinha aceitado seu chamado? Se Zach Herney fosse a público com os dados da forma que eles haviam sido enviados...

Ela evitou pensar naquilo e sacudiu o fone. Vamos, atenda!
Quando a telefonista da Casa Branca chegou a poucos metros da Sala de Imprensa, deu de cara com uma barreira humana de membros da equipe do presidente. Todos estavam falando, entusiasmados, e fazendo os últimos preparativos. Ela viu o presidente a uns 20 metros de distância esperando para entrar em cena. O pessoal da maquiagem continuava em volta dele, fazendo retoques.

- Abram caminho! - disse a telefonista, tentando passar no meio daquele monte de gente. - Telefonema para o presidente. Com licença, me deixem passar!

- Entramos no ar em dois minutos! - gritou um coordenador de operações.

Agarrada ao telefone, a moça forçou caminho em direção ao presidente.

- Chamada para o presidente! - ela disse, ofegante. - Abram caminho!

Deu de cara com um poste de concreto bloqueando a passagem à sua frente: Marjorie Tench. Ela olhou para a telefonista com uma expressão crítica:

- O que está acontecendo?

- É uma chamada de emergência... - a telefonista estava sem ar – para o presidente.

Tench olhou para ela, incrédula.

- Agora não, de jeito nenhum!

- É Rachel Sexton. Ela diz que é urgente.

A expressão da consultora parecia ser mais de espanto do que de raiva.

Ela olhou para o telefone sem fio.

- Esta é uma linha comum. Não é uma ligação segura.

- Não, senhora. Mas a ligação está vindo através de uma linha aberta de qualquer forma. Ela está em um radiofone. E precisa falar com o presidente imediatamente.

- No ar em 90 segundos!

Os olhos frios de Tench fulminaram a telefonista.

- Me dê este telefone - disse, estendendo a mão como uma aranha.

A funcionária estava com o coração na mão.

- A senhorita Sexton deseja falar com o presidente Herney diretamente. Ela me disse que a coletiva deveria ser adiada até que ela tivesse falado com ele. E eu prometi que...

Marjorie Tench deu um passo ameaçador na direção da moça, falando num sussurro sibilante:

- Deixe que eu lhe explique como as coisas funcionam por aqui. Não é a filha do adversário do presidente quem dá as ordens, sou eu. E posso garantir que você não passará deste ponto até que eu descubra o que está acontecendo.

A telefonista olhou na direção do presidente, que naquele momento estava cercado por técnicos de som e diversos membros da sua equipe que repassavam com ele as últimas mudanças feitas no discurso.

- Sessenta segundos! - gritou o supervisor de TV.

A bordo do Charlotte, Rachel estava andando freneticamente pelo espaço restrito da cabine quando ouviu um ruído na linha. Uma voz áspera falou do outro lado.

- Alô?


- Presidente Herney? - disse Rachel.

- Marjorie Tench - corrigiu a voz. - Sou a conselheira sênior do presidente. Seja você quem for, devo avisá-la de que passar trotes para a Casa Branca é uma violação da...

Pelo amor de Deus!

- Isto não é um trote! Eu sou Rachel Sexton. Sou sua agente de ligação com o NRO e...

- Eu sei muito bem quem é Rachel Sexton. E tenho sérias dúvidas de que você seja ela. Você ligou para a Casa Branca em uma linha aberta, me pedindo para interromper um importante pronunciamento do presidente. Isso dificilmente é procedimento-padrão para alguém que...

- Ouça - disse Rachel, irritada -, eu fiz uma videoconferência para toda a sua equipe há poucas horas sobre o meteorito. Você estava na fileira da frente. Minha apresentação foi feita por meio de um telão colocado sobre a mesa do presidente! Alguma dúvida?

Tench ficou em silêncio por alguns segundos.

- Senhorita Sexton, qual o sentido desta ligação?

- O sentido é que você precisa deter o presidente! Os dados que ele tem sobre o meteorito estão errados! Acabamos de descobrir que o meteorito foi inserido por baixo da plataforma de gelo. Não sei quem fez isso e não sei o motivo! Mas as coisas não são bem o que parecem por aqui. O presidente está prestes a anunciar dados que estão seriamente comprometidos e eu sugeriria fortemente que...

– Pare imediatamente! - Tench passou a falar em voz baixa. - Você tem alguma idéia do que está dizendo?

- Sim! Suspeito que o administrador da NASA organizou uma fraude em grande escala e que o presidente Herney vai ser colocado bem no meio disso tudo. Você tem que retardar o pronunciamento pelo menos por 10 minutos para que eu possa explicar a ele o que está acontecendo aqui. Alguém tentou me matar... mas que inferno!

A voz de Tench soou mais fria do que gelo.

- Senhorita Sexton, vou lhe dar um aviso. Se você está arrependida de ter ajudado a Casa Branca nessa campanha, o problema é seu. Deveria ter pensado nisso bem antes de sancionar pessoalmente os dados do meteorito para o presidente.

- O quê? - Essa mulher ouviu alguma coisa do que eu disse?

- Sua atitude é revoltante. Usar uma linha aberta é um truque baixo. E dizer que os dados sobre o meteorito foram falsificados! Que tipo de agente de inteligência usa um radiofone para ligar para a Casa Branca e falar a respeito de informações consideradas secretas? É óbvio que você está esperando que alguém intercepte esta mensagem.

- Norah Mangor foi morta por causa disso. O doutor Ming também está morto. Você tem que alert...

- Não diga mais uma palavra sequer! Não sei que tipo de jogo é este, mas devo lembrar-lhe - assim como a qualquer pessoa que possa estar interceptando esta conversa - que a Casa Branca possui depoimentos gravados em vídeo dos principais cientistas da NASA, de diversos cientistas civis de renome, além do seu próprio comunicado, senhorita Sexton. E todos eles dizem a mesma coisa: que os dados sobre o meteorito estão certos. Não posso imaginar por que você resolveu mudar sua versão da história subitamente. Seja qual for o motivo, contudo, considere-se dispensada de seu posto junto à Casa Branca a partir deste momento. E, se tentar macular essa descoberta com qualquer outra alegação de fraude, posso assegurá-la de que a Casa Branca e a NASA irão processá-la por difamação tão rápido que você não terá nem mesmo tempo de fazer uma mala antes de ir parar na prisão.

Rachel abriu a boca para dizer algo, mas nenhuma palavra saiu.

- Zach Herney foi generoso com você - prosseguiu Tench - e, francamente, isso me cheira a uma das jogadas tolas de publicidade do senador Sexton. Melhor parar agora, antes que a coisa chegue aos tribunais. Acredite em mim.

A linha ficou muda.

Rachel ainda estava de boca aberta quando o comandante bateu na porta.

- Senhorita Sexton? - disse ele, abrindo ligeiramente a porta. – Estamos captando um sinal fraco da Rádio Nacional do Canadá. O presidente Zach Herney acabou de começar sua coletiva de imprensa.



CAPÍTULO 68
De pé sobre o palanque da Sala de Imprensa da Casa Branca, Zach Herney sentia o calor da iluminação de estúdio e sabia que o mundo inteiro estava grudado diante da TV naquele momento. A estratégia de divulgação criada por seu gabinete de imprensa havia gerado uma reação em cadeia na mídia. Qualquer um que não tivesse tomado conhecimento do seu pronunciamento pela televisão, por rádio ou em sites na internet teria ouvido algum comentário de vizinhos, colegas de trabalho ou parentes. Nos bares, em salas e escritórios de todo o mundo, milhões de pessoas estavam aguardando ansiosamente o que o homem mais poderoso do planeta tinha a dizer.

Era em momentos como aquele, quando estava só diante "do mundo”, que Zach Herney realmente sentia o peso de seu posto. Só quem nunca experimentara o poder podia dizer que ele não viciava.

Contudo, ao começar seu discurso, Herney sentiu que havia algo errado.

Ele jamais tivera medo de falar em público; por isso o pequeno formigamento de apreensão que pulsava dentro dele o preocupava. Deve ser por causa da magnitude do evento, disse para si mesmo. Ainda assim, sabia que havia algo mais. Instinto. Algo que ele tinha visto. Uma coisa muito pequena, mas...

Disse a si mesmo que esquecesse. Nada demais. No entanto, era algo que não ia embora.

Tench.


Poucos instantes antes, quando Herney estava se preparando para subir ao palanque, ele vira de relance Marjorie Tench no corredor amarelo falando em um telefone sem fio. Isso já seria um fato estranho, mas ficou ainda mais esquisito porque havia uma telefonista da Casa Branca de pé ao lado da consultora, lívida de medo. Herney obviamente não podia ouvir a conversa, mas percebeu que era uma discussão. Tench estava falando com uma veemência e uma raiva que o presidente jamais testemunhara - mesmo da parte de Tench. Ele fez uma breve pausa e olhou-a nos olhos, curioso.

Marjorie levantou o polegar, fazendo sinal de positivo. Herney nunca vira Tench fazer aquilo. Para ninguém. Foi a última imagem que ficou na sua mente antes que avisassem que era hora de subir ao palco.


O administrador Lawrence Ekstrom estava sentado no centro de uma longa mesa, na área de imprensa montada dentro da habisfera da NASA, na ilha de Ellesmere. Tinha ao seu lado funcionários e cientistas importantes da NASA. Diante deles, em um grande monitor, o discurso de abertura do presidente estava sendo transmitido ao vivo. O restante do pessoal da agência estava espremido na frente de outros monitores, sem conseguir conter seu entusiasmo com a participação de seu comandante-em-chefe naquela coletiva.

- Boa noite - disse Herney, soando mais sério do que o normal. – A meus compatriotas e a nossos amigos em todo o planeta...

Ekstrom contemplou a enorme rocha carbonizada que tinha sido colocada de forma destacada à sua frente. Depois olhou para um pequeno monitor no qual podia ver a si mesmo, ao lado de seus austeros companheiros, tendo como pano de fundo uma enorme bandeira americana e o logotipo da NASA. A luz forte fazia com que aquilo tudo se parecesse com uma pintura neomodernista: os 12 apóstolos na última ceia. Zach Herney havia transformado a coisa toda em um grande show político. Ele não teve escolha. O administrador ainda se sentia como um pastor de televisão, empacotando Deus para o consumo das massas.

Dentro de mais cinco minutos o presidente apresentaria Ekstrom e a equipe da NASA. Então, numa espetacular conexão via satélite a partir do topo do planeta, a NASA iria se juntar ao presidente, dividindo as notícias com o mundo. Após um pequeno relato de como a descoberta fora feita, o que significava para a exploração do espaço e uma troca de congratulações mútuas, a agência espacial americana e o presidente iriam dar a palavra ao célebre cientista Michael Tolland, cujo documentário durava cerca de 15 minutos. Logo em seguida, com a credibilidade e o entusiasmo do público no auge, Ekstrom e Herney dariam boa-noite a todos, prometendo que mais informações seriam liberadas pela NASA nos próximos dias em sucessivas coletivas de imprensa.

Enquanto Ekstrom estava sentado lá, esperando sua vez de falar, sentia uma enorme vergonha se avolumando dentro de si. Sabia que iria se sentir assim. Já era esperado. Ele havia contado mentiras... apoiado falsidades. Apesar de tudo, as mentiras pareciam quase irrelevantes naquele momento. Ekstrom tinha um peso bem maior com que lidar.
No completo caos da redação da ABC, Gabrielle Ashe estava se acotovelando com dezenas de estranhos, todos esticando o pescoço para ver melhor o painel com vários monitores de TV suspenso no teto. Um silêncio profundo tomou conta da sala quando o momento chegou.

Gabrielle fechou os olhos, rezando para que, quando os abrisse, não fosse obrigada a ver imagens de seu próprio corpo nu na TV.


No escritório do senador Sexton, o ar estava cheio de eletricidade. Todos os seus convidados estavam agora de pé, os olhos fixos no enorme aparelho de televisão de Sexton.

Zach Herney estava ali, diante de milhões de espectadores de todo o mundo e, surpreendentemente, sua saudação havia sido vacilante. Ele pareceu hesitar por alguns instantes.

Ele está abalado, pensou Sexton. Ele nunca se deixa abalar.

- Olhem a cara dele - alguém falou em voz baixa. - Só podem ser más notícias.

A estação espacial?, conjeturou Sexton.

Herney olhou diretamente para a câmera e respirou fundo.

- Prezados amigos, passei muitos dias refletindo sobre a melhor maneira de fazer este pronunciamento...

Bastam duas palavras, pensou o senador. Falhamos miseravelmente.

O presidente falou brevemente sobre como era lamentável que a NASA tivesse se transformado numa questão política diante das futuras eleições e que, devido a essa situação, sentia que era preciso acrescentar um rápido pedido de desculpas ao que se seguiria.

- Eu teria preferido que esta declaração fosse feita em qualquer outro momento da história - disse ele. - O peso das questões políticas deste momento tende a transformar os sonhadores em incrédulos, mas, ainda assim, como presidente dos Estados Unidos, não tenho outra escolha senão compartilhar com todos algo que descobri há pouco tempo - completou, sorrindo. - Tudo leva a crer que a magia do cosmo não obedece aos desígnios dos homens... nem mesmo aos de um presidente.

Todos na sala de Sexton se retesaram ao mesmo tempo.

O quê?


- Há duas semanas - Herney disse - o novo satélite da NASA, o Polar Orbiting Density Scanner, que chamamos de PODS, passou sobre a plataforma de gelo Milne, na ilha de Ellesmere, uma região remota acima do paralelo 80, em meio ao oceano Ártico.

Sexton e os outros trocaram olhares confusos.

- Esse satélite da NASA detectou uma grande rocha enterrada a 60 metros de profundidade no gelo - Herney sorriu, mais relaxado, encontrando seu ritmo. - Ao receber os dados, a NASA suspeitou de imediato que o PODS havia encontrado um meteorito.

- Um meteorito? - disse Sexton para a TV, indignado. - E isso agora virou notícia?

- A NASA enviou uma equipe para a geleira com o objetivo de coletar amostras do meteorito. Foi então que a NASA fez... - ele parou um instante. - Francamente, a NASA fez a maior descoberta científica de nosso século.

Sexton deu um passo incrédulo em direção à televisão. Não... Seus convidados se agitaram, preocupados.

- Senhoras e senhores - Herney anunciou -, há algumas horas a NASA retirou do gelo do Ártico um meteorito de oito toneladas que contém... - o presidente fez mais uma pausa, dando ao mundo tempo suficiente para se inclinar em direção às telas de TV - ...um meteorito que contém fósseis de uma forma de vida. Dezenas deles. Prova irrefutável da existência de vida extraterrestre.

Imediatamente após suas palavras, uma imagem brilhante surgiu na tela atrás do presidente: um fóssil perfeitamente delineado de uma enorme criatura com aparência de um artrópode gigante incrustado numa rocha carbonizada.

No escritório do senador, os seis empresários arregalaram os olhos, aterrorizados com a notícia. Sexton ficou paralisado.

- Meus amigos - prosseguiu o presidente -, o fóssil que estão vendo atrás de mim tem 190 milhões de anos. Foi descoberto dentro de um fragmento do meteorito Jungersol, que caiu no oceano Ártico há quase três séculos. Graças à incrível tecnologia de seu novo satélite, a NASA encontrou esse fragmento enterrado em uma plataforma de gelo. Tanto a agência espacial quanto a minha equipe de governo tiveram um enorme cuidado, durante as duas últimas semanas, para confirmar cada detalhe dessa monumental descoberta antes de torná-la pública. Durante os próximos 30 minutos vocês irão ouvir os depoimentos de diversos cientistas da NASA e de cientistas civis, além de assistir a um pequeno documentário, preparado por alguém que todos conhecem bem e do qual, tenho certeza, irão gostar. Antes de prosseguirmos, no entanto, tenho o enorme prazer de lhes apresentar, numa transmissão via satélite ao vivo do Ártico, o homem cuja liderança, visão e esforços incansáveis são responsáveis por este momento histórico. É com grande honra que lhes apresento o administrador da NASA, Lawrence Ekstrom.

Herney virou-se para a tela em perfeita sincronia.

Com um belo efeito visual, a imagem do meteorito se dissolveu, dando lugar à pomposa equipe de cientistas da NASA acomodada numa longa mesa, no centro da qual estava o corpulento Ekstrom.

- Obrigado, senhor presidente - disse Ekstrom, com ar solene e altivo, levantando-se e olhando diretamente para a câmera. - É um grande orgulho estar aqui e compartilhar com todos vocês este momento de glória para a NASA.

O administrador discursou apaixonadamente sobre a NASA e sobre a descoberta. Com uma fanfarra de patriotismo e triunfo, fez uma transição perfeita para o documentário estrelado pelo misto de celebridade e cientista Michael Tolland.

Olhando para a TV, sem acreditar, o senador Sexton jogou-se de joelhos no chão, agarrando seus cabelos grisalhos com os dedos cerrados. Não! Meu Deus, não!


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