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CAPÍTULO 108
Enquanto Corky e Xavia se acotovelavam no microscópio eletrônico, medindo o conteúdo de zircônio dos côndrulos, Rachel seguiu Tolland até uma pequena sala do outro lado do laboratório. O oceanógrafo ligou um computador para verificar alguma coisa.

Enquanto esperava o monitor acender, ele se virou para Rachel, como se fosse dizer algo, mas fez uma pausa.

- O que houve? - perguntou Rachel, surpresa ao perceber a forte atração física que sentia por ele, mesmo em meio a todo aquele caos. Ela queria poder deixar tudo aquilo para trás e ficar só com Mike, ainda que fosse por apenas um minuto.

- Eu lhe devo desculpas - disse Tolland, com ar de arrependimento.

- Por quê?

- Lá em cima. A história dos tubarões. Eu fiquei empolgado. É que algumas vezes me esqueço de que o oceano pode parecer extremamente ameaçador para muitas pessoas.

Perto dele, Rachel se sentia como uma adolescente com um novo namorado.

- Foi bom você ter dito isso. Obrigada. Está tudo bem, mesmo.

Algo dentro dela lhe dizia que Tolland queria beijá-la.

Após um instante de silêncio, ele desviou o olhar timidamente.

- Eu sei. Você quer voltar para terra firme. Melhor trabalharmos.

- Por enquanto - acrescentou Rachel, com um sorriso.

- Por enquanto - repetiu Tolland, sentando-se diante do computador. Rachel suspirou, de pé atrás dele, aproveitando aqueles momentos de privacidade. Observou Michael navegar por uma série de pastas no computador.

- O que estamos fazendo?

- Procurando algo semelhante a um grande isópode das profundezas. Queria ver se conseguimos encontrar algum fóssil marinho pré-histórico que se pareça com o que vimos naquele meteorito. Ele abriu uma página de pesquisa que trazia a seguinte inscrição na barra superior: PROJETO DIVERSITAS. Enquanto percorria alguns menus, Tolland foi dando explicações para Rachel:

- O Diversitas é um banco de dados de biologia marinha permanentemente atualizado. Quando algum biólogo marinho encontra uma nova espécie ou um fóssil, ele pode compartilhar as informações que conseguiu alimentando esse banco com dados e fotos. Como há muita coisa sendo descoberta toda semana, essa é, na prática, a única forma de manter as pesquisas atualizadas.

- Então você está acessando a web agora? - perguntou Rachel.

- Não. O acesso à internet é meio complicado no mar. Guardamos todos esses dados em um dispositivo contendo vários discos óticos na outra sala. Toda vez que aportamos, nos conectamos ao banco de dados do Projeto Diversitas e atualizamos as informações. Assim podemos acessar tudo de qualquer lugar, mesmo sem uma conexão com a web, e nossos dados nunca ficam desatualizados mais do que um ou dois meses.

Tolland deu uma risadinha enquanto digitava algumas palavras-chave no computador.

- Você provavelmente já ouviu falar naquele programa de troca de arquivos de música chamado Napster.

Rachel disse que sim.

- O Diversitas é considerado a versão dos biólogos marinhos para o Napster. Nós o chamamos de LOBSTER* - Lonely Oceanic Biologists Sharing Totally Eccentric Research.

Rachel riu. Mesmo naquela situação tensa, Michael Tolland tinha um senso de humor meio irônico que apaziguava seu medo. Ela estava começando a pensar que sua vida andava muito pouco divertida naqueles últimos tempos.

- Nosso banco de dados é enorme. - Tolland fez uma pausa para reler as palavras-chave da sua consulta. - Temos mais de 10 terabytes de descrições e fotos. Há informações aqui que ninguém nunca viu e provavelmente nunca verá. O número de espécies existentes no oceano é muito vasto. - Clicou no botão de "pesquisar". - Bom, vamos descobrir em breve se alguém já viu um fóssil parecido com nosso isópode espacial.

Após poucos segundos, a tela foi atualizada, exibindo quatro entradas relativas a animais fossilizados. Tolland clicou em cada uma delas, examinando as fotos. Nenhuma se parecia sequer vagamente com os fósseis do meteorito de Milne.

Ele coçou o queixo.

- Vamos tentar outra coisa. - Ele retirou a palavra "fóssil" e clicou em "Pesquisar" novamente. - Vamos procurar todas as espécies ainda vivas. Talvez possamos encontrar um descendente que possua as características fisiológicas do fóssil de Milne.

O resultado surgiu na tela.

Tolland ficou pensativo. O computador havia retornado centenas de respostas possíveis. Reclinou-se na cadeira, novamente coçando o queixo.

- Agora há coisas demais. Vamos tentar refinar um pouco a pesquisa.

Rachel observou enquanto ele acessava um menu onde estava escrito "habitat".

A lista de opções parecia infinita: poça de maré, pântano, lagoa, recife, plataforma oceânica, enxofre vulcânico. Tolland percorreu a lista e escolheu uma opção onde estava escrito: PLACAS DESTRUTIVAS/FOSSAS OCEÂNICAS.

Boa escolha, pensou Rachel. Tolland estava limitando sua pesquisa apenas a espécies que vivessem próximo ao ambiente onde, teoricamente, as características similares aos côndrulos pudessem se formar.

A página de respostas retornou somente três entradas desta vez.

- Ótimo!

Rachel olhou para o primeiro nome da lista. Limulus poly... qualquer coisa. Tolland clicou sobre o nome. Uma foto foi exibida: o bicho se parecia com um límulo gigante sem cauda.

- Não - disse ele, voltando à página anterior.

Rachel leu o segundo nome na lista. Camaronicus abominabilis. Achou aquilo estranho.

- Esse nome é verdadeiro?

O oceanógrafo riu.

- Não. É alguma nova espécie que ainda não foi classificada. Seja lá quem for que a descobriu, tem senso de humor e está sugerindo Camaronicus abominabilis como classificação taxonômica oficial.

Tolland clicou para exibir a foto, que mostrava uma criatura impressionantemente feia, parecida com um camarão de enormes bigodes e antenas fluorescentes cor-de-rosa.

- Acho que ele escolheu um bom nome - disse Tolland -, mas certamente não é a criatura que procuramos. - Retornou ao índice. - E nosso último candidato é... - clicou na terceira entrada e uma nova página foi exibida - ...Bathynomus giganteus. - Logo depois apareceu a imagem em close, com cores perfeitas.

Rachel assustou-se.

- Minha nossa! - A criatura na tela dava medo.

Tolland assobiou baixinho.

- É... Este cara aqui me parece bem familiar.

Rachel balançou a cabeça, perplexa. Bathynomus giganteus. A criatura lembrava um gigantesco tatuzinho e se parecia muito com a espécie fossilizada do meteorito encontrado pela NASA.

- Há algumas diferenças sutis - disse Tolland, examinando alguns desenhos anatômicos e esboços. - Mas é muito próximo. Especialmente considerando-se que teve 190 milhões de anos para evoluir.

Próximo é o termo exato, pensou Rachel. Próximo demais.

Tolland leu a descrição que estava na tela:

- Acredita-se que o Bathynomus giganteus seja uma das mais antigas espécies de nossos oceanos. Raramente encontrado e tendo sido classificado apenas recentemente, é um isópode de águas profundas que se alimenta de restos, assemelhando-se a um grande tatuzinho. Podendo chegar a 60 centímetros de comprimento, essa espécie exibe um exoesqueleto de quitina segmentado em cabeça, tórax e abdômen. Possui apêndices articulados, antenas e olhos compostos similares aos dos insetos que vivem na superfície terrestre. Não possui predadores e vive em ambientes pelágicos estéreis que, até recentemente, eram tidos como não habitáveis. - Tolland olhou para Rachel. - Isso poderia explicar a ausência de outros tipos de fósseis naquela amostra!

Rachel examinou a criatura na tela. Estava empolgada, mas ao mesmo tempo em dúvida sobre o significado real daquilo tudo.

- Imagine - prosseguiu Tolland, animado - que há 190 milhões de anos uma ninhada de Bathynomus tenha sido enterrada por um deslizamento de lama no oceano profundo. À medida que a lama fosse se transformando em rocha, as criaturas teriam se fossilizado na pedra. Ao mesmo tempo, o fundo do oceano, num movimento contínuo e lento próximo às fossas oceânicas, levou os fósseis até uma zona de alta pressão na qual a rocha forma côndrulos! - Tolland ia falando cada vez mais rápido. - E, se parte dessa crosta cheia de côndrulos e fósseis se desprendesse e fosse parar entre os sedimentos que ficam na camada superior da fossa, o que é relativamente comum, estaria numa posição perfeita para ser descoberta!

- Mas se a NASA... - Rachel titubeou. - Quero dizer, se tudo isso for uma grande mentira, a NASA saberia que, mais cedo ou mais tarde, alguém iria descobrir que esse fóssil se parece com uma criatura marinha, não é? Assim como nós acabamos de fazer!

Tolland começou a imprimir as fotos do Bathynomus na impressora a laser.

- Não sei. Mesmo se aparecesse alguém mostrando as semelhanças entre os fósseis e um desses isópodes marinhos atuais, isso não provaria nada. Há diferenças na fisiologia das duas espécies. Quase o suficiente para reforçar a afirmação da NASA.

Rachel compreendeu, num estalo.

- Panspermia! - A vida na Terra foi semeada a partir do espaço.

- Exatamente. As semelhanças entre os organismos terrestres e os do espaço fazem muito sentido cientificamente. E esse isópode das profundezas na prática só reforçaria as afirmações da NASA.

- Exceto se a autenticidade do meteorito estivesse em questão.

Michael concordou.

- Se o meteorito for questionado, toda a teoria vem abaixo. Nosso tatuzinho gigante deixa de ser um amigo da NASA e se torna um "dedo-duro".

Rachel ficou em silêncio olhando as páginas de informações sobre o Bathynomus saírem da impressora. Estava tentando se convencer de que fora simplesmente um erro da NASA, sem qualquer má intenção. Mas sabia que não era. Pessoas honestas que cometem erros não tentam matar outras pessoas.

A voz anasalada de Corky se fez ouvir do outro lado do laboratório.

- Impossível!

Tanto Tolland quanto Rachel se viraram.

- Meça essas malditas taxas de novo! Não faz sentido!

Xavia veio correndo na direção deles com um papel nas mãos. Estava lívida.

- Mike, não sei como dizer isso, mas... - A geóloga se engasgou. – As proporções de titânio/zircônio que encontramos nesta amostra... – Ela limpou a garganta de novo. - Bem, está claro que a NASA cometeu um grande engano. O meteorito deles é uma rocha oceânica.

Tolland e Rachel se entreolharam em silêncio. Compreenderam naquele instante que todas as suas dúvidas e suspeitas eram reais. Sentiram-se como se estivessem na crista de uma onda prestes a quebrar. O oceanógrafo concordou, com um olhar triste:

- Eu sei. Obrigado, Xavia.

- Mas eu não entendo - disse ela. - A crosta de fusão, a localização no gelo...

- Vamos lhe explicar tudo no caminho de volta - disse Michael. - Estamos de partida.

Rapidamente, Rachel pegou todas as folhas e provas que haviam reunido.

As evidências eram conclusivas: a impressão do GPR mostrando o poço de inserção na plataforma de gelo Milne, as fotos da criatura marinha similar ao fóssil da NASA, o artigo do doutor Pollock sobre formação de côndrulos no oceano e, finalmente, os dados do microscópio eletrônico evidenciando a baixíssima taxa de zircônio no suposto meteorito.

Só havia uma conclusão possível: fraude.

Tolland olhou para os papéis na mão de Rachel e soltou um suspiro.

- Acho que Pickering já tem as provas de que precisa.

Ela concordou, ainda pensando por que motivo o diretor do NRO não teria atendido à sua chamada.

Michael pegou um fone que estava próximo e estendeu-o na direção de Rachel.

- Você quer tentar novamente daqui?

- Não, melhor irmos. Vou tentar falar com ele do helicóptero.

Rachel já havia decidido que, se não conseguisse entrar em contato com Pickering, mandaria o piloto da Guarda Costeira deixá-los diretamente no NRO, que ficava a uns 300 quilômetros dali.

Tolland ia desligar o telefone, mas parou de repente. Parecendo confuso, colou o ouvido ao fone e franziu a testa.

- Curioso. Não há ruído de linha.

- O que você quer dizer? - perguntou Rachel, tensa.

- É estranho - disse ele. - Linhas diretas para o COMSAT nunca perdem a portadora...

- Senhor Tolland? - O piloto da Guarda Costeira entrou correndo no laboratório, assustado.

- O que é? - perguntou Rachel. - Alguém se aproximando?

- Este é o problema - respondeu o piloto. - Não sei. Os radares e sistemas de comunicação do helicóptero pararam de funcionar.

Rachel colocou todos os papéis bem fundo dentro de sua blusa.

- Vamos para o helicóptero. Temos que sair daqui. AGORA!

CAPÍTULO 109
O coração de Gabrielle batia em disparada enquanto ela atravessava, no escuro, o amplo escritório de Sexton. A sala era decorada com elegância: havia painéis de madeira entalhada recobrindo as paredes, pinturas a óleo, tapetes persas, cadeiras de couro e uma imensa mesa de mogno.

A assessora foi direto para a mesa do senador e ligou o computador, banhando a sala com uma luz néon.

Sexton tinha adotado integralmente o conceito de "escritório digital", chegando às raias da obsessão. Deixou de lado os enormes arquivos com pastas em troca da simplicidade compacta e da facilidade de consulta de seu computador pessoal, no qual colocava enormes quantidades de informação: anotações de reuniões, artigos de jornais e revistas digitalizados, discursos, idéias. Para proteger seus dados, o senador mantinha o computador trancado o tempo todo no escritório. Chegou ao ponto de recusar-se a ter uma conexão de internet com medo de que hackers pudessem entrar em seu sagrado cofre digital.

Um ano atrás Gabrieile não teria acreditado que qualquer político fosse burro o bastante para guardar cópias de documentos que pudessem incriminá-lo, mas desde então ela havia aprendido muitas coisas sobre Washington. Informação é poder. Gabrieile ficou espantada ao descobrir que era prática comum, entre os políticos que aceitavam contribuições questionáveis para suas campanhas, manter uma prova factual dessas doações - cartas, extratos de banco, recibos, registros – escondida num local seguro. Essa tática de "contrachantagem", eufemisticamente conhecida em Washington como "segurança siamesa", protegia os candidatos de doadores que viessem a acreditar que sua generosidade de alguma forma os autorizava a exercer uma pressão política intolerável sobre aqueles que tinham ajudado a eleger. Se alguém que contribuísse para a campanha se tornasse exigente demais, bastava que o político lhe mostrasse uma prova da doação ilegal, lembrando ao doador que ele também infringira a lei. A prova assegurava que tanto candidatos quanto doadores estavam unidos até o fim - como irmãos siameses.

Gabriele sentou-se na cadeira de Sexton. Respirou fundo, olhando para o computador. Se o senador estiver mesmo aceitando propinas da SFF, qualquer prova que ele possua estará aqui.

O protetor de tela do computador exibia uma sucessão de imagens da Casa Branca e seus jardins. Havia sido criado por um dos membros mais entusiásticos da equipe, que acreditava profundamente em visualização e pensamento positivo. Junto com as imagens aparecia uma tarja de texto que dizia: Sedgewick Sexton, Presidente dos Estados Unidos...

Sedgewick Sexton, Presidente dos Estados Unidos... Sedgewick Sexton...

Gabrieile moveu o mouse e a caixa de diálogo apareceu na tela.

DIGITE A SENHA:

Ela já esperava por isso. Não seria problema. Na semana anterior, Gabriele entrara no escritório justamente quando o senador estava digitando sua senha. Ela viu Sexton repetir a senha três vezes, rapidamente.

- Isso é uma senha? - ironizou.

Sexton olhou para ela sem entender:

- O quê?

- E eu achei que você se preocupasse com segurança - disse ela. – Sua senha só tem três dígitos? Pensei que o pessoal de sistemas nos aconselhasse a usar pelo menos seis.

- Só tem adolescentes na área de informática. Queria ver eles se lembrarem de seis dígitos aleatórios depois dos 40 anos. Além disso, a porta tem um alarme. Ninguém entra aqui.

A assessora aproximou-se.

- E se alguém entrasse discretamente enquanto você está no banheiro?

- E tentasse todas as combinações de senhas? - questionou ele, com uma risadinha irônica. - Posso demorar no banheiro, mas não tanto!

- Aposto um jantar no Davide que consigo adivinhar sua senha em 10 segundos.

O senador olhou para ela, intrigado e achando graça no desafio.

- Você não pode pagar a conta do Davide, Gabrielle.

- Então você vai fugir da briga?

Sexton quase sentiu pena da assessora ao aceitar a aposta.

- Dez segundos?

Ele travou a máquina novamente e fez um gesto para que Gabrielle se sentasse diante do computador.

- Você sabe que sempre peço o saltimbocca no Davide. Não é um prato barato...

- Tudo bem, você vai pagar a conta mesmo - disse ela, com um sorriso irônico, enquanto sentava.

DIGITE A SENHA:

- Dez segundos - repetiu Sexton.

Gabrielle estava achando graça. Ela precisaria de apenas dois. Mesmo de longe, da porta, viu que o senador havia digitado a senha muito rapidamente usando apenas o dedo indicador. Obviamente pressionou a mesma tecla três vezes. Nada esperto. Também percebeu que a mão dele estava bem no canto esquerdo do teclado, reduzindo as possibilidades a umas nove letras. Escolher a letra correta era simples. Sexton amava a aliteração tripla de seu título: Senador Sedgewick Sexton.

Nunca subestime o ego de um político.

Ela digitou SSS e a proteção de tela desapareceu.

Sexton ficou olhando, abismado.

Aquilo acontecera havia uma semana. Agora, lá estava ela, novamente sentada diante do mesmo computador, certa de que Sexton não tinha se dado ao trabalho de pensar em outra senha. E por que deveria? Ele confia em mim sem restrições.

Digitou SSS.

SENHA INVÁLIDA - ACESSO NEGADO

Gabrielle olhou para a tela, surpresa.

Aparentemente ela havia superestimado o nível de confiança do senador.



CAPÍTULO 110
O ataque começou sem aviso prévio. A silhueta letal de um helicóptero Kiowa surgiu bem baixo no céu, vinda do sudoeste e descendo sobre o Goya como uma vespa gigante. Rachel entendeu rapidamente o que estava acontecendo.

Em meio à escuridão, uma rajada foi disparada do nariz do helicóptero, perfurando o convés de fibra de vidro do navio e traçando uma linha na popa. Rachel se atirou no chão procurando um abrigo, mas demorou demais e sentiu o calor de uma bala ferindo seu braço de raspão. Caiu de mau jeito e depois rolou sobre o próprio corpo, tentando ficar atrás do domo transparente do submersível Triton.

O estrondo dos rotores ressoou acima deles enquanto o helicóptero dava um rasante no Goya. O som transformou-se num assobio assustador à medida que a aeronave se afastava para descrever um círculo aberto e voltar para uma segunda investida sobre o alvo.

Deitada no convés, trêmula, Rachel segurou o braço e olhou ao redor, procurando Tolland e Corky. Os dois tinham buscado proteção atrás de um paiol e agora observavam o céu, apavorados, enquanto se levantavam.

Rachel ficou de joelhos. O mundo inteiro parecia estar se movendo em câmera lenta. Agachada atrás da curvatura transparente do Triton, ela olhava em pânico para a única possibilidade de fuga que tinham: o helicóptero da Guarda Costeira. Xavia já estava embarcando na aeronave, gesticulando freneticamente para que todos subissem a bordo. Rachel viu o piloto se ajeitando na cabine e mexendo freneticamente em seus controles. As hélices começaram a girar, mas muito devagar.

Lentas demais.

Rápido!

Rachel levantou-se e preparou-se para correr, pensando se conseguiria atravessar o convés antes que os agressores retornassem. Atrás dela, ouviu Corky e Tolland correndo em sua direção e para o helicóptero, que esperava. Isso, rápido!



Então ela viu.

A cerca de 100 metros, no céu, surgindo no meio da escuridão, um feixe de luz vermelha varria a noite, procurando seu alvo no convés do Goya.

Ao encontrar o helicóptero da Guarda Costeira, o feixe parou.

Levou apenas alguns segundos para que ela compreendesse o sentido da imagem. Naquele instante terrível, Rachel sentiu toda a ação no navio transformar-se num borrão, uma colagem indistinta de formas e sons.

Tolland e Corky correndo ao seu encontro, Xavia gesticulando no helicóptero e o laser cortando o céu.

Tarde demais.

Ela virou-se no sentido oposto, em direção a Corky e Tolland, que se moviam a toda a velocidade tentando chegar ao helicóptero.

Arremessou-se contra eles, com os braços abertos para bloquear o caminho. Foi uma pancada forte e os três caíram no chão, num emaranhado de pernas e braços.

Um flash de luz branca surgiu ao longe. Aterrorizada, Rachel acompanhou o rastro de luz que seguia rumo ao helicóptero, perfeitamente alinhado com o laser.

Quando o míssil Hellfire se chocou contra a fuselagem, o Dolphin da Guarda Costeira explodiu em fragmentos como se fosse de brinquedo. O calor e o ruído ensurdecedor da onda de choque percorreram o convés enquanto pedaços de metal em chamas choviam do céu. O esqueleto flamejante do helicóptero dobrou-se para trás, sobre sua cauda fraturada, oscilou por um instante e finalmente caiu do navio, batendo contra o oceano e levantando uma nuvem fervilhante de vapor d'água.

Rachel fechou os olhos, sem conseguir respirar. Ouviu os destroços em chamas borbulhando e chiando enquanto afundavam, levados para longe do Goya pelas fortes correntes. Em meio ao caos, Tolland gritava algo que ela não conseguia compreender. Rachel sentiu mãos fortes tentando levantá-la, mas seu corpo não respondia.

O piloto e Xavia estão mortos.

Somos os próximos.

CAPÍTULO 111
A tempestade na plataforma de gelo Mune tornara-se mais branda e a habisfera estava novamente em silêncio. Mas o administrador da NASA, Lawrence Ekstrom, nem tinha tentado dormir. Ele havia passado as últimas horas sozinho, andando pelo domo, contemplando o poço de extração, passando a mão pelas ranhuras da gigantesca rocha carbonizada.

Finalmente tomou uma decisão.

Agora estava sentado diante do videofone, na cabine de comunicação da habisfera, olhando para o rosto cansado do presidente dos Estados Unidos. Zach Herney usava um roupão e parecia bastante irritado. E, com certeza, ficaria ainda mais nervoso depois que ouvisse o que Ekstrom tinha a dizer.

Quando o administrador terminou de falar, a expressão no rosto do presidente era de estranhamento e desconforto, como se achasse que ainda estava muito sonolento e não houvesse entendido direito o que Ekstrom acabara de lhe contar.

- Espere aí - disse Herney. - Acho que estamos com algum problema de comunicação. Você está me dizendo que a NASA interceptou as coordenadas desse meteorito a partir de uma transmissão de emergência e depois fingiu que o PODS o encontrara?

Ekstrom ficou em silêncio, sozinho no escuro, desejando que pudesse acordar daquele pesadelo.

Seu silêncio não foi bem recebido pelo presidente.

- Pelo amor de Deus, Larry, me diga que eu entendi errado!

A boca do administrador estava seca.

- O meteorito foi encontrado, senhor presidente. Isso é tudo o que importa neste caso.

- Eu lhe pedi para me dizer que eu havia entendido errado!

O silêncio cresceu até se transformar numa pressão ensurdecedora nos ouvidos de Ekstrom. Eu tinha que contar, pensou ele. E ainda vai ficar pior antes de melhorar.

- Senhor presidente, a falha no PODS estava prejudicando sua campanha e repercutindo negativamente nas pesquisas. Quando interceptamos a transmissão de rádio que mencionava um grande meteorito alojado no gelo, achamos que era uma chance de voltar à briga.

Herney estava aturdido.

- E fizeram isso falsificando uma descoberta do PODS?

- O PODS estaria operacional em pouco tempo, mas não o suficiente para ajudá-lo nas eleições. Os resultados das pesquisas estavam cada vez piores e Sexton não parava de bater na NASA, então...

- Você é louco? Você mentiu para mim, Larry!

- A oportunidade estava bem na nossa cara, senhor. Decidi aproveitá-la. Interceptamos a transmissão de rádio do canadense que descobriu o meteorito. Ele morreu numa tempestade e ninguém mais sabia do meteorito. O PODS estava numa órbita próxima. A NASA precisava de uma vitória e nós tínhamos as coordenadas.

- E por que você resolveu me contar isso agora?

- Achei que devesse saber.

- Você tem a mínima idéia do que Sexton fará com essas informações, se ele descobrir?

Ekstrom preferiu nem pensar.

- Ele dirá ao mundo inteiro que a NASA e a Casa Branca mentiram ao povo americano! E, o que é pior, ele estará falando a verdade!

- Mas o senhor não mentiu, fui eu. E pedirei demissão imediatamente se...

- Larry, você está deixando de lado o mais importante. Eu tentei basear o meu mandato na verdade e na honestidade! Mas que inferno! A jogada desta noite tinha sido limpa. Digna. Agora eu descubro que menti para o mundo inteiro?

- Apenas uma pequena mentira, senhor.

- Não existem "pequenas mentiras", Larry - disse Herney, furioso.

Ekstrom sentiu o trailer se fechar em torno dele. Precisava contar muitas outras coisas ao presidente, mas percebeu que era melhor esperar até o dia seguinte.

- Lamento tê-lo acordado, senhor. Eu achei que era importante que o senhor soubesse.
Do outro lado de Washington, Sedgewick Sexton tomou um gole de conhaque e continuou andando de um lado para o outro de seu apartamento, exasperado.

Onde Gabrielle se meteu?



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