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CAPÍTULO 125
Está tudo acabado, pensou Rachel. Ela e Tolland estavam sentados lado a lado no convés, olhando para o cano da metralhadora do soldado da Força Delta.

Infelizmente Pickering havia descoberto que Rachel transmitira o fax para o escritório do senador Sexton.

Rachel duvidava que seu pai sequer chegasse a receber a mensagem que o diretor do NRO tinha deixado em sua secretária. Pickering provavelmente entraria no escritório de Sexton antes de qualquer outra pessoa pela manhã. Se fosse capaz de retirar as folhas do fax em segredo e apagar a mensagem telefônica antes da chegada do senador, não precisaria eliminá-lo. William Pickering era provavelmente uma das pouquíssimas pessoas em Washington que podia entrar de forma ilícita no escritório de um senador americano sem despertar nenhuma suspeita.

A analista de inteligência sempre se impressionava com o que podia ser feito "em nome da segurança nacional".

Claro que, se aquilo falhasse, o diretor podia simplesmente passar com seu helicóptero em frente à janela de Sexton e disparar um míssil Hellfire, destruindo o escritório todo, pensou Rachel. Mas algo lhe dizia que Pickering não precisaria tomar uma medida tão drástica.

Perdida em pensamentos, ela sentiu Tolland pegar a sua mão carinhosamente. O toque dele era ao mesmo tempo firme e suave, e os dois entrelaçaram os dedos com tanta naturalidade que pareciam se conhecer desde sempre. Tudo o que Rachel queria naquele exato momento era aconchegar-se nos braços de Mike, protegida do rugido oprimente do mar noturno que revolvia em espirais em torno deles.

Nunca, pensou ela. Não é nosso destino.

Tolland se sentia como um condenado que encontrara esperança a caminho da forca. A vida está brincando comigo.

Desde a morte de Célia, ele experimentava uma enorme solidão. Durante muito tempo, achou que a única saída para o seu sofrimento seria a morte. Naquela noite, pela primeira vez, Tolland compreendera o que os amigos tentavam lhe dizer há anos: "Mike, você não tem que passar o resto da vida sozinho. Ainda pode encontrar outro amor."

Sentir a mão de Rachel junto à sua tornava toda aquela ironia ainda mais difícil de aceitar. O destino sabia ser cruel. Em seu coração, os escudos de defesa se quebravam e se desfaziam. Por um momento, naquele convés tão familiar do Goya, o oceanógrafo sentiu o fantasma de Célia olhando por ele, como muitas vezes fazia. Sua voz estava nos murmúrios da água, repetindo as últimas palavras que dissera antes de morrer:

"Você é um sobrevivente. Prometa que irá encontrar um novo amor."

Tolland respondera que jamais amaria outra pessoa, mas agora percebia que Célia estava certa ao afirmar que ele acabaria encontrando alguém.

Com Rachel, ele estava finalmente redescobrindo o amor. Uma grande felicidade tomou conta dele. E, com ela, veio um enorme desejo de viver. Quando se dirigiu aos dois prisioneiros, Pickering sentiu uma estranha tranqüilidade. Parou diante de Rachel, surpreso que aquilo não lhe causasse nenhum arrependimento.

- Algumas vezes - disse - as circunstâncias exigem decisões impossíveis.

Rachel não se abalou.

- Você criou essas circunstâncias.

- A guerra sempre provoca baixas - Pickering endureceu o tom de voz. Pergunte a Diana ou a qualquer um dos que morrem a cada ano defendendo esta nação. - Você deveria saber disso, Rachel. - Olhou-a de frente e concluiu: - lactura paucorum serva muitos.

A agente se lembrava do lema, bastante usado pelo pessoal da área de segurança nacional: A sobrevivência de muitos justifica o sacrifício de poucos. Rachel devolveu o olhar, mal conseguindo acreditar naquela situação.

- E agora eu e Michael nos tornamos parte dos "poucos" que devem ser sacrificados?

Pickering sabia que não havia outra saída. Virou-se para Delta-Um e ordenou:

- Liberte seu parceiro e acabe com isso.

O soldado fez um gesto afirmativo.

O diretor olhou longamente para Rachel, depois caminhou até à balaustrada do navio e ficou contemplando o mar revolto. Preferia não assistir àquele desfecho.

Delta-Um se sentiu novamente no controle ao segurar a arma e olhar para seu parceiro, ainda preso pelas garras. Bastava fechar o alçapão sob os pés de Delta-Dois, libertá-lo e eliminar Rachel e Michael.

Ele teria, porém, que lidar com o complexo painel, composto por uma série de alavancas e vários outros comandos sem nenhuma indicação, que controlava a abertura e fechamento do alçapão. E não tinha a menor intenção de apertar o botão errado e arriscar a vida do parceiro fazendo com que o submersível fosse lançado ao mar por engano.

Elimine todos os riscos. Nunca se apresse.

Seria melhor forçar Tolland a realizar a operação. E, para garantir que ele não faria nada de errado, Delta-Um iria tomar providências, usando aquilo que, em seu ramo, era conhecido como "efeito colateral biológico".

Use seus adversários um contra o outro.

Delta-Um apontou o cano da arma diretamente para o rosto de Rachel, parando a poucos centímetros de sua têmpora. Ela fechou os olhos e o soldado viu os punhos de Tolland se contraírem, numa fúria protetora.

- Senhorita Sexton, levante-se - disse ele.

Ela obedeceu.

Com a arma firmemente pressionada contra as costas dela, Delta-Um fez com que andasse até uma pequena escada de alumínio que levava ao topo do Triton pela parte traseira.

- Suba e fique em cima do submarino.

Rachel estava amedrontada e confusa.

- Faça o que estou mandando - disse o homem.

Rachel parecia estar vivendo um pesadelo ao subir a escada de alumínio atrás do Triton. Ela parou no último degrau, com medo de ir para cima do submersível, suspenso sobre o vazio, com o oceano abaixo dele.

- Vamos, fique sobre o submarino - disse Delta-Um, andando até Tolland e apontando a arma contra a cabeça dele.

Na frente de Rachel, o soldado preso nas garras observava todos os seus movimentos, mexendo- se dolorosamente e obviamente ansioso para sair dali. Ela olhou para Tolland, que estava sob a mira da metralhadora. Subir no submarino. Não havia escolha.

Sentindo-se como se estivesse à beira de um precipício, Rachel deu um passo e ficou sobre a tampa do motor do submersível, uma pequena parte plana atrás da escotilha. O Triton estava suspenso como um enorme prumo acima do alçapão aberto. Mesmo sustentado apenas pelo cabo de seu guindaste, o submarino de nove toneladas quase não se moveu quando ela subiu nele, balançando apenas alguns milímetros enquanto se ajustava ao peso.

- Levante-se - Delta-Um ordenou a Tolland. - Vá até os controles e feche o alçapão.

Sob a mira da arma, ele caminhou em direção ao painel de controle com o soldado atrás dele. Movendo-se lentamente, Tolland encarou Rachel no alto do submersível como se estivesse tentando lhe dizer algo. Olhou diretamente para ela, depois um pouco mais para baixo, em direção à escotilha aberta na parte superior do Triton.

Rachel olhou para baixo. A seus pés, a pesada tampa circular da escotilha estava aberta. Ela podia ver o interior da cabine para uma pessoa. Ele quer que eu entre? Achando que estava enganada, Rachel olhou para Tolland novamente. Ele estava quase chegando ao painel de controle. Encarou-a novamente e dessa vez foi menos sutil. Moveu os lábios, dizendo:

- Pule para dentro! Agora!

Delta-Um percebeu o movimento de Rachel com o canto dos olhos e virou-se instintivamente, abrindo fogo enquanto ela se jogava dentro da escotilha, protegendo-se da chuva de balas. Os projéteis ricochetearam sobre a tampa circular, soltando fagulhas e fechando-a ruidosamente sobre a cabeça de Rachel.

Quando Tolland sentiu que a metralhadora não estava mais apontada na sua direção, levou adiante sua parte do plano. Atirou-se para a esquerda, para longe do alçapão, batendo com o corpo no convés e rolando para o lado segundos antes que o soldado se virasse atirando. As balas zuniram atrás dele enquanto buscava abrigo atrás do cabrestante do navio - um enorme cilindro motorizado em torno do qual estavam enrolados centenas de metros do cabo de aço que segurava a âncora.

Tolland tinha um plano e precisava agir rápido. Quando o soldado correu em sua direção, o oceanógrafo esticou os braços e, usando as duas mãos, deu um puxão para baixo na trava da âncora.

Instantaneamente o cabrestante começou a soltar o cabo e o Goya inclinou-se na forte corrente. O movimento súbito fez com que as pessoas e objetos que estavam sobre o convés fossem jogados para o lado. À medida que o barco acelerava para trás, seguindo a corrente, o cabo da âncora se soltava cada vez mais velozmente.

Vamos lá, mais rápido, pensou Tolland.

O soldado recuperou o equilíbrio e foi atrás dele. Esperando até o último segundo possível, Tolland se segurou firme e empurrou a alavanca de volta com toda a força, travando o cabrestante. O cabo estalou e esticou até o limite, parando o navio imediatamente e fazendo com que o Goya estremecesse. Os objetos no convés saíram voando. Delta-Um cambaleou e caiu de joelhos perto do oceanógrafo.

Pickering foi jogado da balaustrada em que estava apoiado sobre o deque. O Triton sacudiu vigorosamente. Um rangido de ferro se rasgando percorreu o barco como um terremoto quando o suporte danificado finalmente cedeu. O canto da popa direita do Goya começou a desabar sob o próprio peso. O navio se desestabilizou, inclinando-se na diagonal como uma enorme mesa que houvesse perdido uma de suas quatro pernas. O ruído que vinha lá de baixo era ensurdecedor: um gemido de metal sendo dobrado e retorcido que era somado ao rugido da corrente marinha batendo no casco.

Com os dedos brancos pelo esforço, Rachel se segurava como podia dentro da cabine do Triton enquanto a máquina de nove toneladas balançava sobre o alçapão e o convés, que agora estava bem inclinado. Pela parte inferior do domo de vidro ela podia ver o mar raivoso lá embaixo. Quando olhou para cima, procurando Tolland, viu uma cena bizarra se desenrolar em poucos segundos.

A apenas um metro de distância, preso às garras do Triton, Delta-Dois gritava de dor enquanto era sacudido como uma marionete numa vareta. William Pickering atravessou rastejando o campo de visão de Rachel e agarrou-se a um balaústre no convés. Perto da trava da âncora, Tolland também estava se segurando, tentando não deslizar pelo lado do barco para dentro d'água. Quando Rachel viu o soldado armado se reequilibrar perto de Michael, gritou de dentro do submarino:

- Mike, cuidado!

Mas Delta-Um ignorou Tolland. Estava olhando para trás, na direção do helicóptero, com uma expressão de pânico no rosto. Rachel também se virou para entender o que estava acontecendo. O Kiowa, com seus enormes rotores girando em baixa velocidade, havia começado a deslizar lentamente para a frente pelo convés inclinado. Seu trem de aterrissagem estava funcionando como um par de esquis numa rampa.

Rachel percebeu que a enorme máquina vinha na direção do Triton. Delta-Um escalou o convés inclinado até à aeronave e conseguiu subir na cabine. Não tinha a menor intenção de permitir que o único meio de fuga existente escorregasse pelo convés e caísse no mar. Ele pegou os controles do Kiowa e puxou violentamente o coletivo. Decole! Com um ruído ensurdecedor, as hélices começaram a acelerar, lutando para levantar a aeronave pesadamente armada do convés. Para cima, droga! O helicóptero estava seguindo diretamente na direção do Triton e de Delta-Dois, ainda suspenso em suas garras.

Como seu nariz estava virado para baixo, as hélices do Kiowa também se inclinavam nesse ângulo. Assim, quando o helicóptero começou a se mover pelo convés, andou mais para a frente do que para cima, acelerando numa rota de colisão com o Triton, como uma serra elétrica gigante. Para cima! O soldado da Força Delta continuava puxando o coletivo, desejando ter uma forma de soltar a meia tonelada de mísseis Hellfire que impediam sua decolagem. As lâminas passaram rente à cabeça de seu parceiro e pouco acima do submersível, mas o helicóptero estava se movendo rápido demais. Seria impossível evitar o choque com o cabo do guindaste do Triton.

Quando as hélices do Kiowa colidiram a 300 rpm com o cabo de aço do guincho, capaz de sustentar 15 toneladas, a noite foi cortada pelo grito agudo de metal contra metal. Os sons evocavam imagens de uma batalha épica. Da cabine blindada do helicóptero, Delta-Um viu seus rotores cortarem o cabo do submarino como um gigantesco cortador de grama passando por cima de uma corrente de aço. Um jato de faíscas irrompeu acima dele e as pás do Kiowa se partiram. O piloto sentiu a aeronave cair, sua estrutura chocando-se violentamente contra o convés. Tentou controlá-la, mas perdera a sustentação. O helicóptero bateu duas vezes no deque inclinado e depois deslizou, chocando-se contra o guarda-corpo do navio.

Por um instante, Delta-Um achou que o guarda-corpo iria agüentar. Depois ouviu o ruído de algo se quebrando. O aparelho, pesadamente carregado, tombou do navio e mergulhou no mar.

No interior do Triton, Rachel Sexton estava paralisada, seu corpo pressionado contra o assento. O minissubmarino havia sido violentamente chacoalhado quando os rotores do helicóptero se chocaram contra o cabo, mas ela conseguira se apoiar. As hélices não chegaram a atingir o corpo do submersível, mas Rachel acreditava que o cabo estivesse muito danificado. Tudo em que conseguia pensar, naquele momento, era sair dali o mais rápido possível. O homem preso às garras estava olhando para ela, quase inconsciente, sangrando e queimado pelos fragmentos de metal lançados pelo atrito das lâminas com o cabo.

Onde está o Michael? Ela não conseguia vê-lo. Seu pânico durou apenas um instante, pois havia algo ainda pior com que se preocupar. Acima dela, o cabo dilacerado do guindaste do Triton soltou um pavoroso ruído, como uma chicotada. Depois ouviu-se um estalo bem alto e ele se partiu.

Rachel flutuou por alguns instantes sobre o assento dentro da cabine enquanto o submersível despencava em direção ao mar. O convés desapareceu acima dela e as passarelas inferiores do Goya passaram voando diante dos seus olhos. O soldado preso às garras ficou branco de medo, encarando Rachel à medida que o Triton se aproximava do mar.

A queda parecia nunca ter fim.

Quando o submarino bateu contra as ondas, a pancada foi tão forte que cravou Rachel no assento. Sua espinha se comprimiu e o oceano iluminado escorreu acima do domo. Ela sentiu um puxão sufocante quando o Triton desacelerou dentro d'água e depois começou a acelerar de volta em direção à superfície, balançando como uma rolha.

Os tubarões se lançaram sobre o novo alvo no mesmo minuto. Da cabine, Rachel assistiu, chocada, ao espetáculo cruel se desenrolando a dois metros dela.

Delta-Dois sentiu a cabeça retangular do tubarão bater nele com uma força inacreditável. Dentes afiados como lâminas envolveram seu braço perto do ombro, cortando até o osso e prendendo-o com firmeza. Uma dor inimaginável tomou conta dele quando o tubarão se remexeu vigorosamente, balançando a cabeça para arrancar seu braço. Outros tubarões se aproximaram. Facas penetrando em sua perna. Torso. Pescoço. Delta-Dois não tinha ar para gritar em agonia enquanto os tubarões-martelo despedaçavam seu corpo. A última visão que teve foi uma boca em formato semicircular virando-se de lado e várias fileiras de dentes agarrando sua cabeça.

O mundo foi engolfado pela escuridão.

As pancadas de pesadas cabeças cartilaginosas chocando-se contra o domo finalmente cessaram. Rachel abriu os olhos. O homem não estava mais lá e a água que envolvia o submarino ganhara um tom avermelhado.

Bastante perturbada, Rachel contraiu-se dentro da cabine, em posição fetal. Ela sentia que o submersível estava sendo levado pela corrente, raspando ao longo do convés de mergulho inferior do Goya. Percebeu que ele também estava se movendo em outra direção: para baixo.

Do lado de fora, o ruído nítido de água borbulhando para dentro dos tanques de lastro aumentou. O oceano subia aos poucos no vidro à frente dela.

Estou afundando!

Rachel foi tomada por um profundo terror e levantou-se como um raio. Estendendo os braços, alcançou o mecanismo da escotilha. Se pudesse subir para o topo do submarino, ainda teria tempo de pular dali até o deque de mergulho do Goya. Estava a poucos metros dele.

Tenho que sair daqui!

O mecanismo da escotilha trazia uma indicação bem clara sobre o lado que devia ser empurrado para abri-la. Ela fez força. A tampa não se moveu. Tentou novamente. Nada. Estava emperrada, torta. O medo foi crescendo dentro dela como a água subindo do lado de fora do submersível. Rachel usou toda a força que tinha.

Ainda assim, a escotilha não se moveu.

O Triton afundou mais alguns centímetros, chocando-se contra o Goya pela última vez antes de ser levado para fora do casco destroçado... rumo ao alto-mar.

CAPÍTULO 126
- Não faça isso! - Gabrielle implorou ao senador, que acabara de tirar cópias dos documentos. - Você está colocando em risco a vida de sua filha.

Sexton ignorou o que ela estava dizendo e retornou à sua mesa com 10 pilhas idênticas de papel. Cada uma delas continha fotocópias do dossiê que Rachel lhe enviara, incluindo sua mensagem escrita à mão alegando que o meteorito era falso e acusando a NASA e a Casa Branca de tentar matá-la.

Os kits de imprensa mais chocantes já preparados até hoje, pensou Sexton, começando a inserir cada pilha num envelope de linho branco com seu nome, endereço oficial e o selo do Senado. Não haveria dúvidas quanto à origem daquelas informações incríveis. O escândalo político do século será revelado por mim!

A assessora continuava pedindo que ele pensasse na segurança de Rachel, mas Sexton não estava ouvindo nada. Enquanto preparava os envelopes, ele se fechara em seu próprio mundo. Toda carreira política possui um momento decisivo. Este é o meu.

A mensagem que William Pickering deixara na secretária era bem clara.

Se o senador levasse a público aquelas informações, a vida de sua

filha estaria em perigo. Infelizmente para Rachel, Sexton também sabia que, se divulgasse as provas da fraude da NASA, aquele gesto de ousadia iria colocá-lo na Casa Branca. E de uma forma mais decisiva e dramática do que tudo que acontecera até então na política norte-americana.

A vida é cheia de decisões difíceis, pensou ele. Os vencedores são aqueles capazes de tomá-las.

Examinando o rosto do senador, Gabrielle Ashe chegou à conclusão de que já conhecia aquele olhar antes. Ambição desmedida. Ela sempre teve medo daquilo e agora percebia que estava certa. Sexton claramente estava pronto para arriscar a vida da filha para ser o primeiro a anunciar a armação da NASA.

- Você não vê que já ganhou? - insistia Gabrielle. - Zach Herney e a NASA não têm nenhuma chance diante desse escândalo. Não importa quem o tornará público! Nem quando será divulgado! Espere até que Rachel esteja em segurança. Espere até falar com Pickering!

Sexton continuava não lhe dando a menor atenção. Abriu a gaveta e tirou uma folha metalizada na qual estavam grudados vários selos auto-adesivos, do tamanho de uma pequena moeda, contendo suas iniciais. Ele geralmente os usava para convites formais, mas achou que selos de cera vermelha dariam um toque adicional de dramaticidade.

Foi desgrudando-os da folha um a um e colando-os na aba dos envelopes, selando-os como uma epístola com monograma.

O coração da assessora pulsava com enorme raiva. Ela pensou nas imagens digitalizadas dos cheques ilegais no computador do senador.

Contudo, se mencionasse aquilo, ele poderia apagar as evidências.

- Não faça isso - disse ela - ou vou contar a todos sobre o nosso caso.

Sexton deu uma risada alta enquanto continuava a colar os selos.

- É mesmo? E você acha que vão acreditar numa assistente sedenta de.poder que não recebeu um cargo em minha administração e está procurando vingança a qualquer custo? Eu já neguei nosso envolvimento uma vez e todos acreditaram em mim. Vou simplesmente negar tudo outra vez.

- A Casa Branca possui fotos - declarou Gabrielle.

Sexton nem levantou a cabeça.

- Eles não têm fotos. Mesmo que tivessem, elas não fazem mais sentido - disse, colando o último selo. - Eu tenho imunidade. Estes envelopes são um trunfo maior do que qualquer coisa que possam levantar contra mim.

Gabrielle sabia que o senador tinha razão. Sentia-se impotente enquanto Sexton admirava sua grande obra: 10 elegantes envelopes de linho branco, com seu nome e endereço impressos em relevo e fechados com selos de cera vermelha com suas iniciais manuscritas. Pareciam cartas da nobreza. Com certeza, reis já haviam sido coroados por conta de revelações muito menos poderosas.

Sexton pegou os envelopes e preparou-se para sair. Gabrielle deu um passo para o lado e bloqueou seu caminho.

- Você está cometendo um erro. Isso pode esperar.

O senador encarou-a.

- Eu fiz você, Gabrielle, e agora vou desfazer você.

- Esse fax de Rachel vai levá-lo à presidência. Você lhe deve algo! - continuou a assessora.

- Já dei muitas coisas a ela.

- E se alguma coisa acontecer a sua filha?

- Então ela terá garantido alguns votos de simpatia para mim.

Gabrielle não podia acreditar que aquele pensamento sequer tivesse passado pela cabeça de Sexton, muito menos que ele pudesse dizer algo tão mesquinho em voz alta. Revoltada, ela pegou o telefone.

-Vou ligar para a Casa...

O senador virou-se e deu-lhe um forte tapa no rosto.

Ela cambaleou, sentindo que seu lábio estava sangrando. Apoiando-se na mesa, reequilibrou-se e olhou, com total espanto, para o homem que um dia havia venerado.

Sexton encarou-a com uma expressão selvagem.

- Se você sequer pensar em me trair agora, vou fazer com que se arrependa durante o resto de sua vida. - Ficou parado, segurando a pilha de envelopes. Uma agressividade cruel brilhava em seus olhos.

Quando a assessora saiu do prédio, tomada pelo ar frio da noite, seu lábio continuava sangrando. Chamou um táxi e entrou no carro. Então, pela primeira vez desde sua chegada a Washington, Gabrielle Ashe desmoronou em lágrimas.



CAPÍTULO 127
O Tríton caiu...

Michael Tolland ficou de pé, cambaleando no convés inclinado, e olhou por cima do cabrestante na direção do cabo do guindaste que antes sustentava o submarino. Virando-se para a popa, procurou-o no oceano.

O Tríton tinha acabado de sair de baixo do Goya, levado pela corrente.

Feliz por ver que ele ao menos estava intacto, Tolland colou o olhar na escotilha, desejando que Rachel a abrisse e saísse lá de dentro sem nenhum arranhão. A escotilha, contudo, não se abriu. Ele ficou imaginando se Rachel teria se machucado devido à queda violenta.

Mesmo dali, Tolland podia ver que o submersível estava mais imerso do que o normal - bem abaixo de sua linha-d'água usual. Está afundando. O oceanógrafo não conseguia entender por que aquilo estava acontecendo, mas razões já não importavam.

Tenho que tirar Rachel de lá. Agora.

Quando Michael se levantou, pronto para correr até à popa, uma

metralhadora disparou sobre ele uma saraivada de balas, que ricochetearam no maciço cabrestante mais acima. Ajoelhou-se de novo.

Merda! Levantou um pouco a cabeça, o suficiente para ver que Pickering estava no convés acima dele, mirando como um franco-atirador. O soldado da Força Delta havia deixado sua metralhadora cair antes de subir no helicóptero condenado, e Pickering conseguira pegar a arma. O diretor, então, subiu para o outro nível.

Agachado atrás do cabrestante, Tolland olhou em volta para o Triton, que afundava lentamente. Vamos, Rachel! Saia! Esperou que a escotilha se abrisse, mas nada aconteceu.

Durante alguns segundos, avaliou a distância entre a sua posição e a balaustrada da popa do navio. Cerca de seis metros. Um percurso longo para completar sem nenhuma proteção.

Tolland respirou fundo e decidiu-se. Tirando a camisa, jogou-a para a sua direita. Enquanto Pickering a enchia de balas, ele saiu correndo pela esquerda, cortando em diagonal pelo convés inclinado em direção à popa. Com um grande salto, pulou por cima da balaustrada. Descrevendo um arco no ar, ainda ouviu as balas sibilando ao seu redor e pensou que um único arranhão faria com que se tornasse petisco de tubarão assim que encostasse na água.


Rachel se sentia como um animal selvagem enjaulado. Tinha tentado abrir a escotilha várias vezes, sem sucesso. Podia ouvir que havia um tanque abaixo dela se enchendo de água e percebia que o submarino estava ficando mais pesado. A escuridão do oceano tomava conta aos poucos do domo transparente, como uma cortina negra vinda do fundo.

Pela metade inferior do vidro, Rachel podia ver o vazio do oceano atraindo-a para seu túmulo. A imensidão abaixo dela ameaçava engolfá-la por inteiro. Agarrou o mecanismo da escotilha e tentou movê-lo mais uma vez, porém nada se mexia. Começou a arfar, as narinas tomadas pelo cheiro ácido do excesso de dióxido de carbono.

Em meio a tudo aquilo, um único pensamento apavorante se repetia em sua mente.

Vou morrer sozinha embaixo da água.

Ela olhou os painéis de controle do Triton, procurando algo que pudesse ajudá-la, mas todos os indicadores estavam apagados. Não havia-energia. Estava presa numa cripta inerte de aço mergulhando em direção às profundezas do oceano.

Um dos tanques parecia estar borbulhando mais rápido agora e a água estava quase tapando completamente o vidro. Ao longe, visível através da infindável extensão do mar, uma faixa violeta surgia no horizonte.

Estava quase amanhecendo. Rachel temia que aquela fosse a última luz que iria ver. Fechou os olhos, tentando não pensar em seu destino, mas encontrou as imagens aterrorizantes de sua infância projetadas em sua mente.

Caindo através do gelo em direção ao fundo.

Sem ar. Incapaz de subir à tona. Afundando.

Sua mãe repetindo seu nome: "Rachel! Rachel!"

Um ruído de batidas do lado de fora tirou Rachel de seu devaneio.

Abriu os olhos. Um rosto surgiu, apertado contra o vidro, de cabeça para baixo, com o cabelo negro solto na água. Ela quase não conseguia vê-lo na escuridão do oceano.

- Michael!

Tolland emergiu, respirando aliviado ao ver que Rachel estava bem. Ela está viva. Nadou, com braçadas vigorosas, até à parte posterior do Triton e subiu na plataforma do motor, quase submersa. No mar, as correntes o envolviam com um calor pesado. Posicionou-se para agarrar a tarraxa do portal circular, mantendo o corpo abaixado e torcendo para estar fora do alcance da arma de Pickering.

O casco do Triton já estava quase todo submerso e Tolland sabia que teria que se apressar para abrir a escotilha e tirar Rachel dali. Sua margem era inferior a 30 centímetros e diminuía rapidamente. Se a escotilha ficasse submersa, seria impossível abri-la, pois isso faria com que um jato de água do mar invadisse o Triton, aprisionando Rachel lá dentro e lançando o submarino em uma queda livre até o fundo.

Agora ou nunca, pensou, segurando o volante da escotilha e forçando-o no sentido anti-horário. Nada aconteceu. Tentou novamente, usando mais força. Ainda assim, a escotilha se recusava a se mover.

Podia ouvir a voz de Rachel lá dentro, do outro lado do portal. Estava abafada e carregada de medo.

- Já tentei! - gritou ela. - Não consegui girar!

A água já estava batendo na tampa do portal.

- Vamos girar juntos! - gritou Tolland. - Você vai na direção horária!

- Ele sabia que a direção estava marcada de forma clara. - Vamos lá, agora!

Apoiando o corpo nos tanques de lastro, ele usou toda a sua força.

Podia ouvir Rachel fazendo o mesmo lá dentro. O volante girou um ou dois centímetros e parou.

De repente, o oceanógrafo percebeu que a tampa do portal não estava corretamente encaixada na abertura. Como a tampa de uma jarra que foi fechada meio torta e depois forçada, a escotilha tinha emperrado. A vedação de borracha estava corretamente posicionada, mas as braçolas estavam recurvadas, o que significava que aquela tampa só sairia com o auxílio de um maçarico.

Quando o topo do submarino mergulhou abaixo da superfície, Tolland sentiu um pânico súbito tomando conta dele. Rachel Sexton não iria escapar do Triton.

Cerca de 600 metros abaixo deles, a fuselagem retorcida do Kiowa afundava a toda a velocidade, prisioneira da gravidade e atraída pelo vórtice no fundo do oceano. Dentro da cabine, Delta-Um estava morto, seu corpo completamente desfigurado pela enorme pressão da água.

Enquanto a aeronave descia em espiral, com os mísseis Hellfire ainda presos a ela, o domo de magma jazia no fundo do oceano à sua espera, como um heliponto saído do inferno. Abaixo de sua crosta com três metros de espessura, um pontão de lava estava em ebulição a mais de 1.000 Celsius.

Um vulcão prestes a explodir.



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