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CAPÍTULO 88
Mesmo com o sistema de propulsão de metano da aeronave Aurora sendo usado a meia potência, a Força Delta estava cruzando o céu a Mach 3, ou seja, pouco mais de 3.500 km/h. O ruído repetitivo dos PDEs - propulsores por detonação de ondas em pulsos - que vinha da parte traseira era hipnótico. Trinta metros abaixo deles, o oceano agitava-se fortemente, chicoteado pela onda de vácuo do Aurora, que fazia a água subir em longas lâminas paralelas de 15 metros de altura logo atrás do avião.

Foi por isso que o SR-71 Blackbird foi tirado de serviço, pensou Delta-Um.

O Aurora era um daqueles aviões experimentais a respeito dos quais ninguém deveria saber nada, mas todos sabiam. Até mesmo o Discovery Channel fizera um documentário sobre os testes do Aurora no lago Groom, em Nevada. Ninguém tinha certeza se os vazamentos de informação tinham sido causados pelos repetidos "terremotos celestes", ouvidos até mesmo em Los Angeles, ou pelo profundo azar de uma testemunha ter avistado o avião a partir de uma plataforma de petróleo no mar do Norte. Ou ainda se eram resultado de uma tremenda gafe administrativa, em que algum funcionário desavisado teria deixado passar uma descrição do Aurora numa cópia pública do orçamento do Pentágono. Não importava.

As notícias haviam se espalhado: "Os militares americanos possuem um avião capaz de atingir Mach 6 e não é apenas um protótipo, ele voa de fato."

Fabricado pela Lockheed, o Aurora lembrava muito seu predecessor, o SR-71 Blackbird. Tinha 34 metros de comprimento, 18 de largura e sua superfície era formada por placas de cerâmica resistentes a altas temperaturas, como as que são usadas no ônibus espacial. A velocidade era resultado de um novo e exótico sistema de propulsão por detonação de ondas em pulsos, que queimava metano e deixava um rastro de fumaça em forma de anéis facilmente identificável no céu. Por isso, ele só voava à noite.

Naquela noite, graças a essa extrema velocidade, a Força Delta tinha escolhido uma rota mais longa até à base, em meio ao oceano aberto.

Mesmo tendo que percorrer uma distância maior, estavam ultrapassando sua presa. Nessa velocidade, a equipe iria chegar à costa leste dos Estados Unidos em menos de uma hora, ou seja, pelo menos duas horas antes de seus alvos. A possibilidade de encontrar e derrubar o avião em questão havia sido debatida, mas o controlador temia que o ataque fosse captado pelos radares ou que os destroços carbonizados pudessem dar início a uma grande investigação. Por isso, ele decidira que seria melhor deixar o avião aterrissar conforme o planejado. Uma vez que estivesse claro onde suas vítimas pretendiam pousar, a Força Delta poderia entrar em ação.

O Aurora estava percorrendo o desolado mar de Labrador quando o CrypTalk de Delta-Um recebeu uma chamada. Ele atendeu.

- A situação mudou - informou a voz eletrônica. - Vocês têm um novo alvo antes que Rachel Sexton e os cientistas pousem.

Um novo alvo. Delta-Um podia sentir que os acontecimentos estavam se desdobrando. Havia ocorrido um novo vazamento e o controlador precisava que fosse contido o mais rápido possível. Isso não estaria acontecendo, ele culpou-se, se tivéssemos acertado nossos alvos na plataforma de Mune. Delta-Um sabia muito bem que estava limpando sua própria sujeira.

- Um quarto indivíduo entrou no jogo - disse o controlador.

- Quem?


O controlador fez uma pausa antes de dizer o nome.

Os três homens trocaram olhares espantados. Era um nome que todos conheciam bem.

O chefe tinha bons motivos para soar relutante!, pensou Delta-Um.

Considerando-se que, originalmente, aquela era uma missão de "fatalidade zero", nada estava saindo como o esperado: a contagem de corpos subia a cada momento e o perfil dos alvos mudara drasticamente.

Ele sentiu seus músculos se contraírem enquanto o controlador se preparava para informá-los exatamente como e onde iriam eliminar aquele novo indivíduo.

- As apostas subiram consideravelmente - disse o controlador. – Ouçam com atenção. Vou dar essas instruções uma única vez.



CAPÍTULO 89
Sobrevoando o norte do estado do Maine, o G-4 continuava sua rota em direção a Washington. A bordo, Tolland e Corky olhavam para Rachel. Ela estava explicando aos dois sua teoria sobre o que poderia ter provocado um aumento nos íons de hidrogênio na crosta de fusão do meteorito.

- A NASA possui uma base de testes chamada Estação Plum Brook – disse Rachel, surpresa consigo mesma por estar contando aquilo. Ela jamais havia divulgado informações secretas sem seguir rigidamente o protocolo, mas, considerando-se as circunstâncias, Tolland e Corky tinham o direito de saber.

- Plum Brook é basicamente uma área de testes para os sistemas de propulsão mais avançados da NASA. Há dois anos eu preparei um relatório sobre um novo projeto que a agência espacial estava testando. Era chamado de PCE - Propulsor de Ciclo de Expansão.

Corky olhou para ela, desconfiado.

- Os propulsores de ciclo de expansão ainda estão em fase de discussão teórica. No papel. Ninguém está fazendo testes, serão necessárias algumas décadas até que isso seja possível.

Rachel balançou a cabeça.

- Não, Corky. A NASA já tem protótipos em teste.

- O quê? - ele continuava cético. - Os PCEs funcionam à base de uma mistura de oxigênio e hidrogênio líquidos, sendo que ambos congelam no espaço. Esses propulsores não têm valor para a NASA, que disse que somente iria tentar construir um modelo quando a questão do congelamento dos combustíveis estivesse superada.

- Já foi. Tiraram o oxigênio e criaram uma "pasta de hidrogênio", uma combinação de hidrogênio sólido e líquido que resulta num combustível criogênico de hidrogênio puro, em estado semicongelado. É muito poderoso e sua queima é bem limpa. É um forte candidato a ser o sistema de propulsão escolhido quando a NASA enviar missões a Marte.

Corky estava chocado.

- Isso não pode ser real.

- Acho bom que seja - respondeu Rachel. - Escrevi um resumo a respeito para o presidente. Pickering, meu chefe, estava revoltado porque a NASA queria anunciar publicamente o sucesso da "pasta de hidrogênio". Ele pediu que a Casa Branca forçasse a NASA a manter os resultados como segredo de estado.

- Por quê?

- Não importa - respondeu Rachel, que não tinha a menor intenção de divulgar mais informações do que o necessário. A verdade era que Pickering queria que o combustível fosse classificado como "secreto" por uma questão de segurança nacional que muitos desconheciam: a alarmante expansão da tecnologia espacial da China. Os chineses estavam desenvolvendo uma plataforma de lançamentos "comercial", que pretendiam alugar para quem fizesse a melhor oferta. A maior parte dos interessados, naturalmente, seria de inimigos dos EUA. As implicações para a segurança da nação eram devastadoras. O NRO sabia, contudo, que a China estava trabalhando com um modelo obsoleto de propulsores para sua plataforma de lançamentos, e Pickering achava que seria bastante sensato manter silêncio completo sobre o promissor sistema da NASA.

- Resumindo - disse Tolland, parecendo preocupado -, quer dizer que a NASA possui um sistema de propulsão limpo que funciona com hidrogênio puro?

Rachel confirmou.

- Não tenho os números de cabeça, mas as temperaturas de exaustão desses propulsores, até onde me lembro, eram muito superiores a qualquer outra coisa já desenvolvida até o momento. Esses propulsores fizeram com que a NASA tivesse que criar novos materiais para os bicos injetores. - Ela fez uma breve pausa. - Uma grande rocha, colocada logo atrás de um desses PCEs, seria queimada pelas chamas de exaustão dos propulsores, ricas em hidrogênio, sendo cuspidas para fora a uma temperatura sem precedentes. Isso criaria uma boa crosta de fusão.

- Ah, de novo, não! - disse Corky. - Vamos voltar àquela história do meteorito falso?

Tolland, no entanto, parecia intrigado.

- Na verdade, a idéia é interessante. Seria aproximadamente o mesmo que deixar uma rocha na plataforma de lançamento de um foguete durante a ignição.

- Meu Deus - murmurou Corky -, estou preso num avião com dois bobalhões...

- Corky - disse Tolland -, pense nisso como uma hipótese, apenas. Se uma rocha fosse colocada na saída de exaustão de um foguete, ela iria exibir características de queima similares às de uma rocha que caiu pela atmosfera, não é? Veríamos as mesmas estrias direcionais e o deslizamento do material derretido para a parte posterior.

Corky resmungou:

- Suponho que sim.

- E o combustível de hidrogênio de queima limpa que Rachel descreveu não deixaria resíduos químicos, apenas hidrogênio. O que justificaria o aumento dos níveis de hidrogênio na crosta de fusão.

O astrofísico continuava descrente.

- Olhe, se esses propulsores de ciclo de expansão de fato existirem e usarem "pasta de hidrogênio" como combustível, suponho que isso tudo que vocês estão dizendo seja possível. Mas é extremamente implausível.

- Por quê? - perguntou Tolland. - O processo me parece bastante simples.

Rachel concordou.

- Só seria necessário encontrar um fóssil de 190 milhões de anos, que seria colocado na exaustão do PCE e posteriormente escondido no gelo. E, como num passe de mágica, o "meteorito" estaria pronto!

- Para um leigo, com certeza - respondeu Corky -, mas não para um cientista da NASA! Vocês ainda não explicaram os côndrulos!

Rachel tentou se lembrar da explicação exata de Corky para o processo de formação dos côndrulos.

- Você disse que são causados pelo rápido aquecimento e resfriamento no espaço, certo?

Ele suspirou e repetiu a explicação.

- Côndrulos são formados quando uma rocha, esfriada ao extremo no espaço, subitamente se torna superaquecida ao ponto de atingir um estágio de fusão parcial, em torno de 1.550° Celsius. Então a rocha precisa esfriar de novo, muito rapidamente, de forma que os bolsões líquidos sejam enrijecidos sob a forma de côndrulos.

- E esse processo não poderia acontecer na Terra? - perguntou Tolland, observando o amigo.

- Acho impossível. Este planeta não possui a variação de temperaturas necessária para provocar uma mudança tão brusca. Estamos falando de dois extremos: calor termonuclear e o zero absoluto do espaço. Estes dois extremos não existem na Terra.

Rachel pensou um pouco e disse:

- Ao menos não naturalmente.

Corky virou-se para ela:

- O que você quer dizer com isso?

- Bem, por que o aquecimento não poderia ter acontecido na Terra, artificialmente? - perguntou ela. - A rocha teria sido queimada por um propulsor de hidrogênio e depois rapidamente congelada em um freezer criogênico.

O astrofísico ficou olhando, estarrecido.

- Côndrulos manufaturados?

- É uma idéia.

- Bem ridícula - respondeu ele, exibindo sua amostra. - Você talvez tenha esquecido, mas esses côndrulos foram irrefutavelmente datados como tendo 190 milhões de anos. - Seu tom de voz se tornou quase arrogante. - Até onde fui informado, senhorita Sexton, há 190 milhões de anos ninguém tinha propulsores de hidrogênio e freezers criogênicos.

Com ou sem côndrulos, pensou Tolland, existem evidências de uma possível fraude. Estava em silêncio há vários minutos, profundamente inquieto com a última revelação de Rachel a respeito da crosta de fusão. A hipótese dela, embora bastante radical, havia aberto novas possibilidades e feito com que Tolland começasse a pensar em novas direções. Se a crosta de fusão pode ser explicada, que outras possibilidades isso levanta?

- Você está muito quieto - disse Rachel, ao lado dele.

Michael virou-se para ela. Por um instante, na luz tênue do avião, viu uma suavidade nos olhos de Rachel que fizeram com que ele se lembrasse de Célia. Afastou suas lembranças e continuou, cansado.

- Eu? É, estava apenas pensando...

Ela sorriu.

- Sobre meteoritos? - perguntou Rachel.

- E no que mais?

- Vasculhando todas as provas, procurando encontrar o que foi que deixamos passar?

- Mais ou menos isso.

- Chegou a alguma conclusão?

- Não, na verdade, não. Estou um pouco perturbado com a quantidade de dados que caíram por terra simplesmente por termos descoberto aquele poço de inserção sob o gelo.

- Evidências hierárquicas são como um castelo de cartas – disse Rachel. - Retire seu pressuposto básico e o resto todo se torna muito instável. A localização em que o meteorito foi encontrado era um pressuposto básico. Quando cheguei a Milne, o administrador me disse que o meteorito havia sido encontrado dentro de uma matriz intacta de gelo com 300 anos de idade e que era mais denso do que todas as rochas que poderiam existir em locais próximos. É claro que entendi tudo isso como sendo uma prova lógica de que a rocha só poderia ter caído do espaço.

- Você e todos nós.

- O conteúdo de níquel, apesar de ser persuasivo, aparentemente não é conclusivo.

- Está próximo da faixa ideal - disse Corky, acompanhando a conversa entre os dois.

- Mas não exatamente dentro dela.

Ele concordou com um gesto relutante.

- E essa criatura espacial nunca antes vista - interveio Tolland -, apesar de ser bastante bizarra, poderia muito bem ser apenas um crustáceo muito antigo de águas profundas.

Rachel assentiu.

- E agora há a crosta de fusão...

- Odeio dizer isso - completou Tolland, olhando para Corky -, mas começo a achar que temos mais evidências negativas do que positivas.

- A ciência não é feita de palpites - disse Corky. - É feita de provas. Os côndrulos nessa rocha são definitivamente de um meteorito. Concordo com vocês que tudo o que descobrimos é profundamente incômodo, mas não podemos ignorar os côndrulos. A evidência a favor é conclusiva, enquanto a evidência contrária é circunstancial.

A analista olhou para ambos.

- Então qual a conclusão que podemos tirar de tudo isso?

- Nenhuma - disse Corky. - Os côndrulos provam que estamos lidando com um meteorito. A grande questão é por que alguém o enfiou por baixo do gelo.

Tolland queria muito acreditar na lógica simples de seu amigo, mas sentia que havia algo errado ali.

- Você não me parece muito convencido, Mike.

O oceanógrafo olhou para ele e suspirou:

- Eu realmente não sei. Duas provas em três era bom, Corky, mas agora só nos restou uma. Eu estou com a impressão de que deixamos algo de lado.

CAPÍTULO 90
Fui pego, pensou Chris Harper, sentindo um arrepio enquanto se imaginava na cela de uma cadeia americana. O senador Sexton sabe que menti a respeito do software do PODS.

Chris conduziu Gabrielle Ashe de volta ao seu escritório. Fechou a porta. Seu ódio pelo administrador da NASA continuava crescendo.

Naquela noite, ele havia descoberto até que ponto Ekstrom podia chegar. Além de forçar Harper a mentir a respeito da correção do problema no software, ele parecia ter criado um mecanismo de segurança caso o gerente do PODS mudasse de idéia e decidisse botar a boca no trombone.

Evidências de desvio de verbas, pensou Harper. Chantagem. Muito astuto. Ninguém acreditaria num cientista envolvido em desvio de verbas que tentasse desacreditar a NASA naquele momento de glória da aventura espacial americana. Ele sabia que o administrador faria qualquer coisa para salvar a agência, principalmente agora, com o impacto mundial que o anúncio do meteorito com fósseis provocara.

Harper andou em torno da grande mesa na qual fora colocado um modelo em escala reduzida do satélite PODS - um prisma cilíndrico com várias antenas e lentes por trás de escudos refletores. Gabrielle sentou-se, observando com seus olhos negros e esperando. Harper estava se sentindo nauseado como no dia daquela infame coletiva. Ele tinha feito um papelão naquela noite e todos vieram lhe fazer perguntas a respeito. Tivera que mentir novamente e dizer que estava se sentindo mal durante a entrevista e um pouco fora de si. Seus colegas e a imprensa deram pouca atenção a seu desempenho patético e rapidamente se esqueceram do assunto.

As mentiras tinham retornado para assombrá-lo.

Gabrielle olhou para ele com simpatia.

- Doutor Harper, tendo o administrador como inimigo, você irá precisar de um aliado poderoso. O senador Sexton talvez seja seu único amigo neste momento. Vamos começar pela coletiva e pela mentira a respeito do software do PODS. Conte-me o que aconteceu.

Harper respirou fundo. Hora de contar a verdade. Já deveria ter dito tudo isso há muito tempo!

- O lançamento do PODS ocorreu sem problemas - começou ele. – O satélite foi posicionado em uma órbita polar perfeita, conforme o planejado.

Gabrielle Ashe parecia entediada. Já sabia daquilo tudo.

- Prossiga.

- Então vieram os problemas. Quando nos preparamos para começar a vasculhar o gelo atrás de anomalias na densidade, o software para detecção de anomalias a bordo falhou.

- Sim...


Harper começou a falar mais rápido.

- O software deveria ser capaz de examinar rapidamente dados de milhares de metros quadrados e encontrar locais no gelo que estivessem fora do padrão normal de densidade. Ele estava, antes de mais nada, procurando por pontos de degelo - indicadores do aquecimento global. Mas, se encontrasse qualquer outra incongruência na densidade, estava programado para marcar esses lugares também. O plano era que o PODS varresse o Círculo Polar Ártico durante várias semanas para identificar qualquer anomalia que pudéssemos usar para medir o aquecimento global.

- Porém, se o software não estava funcionando - disse Gabrielle -, o PODS não era muito útil, não? A NASA teria que examinar as imagens de cada metro quadrado do Ártico à mão, procurando os locais com problemas.

Ele concordou, revivendo o pesadelo de seu erro de programação.

- Levaríamos décadas. A situação era terrível. Por causa do erro na programação, em essência o PODS não servia para nada. E com a eleição se aproximando e o senador Sexton criticando a NASA sem parar... – ele suspirou.

- Seu erro se transformou em algo devastador para a agência e para o presidente.

- Não podia ter acontecido num momento pior. O administrador ficou lívido. Eu prometi a ele que poderíamos resolver o problema durante a próxima missão do ônibus espacial: era só trocar o chip que continha a programação do PODS. Mas isso viria tarde demais. Ele me mandou para casa, oficialmente de licença, mas na prática eu tinha sido demitido. Isso foi há um mês.

- Apesar disso, você voltou à televisão duas semanas depois anunciando que havia descoberto uma forma de contornar o problema.

O gerente estava prestes a desabar.

- Cometi um erro terrível. Foi naquele dia que recebi um chamado do administrador. Ele me falou que surgira algo novo, uma possível forma de me redimir. Disse que viesse até seu escritório imediatamente para me encontrar com ele. Pediu-me que desse uma coletiva de imprensa e contasse a todos que havia encontrado uma solução para o problema no software do PODS e que teríamos os dados em poucas semanas. Prometeu que me explicaria os detalhes mais tarde.

- E você concordou?

- Não, eu recusei! Mas, uma hora depois, o administrador estava aqui, em meu escritório, acompanhado pela conselheira sênior da Casa Branca!

- O quê! - exclamou Gabrielle, chocada com a revelação. – Marjorie Tench?

Criatura medonha aquela, pensou Harper, fazendo que sim.

- Ela e o administrador sentaram-se comigo e me disseram que meu erro havia literalmente colocado a NASA e o presidente à beira de um colapso completo. A senhora Tench me contou os planos do senador de privatizar a NASA. Ela me pressionou, afirmando que eu tinha uma dívida com o presidente e com a agência e que era meu dever consertar as coisas. Então me disse o que eu deveria fazer.

- Continue - solicitou Gabrielle.

- Marjorie Tench me informou que a Casa Branca, por uma incrível sorte, descobrira uma forte evidência geológica de que havia um enorme meteorito enterrado na plataforma Milne. Um dos maiores já encontrados na história. Um meteorito daquele tamanho seria um grande achado para a NASA.

A assessora estava perplexa.

- Espere aí. Quer dizer que alguém já sabia que o meteorito estava lá antes que o PODS o descobrisse?

- Sim, claro. O PODS não teve nada a ver com a descoberta. O administrador sabia que o meteorito existia. Ele apenas me deu as coordenadas e me disse para reposicionar o PODS sobre o platô. Fizemos de conta que a descoberta havia sido feita por ele.

- Você deve estar brincando.

- Foi exatamente a minha reação quando me pediram para participar desse engodo. Eles se recusaram a me dizer como haviam descoberto que o meteorito estava lá, mas Tench insistia o tempo todo que isso não importava e que era a oportunidade ideal para eu me redimir do fiasco do PODS. Se pudesse fingir que o satélite tinha localizado o meteorito, então a NASA poderia falar do projeto como um grande sucesso, extremamente útil ao país, o que daria um novo impulso à campanha do presidente antes da eleição.

Gabrielle estava chocada.

- E naturalmente você não podia dizer que o PODS havia encontrado um meteorito antes de ter anunciado que o software de detecção de anomalias estava funcionando.

Harper assentiu.

- Foi por isso que contei aquela mentira na coletiva de imprensa. Fui obrigado a fazer aquilo. Tench e o administrador foram impiedosos. Eles não paravam de me dizer que eu deixara todos em péssima situação: o presidente havia providenciado os fundos para o meu projeto, a NASA passara anos trabalhando nele e, no final, eu tinha arruinado tudo por conta de um erro na programação.

- Então você finalmente concordou em ajudá-los.

- Eu não tinha escolha. Minha carreira estaria acabada se não aceitasse. E, na realidade, se eu não tivesse cometido aquele erro no software, o PODS teria encontrado o meteorito. Então, na época, parecia uma pequena mentira conveniente. Eu racionalizei a coisa toda me dizendo que o software poderia ser corrigido alguns meses depois, quando o ônibus espacial fosse lançado. Eu estaria apenas anunciando essa correção um pouco mais cedo.

Gabrielle olhou para ele, abismada.

- Uma pequena mentira para tirar proveito de uma oportunidade meteórica.

Harper sentia-se mal simplesmente por ter que falar naquilo.

- Pois é... então... eu fui em frente. De acordo com as ordens de Ekstrom, convoquei uma coletiva e anunciei que havia encontrado uma solução para a falha no software. Depois esperei alguns dias e reposicionei o PODS sobre as coordenadas do meteorito que o administrador me fornecera. Então, seguindo a cadeia de comando normal, liguei para o diretor do EOS e informei-o de que o PODS tinha localizado uma anomalia de alta densidade na plataforma de gelo Milne. Eu lhe dei as coordenadas e disse que a anomalia parecia ser densa o suficiente para ser um meteorito. Animada, a NASA enviou uma pequena equipe até Milne para perfurar o gelo e recolher algumas amostras do núcleo. Foi quando a operação passou a ser secreta.

- Então você não fazia idéia de que o meteorito continha fósseis até esta noite?

- Ninguém aqui sabia. Foi um choque. Agora todos estão achando que sou um herói por ter encontrado prova de vida extraterrestre, e eu não sei o que dizer.

Gabrielle ficou em silêncio durante um longo tempo olhando para Harper.

- Mas, se o PODS não localizou o meteorito no gelo, como Ekstrom podia saber que o meteorito estava lá?

- Alguém o encontrou primeiro.

- Alguém? Quem foi?

- Um geólogo canadense chamado Charles Brophy. Ele estava fazendo pesquisas na ilha de Ellesmere quando, por total acaso, descobriu a existência do que parecia ser um grande meteorito no gelo. Brophy transmitiu a descoberta pelo rádio e a NASA interceptou essa transmissão.

- Mas esse canadense não está furioso com o fato de a NASA ter levado todo o crédito pela descoberta?

- Não - respondeu Harper, nervoso. - Convenientemente, ele está morto.


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