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CAPÍTULO 3
Rachel Sexton ainda estava furiosa. Dirigia agora seu carro pela Leesburg Highway. As árvores ainda desfolhadas na encosta das montanhas de Falls Church destacavam-se nitidamente contra o céu revigorante de março, mas o cenário idílico não era suficiente para dissipar sua raiva. A recente ascensão de seu pai nas pesquisas deveria ter dado a ele um mínimo de confiança e amabilidade. Entretanto, parecia ter servido apenas de combustível para sua arrogância.

A armação de seu pai se tornava ainda mais dolorosa porque ele era o único parente próximo que Rachel ainda possuía. Sua mãe havia morrido há três anos, uma perda terrível cujas feridas emocionais permaneciam no coração de Rachel. O único consolo era saber que a morte, com uma compaixão irônica, libertara sua mãe de um estado de total desespero diante de um casamento infeliz com o senador.

O pager de Rachel emitiu um novo bipe, trazendo seus pensamentos de volta para a estrada que se estendia à sua frente. A mensagem era a mesma:

- RPRT DIRNRO IMED - Reporte-se ao diretor do NRO imediatamente. Ela respirou profundamente. Que saco, estou chegando!

Com uma sensação crescente de incerteza, Rachel chegou à saída habitual da via expressa, entrou na estradinha particular de acesso e parou defronte da cabine de guarda fortemente armada. O endereço era Leesburg Highway, 14.225, um dos locais mais secretos do país.

Enquanto o guarda fazia a varredura de rotina em seu carro à procura de dispositivos de escuta, ela olhou para a gigantesca construção que surgia, ainda um pouco distante, à sua frente. O complexo de quase 10 hectares estava majestosamente situado em um bosque de 28 hectares nos arredores de Washington, D.C., em Fairfax, no estado da Virgínia. A fachada do prédio era uma fortaleza de vidro espelhado, refletindo um batalhão de antenas de satélite, parabólicas e domos de radar espalhados pelo terreno em torno do prédio, duplicando, ao espelhá-los, o número já impressionante de dispositivos eletrônicos.

Após ser liberada, Rachel estacionou o carro e atravessou os jardins cuidados até a entrada principal, onde havia a seguinte inscrição numa placa de granito:

ESCRITÓRIO NACIONAL DE RECONHECIMENTO (NRO) National Reconnaissance Office. Os dois marines armados que estavam de sentinela junto à porta giratória blindada permaneceram em posição de alerta enquanto Rachel passava. Ao chegar ao prédio, ela sempre tinha a sensação de estar diante de um gigante adormecido.

Dentro da abóbada do lobby, Rachel captou os sons esparsos de conversas sussurradas, como se as palavras descessem, filtradas, dos escritórios acima. No chão, um enorme mosaico de lajotas expunha a diretriz do NRO: GARANTIR A SUPERIORIDADE GLOBAL DE INFORMAÇÕES DOS ESTADOS UNIDOS NA PAZ OU NA GUERRA

As paredes do hall estavam decoradas com enormes fotografias - lançamentos de foguetes, batismos de submarinos, instalações de interceptação -, feitos impressionantes que só podiam ser comemorados dentro daquelas paredes.

Daquele ponto em diante Rachel sentia que as preocupações do dia-a-dia se dissolviam aos poucos. Estava entrando no mundo das sombras, onde os problemas sempre provocavam alarde e as decisões eram tomadas na surdina.

Rachel aproximou-se da última guarita, tentando adivinhar o que seria tão urgente para que enviassem duas mensagens para seu pager nos últimos 30 minutos.

- Bom dia, Senhorita Sexton - o guarda sorriu quando ela se aproximou de uma grande porta de aço.

Rachel sorriu de volta e pegou a embalagem que o guarda lhe entregou.

- Você sabe o que fazer...

Rachel abriu a embalagem hermeticamente fechada e retirou um bastonete com algodão na extremidade. Então o colocou na boca, como um palito de sorvete, segurando-o sob a língua durante alguns segundos. Depois se inclinou para frente, permitindo que o guarda pegasse o bastão. O guarda inseriu o algodão, agora úmido de saliva, numa máquina atrás dele. Só foram necessários quatro segundos para verificar as seqüências de DNA na saliva de Rachel. Depois um monitor acendeu-se, exibindo sua foto e seu código de segurança.

O guarda piscou.

- Parece que você continua sendo você mesma. - Ele retirou o bastonete usado de dentro da máquina e jogou-o num recipiente, onde foi imediatamente incinerado. - Tenha um bom dia. - Apertou um botão, e as enormes portas de aço se abriram.

Rachel andou pelo labirinto agitado de corredores à sua volta pensando em como era curioso que, mesmo após seis anos, ela ainda ficasse intimidada pelo tamanho colossal daquela organização. O Escritório Nacional de Reconhecimento tinha outras seis instalações nos Estados Unidos, empregava mais de 10 mil agentes e seus custos operacionais ultrapassavam a marca de 10 bilhões de dólares por ano.

Em total segredo, o NRO havia construído e mantinha um arsenal impressionante de tecnologias de ponta para espionagem: interceptores eletrônicos de alcance global, satélites-espiões, chips de retransmissão não-detectáveis embutidos em produtos de telecomunicações e até mesmo uma rede de reconhecimento naval conhecida como Classic Wizard, uma teia secreta de 1.456 hidrofones colocados no fundo do mar em diversos pontos do planeta para monitorar o movimento de navios em qualquer lugar da Terra.

As tecnologias do NRO não apenas ajudavam os Estados Unidos a vencer conflitos militares, mas também forneciam, em tempos de paz, uma infinita quantidade de dados para agências como a CIA, a NSA e o Departamento de Defesa, ajudando-as a combater terroristas e a detectar crimes contra o meio ambiente, além de fornecer aos legisladores informações para que pudessem embasar suas decisões em uma grande quantidade de tópicos.

Rachel trabalhava lá como "depuradora". O processo de depuração, ou redução de dados, exigia que relatórios complexos fossem analisados para que, em seguida, sua essência fosse consolidada em relatórios concisos. Desde o início, Rachel demonstrara um talento natural para aquele trabalho. Ela acreditava ter desenvolvido sua habilidade ao longo dos anos que passara ouvindo a besteirada que seu pai falava...

Agora ela era a principal "depuradora" do NRO, pois servia como elemento de ligação com a Casa Branca. Rachel tinha que ler todos os relatórios diários de inteligência do escritório e decidir quais eram relevantes para o presidente, resumindo-os, então, em documentos de uma página que eram encaminhados para o conselheiro de segurança nacional do presidente.

O trabalho era difícil e exigia muita dedicação, mas ela se sentia honrada com o cargo, além de ser uma forma de afirmar sua independência em relação ao pai. O senador já havia se oferecido diversas vezes para sustentar Rachel, se ela abandonasse o emprego, mas isso era algo que ela não tinha a menor intenção de fazer. Não iria se tornar financeiramente dependente de Sedgewick Sexton, ela havia testemunhado o que acontecera com a mãe ao depositar poderes demais nas mãos de um homem como ele.

O som do pager de Rachel ecoou pelo hall de mármore.

De novo? Ela nem se preocupou em reler a mensagem.

Ainda pensando em que diabos estaria acontecendo, entrou no elevador e foi direto até o último andar.

CAPÍTULO 4
Chamar o diretor do NRO de homem comum era um exagero. William Pickering era pequeno, pálido, careca e sem traços marcantes. Apesar de já ter visto alguns dos mais profundos segredos do país, seus olhos castanhos pareciam opacos. Ainda assim, para seus subordinados, Pickering era um grande homem. Sua personalidade serena e seu pragmatismo eram lendários no NRO. Seu jeito calmo e zeloso, combinado com o fato de que usava sempre ternos pretos, fizera com que o apelidassem de Quaker, numa referência aos membros da seita protestante inglesa. Estrategista brilhante e modelo de eficiência, ele governava seu mundo com total transparência e pregava que era preciso "encontrar a verdade e agir de acordo com ela".

Quando Rachel chegou ao escritório do diretor, ele estava ao telefone.

Observando-o, ela não pôde deixar de pensar que era curioso alguém de aparência tão comum ter poder suficiente para acordar o presidente a qualquer hora.

Pickering desligou e fez sinal para que ela se aproximasse.

- Agente Sexton, sente-se.

- Obrigada, senhor - respondeu Rachel, sentando-se.

Ainda que muitos se sentissem desconfortáveis com o estilo direto e sem rodeios de William Pickering, Rachel sempre gostara dele. Era a antítese perfeita de seu pai... não era fisicamente imponente, não era carismático e cumpria seu dever com um patriotismo abnegado, evitando as luzes da ribalta que seu pai tanto amava.

O diretor tirou os óculos e olhou para ela.

- Agente Sexton, o presidente me ligou há cerca de meia hora. Queria falar especificamente sobre você.

Rachel moveu-se em sua cadeira, inquieta. Pickering era conhecido por ir direto ao assunto. Bom princípio de conversa, pensou.

- Espero que um de meus relatórios não tenha causado problemas.

- Pelo contrário. Ele disse que a Casa Branca está muito impressionada com seu trabalho.

Rachel suspirou.

- O que ele queria, então?

- Uma reunião com você. Pessoalmente. Agora.

A inquietude de Rachel retornou.

- Uma reunião pessoal? Sobre o quê?

- Excelente pergunta. Ele não quis me dizer.

Aquilo soou estranho. Esconder informações do diretor do NRO era como não contar segredos do Vaticano ao Papa. Na comunidade de inteligência circulava uma piada dizendo que, se William Pickering não sabia de algo, era porque não havia acontecido.

Pickering levantou-se e começou a andar em frente da janela.

- Ele me pediu apenas que entrasse em contato com você imediatamente e a enviasse para um encontro com ele.

- Neste instante?

- Ele mandou um transporte. Está esperando lá fora.

Rachel ficou tensa. O pedido do presidente já era inusitado por si só, mas o ar de preocupação do diretor a deixava realmente nervosa.

- Você obviamente não está totalmente de acordo com isso.

- Mas que diabos, claro que não! - Pickering explodiu, algo que raramente fazia. - O pedido do presidente, neste exato momento, me parece quase imaturo em sua transparência. Você é filha do homem que o está ameaçando nas pesquisas e ele telefona pedindo uma reunião pessoal com você? Acho isso completamente inadequado. Seu pai sem dúvida concordaria comigo.

Rachel pensou que Pickering estava certo, embora não desse a mínima para o que o pai pudesse ou não pensar.

- Você não confia nas motivações do presidente?

- Meu juramento diz respeito a fornecer suporte de inteligência à atual administração na Casa Branca e a não fazer julgamentos sobre suas políticas.

Uma resposta no melhor estilo Pickering, pensou. O diretor não se esforçava muito para ocultar sua visão de que políticos eram figuras transitórias passando rapidamente por um tabuleiro no qual o verdadeiro controle estava nas mãos de homens como ele - veteranos que já haviam tido tempo para desenvolver uma perspectiva real sobre o jogo. Pickering costumava dizer que dois mandatos na Casa Branca não eram nem de longe o suficiente para entender a fundo a complexidade do cenário político internacional.

- Pode ser que seja apenas um pedido comum - disse Rachel, pensando alto e torcendo para que o presidente não se rebaixasse a ponto de tentar truques baratos de campanha. - Que ele precise de um relatório sobre algum assunto delicado, por exemplo.

- Sem querer menosprezar seu trabalho, agente Sexton, a Casa Branca tem acesso a uma boa quantidade de profissionais da sua área que poderiam fazer um relatório. Se de fato se tratar de um trabalho interno da Casa Branca, o presidente deveria ter pensado melhor antes de chamá-la. E, se não for isso, ele definitivamente deveria ter pensado melhor antes de requisitar uma reunião com um recurso do NRO e recusar-se a me dizer o motivo.

Pickering sempre se referia a seus funcionários como "recursos", uma forma de falar que muitos achavam peculiarmente fria.

- Seu pai está ganhando força - prosseguiu ele. - Muita força. A Casa Branca deve estar tensa com isso - suspirou. - O jogo político sempre envolve um certo desespero. Quando o presidente pede uma reunião secreta com a filha de seu oponente, creio que tem algo mais em mente do que relatórios de inteligência.

Rachel sentiu um arrepio. Os palpites de Pickering costumavam estar absolutamente corretos.

- E você tem medo de que a Casa Branca esteja desesperada o bastante para me colocar no meio desse jogo?

Ele fez uma breve pausa.

- Creio que você não faz muita força para ocultar seus sentimentos por seu pai e tenho certeza de que os coordenadores da campanha do presidente estão a par dessa cisão. Minha impressão é que podem estar querendo usá-la contra seu pai de alguma forma.

- Onde é que eu assino? - perguntou Rachel, sarcástica. Pickering não sorriu: apenas olhou para ela friamente.

- Vou lhe dar um conselho importante, agente Sexton. Se você acha que problemas particulares com seu pai podem atrapalhar seu julgamento ao lidar com o presidente, eu devo sugerir fortemente que recuse esse pedido.

- Recusar? - Rachel deu uma risadinha nervosa. - Eu não poderia negar um pedido do presidente.

- Não - disse o diretor -, mas eu posso.

Suas palavras ressoaram pela sala, lembrando a Rachel o outro motivo pelo qual ele era chamado de Quaker. Apesar de ser um homem de baixa estatura, William Pickering podia causar terremotos políticos quando ficava irritado.

- Minha preocupação, neste caso, é muito simples - disse Pickering. - Sou responsável por proteger aqueles que trabalham para mim e não aceito a mais vaga insinuação de que alguém do NRO possa ser usado como peão num jogo político.

- O que você me recomenda, então?

O diretor suspirou.

- Sugiro que vá se encontrar com ele. Não assuma compromissos. Assim que o presidente lhe disser o que tem em mente, ligue para mim. Se eu achar que ele está usando você como joguete político, acredite, vou tirá-la dessa história tão rápido que ele não vai nem saber o que o acertou.

- Obrigada, senhor. - Rachel sentia no diretor um estilo protetor que faltava a seu próprio pai. - O senhor disse que o presidente já mandou um carro?

- Quase isso. - Pickering levantou uma sobrancelha e apontou para fora. Sem entender muito bem, Rachel andou até a janela.

Um helicóptero PaveHawk MH-60G estava pousado no jardim. Um dos modelos mais rápidos existentes, aquele tinha a insígnia da Casa Branca. O piloto estava em pé do lado de fora, olhando impaciente para o relógio.

Rachel virou-se para o diretor sem acreditar naquilo.

- A Casa Branca mandou um PaveHawk só para me levar para um passeio de 25 quilômetros até lá?

- Aparentemente o presidente espera que você fique impressionada ou intimidada - disse Pickering, olhando para ela. - Sugiro que você não se deixe levar pelas emoções.

Ela concordou, mas era difícil se controlar. Estava impressionada e intimidada.

Quatro minutos depois, Rachel Sexton saiu do NRO e entrou no helicóptero que estava à sua espera. Quase que imediatamente, o aparelho estava no ar, descrevendo uma curva fechada sobre as florestas da Virgínia. Ela olhou para fora e viu as árvores passando tão rápido que pareciam um borrão abaixo dela. Sentiu seu pulso acelerar. Teria acelerado ainda mais se ela soubesse que aquele helicóptero jamais chegaria à Casa Branca.

CAPÍTULO 5
O vento gélido castigava o tecido Therma-Tech da tenda, mas Delta-Um não estava preocupado com isso. Ele e Delta-Três estavam concentrados em seu companheiro, que manipulava o joystick com uma precisão quase cirúrgica. A tela à frente deles exibia uma transmissão de vídeo em tempo real de uma câmera pouco maior que um alfinete instalada no microrrobô.

Este é o melhor dispositivo de vigilância já criado, pensou Delta-Um, que sempre se surpreendia quando ligavam o aparelho. Ultimamente, no mundo da micromecânica, os fatos pareciam superar a ficção.

Os microssistemas eletromecânicos (MEMS) - ou microrrobôs - eram a mais recente ferramenta de alta tecnologia para fins de vigilância.

Foram apelidados de "mosca na parede". Literalmente.

Ainda que robôs microscópicos com controle remoto parecessem saídos da ficção científica, na verdade já existiam desde os anos 1990. A revista Discovery publicou uma matéria de capa sobre microrrobôs, em meados de 1997, mostrando tanto os modelos "nadadores" quanto os "voadores". Os "nadadores" - nanossubmarinos do tamanho de um grão de sal - podiam ser injetados na corrente sangüínea de uma pessoa, como no filme Viagem fantástica. Estavam sendo usados pelas clínicas e hospitais mais avançados para ajudar os médicos a navegar pelas artérias usando um controle remoto. Assim podiam observar transmissões ao vivo de imagens intravenosas e localizar bloqueios arteriais sem jamais utilizar um bisturi.

Ao contrário do que poderíamos imaginar, construir um microrrobô voador era ainda mais simples. O conhecimento de aerodinâmica necessário para fazer uma máquina voar estava disponível desde o vôo dos irmãos Wright em Kitty Hawk, e a única coisa que precisava ser resolvida era a questão da miniaturização. Os primeiros microrrobôs voadores, projetados pela NASA como ferramentas de exploração remota para futuras missões em Marte, mediam pouco mais de um palmo. Contudo, com os recentes avanços em nanotecnologia, na fabricação de materiais ultraleves capazes de absorver energia e em micromecânica, os microrrobôs voadores haviam se tornado uma realidade.

O grande avanço veio do novo campo da biomimética, ou seja, como copiar a Mãe Natureza. Logo ficou claro que libélulas miniaturizadas eram o protótipo ideal para esses ágeis e eficientes microrrobôs voadores. O modelo PH2 que Delta-Dois estava controlando naquele momento tinha apenas um centímetro de comprimento; era quase do tamanho de um mosquito. Empregava um duplo par de asas transparentes, articuladas e feitas de lâminas de silício, que lhe davam uma mobilidade e eficiência sem igual para voar.

O mecanismo de reabastecimento dos microrrobôs havia sido outro grande avanço. Os primeiros protótipos só podiam recarregar suas células de energia quando se posicionavam diretamente sob uma luz intensa, o que obviamente não era ideal para mantê-los ocultos ou usá-los em locais escuros. Os novos modelos, contudo, podiam recarregar-se simplesmente parando a poucos centímetros de um campo magnético. Isso era particularmente conveniente, pois nos dias de hoje os campos magnéticos se tornaram onipresentes, além de ficarem discretamente posicionados. Tomadas, monitores de computador, motores elétricos, alto-falantes, telefones celulares... Parecia haver um número infinito de obscuras estações de recarga. Uma vez que o microrrobô fosse introduzido com sucesso em um local, ele poderia transmitir áudio e vídeo quase que indefinidamente. O PH2 da Força Delta estava transmitindo imagens há mais de uma semana sem nenhum contratempo.

Como um inseto dentro de uma caverna, o microrrobô voava agora, em completo silêncio, no ar parado do gigantesco salão central da estrutura. Fornecendo uma visão global do espaço abaixo dele, circulava despercebido sobre os ocupantes da sala - técnicos, cientistas e especialistas de campos diversos. Em meio às imagens vindas do PH2, Delta-Um vislumbrou os rostos familiares de duas pessoas que estavam conversando. Seriam uma boa fonte de informação.

Ele pediu a Delta-Dois que se aproximasse para ouvi-las.

Manipulando os controles, Delta-Dois ativou os microfones do robô, orientou seu amplificador parabólico e baixou-o até que ficasse a uns três metros da cabeça dos cientistas. A transmissão estava baixa, mas compreensível.

- Ainda não consigo acreditar - dizia um dos cientistas. O tom de animação em sua voz não havia diminuído desde que ali chegara há cerca de 48 horas.

O homem com quem conversava estava tão entusiasmado quanto ele.

- Em toda a sua vida... Você algum dia pensou que iria presenciar algo assim?

- Nunca - respondeu o cientista, sorrindo. - É como um sonho fantástico.

Delta-Um já havia ouvido o bastante. Estava claro que tudo lá dentro corria conforme o esperado. Delta-Dois manobrou o microrrobô de volta até seu esconderijo. Estacionou o pequeno dispositivo em um local onde não podia ser detectado, próximo ao motor de um gerador elétrico. As células de energia do PH2 começaram a recarregar-se, preparando-o para a próxima missão.



CAPÍTULO 6
Rachel estava perdida em pensamentos sobre os estranhos acontecimentos daquela manhã enquanto o PaveHawk cruzava os céus. Ela só percebeu que estavam indo na direção errada quando o helicóptero sobrevoou velozmente a baía de Chesapeake. Sua confusão inicial rapidamente cedeu lugar ao medo.

- Ei! - gritou para o piloto. - O que você está fazendo? - Sua voz mal podia ser ouvida em meio ao ruído dos rotores. - Você deveria estar me levando para a Casa Branca.

O piloto sacudiu a cabeça.

- Desculpe-me, senhora. O presidente não está na Casa Branca esta manhã.

Rachel tentou lembrar se Pickering havia mencionado especificamente a Casa Branca ou se era apenas algo que ela havia presumido.

- Onde ele está, então?

- Seu encontro é em outro local.

- Não me diga. E que outro local é esse?

- Não estamos longe.

- Não foi o que perguntei.

- Mais uns 25 quilômetros.

Rachel fez uma cara feia para ele. Esse cara deveria ser político.

- Você se desvia de balas tão bem quanto se desvia de perguntas?

O piloto não respondeu.

Levou menos de sete minutos para o helicóptero cruzar a baía de Chesapeake. Quando a terra voltou a aparecer, o piloto fez uma curva para o norte e contornou uma península estreita, onde Rachel viu uma série de pistas de pouso e instalações de aspecto militar. O piloto começou a descer, e ela entendeu, então, onde estavam. As seis plataformas de lançamento e torres de concreto chamuscadas davam uma boa pista, mas, se isso não bastasse, havia ainda duas palavras pintadas, com letras enormes, no telhado de um dos prédios: ILHA WALLOPS.

A ilha Wallops era uma das mais antigas bases de lançamento da NASA e continuava sendo usada para lançar satélites e testar aeronaves experimentais. Wallops era a instalação da NASA que ficava longe dos olhares indiscretos das câmeras.

- O presidente está na ilha Wallops?

Não fazia sentido.

O piloto do helicóptero seguiu a trajetória de três pistas de pouso que percorriam toda a extensão da península e pareciam se dirigir ao ponto mais distante da pista central. Então reduziu a velocidade.

- Você irá se encontrar com o presidente em seu escritório.

Rachel virou-se, tentando entender se era uma piada.

- O presidente dos Estados Unidos tem um escritório na ilha Wallops?

- O presidente dos Estados Unidos tem seu escritório onde desejar, senhora - respondeu o piloto, bem sério, apontando para o final da pista.

Ao ver a enorme silhueta brilhando ao longe, Rachel sentiu seu coração quase parar. Mesmo a 300 metros de distância, ela podia reconhecer a fuselagem azul clara do 747 modificado.

- Eu vou encontrá-lo a bordo do...

- Sim, senhora. Sua casa longe de casa.

Rachel olhou para o impressionante avião. A obscura designação militar daquele avião famoso era VC-25-A. O resto do mundo, contudo, o conhecia como Air Force One.

- Parece que você vai conhecer o novo modelo esta manhã - disse o piloto, indicando o número pintado na cauda do avião.

Rachel concordou. Poucos sabiam que, na verdade, existiam dois Air Force One em serviço ao mesmo tempo; dois 747-200-B configurados de forma idêntica, um deles com a numeração 28000 e o outro numerado 29000. Ambos tinham uma velocidade de cruzeiro de 600 milhas por hora e haviam sido modificados para reabastecimento em vôo, o que lhes dava, na prática, autonomia ilimitada.

O PaveHawk desceu na pista ao lado do avião presidencial e, ao observá-lo, Rachel compreendeu por que muitos diziam que o comandante-em-chefe da nação levava sempre vantagem ao se deslocar no Air Force One. A visão da aeronave era intimidadora.

Quando o presidente viajava para outros países a fim de se encontrar com chefes de estado, muitas vezes pedia, por razões de segurança, que a reunião ocorresse na pista, a bordo de seu jato. Ainda que o pedido fosse motivado pela preocupação com sua proteção, com certeza havia também a intenção de se ganhar alguma vantagem na negociação através da intimidação pura e simples. Uma visita ao Air Force One era muito mais impressionante do que qualquer visita à Casa Branca. Na fuselagem, com quase dois metros de altura, estava escrito ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA.

- Senhorita Sexton? - Um agente do serviço secreto, vestindo um terno, surgiu do lado de fora do helicóptero e abriu a porta para ela. – O presidente está à sua espera.

Rachel saiu do helicóptero e olhou, do início da escada, para a enorme aeronave. Lembrava-se de ter ouvido dizer que o "Salão Oval" voador tinha quase 400 metros quadrados de espaço interno, incluindo quatro dormitórios privados, acomodações para uma tripulação de 26 pessoas e dois refeitórios capazes de fornecer comida para 50 pessoas.

Rachel subiu pela escada de acesso, sentindo a presença do agente do serviço secreto atrás dela, escoltando-a. No alto, a porta da cabine estava aberta, como um pequeno corte feito na lateral de uma gigantesca baleia metálica. Dirigiu-se para a entrada escura e sentiu que sua autoconfiança diminuía.

Calma, Rachel. É só um avião.

Na entrada do avião, o agente educadamente tomou seu braço e guiou-a através de um corredor surpreendentemente estreito. Viraram para a direita, andaram alguns passos e chegaram a uma luxuosa e espaçosa cabine. Rachel já a havia visto antes em fotografias.

- Espere aqui - disse o agente, saindo da sala.

Rachel ficou sozinha na famosa cabine dianteira do Air Force One, observando as paredes revestidas com madeira. .

Aquela era a sala usada para reuniões, para entreter chefes de estado e, aparentemente, para matar de medo os passageiros de primeira viagem.

Coberta de ponta a ponta por um grosso carpete marrom-claro, a sala ocupava toda a largura do avião. A mobília era impecável - cadeiras de couro de cabra dispostas em torno de uma mesa oval de reuniões feita de uma madeira rara, luminárias em bronze ao lado de um sofá de design sofisticado e de um bar de mogno sobre o qual havia um conjunto de taças de cristal gravadas à mão.

Supostamente os designers da Boeing teriam projetado aquela cabine a fim de transmitir aos passageiros um "sentido de ordem e tranqüilidade". Tranqüilidade, contudo, era a última coisa que Rachel sentia naquele momento. Só conseguia pensar no número de líderes mundiais que já haviam se sentado naquela mesma sala e tomado decisões que mudaram os rumos da História.

Tudo naquela sala transmitia a sensação de poder, desde o suave aroma de fumo para cachimbo até o onipresente selo presidencial. A águia agarrando as flechas e os ramos de oliva estava bordada nas almofadas, gravada no balde de gelo e até mesmo impressa nos descansos para copos no bar. Rachel pegou um deles e o observou.

- Já está roubando um souvenir? - perguntou uma voz grave atrás dela.

Assustada, Rachel deixou o descanso cair no chão e ajoelhou-se desajeitadamente para pegá-lo. Ao se levantar, deu de cara com o presidente dos Estados Unidos, olhando-a com um sorriso divertido.

- Não sou da realeza, senhorita Sexton. Não é preciso ajoelhar-se.


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