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CAPÍTULO 81
De pé na sala de Yolanda Cole na ABC, Gabrielle Ashe, radiante, discava para o auxílio à lista telefônica.

Se as suspeitas de Sexton fossem confirmadas, teriam um potencial destrutivo. A NASA mentiu sobre o PODS? Gabrielle assistira àquela coletiva de Chris Harper e se lembrava de que tinha sido realmente estranha. Ainda assim, como já fazia algum tempo, ela havia esquecido os detalhes. O PODS não era uma questão relevante algumas semanas atrás. Naquela noite, porém, tinha se tornado a questão central.

Agora o senador precisava de informações - e rápido. Ele esperava que o "informante" de Gabrielle pudesse ajudá-los. E ela prometera fazer todo o possível para conseguir o que ele queria. O problema era que sua informante, Tench, não iria ajudar nem um pouco. Então Gabrielle tinha que encontrar outra saída.

- Auxílio à lista - disse a voz ao telefone.

Gabrielle pediu a informação que desejava, e a telefonista forneceu três números para Chris Harper em Washington. Ela começou a tentar um por um. O primeiro era uma firma de advogados. O segundo não respondeu. O terceiro estava tocando agora.

Uma mulher atendeu.

- Residência dos Harper.

- Senhora Harper? - disse Gabrielle da forma mais educada possível. - Espero não tê-la acordado.

- Ora, claro que não! Acho que ninguém vai dormir hoje. - Ela parecia bastante animada. Gabrielle podia ouvir a televisão ao fundo, ainda noticiando a incrível história do meteorito. - Você está procurando o Chris?

- Sim, ele está? - perguntou Gabrielle, o coração batendo acelerado.

- Lamento, mas ele não está aqui. Saiu correndo assim que o presidente terminou seu pronunciamento. - A mulher deu uma risadinha do outro lado da linha. - Claro que não acho que eles estejam trabalhando por lá. Provavelmente estão todos festejando. O comunicado foi uma grande surpresa para ele. Aliás, para todo mundo. Nosso telefone não parou de tocar a noite inteira. Acho que toda a equipe está celebrando na sede da NASA.

- Obrigada. Vou procurá-lo por lá.

Desligou. Saiu correndo pela redação e encontrou Yolanda. Ela tinha acabado de reunir um grupo de especialistas do setor aeroespacial que entraria no ar dentro de alguns instantes para fazer comentários entusiásticos sobre o meteorito.

Yolanda sorriu quando viu a amiga chegando.

- Ei, você está me parecendo bem melhor - ela disse. - Começou a ver o lado bom das coisas?

- Acabei de falar com o senador. Sua reunião desta noite não foi bem o que eu estava pensando.

- Eu lhe disse que Tench queria fazer você de tola. Como foi que o senador recebeu as notícias sobre o meteorito?

- Bem melhor do que eu imaginava. Yolanda ficou um pouco surpresa.

- Achei que ele ia se jogar embaixo de um ônibus depois daquilo.

- Ele acha que talvez os dados da NASA sejam falsificados.

- Hum... Você tem certeza de que ele viu a mesma coletiva que a gente? Ele precisa de mais dados e confirmações?

- Vou até à NASA verificar uma coisa.

As sobrancelhas delineadas de Yolanda se arquearam. Ela estava intrigada.

- O braço-direito do senador Sexton vai entrar de peito aberto na sede da NASA? Esta noite? Você tem idéia do que seja "apedrejamento público"?

Gabrielle contou a Yolanda sobre a suspeita de Sexton de que o gerente de projeto do PODS tivesse mentido sobre a solução para os problemas no software. Mas a editora não acreditou muito naquilo.

- Nós fizemos a cobertura daquela coletiva, Gabi. Admito que Harper estava meio esquisito naquela noite, mas a NASA disse que ele estava passando muito mal.

- Sexton está convencido de que ele mentiu. Outras pessoas concordam com o senador. Pessoas poderosas.

- Se o software de detecção do PODS não foi consertado, como o

satélite poderia ter encontrado o meteorito?

A questão é exatamente essa, pensou Gabrielle.

- Não sei ainda. Mas o senador quer que eu consiga algumas respostas para ele.

Yolanda sacudiu a cabeça.

- Sexton está mandando você para a toca do dragão em um devaneio desesperado. Não vá. Você não deve nada àquele homem.

- Eu acabei com a campanha dele.

- Não, foi uma terrível falta de sorte que destruiu a campanha do

senador.


- Mas, se ele estiver certo e Harper tiver realmente mentido sobre o PODS...

- Querida, se Harper mentiu para o mundo inteiro, por que iria contar

a verdade justamente para você?

Gabrielle já havia se perguntado a mesma coisa e estava elaborando um plano.

- Se eu encontrar uma boa história por lá, prometo te ligar.

Yolanda deu um risinho cético.

- Se você encontrar uma boa história por lá, eu como meu chapéu!

CAPÍTULO 82
Esqueça tudo o que você sabe sobre essa amostra de rocha.

Michael Tolland vinha lutando contra suas próprias inquietações a respeito do meteorito, mas, com as perguntas de Rachel, ficara ainda mais incomodado com o assunto. Olhou para a amostra na sua mão.

Suponha que alguém lhe deu isso sem qualquer explicação sobre onde foi encontrado ou o que é. Qual seria sua análise?

Aquele era um bom exercício analítico. Se tivesse que descartar todos os dados que recebera ao chegar à habisfera, Tolland teria que concordar que sua análise dos fósseis fora profundamente influenciada por um pressuposto peculiar: o de que a rocha na qual eles se encontravam era um meteorito.

E se NÃO tivessem me dito que era um meteorito?, perguntou a si mesmo.

Apesar de ainda não ser capaz de dar qualquer outra explicação, o oceanógrafo decidiu prosseguir com a hipótese e remover "o meteorito" como pressuposto. Ao fazê-lo, os resultados se tornaram um pouco diferentes.

Agora Tolland e Rachel avaliavam as possibilidades. Corky, que havia acordado mas ainda estava meio grogue, se juntou a eles.

- Mike - repetiu Rachel, empolgada -, quer dizer então que, se alguém lhe desse essa rocha fossilizada sem qualquer explicação adicional, você concluiria que ela veio da Terra?

- É claro - respondeu Tolland. - O que mais eu poderia concluir? É muito mais complicado afirmar que você encontrou vida extraterrestre do que dizer que descobriu fósseis de algumas espécies terrestres até então desconhecidas. Os cientistas descobrem dezenas de novas espécies a cada ano.

- Tatuzinhos de 60 centímetros? - indagou Corky, soando cético. - Você pode imaginar um artrópode desse tamanho aqui na Terra?

- Talvez não agora - respondeu Tolland -, mas não precisa ser uma

espécie que tenha sobrevivido até os dias de hoje. Esse fóssil tem 190 milhões de anos. Corresponderia mais ou menos ao nosso Jurássico. Muitos fósseis pré-históricos são criaturas gigantescas que nos surpreendem quando encontramos seus restos fossilizados: enormes répteis com asas, dinossauros, pássaros.

- Não é porque sou físico, Mike - interveio Corky -, mas há um problema sério em sua argumentação. Todas as criaturas pré-históricas que você acabou de mencionar tinham esqueletos internos, o que lhes dava a capacidade de crescer de maneira absurda, apesar da gravidade da Terra. Mas este fóssil... - Ele pegou a amostra e olhou-a novamente. - Estes caras aqui têm exoesqueleto. Você sabe que qualquer bicho com esse tamanho só poderia ter evoluído em um ambiente com baixa gravidade. Do contrário, seu esqueleto externo teria colapsado com o próprio peso.

- Correto - respondeu Tolland. - Essa espécie jamais poderia ter andado na superfície da Terra.

Corky olhou para ele sem entender.

- Então, Mike, não vejo como você pode imaginar que este bicho é de origem terrena.

Tolland sorriu para si mesmo, achando incrível que Corky não estivesse percebendo algo tão simples.

- É que há uma outra possibilidade. - Fitou o amigo. - Corky, você está acostumado a olhar para cima o tempo todo. Olhe para baixo. Há um enorme ambiente antigravitacional bem aqui na Terra. E está aqui desde os tempos pré-históricos.

Corky continuou sem entender.

- Do que você está falando?

Rachel também não estava acompanhando o raciocínio de Michael. Ele apontou pela janela para o mar, que agora podia ser visto, iluminado pela Lua, reluzindo abaixo do avião.

- O oceano.

Rachel deu um assobio baixo.

- É claro.

- A água é um ambiente com baixa gravidade - prosseguiu Tolland. - Tudo pesa menos sob a água. O oceano abriga enormes e frágeis estruturas que nunca poderiam existir em terra: anêmonas, lulas gigantes, enguias, etc.

Corky concordou, apesar de ainda não estar inteiramente convencido.

- Tudo bem, mas o oceano pré-histórico nunca teve artrópodes gigantes como esses.

- Claro que teve. Na verdade, ainda tem. As pessoas os comem diariamente. São considerados iguarias em muitos países.

- Mike, quem diabos come esses bichos?

- Qualquer um que coma lagostas, caranguejos e camarões.

Corky ficou parado, olhando para ele.

- Os crustáceos são artrópodes marítimos gigantes. São uma classe do filo dos artrópodes. Por exemplo, tatuzinhos, caranguejos, aranhas, gafanhotos, escorpiões, lagostas e insetos em geral são todos aparentados. São invertebrados com corpo segmentado e exoesqueleto.

Corky parecia estar ficando enjoado.

- Do ponto de vista taxonômico, são bastante similares - explicou Tolland. - O límulo se parece com um trilobita gigante. E as pinças de uma lagosta se parecem muito com as de um grande escorpião.

Corky ficou verde.

- Tudo bem, nunca mais vou comer lagosta.

Rachel parecia fascinada.

- Então os artrópodes que vivem em terra não crescem muito porque a gravidade limita seu tamanho. Mas, na água, seus corpos flutuam, então eles podem crescer bem mais.

- Exatamente. O caranguejo do Alasca poderia ser incorretamente classificado como uma aranha gigante se tivéssemos como evidência apenas um fóssil.

A animação de Rachel transformou-se em preocupação.

- Mike, novamente deixando de lado a questão da aparente autenticidade do meteorito, me diga uma coisa: você acha que os fósseis que vimos em Milne poderiam ter vindo do fundo do mar? De algum oceano aqui da Terra?

Tolland sentiu o verdadeiro peso daquela pergunta.

- Hipoteticamente, eu diria que sim. O fundo do mar possui seções que têm 190 milhões de anos. A mesma idade que os fósseis. E, teoricamente, os oceanos poderiam ter acolhido formas de vida que se parecessem com essas.

- Ah, pára com isso! - zombou Corky. - Não posso acreditar no que você está dizendo. Deixando de lado a questão da autenticidade do meteorito? A autenticidade do meteorito é irrefutável. Mesmo que a Terra possua locais do oceano formados na mesma época que o meteorito, não temos um fundo do oceano com crosta de fusão, conteúdo anômalo de níquel e côndrulos. Vocês estão procurando sarna para se coçar.

Tolland concordava com Corky, mas, ainda assim, imaginar aqueles fósseis como criaturas marinhas havia tirado um pouco de seu fascínio por eles. Pareciam mais familiares agora.

- Mike, por que nenhum dos cientistas da NASA considerou a possibilidade de que os fósseis fossem de criaturas marinhas, mesmo que de oceanos de outro planeta? - perguntou Rachel.

- Há duas razões básicas. Amostras de fósseis pelágicos, ou seja, aqueles que vêm do oceano, tendem a exibir grande número de espécies misturadas. Qualquer ser que exista nos milhões de metros cúbicos de água do oceano vai morrer um dia e descer até o fundo. Isso significa que, com o tempo, o fundo do oceano se torna um cemitério de espécies de diversas profundidades, níveis de pressão e temperatura. Mas a amostra de Milne era limpa, havia apenas uma espécie. Os fósseis pareciam-se mais com os que podem ser encontrados no deserto. Um grupo de animais similares enterrados durante uma tempestade de areia, por exemplo. Rachel assentiu.

- E a segunda razão?

Tolland sorriu.

- Puro instinto. Os cientistas sempre acreditaram que, se o espaço fosse povoado, seria por artrópodes terrestres, pois, pelo que já conseguimos observar do espaço, há muito mais poeira e rochas lá fora do que água.

Ela ficou em silêncio.

- Apesar de que... - Tolland acrescentou, refletindo melhor sobre a pergunta de Rachel - ...existem camadas muito profundas do oceano que nós, oceanógrafos, chamamos de "zonas mortas". Não compreendemos inteiramente seu funcionamento, mas são áreas nas quais as condições das correntes e as fontes de alimentação não permitem que quase nada viva, com exceção de umas poucas espécies de animais que vivem no

fundo e se alimentam de bichos mortos. Se fôssemos levar isso em conta, suponho que um fóssil contendo uma única espécie não estaria completamente fora de questão.

- Alô? Câmbio? - resmungou Corky. - Vocês já se esqueceram de novo da crosta de fusão? Do conteúdo de níquel e dos côndrulos? Por que continuamos falando nisso?

Tolland não respondeu.

- A respeito do conteúdo de níquel - Rachel disse para Corky -, você poderia me explicar novamente? O conteúdo de níquel em rochas terrestres é muito alto ou muito baixo, mas em meteoritos o níquel se encontra sempre dentro de uma janela de valores intermediários?

Corky balançou a cabeça.

- Exato.


- E o conteúdo de níquel nessa amostra está precisamente dentro do intervalo de valores esperado.

- Está bem próximo.

Rachel ficou surpresa com a resposta.

- Espere aí. Próximo? O que você quer dizer com isso?

Corky estava ficando irritado.

- Como eu já expliquei antes, a mineralogia de cada meteorito difere.

À medida que vamos encontrando novos meteoritos, nós, cientistas, atualizamos nosso cálculo do que consideramos um nível aceitável de conteúdo de níquel.

Rachel ficou perplexa. Segurou a amostra e perguntou:

- Então este meteorito fez com que você reavaliasse o que considera um nível aceitável de conteúdo de níquel num meteorito? Ele ficou fora do intervalo padrão?

- Apenas ligeiramente - retrucou Corky.

- E por que ninguém mencionou isso antes?

- Isso não está sendo questionado. A astrofísica é uma ciência dinâmica, constantemente atualizada.

- Atualizada durante uma análise especialmente crítica?

- Olhe - disse Corky, exasperado -, posso lhe assegurar que o conteúdo de níquel dessa amostra está absurdamente mais próximo do encontrado em outros meteoritos do que em qualquer rocha do nosso planeta.

Rachel virou-se para Tolland:

- Você sabia disso?

Tolland relutantemente fez que sim. Não parecia ser uma questão importante horas atrás.

- Tudo o que me disseram foi que esse meteorito exibia um conteúdo de níquel ligeiramente mais alto do que o de outros meteoritos, mas os especialistas da NASA não estavam preocupados com isso.

- E não tinham por quê! A prova mineralógica que temos não demonstra que o conteúdo de níquel caracterize definitivamente a amostra como sendo um meteorito - interveio Corky. - No entanto, ela caracteriza a amostra como algo que definitivamente não é da Terra.

Rachel balançou a cabeça.

- Lamento, mas no meu ramo é esse tipo de lógica falha que faz com que pessoas sejam mortas. Dizer que uma rocha parece não ser da Terra não prova que ela seja um meteorito. Apenas prova que é algo que nunca encontramos na Terra.

- E onde está a diferença?

- Não há nenhuma - ironizou Rachel. - Contanto que você já tenha examinado todas as rochas da Terra.

Corky ficou em silêncio durante algum tempo.

- Certo - disse ele -, vamos ignorar a questão do conteúdo de níquel, já que isso a deixa tão aflita. Ainda temos a crosta de fusão perfeita e os côndrulos.

- Certamente - disse Rachel, sem muita convicção. - Duas provas em três não é de todo mau.



CAPÍTULO 83
O prédio-Sede da NASA era um enorme retângulo de vidro localizado na Rua E, 300, em Washington, D.C. O edifício continha um emaranhado de mais de 300 quilômetros de cabos de dados e uma quantidade impressionante de computadores. Abrigava também 1.134 funcionários civis que administravam os 15 bilhões de dólares do orçamento anual da NASA e o dia-a-dia operacional das 12 bases espalhadas pelos Estados Unidos.

Apesar de já ser tarde, Gabrielle não se surpreendeu ao ver o saguão do prédio cheio de gente. Parecia uma confraternização entre animadas equipes de imprensa e membros da NASA ainda mais eufóricos. Ela entrou. O local parecia um museu, decorado dramaticamente com réplicas em escala natural de cápsulas de missões famosas e de satélites artificiais, todas pendendo do teto. As equipes de televisão estavam coletando depoimentos no enorme saguão de mármore, entrevistando funcionários da NASA que passavam por ali.

Gabrielle correu os olhos pela multidão, mas não viu ninguém parecido com Chris Harper. Metade das pessoas no saguão tinha passes de imprensa e a outra metade, crachás da NASA pendurados no pescoço.

Gabrielle não possuía nem um nem outro. Ela viu uma jovem com crachá da NASA e correu até ela.

- Oi. Estou procurando Chris Harper. Você sabe onde ele está?

A mulher olhou para Gabrielle de um jeito estranho, como se a conhecesse de algum lugar, mas não soubesse bem de onde.

- Acho que vi o doutor Harper algum tempo atrás. Talvez ele tenha subido. Conheço você de algum lugar?

- Creio que não - disse Gabrielle, virando-se. - Como eu chego lá em cima?

- Você trabalha para a NASA?

- Não.


- Então você não pode subir.

- Ah. Tem algum telefone que eu possa usar para...

- Ei! - disse a mulher, subitamente se irritando. - Já sei quem você é. Eu a vi na televisão com o senador Sexton. Não acredito que você tenha tido a coragem de...

Gabrielle sumiu no meio da multidão. Atrás dela ainda podia ouvir a mulher contando a outras pessoas que a assessora de Sexton estava ali.

Fantástico. Dois segundos aqui dentro e já estou na lista dos mais procurados. Mantendo a cabeça baixa, andou rapidamente em direção ao outro extremo do saguão. Uma placa indicando as salas do prédio estava afixada na parede. Ela procurou alguma referência a Chris Harper.

Nada. A placa não continha nomes, estava organizada por departamentos.

Ela resolveu então procurar qualquer coisa que tivesse a ver com o PODS. Também não encontrou nada. Estava com medo de olhar para trás e defrontar-se com uma turba de funcionários da NASA vindo apedrejá-la.

A indicação mais interessante era de uma sala no quarto andar:

EARTH SCIENCE ENTERPRISE, FASE II SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA TERRA (EOS)

Escondendo o rosto, Gabrielle andou em direção ao hall de elevadores, onde havia um bebedouro. Ela procurou os botões para chamar os elevadores, mas tudo que encontrou foram fendas. Droga! Os elevadores possuíam um sistema de segurança e só podiam ser acionados pelos crachás dos funcionários.

Alguns homens aproximaram-se dos elevadores falando em voz alta e rindo. Todos usavam crachás da NASA. Gabrielle rapidamente curvou-se sobre o bebedouro, prestando atenção aos homens atrás dela. Um deles inseriu seu cartão de identificação na fenda e abriu o elevador. Ele estava rindo, sacudindo a cabeça, impressionado.

- O pessoal do SETI deve estar completamente alucinado! - disse, entrando no elevador. - Seus radiotelescópios vasculharam fluxos abaixo de 200 milijansky durante 20 anos e a prova física estava enfiada no gelo, bem aqui na Terra, esse tempo todo!

As portas se fecharam e os homens sumiram de vista.

Gabrielle levantou-se, secou a boca e ficou pensando sobre o que faria em seguida. Olhou em volta procurando um interfone. Nada. Pensou se teria alguma chance de roubar um passe de segurança, mas algo lhe dizia que não era uma boa idéia. Tinha que fazer algo rápido, porque a mulher com quem falara ao entrar estava vasculhando a multidão à sua procura, acompanhada de um segurança da NASA.

Um homem bem vestido, careca, caminhou em direção ao hall. Gabrielle mais uma vez inclinou-se sobre o bebedouro. O homem pareceu nem notar sua presença. Ela ficou observando, em silêncio, enquanto ele inseria o cartão na fenda. As portas de outro elevador se abriram e o homem entrou.

Dane-se, pensou Gabrielle, decidida. É agora ou nunca.

Quando as portas começaram a se fechar, ela correu e esticou o braço, bloqueando-as. O elevador parou e Gabrielle entrou com uma cara de grande alegria.

- Puxa, você já viu isso aqui assim? - puxou conversa com o careca, que olhava para ela espantado. - Minha nossa, uma loucura completa.

O homem levantou uma sobrancelha.

- O pessoal do SETI deve estar completamente alucinado! - disse ela. - Seus radiotelescópios vasculharam fluxos abaixo de 200 milijansky durante 20 anos e a prova física estava enfiada no gelo, bem aqui na Terra, esse tempo todo!

O careca parecia confuso.

- É... bom, realmente, isso foi muito... - ele olhou para o pescoço dela, preocupado por não encontrar um crachá. - Perdão, mas você...

- Quarto andar, por favor. Eu saí de casa tão rápido que esqueci meus documentos! - disse, aproveitando para ler rapidamente o crachá do homem: JAMES THEISEN, Administração Financeira.

-Você trabalha aqui? - Ele estava ficando desconfiado. - Senhorita...?

Gabrielle deixou cair o queixo.

- Ei, Jim! Estou magoada! Não há nada pior para uma mulher do que saber que ninguém olha para ela!

Thelsen ficou pálido por um instante, sem saber bem o que fazer. Passou a mão pela testa, constrangido.

- Desculpe. Toda essa agitação, você sabe... Sim, claro que você me parece familiar. Em que programa está trabalhando?

Merda. Gabrielle deu um sorriso confiante.

-EOS.


Ele apontou para o botão do quarto andar, aceso.

- Obviamente. Eu quis dizer qual projeto?

Gabrielle sentiu seu coração bater mais rápido. Só podia pensar em uma resposta.

- PODS.


O homem ficou surpreso.

- É mesmo? Eu achei que já conhecia todo mundo da equipe do doutor Harper.

Ela deu um risinho, com uma expressão envergonhada.

- O Chris tem me mantido um pouco afastada. Eu sou a programadora imbecil responsável pela confusão com a tabela de voxels do software de detecção de anomalias.

O careca ficou de queixo caído.

- Sério? Foi você?

Gabrielle fez uma cara triste.

- É, faz semanas que não durmo.

- Mas Harper levou toda a culpa pelo que aconteceu.

- Eu sei. O Chris é assim. Mas ele acabou resolvendo tudo. E que grande notícia tivemos esta noite, não é? O meteorito. Estou abismada.

O elevador parou no quarto andar. Gabrielle saiu.

- Bom te ver, Jim. Mande um abraço para o pessoal do financeiro.

- Tá legal - disse ele enquanto as portas se fechavam. - Foi um prazer reencontrá-la.
CAPÍTULO 84
Zach Herney, como a maioria dos presidentes antes dele, sobrevivia com apenas quatro ou cinco horas de sono por noite. Durante as últimas semanas, contudo, ele tinha dormido bem menos. Agora que a empolgação gerada pelos eventos daquela noite começara a diminuir lentamente, Herney sentiu o peso das horas sem sono se avolumando em seu corpo.

Ele e alguns outros membros do alto escalão do governo estavam no Salão Roosevelt tomando champanhe, comemorando e assistindo às incontáveis repetições do pronunciamento, a trechos do documentário de Tolland e aos comentários de especialistas na televisão. Naquele momento um canal de TV mostrava uma exuberante repórter em frente à Casa Branca.

- Além das implicações que isso terá para a humanidade como um todo, esse achado da NASA terá algumas repercussões políticas bem duras aqui em Washington - ela dizia. - A descoberta desse meteorito contendo fósseis não poderia ter chegado num momento mais oportuno para a campanha do presidente. - Adotando um tom mais sombrio, a repórter prosseguiu: - Nem em momento pior para o senador Sexton. - A edição de imagens cortou para um replay do patético debate daquela tarde na CNN.

- Após 35 anos, acho que está bem claro que não vamos encontrar vida extraterrestre.

- E se o senhor estiver errado? Sexton olhou para cima, com desdém.

- Ah, pelo amor de Deus, senhora Tench, se eu estiver errado, como meu chapéu.

Todos riram no Salão Roosevelt. A forma como Tench havia acuado o senador poderia soar cruel e grosseira após o anúncio do presidente, mas ainda assim os espectadores não pareceram notar. O tom da resposta era tão presunçoso que Sexton parecia ter recebido aquilo que merecia.

O presidente olhou pela sala, procurando sua consultora. Ele não a vira mais desde a coletiva, e Tench também não estava lá agora.

Estranho, pensou. Esta comemoração é uma vitória dela, tanto quanto minha.

A reportagem estava terminando, enfatizando mais uma vez a incrível vantagem política obtida pela Casa Branca e a enorme derrota sofrida por Sexton.

Quanta diferença pode fazer um dia, pensou o presidente. Na política, seu mundo inteiro pode mudar de uma hora para outra.

Ao amanhecer ele iria descobrir o quanto aqueles pensamentos tinham sido proféticos.



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