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CAPÍTULO 122
Sentado diante de sua mesa no Salão Oval, ainda de roupão, Zach Herney sentia a cabeça latejar. Mais uma peça do quebra-cabeça acabara de ser revelada.

Marjorie Tench está morta.

Os assistentes de Herney lhe disseram que as informações obtidas indicavam que Tench teria ido até o Memorial de Roosevelt para uma reunião secreta com William Pickering. Como o diretor do NRO não estava sendo localizado, o temor era de que ele também pudesse estar morto.

Nos últimos tempos o presidente e Pickering vinham se desentendendo.

Há poucos meses, Herney soubera que Bill se envolvera em atividades ilegais para tentar salvar sua campanha à reeleição.

Usando recursos do NRO, Pickering havia discretamente coletado evidências contra Sedgewick Sexton: fotos escandalosas do envolvimento sexual do senador com sua auxiliar, Gabrielle Ashe, bem como registros financeiros incriminadores, provando que o candidato estava recebendo suborno de empresas privadas do setor espacial. Sem se identificar, Pickering enviara as provas para Marjorie Tench, supondo que a Casa Branca iria usá-las em seu proveito. Só que Herney não permitiu que Tench lançasse mão daquele artifício. Escândalos sexuais e subornos eram uma praga em Washington, e o presidente estava convencido de que aquele tipo de jogada só iria aumentar a descrença no governo.

O cinismo está matando este país.

Ainda que Herney soubesse que podia destruir Sexton com um bom escândalo, ele achava que macular a dignidade do Senado norte-americano era um custo muito alto a pagar.

Chega de propaganda negativa. O presidente estava decidido a vencer o senador com base em suas propostas políticas.

Irritado com a recusa da Casa Branca em usar as provas que ele tinha fornecido, Pickering tentou divulgar o escândalo por conta própria, deixando vazar rumores de que Sexton tinha ido para a cama com Gabrielle Ashe. Infelizmente, o senador declarou sua inocência com uma indignação tão convincente que, no final das contas, o próprio presidente teve que se desculpar pelos boatos. William Pickering havia atrapalhado mais do que ajudado. Herney foi duro com o diretor do NRO e ameaçou indiciá-lo se ousasse interferir na campanha novamente. A maior ironia nisso tudo é que Pickering nem mesmo gostava do presidente. Suas tentativas de ajudá-lo a se reeleger eram resultado de seu medo em relação ao destino da NASA.

Zach Herney era o menor de dois males.

E agora alguém havia assassinado Pickering? Herney não podia imaginar algo assim,

- Senhor presidente? - interrompeu um auxiliar. - Conforme sua solicitação, falei com Lawrence Ekstrom e contei-lhe sobre Marjorie Tench.

- Obrigado.

- Ele deseja falar com o senhor.

Herney ainda estava furioso com Ekstrom por ter mentido a respeito do PODS.

- Diga a ele que eu entro em contato pela manhã.

- O administrador pediu para falar com o senhor imediatamente. - O auxiliar não sabia bem o que fazer. - Ele está transtornado.

ELE está transtornado? O presidente sentiu que sua paciência estava no limite. Saiu do Salão Oval para falar com Ekstrom, pensando no que mais poderia dar errado naquela noite.

CAPÍTULO 123
A bordo do Goya, Rachel sentia-se zonza. A perplexidade que havia tomado conta dela como uma névoa densa estava se dissipando, e uma realidade aterradora começava a entrar em foco. Ela mal conseguia ouvir o que aquele estranho à sua frente estava dizendo.

- Precisávamos reconstruir a imagem da NASA - falava Pickering. - A queda de popularidade da agência e os problemas de financiamento tornaram-se perigosos em diversos níveis. - Ele parou, encarando-a com seus olhos castanhos. - Rachel, a NASA precisava desesperadamente de um triunfo. Alguém tinha que fazer com que isso acontecesse.

Algo tinha que ser feito, pensou Pickering.

A fraude do meteorito foi uma atitude extrema de desespero. Ele e um pequeno grupo já haviam tentado salvar a NASA de diversas formas, inclusive fazendo lobby para que a agência fosse incorporada à comunidade de inteligência, onde disporia de mais recursos e maior segurança. Mas a Casa Branca se negava a tomar aquela decisão, considerando a manobra como um ataque à ciência pura. Idealistas com visão de curto prazo, lamentava Pickering.

Diante da crescente popularidade da retórica de Sexton, contrária à NASA, o diretor do NRO e um grupo de militares influentes perceberam que era preciso agir rápido. Concluíram que a única maneira de resgatar a imagem da NASA e impedir a privatização do espaço era capturar a imaginação do povo e do Congresso. Para que pudesse sobreviver, a agência espacial precisaria de uma nova aura de grandeza, algo que fizesse o público se lembrar dos dias gloriosos do Projeto Apollo. E, se Zach Herney pretendia derrotar o senador Sexton, com certeza precisaria de auxílio.

Tentei ajudá-lo, pensou Pickering, recordando todas as evidências negativas que enviara para Marjorie Tench. Infelizmente, Herney havia proibido seu uso, deixando o diretor sem outra escolha senão tomar medidas drásticas.

- Rachel - retomou Pickering -, as informações que você acabou de transmitir por fax são perigosas. Você precisa entender isso. Se forem divulgadas, farão com que a Casa Branca e a NASA pareçam cúmplices nessa história. O impacto negativo para o presidente e para a agência seria enorme. Nenhum dos dois sabe nada disso. Eles são inocentes. Acreditam que o meteorito é autêntico.

Pickering nem havia tentado convencer Herney ou Ekstrom a participar daquilo porque ambos eram idealistas demais para concordar com qualquer armação, não importando qual fosse seu potencial para salvar a presidência ou a agência espacial. O único crime do administrador da NASA tinha sido persuadir o gerente da missão PODS a mentir sobre o software de detecção de anomalias - um ato de que Ekstrom sem dúvida se arrependeria ao compreender a importância daquele meteorito em particular.

Marjorie Tench, frustrada com a insistência de Herney em fazer uma campanha limpa, havia conspirado com Ekstrom na questão do PODS, esperando que um pequeno sucesso da NASA ajudasse o presidente a reverter a trajetória ascendente de Sexton.

Se Tench tivesse usado as fotos comprometedoras do senador e os dados de suborno que eu lhe passei, nada disso teria acontecido.

O assassinato da consultora do presidente, apesar de lamentável, se tornou absolutamente necessário a partir do momento em que Rachel ligou para Tench e falou sobre suas suspeitas em relação ao meteorito.

Pickering sabia que Marjorie faria uma apuração minuciosa até esclarecer os motivos por trás das alegações desmedidas de Rachel - e aquela era uma investigação que o diretor do NRO não podia deixar acontecer jamais. Ironicamente, a consultora talvez pudesse ser mais útil ao presidente agora que estava morta, pois seu assassinato brutal traria um voto de simpatia para a Casa Branca, assim como lançaria suspeitas sobre a campanha de Sexton, um candidato desesperado que tinha sido humilhado publicamente por Marjorie na TV.

Rachel não se moveu, olhando fixamente para seu chefe.

- Entenda - disse ele - que, se as notícias da fraude do meteorito se

espalharem, você terá destruído um presidente e uma agência inocentes. Também terá colocado um homem muito perigoso no Salão Oval. Eu preciso saber para quem os dados foram enviados.

Ao ouvir as palavras de Pickering, Rachel não conseguiu esconder sua apreensão. Compreendeu naquele instante que podia ter cometido um erro grave.


Tendo dado a volta pela proa e retornado ao convés de bombordo, Delta-Um estava agora no laboratório de hidrografia, de onde vira Rachel sair quando se aproximava do navio com o helicóptero.

Um computador exibia uma imagem preocupante - um gráfico colorido mostrando o vórtice que pulsava nas profundezas, em algum lugar no fundo do oceano sob o Goya.

Mais uma razão para dar o fora daqui, pensou ele, movendo-se para seu alvo.

A máquina de fax estava num balcão no outro extremo da sala. A bandeja continha um punhado de papéis, exatamente como Pickering tinha previsto. Delta-Um pegou as folhas. Havia uma nota de Rachel bem em cima. Apenas duas linhas. Ele leu o pequeno texto.

Curto e preciso, pensou.

Folheou rapidamente as páginas, impressionado e preocupado com a quantidade de dados que Tolland e Rachel haviam reunido ao desvendar a farsa do meteorito. Quem visse aqueles papéis não teria a menor dúvida de seu significado. Delta-Um não precisou nem apertar "Rediscar" para descobrir o número do destinatário. O último número chamado ainda estava sendo exibido no visor de LCD do fax.

Um prefixo de Washington, D.C.

Copiou cuidadosamente o número do fax, juntou todas as folhas e saiu do laboratório.

As mãos de Tolland suavam de nervoso enquanto ele mantinha a metralhadora apontada para o peito de William Pickering. O diretor do NRO continuava pressionando Rachel. O oceanógrafo começou a desconfiar de que Pickering estava simplesmente tentando ganhar tempo. Para quê?

- A Casa Branca e a NASA são inocentes - repetiu ele. - Vamos, junte-se a mim. Não deixe que meus erros destruam a pouca

credibilidade que restou à NASA. A agência vai parecer culpada aos

olhos do povo se essas informações vazarem. Nós dois podemos chegar a um acordo. O país precisa desse meteorito. Me diga para onde você enviou o fax antes que seja tarde demais.

- E por que eu diria? Para que você possa matar mais alguém? -

questionou Rachel. - Você me dá nojo.

Tolland estava impressionado com a bravura de Rachel. Ela desprezava o pai, mas não tinha a menor intenção de colocar a vida dele em risco.

Infelizmente, seu plano de enviar as informações para o senador tinha sido um tiro pela culatra. Ainda que Sexton visse o fax ao chegar a seu escritório e ligasse para o presidente para questionar a fraude do meteorito e exigir que suspendesse o ataque, ninguém na Casa Branca teria a menor idéia de quem estava por trás daquela história.

- Só vou repetir isso mais uma vez - disse Pickering, com olhar ameaçador. - Essa situação é complexa demais para que você possa compreender todos os detalhes. Você cometeu um erro enorme ao enviar.os dados e colocou sua nação em perigo.

William Pickering estava de fato ganhando tempo, concluiu Tolland. E a razão para isso era o homem que vinha caminhando tranqüilamente pelo convés de estibordo do navio. Michael entrou em pânico ao ver o soldado andando na direção deles, fortemente armado e com uma pilha de papéis na mão.

O oceanógrafo reagiu rápido e sem hesitar. Empunhando a metralhadora, virou-se, apontou para o soldado e puxou o gatilho.

A arma soltou um estalido inócuo.

- Já descobri o número do fax - disse Delta-Um, entregando ao controlador uma folha com o número anotado. - E o senhor Tolland está sem munição.

CAPÍTULO 124
Sedgewick Sexton atravessou correndo o saguão do edifício de gabinetes do Senado. Não tinha a menor idéia de como Gabrielle havia conseguido entrar em sua sala, mas sabia que ela estava lá. Enquanto falavam ao telefone, Sexton ouvira claramente o ruído do pêndulo de seu relógio Jourdain ao fundo. Concluiu que, ao entrar em seu apartamento e espionar a reunião com a SFF, a assessora devia ter escutado alguma coisa que a deixara desconfiada. Então, ela teria ido ao escritório do senador à procura de provas.

Como ela conseguiu entrar na minha sala?

Sexton ficou feliz por ter trocado a senha de seu computador.

Quando chegou ao seu escritório, ele digitou rápido o código para desativar o alarme. Pegou as chaves no bolso, destravou as pesadas portas, abriu-as subitamente e entrou, certo de que pegaria Gabrielle em flagrante.

A sala, contudo, estava vazia e escura. Ele acendeu as luzes e começou a analisar cada detalhe do escritório. Tudo parecia estar no mesmo lugar. O silêncio completo era rompido apenas pelo relógio.

Onde ela se meteu?

O senador ouviu alguma coisa se movendo em seu banheiro e correu para lá, acendendo a luz. Também estava vazio. Olhou atrás da porta. Nada.

Desconcertado, Sexton examinou o próprio rosto no espelho, pensando se teria bebido demais naquela noite. Eu ouvi algo. Sentindo-se confuso, voltou ao escritório.

- Gabrielle? - chamou em voz alta, atravessando o corredor até à sala dela. Não havia ninguém lá e as luzes estavam apagadas.

Ouviu o som de descarga no banheiro das mulheres e caminhou naquela direção. Chegou à porta exatamente quando Gabrielle ia saindo, secando as mãos. Ela saltou para trás, assustada.

- Nossa! Você me deu um susto! - disse, parecendo realmente espantada.

- O que está fazendo aqui?

- Você disse que tinha vindo pegar documentos da NASA no seu escritório - falou, olhando para as mãos vazias da assessora. - Onde estão os papéis?

- Eu não consegui encontrá-los. Procurei em todos os lugares. Foi por isso que demorei tanto.

Ele olhou bem no fundo dos olhos de Gabrielle.

- Você esteve em minha sala?

Devo minha vida àquela máquina de fax, pensou Gabrielle.

Poucos minutos antes ela estava sentada diante do computador de Sexton, tentando imprimir as imagens digitalizadas de cheques de doações ilegais. Os arquivos estavam protegidos por algum programa e ela precisaria de mais tempo para descobrir uma forma de imprimi-los.

Provavelmente estaria tentando até agora se a máquina de fax do senador não tivesse recebido uma chamada, assustando-a e trazendo-a de volta à realidade. Gabrielle considerou aquilo um aviso para sair dali. Sem nem mesmo olhar o que havia no fax que estava chegando, desligou o computador, arrumou tudo e voltou por onde havia entrado.

Ela acabara de subir no teto do banheiro de Sexton quando ele entrou no escritório.

Agora o senador estava parado na frente dela, olhando-a fixamente, à procura de algum sinal de que estava mentindo. Sedgewick Sexton podia sentir o cheiro de uma mentira melhor do que qualquer pessoa que já tivesse conhecido. Se tentasse enganá-lo, ele descobriria.

- Você estava bebendo - disse Gabrielle, dando as costas para o chefe.

Como é que ele sabe que eu estive em sua sala?

Sexton pegou-a pelos ombros e virou-a de frente para ele.

- Você esteve em minha sala?

A assessora sentiu uma pontada de medo. Sexton de fato tinha bebido e seu toque foi rude.

- Na sua sala? - ela perguntou, dando uma risada forçada, como se estivesse confusa. - Como? Por quê?

- Pude ouvir meu relógio Jourdain quando liguei para você. Gabrielle tremeu por dentro. O relógio? Sequer tinha pensado naquilo.

- Você não acha que isso é ridículo?

- Eu passo o dia naquela sala. Sei exatamente qual é o som daquele relógio.

Ela percebeu que precisava acabar com aquela conversa rápido.

A melhor defesa é o ataque. Pelo menos era o que Yolanda Cole sempre dizia.

Colocando as duas mãos na cintura, Gabrielle partiu para cima do senador com tudo. Chegou bem perto, fitando-o com um olhar penetrante.

- Vamos resolver esse assunto agora, senador. São quatro da manhã, você bebeu a noite toda, ouviu um ruído em seu telefone e veio até aqui por causa disso? - Apontou o dedo, indignada, em direção à porta do escritório dele no final do corredor. - Só para deixarmos isso claro, você está me acusando de ter desarmado um sistema de alarme do governo federal, de destravar dois cadeados, invadir sua sala, ser burra o bastante para atender o telefone enquanto estava cometendo um crime, depois reativar o sistema de alarme ao sair e usar o toalete feminino calmamente antes de fugir de mãos vazias? É essa a sua teoria?

Sexton piscou, sem entender nada.

- Há bons motivos para não ficar bebendo sozinho, sabe? Bem, vamos falar sobre a NASA ou não?

O senador foi andando com ela de volta até o seu escritório, sentindo-se bastante confuso. Foi direto para o bar, pegou um refrigerante e se serviu. Ele certamente não estava bêbado. Teria mesmo se enganado? Do outro lado da sala, o Jourdain continuava batendo cadenciado, como se risse dele. Tomou o refrigerante num gole e encheu novamente o copo, servindo também a assessora.

- Você quer um, Gabrielle? - perguntou. Ela ainda estava de pé na porta, com ar ofendido. - Puxa, mas que coisa! Vamos, entre. O que você descobriu lá na NASA?

- Pensando bem, estou cansada - disse ela, distante. -Vamos conversar amanhã.

Sexton não estava a fim de brincadeiras. Precisava das informações naquele instante e não tinha a menor intenção de se ajoelhar para consegui-las. Soltou um suspiro cansado. Confiança é tudo, pensou.

- Desculpe, estraguei tudo - falou. - Hoje foi um dia infernal. Não sei o que passou pela minha cabeça.

Gabrielle continuava na porta.

Sexton colocou o refrigerante de Gabrielle sobre a mesa. Fez um gesto, apontando para a cadeira de couro - a posição de poder.

- Vamos, sente-se. Beba seu refrigerante. Vou até o banheiro jogar uma água fria no rosto - disse ele, dirigindo-se para o banheiro.

A assessora não saiu do lugar.

- Acho que há um fax na máquina - comentou Sexton ao entrar no banheiro. Mostre que você confia nela. - Você poderia ver o que é, por favor?

O senador fechou a porta e encheu a pia com água fria. Molhou o rosto, mas continuava se sentindo confuso. Aquilo nunca tinha acontecido com ele antes: estar tão certo de alguma coisa e, ao mesmo tempo, tão errado. Ele confiava em seus instintos e algo lhe dizia que Gabrielle estivera em sua sala.

Mas como? É impossível.

Concluiu que era melhor esquecer aquela história e se concentrar no assunto mais urgente: a NASA. Precisava de Gabrielle agora. Não podia se dar ao luxo de brigar com ela. Tinha que saber o que ela havia descoberto. Esqueça seus instintos. Você estava errado.

Enquanto secava o rosto, deixou a cabeça pender para trás e respirou fundo.

Relaxe. Não perca a concentração. Fechou os olhos e respirou profundamente outra vez. Já estava se sentindo melhor.

Quando saiu do banheiro, ficou feliz ao ver que a assessora deixara aquela disputa de lado e entrara na sala. Muito bom, pensou ele. Agora podemos falar de trabalho. Gabrielle estava de pé diante do aparelho de fax, mexendo nas páginas que tinham chegado. Sexton ficou confuso ao ver a expressão no rosto dela. Estava lívida.

- O que foi? - perguntou, indo até ela.

Gabrielle deu um passo para trás, como se fosse desmaiar.

- O quê? - insistiu Sexton.

- O meteorito... - disse ela, sem ar, entregando com as mãos trêmulas vários papéis ao senador. - É a sua filha... ela está em perigo.

Estupefato, Sexton pegou o fax da mão de Gabrielle. A primeira página era um bilhete escrito à mão. Ele reconheceu imediatamente a letra. O comunicado era chocante em sua simplicidade.

O meteorito é falso. Aqui estão as provas. NASA/Casa Branca estão tentando me matar. Socorro!

O senador dificilmente se sentia perdido, mas, ao reler as palavras de Rachel, não conseguia entender o que aquilo significava.

O meteorito é falso? A NASA e a Casa Branca estão tentando matá-la?

Num transe cada vez mais profundo, Sexton começou a folhear as páginas. A primeira continha uma imagem gerada por computador com o cabeçalho "GPR - Radar de Penetração do Solo". Parecia a impressão de uma sondagem do gelo. O senador viu o poço de extração do qual tinha ouvido falar na TV. Depois seu olho foi atraído pelo contorno esmaecido do que parecia ser um corpo flutuando no poço. Então viu algo ainda mais impressionante: um segundo poço feito exatamente abaixo de onde o meteorito fora encontrado, como se a pedra tivesse sido inserida por baixo do gelo.

Mas que diabos...

Na página seguinte, ele se deparou com a fotografia de um animal marinho contemporâneo chamado Bathynomus giganteus. Olhou para aquilo, abismado. Este é o mesmo bicho do meteorito!

Virando as folhas mais rápido, viu um gráfico mostrando o conteúdo de hidrogênio ionizado na crosta do meteorito. Naquela página alguém havia escrito à mão: Queima limpa de pasta de hidrogênio? Propulsor de ciclo de expansão da NASA?

Sexton não podia acreditar no que estava vendo. Chegou à última página e olhou atentamente para a foto de uma rocha contendo bolhas metálicas exatamente iguais às que havia no meteorito. O mais incrível era a descrição ao lado, dizendo que aquela rocha era produto de atividades sísmicas no oceano. Uma rocha marinha? Ele ficou pensativo. Mas a NASA afirmou que os côndrulos só se formam no espaço!

Colocando os papéis sobre a mesa, desabou na cadeira. Levara apenas 15 segundos para juntar tudo o que tinha visto. As implicações das imagens naquelas folhas eram transparentes como cristal. Qualquer idiota poderia entender o que revelavam.

O meteorito da NASA é falso!

Nenhum outro dia em toda a sua carreira havia transcorrido em meio a tantos altos e baixos. Era como se estivesse numa montanha-russa de esperança e desespero. Sua perplexidade ao tentar entender como aquela enorme armação fora montada se tornou completamente irrelevante quando percebeu o que aquilo significava politicamente para ele.

Quando eu levar essas informações a público, a presidência será minha!

Entusiasmado com a volta por cima que daria em breve, Sedgewick Sexton havia temporariamente se esquecido do pedido de socorro da filha.

- Rachel está em perigo - lembrou Gabrielle. - O bilhete dela diz que a NASA e a Casa Branca estão tentando...

A linha do fax de Sexton começou a tocar novamente. Gabrielle virou-se para a máquina. O senador também fixou os olhos no aparelho. Não podia imaginar o que mais Rachel iria lhe enviar. Mais provas? Não era possível que houvesse muito mais, aquilo já era suficiente!

O fax atendeu o chamado automaticamente, mas não entrou mais nenhuma página. Como não havia sinal de fax, a máquina passou para a secretária eletrônica.

- Oi - começou a resposta gravada. - Você ligou para o escritório do senador Sedgewick Sexton. Se está tentando passar um fax, pode iniciar a transmissão. Caso contrário, deixe sua mensagem após o sinal.

Antes que Sexton atendesse, a máquina emitiu um bipe.

- Senador Sexton? - A voz do homem do outro lado da linha era seca. - Aqui é William Pickering, diretor do NRO, o Escritório Nacional de Reconhecimento. O senhor provavelmente não está em seu gabinete a esta hora, mas preciso lhe falar com urgência. - Fez uma pausa, como se esperasse alguma resposta.

Gabrielle estendeu o braço para pegar o fone, mas Sexton voou sobre a mão dela, puxando-a de volta. A assessora ficou aturdida: - Mas é o diretor do....

- Senador - Pickering continuou, num tom quase feliz por ninguém ter atendido à chamada -, lamento estar ligando com notícias perturbadoras, mas acabei de saber que sua filha, Rachel, está em grande perigo. Há uma equipe minha tentando ajudá-la neste momento. Não posso discutir a situação em detalhes por telefone, mas fui informado de que ela pode ter lhe enviado algumas informações relativas ao meteorito da NASA. Não vi os dados nem sei do que se trata, mas as pessoas que estão fazendo essas ameaças me avisaram que, se o senhor levar essas acusações a público, sua filha morrerá.

- Perdoe-me se isso soa rude, senhor, mas estou falando desta forma para que não haja enganos. Rachel corre perigo de vida. Se ela de fato lhe enviou alguma coisa, não divulgue para mais ninguém. Ainda não. A vida dela depende disso. Fique onde está, eu o encontrarei em breve. - Fez outra pausa. - Com um pouco de sorte, senador, tudo isso estará resolvido antes mesmo que o senhor tenha acordado. Se, por qualquer motivo, receber esta mensagem antes que eu chegue a seu escritório, fique onde está e não ligue para ninguém. Estou fazendo todo o possível para resgatar sua filha.

Pickering desligou. Gabrielle estava tremendo.

- Tomaram Rachel como refém?

Apesar de sua desilusão com o senador, a assessora demonstrava uma dolorosa empatia ao pensar na brilhante jovem em perigo. Curiosamente, o próprio Sexton não estava sentindo nada daquilo: parecia uma criança que havia acabado de ganhar seu presente de Natal mais desejado e se recusava a deixar que qualquer um o tirasse de suas mãos.

Pickering quer que eu mantenha tudo em silêncio?

Ponderou o assunto por algum tempo, tentando se decidir quanto ao sentido de tudo aquilo. O lado frio e calculista de sua mente estava simulando todos os cenários e avaliando cada resultado possível. Ele olhou para a pilha de faxes em suas mãos e sentiu o poder daquelas imagens. O meteorito da NASA havia despedaçado seus sonhos de se tornar presidente. Mas era tudo mentira. Uma armação. Agora, seus inimigos iriam pagar caro. O meteorito forjado para destruí-lo serviria para torná-lo mais poderoso do que qualquer um poderia imaginar. Sua filha havia possibilitado aquela reviravolta.

Há apenas uma saída aceitável, ele sabia agora. Apenas um curso de ação para um verdadeiro líder.

Sentindo-se hipnotizado pelas imagens resplandecentes de sua própria ressurreição, Sexton foi até à fotocopiadora e ligou-a, preparando-se para tirar xerox das folhas que Rachel enviara por fax.

- Mas o que você está fazendo? - perguntou Gabrielle, chocada.

- Eles não vão matar Rachel - declarou o senador.

Mesmo se algo saísse errado, Sexton sabia que perder sua filha para o inimigo só o tornaria ainda mais poderoso. De qualquer maneira, ele venceria. Era um risco aceitável.

- Para quem são essas cópias? - insistiu a assessora. - William Pickering acabou de falar para você não contar a ninguém!

Sexton estava de frente para a copiadora. Olhou para Gabrielle, surpreso ao perceber como ela lhe parecia pouco atraente agora.

Naquele instante, o senador era uma ilha. Intocável. Tudo de que precisava para realizar seus sonhos estava em suas mãos. Nada podia detê-lo. Nem acusações de suborno nem escândalos sexuais. Nada.

- Vá embora, Gabrielle. Não preciso mais de você.


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