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CAPÍTULO 17
Marjorie Tench, a Consultora sênior do presidente, era uma criatura extremamente magra e alta - um esqueleto ambulante. Tinha 1,80 metro de altura e parecia ter sido montada a partir de um kit de construção de robôs com juntas e ligas. Pendurado no alto daquele corpo de aparência instável havia um rosto amarelado, cuja pele mais se parecia com uma folha de pergaminho perfurada por dois olhos sem emoção. Com apenas 51 anos de idade, ela aparentava 70.

Tench era respeitada em toda a Washington como uma deusa na arena política. Dizia-se que seu pensamento analítico beirava a clarividência. Uma década no comando do Escritório de Inteligência e Pesquisa do Departamento de Estado tinha contribuído para aguçar ainda mais sua mente perigosamente afiada e crítica. Infelizmente, a sabedoria e o traquejo político de Marjorie eram acompanhados de um temperamento frio que poucos conseguiam tolerar por mais que alguns minutos. Podia-se dizer que seu cérebro possuía a capacidade - e a frieza - de um supercomputador. Ainda assim, o presidente Herney não tinha dificuldade em lidar com ela. O intelecto e a força de trabalho de Tench haviam sido quase inteiramente responsáveis por fazer com que ele chegasse à Casa Branca.

- Marjorie - disse o presidente, levantando-se para recebê-la no Salão Oval. - Em que posso ajudá-la? - Ele não puxou uma cadeira para ela.

Aquele tipo de cortesia não se aplicava a mulheres como Marjorie Tench. Se ela quisesse se sentar, podia muito bem pegar sua própria cadeira.

- Vi que você marcou a reunião com a sua equipe para hoje, às quatro da tarde. - Sua voz soava um pouco áspera por causa do cigarro. - Muito bom.

Tench andou pela sala por um instante, e Herney podia sentir as intrincadas engrenagens de sua mente girarem. Isso o deixava feliz.

Marjorie Tench era um dos poucos eleitos na equipe do presidente a ter total conhecimento da descoberta da NASA, e sua habilidade política ajudara Herney a planejar sua estratégia.

- Esse debate de hoje na CNN - disse ela, tossindo. - Quem vamos enviar para se digladiar com Sexton?

Herney sorriu.

- Um porta-voz de campanha do baixo escalão. - A tática de nunca enviar um peixe grande para deixar o "caçador" frustrado era tão velha quanto os debates em si.

- Tenho uma idéia melhor - disse ela, fitando Herney. - Deixe que eu vá.

Ele levou um choque.

- Você? - Que diabos ela está pensando? - Marjorie, você nunca entra em contato com a mídia. Além disso, é uma transmissão ao vivo no meio da tarde. Se eu mandar minha consultora sênior, como você acha que isso irá soar? Dará a impressão de que estamos entrando em pânico, não é?

- Exatamente.

O presidente observou-a. Fosse qual fosse o intrincado esquema que Marjorie estava arquitetando, por nada neste mundo Herney a deixaria aparecer na CNN. Qualquer um que já tivesse visto a consultora sabia que havia fortes razões para que ela atuasse sempre nos bastidores.

Era uma mulher de aparência assustadora e definitivamente não era o rosto que um presidente gostaria de ver como porta-voz da Casa Branca.

- Esse debate da CNN fica comigo - ela repetiu e, desta vez, não era um pedido.

- Marjorie - disse o presidente, tentando fazer com que mudasse de idéia -, a equipe de campanha de Sexton obviamente irá afirmar que sua presença na CNN é uma prova de que a Casa Branca está se sentindo ameaçada. Atacar com nossas melhores armas muito cedo fará com que achem que estamos desesperados.

Ela assentiu com um gesto curto e acendeu um cigarro.

- Quanto mais desesperados acharem que estamos, melhor.

Durante dois ou três minutos, ela explicou em linhas gerais por que o presidente faria melhor enviando-a para o debate em vez de alguém do escalão inferior. Quando a consultora terminou a explicação, Herney estava olhando para ela, impressionado.

Mais uma vez, Marjorie Tench havia se mostrado um gênio da política.



CAPÍTULO 18
A plataforma de gelo Ivusne é a maior massa sólida de gelo flutuante no Hemisfério Norte. Situada acima do paralelo 82, no extremo norte da ilha de Ellesmere, no alto Ártico, ela tem seis quilômetros e meio de largura e mais de 90 metros de espessura.

Ao entrar na cabine de plexiglas no topo do trator de neve, Rachel ficou feliz ao encontrar lá dentro uma parca e um par de luvas para ela, e se sentiu reconfortada com o ar quente proveniente das saídas de ventilação da cabine. Do lado de fora, na pista de gelo, as turbinas do F-14 foram acionadas e o avião começou a taxiar para partir.

Rachel olhou assustada.

- Ele vai embora?

Seu novo anfitrião subiu no trator, fazendo sinal que sim.

- Somente os cientistas e uma equipe mínima de suporte da NASA têm permissão para ficar aqui.

Quando o F-14 sumiu no céu escuro, Rachel subitamente sentiu-se abandonada em uma ilha deserta.

- Vamos usar o IceRover a partir de agora - disse o homem. – O administrador está esperando.

Rachel olhou para fora, vendo a listra prateada de gelo se estendendo à sua frente, e tentou imaginar o que o administrador da NASA estava fazendo naquele lugar.

- Segure-se! - gritou o homem enquanto mexia em algumas alavancas. Com um rugido forte, a máquina girou 90 graus sem sair do lugar, como um tanque de guerra. Estava agora de frente para a enorme parede de neve.

Rachel olhou para a subida íngreme e sentiu uma pontada de medo.

Obviamente ele não pretende...

- Vamos nessa! - O motorista soltou a embreagem e o veículo acelerou em direção à subida. Rachel soltou um grito abafado e segurou-se.

Quando se chocaram contra a barragem, os grampos das esteiras rasgaram a neve e o veículo começou a subir. Rachel tinha absoluta certeza de que cairiam para trás, mas a cabine permaneceu surpreendentemente na horizontal enquanto os grampos se cravavam na neve, fazendo o IceRover subir. Quando a enorme máquina surgiu lá em cima, no pico da elevação, o motorista parou e sorriu para sua passageira, pálida de medo.

- Tente fazer isso com um 4x4! Pegamos o projeto do sistema antichoque do Pathfinder de Marte e colocamos neste brinquedo aqui! Funciona maravilhosamente bem.

Rachel concordou com a cabeça, lívida.

- Que bom.

Posicionada agora no topo da barragem de neve, Rachel observou aquela paisagem inconcebível. Havia mais uma grande elevação na frente deles e depois as ondulações cessavam abruptamente. Além daquele ponto, o gelo aplainava-se, formando uma extensão brilhosa com uma ligeira inclinação. Iluminado pelo luar, o manto de gelo estendia-se à distância até que eventualmente se estreitava, contorcendo-se entre as montanhas.

- Aquela é a geleira Milne - disse o motorista, apontando para as montanhas. - Começa lá em cima e depois vem descendo até chegar a este enorme delta onde estamos agora.

O homem acelerou novamente, e Rachel se segurou enquanto o veículo descia o outro lado da rampa íngreme. Quando chegaram lá embaixo, atravessaram outro canal congelado e depois galgaram o próximo paredão de neve. Subindo até o topo e descendo do lado oposto, chegaram a um manto de gelo liso. Começaram a transpor a parte plana da geleira.

- Estamos longe? - Rachel só via gelo diante deles.

- Uns três quilômetros e meio à frente.

Parecia bastante longe para Rachel. O vento do lado de fora se chocava contra o IceRover em fortes rajadas, chacoalhando a cabine como se quisesse arrancá-la.

- Isso é o vento catabático - gritou o motorista. - Melhor ir se acostumando! -

Ele explicou, então, que aquela área era constantemente varrida por um vento conhecido como catabático, uma palavra de origem grega que significava "do alto para baixo". O vento contínuo era, aparentemente, produzido pelo ar frio e pesado que "fluía" para baixo pelas encostas da geleira como se fosse um rio enfurecido descendo montanha abaixo.

- Este é o único lugar na Terra - acrescentou o motorista, rindo - no qual o inferno congela!

Algum tempo depois, Rachel começou a distinguir uma forma vaga ao longe, na direção em que seguiam. Era a silhueta de um enorme domo branco emergindo do gelo. Ela esfregou os olhos.

- Meu Deus, o que é isso?

- Temos uns esquimós bem grandes por aqui, não? - disse o homem, brincando.

Ela tentou compreender a estrutura à sua frente. Parecia-se muito com uma versão reduzida do Astrodomo de Houston.

- A NASA construiu isso aí há uma semana e meia - ele disse. - É um complexo de polissorbato inflável multiestágio. Basta inflar as peças, juntá-las umas às outras e depois fixar a estrutura no gelo usando pítons e cordas. Parece uma grande lona de circo, não? Na verdade é o protótipo da NASA para o habitat portátil que queremos usar em Marte, quando for possível. Nós o chamamos de "habisfera", uma esfera habitável.

Rachel ficou olhando para a estranha construção no meio daquela planície glacial.

- E, já que a NASA ainda não conseguiu chegar a Marte, vocês todos resolveram passar umas noites por aqui, é isso?

O homem riu.

- Na verdade, eu teria preferido o Taiti, mas o local foi determinado pelo destino.

Rachel continuava examinando aquela construção peculiar. O branco-acinzentado da estrutura fantasmagórica contrastava com o céu escuro. O IceRover aproximou-se do domo, parando ao lado de uma pequena porta, que se abriu no mesmo momento. A luz vinda lá de dentro iluminou a neve. Um homem saiu: era um gigante corpulento usando um suéter de lã preto que exagerava ainda mais o seu tamanho, fazendo com que parecesse um urso. Ele caminhou na direção do IceRover.

Rachel conhecia aquele homem: era Lawrence Ekstrom, o administrador da NASA.

O motorista deu um risinho tranqüilizador e disse:

- Não deixe o tamanho desse cara te enganar. Ele é gentil como um gatinho.

Está mais para um tigre, pensou ela, que conhecia bem a reputação de Ekstrom de arrancar a cabeça de qualquer um que se colocasse no caminho de seus sonhos.

Quando Rachel desceu do IceRover, o vento quase a jogou no chão.

Enrolou-se firme no casaco e andou em direção ao domo. O administrador da NASA encontrou-a no meio do caminho e estendeu sua enorme mão recoberta por uma luva.

- Senhorita Sexton, fico feliz que tenha vindo.

Sorrindo sem muita convicção, ela gritou por cima do barulho do vento:

- Honestamente, senhor, acho que não tive muita escolha.

Um quilômetro acima na geleira, usando binóculos de infravermelho, Delta-Um observava Rachel ser conduzida para dentro do domo pelo administrador da NASA.



CAPÍTULO 19
Lawrence Ekstrom, administrador da NASA, era um homem enorme, de rosto corado e ar rabugento, como um deus nórdico enraivecido. Seu cabelo louro e espevitado era cortado bem rente, em estilo militar, deixando em evidência sua testa enrugada e seu narigão marcado por pequenas veias. Seus olhos estavam pesados pelas muitas noites sem sono. Ele havia sido um influente estrategista e consultor de operações aeroespaciais no Pentágono antes de ser indicado para a NASA. Seu mau humor era tão famoso quanto sua dedicação inabalável a qualquer missão que lhe fosse confiada.

Ao entrar na habisfera atrás de Ekstrom, Rachel viu-se em meio a um labirinto surreal de corredores translúcidos, que parecia ter sido construído com folhas de plástico opaco penduradas em fios estendidos e tensionados. Não tinham colocado um piso, havia apenas o gelo sólido recoberto por faixas de material emborrachado para que ninguém escorregasse. Passaram por um dormitório rudimentar com beliches e toaletes químicos.

Felizmente o ar na habisfera era aquecido, apesar do cheiro peculiarmente pesado que resultava da combinação de odores indiscerníveis de várias pessoas fechadas em um espaço restrito. Em algum lugar havia o zumbido de um gerador, aparentemente fonte da energia elétrica que alimentava as lâmpadas colocadas em bocais ligados a extensões ao longo da entrada.

- Senhorita Sexton - Ekstrom começou a falar, enquanto guiava sua visitante a passos rápidos rumo a um destino desconhecido -, gostaria de ser sincero com você. - Seu tom de voz deixava claro que não estava feliz em ter Rachel como sua hóspede. - Você está aqui porque o presidente quer. Zach Herney é um amigo pessoal e um fiel defensor da NASA. Eu o respeito e devo muito a ele. Mais que isso, confio nele. Não questiono suas ordens diretas, mesmo quando não me sinto confortável com elas. Só queria deixar bem claro que não partilho do entusiasmo do presidente quanto a envolvê-la neste assunto.

Rachel ficou atônita. Viajei quase cinco mil quilômetros para ser recebida desta forma?

- Com todo o respeito - ela devolveu na mesma hora -, também me encontro sob ordens do presidente. Não me disseram por que estava sendo trazida para cá, mas fiz esta viagem com a melhor das intenções.

- Ótimo - disse Ekstrom. - Então posso ser direto.

- Acho que já começou de forma bem direta, não?

A resposta dura de Rachel aparentemente mexeu com o administrador. Suas passadas se desaceleraram e seus olhos se desanuviaram um pouco enquanto a observava. Depois, como uma cobra se desenrolando, ele suspirou longamente e retomou seu ritmo.

- Você precisa entender que se encontra em meio a um projeto secreto da NASA contra minha própria vontade. Não apenas é uma representante do NRO, cujo diretor tem profundo prazer em desonrar os cientistas da NASA como se fossem crianças linguarudas, mas também é filha do homem que fez de sua vida uma cruzada pessoal para destruir minha agência. Este deveria ser o momento de glória da NASA. Meus homens têm sofrido muito com as críticas recentes e merecem saborear este triunfo. Contudo, devido à enorme corrente de ceticismo liderada por seu pai, a agência se encontra em tal situação política que meu pessoal, apesar do trabalho árduo já realizado, se vê forçado a dividir o brilho dos holofotes com um punhado de cientistas escolhidos ao acaso e com a filha do homem que está tentando nos destruir.

Não sou meu pai -, ela quis gritar, mas aquele obviamente não era o momento para debater questões políticas com Ekstrom.

- Não vim aqui para me fazer de estrela, senhor.

O administrador olhou-a de volta e disse:

- Pode ser que você descubra que não há alternativa.

O comentário pegou-a de surpresa. Ainda que o presidente Herney não houvesse dito especificamente que gostaria que Rachel o ajudasse de forma "pública", William Pickering certamente mostrara-se desconfiado de que sua agente pudesse se tornar um peão no jogo político.

- Gostaria de saber exatamente o que estou fazendo aqui - disse Rachel enfaticamente.

- Somos dois, então. Eu não tenho essa informação.

- Como?


- O presidente apenas me pediu que lhe explicasse em detalhes nossa descoberta assim que você chegasse. Seja lá qual for o papel que ele deseja que você desempenhe neste circo, isso é entre vocês dois.

- Ele me disse que o EOS, o Sistema de Observação da Terra, havia feito uma descoberta.

Ekstrom olhou-a de cima abaixo.

- Quão familiarizada você está com o projeto EOS?

- EOS é uma constelação de cinco satélites da NASA que examinam a Terra de várias formas; mapeamento dos oceanos, análise das falhas geológicas, observação do degelo polar, localização de reservas de combustíveis fósseis...

- Certo - cortou Ekstrom friamente. - Então você deve ter conhecimento sobre o último acréscimo à constelação do EOS. Chama-se PODS.

Ela assentiu. O PODS (Polar Orbiting Density Scanner), um satélite que faz varreduras de densidade em órbita polar, fora desenhado para medir os efeitos do aquecimento global.

- Se entendi bem sua função, o PODS mede a espessura e a rigidez do gelo da calota polar, certo?

- Exato. Ele usa uma tecnologia de espectrometria para captar composições de varreduras de densidade de grandes regiões e encontrar anomalias no gelo - neve derretida, pontos de degelo interno, grandes fissuras - indicativas de aquecimento global.

Rachel estava bem familiarizada com as varreduras de densidade.

Funcionavam como um ultra- som subterrâneo. Os satélites do NRO usavam tecnologia similar para procurar variações de densidade no solo do Leste Europeu e, assim, encontrar valas comuns, que podiam confirmar que uma limpeza étnica estava em andamento.

- Há duas semanas - prosseguiu Ekstrom - o PODS passou por cima desta geleira e notou uma anomalia de densidade que não se parecia com nada do que esperávamos ver. Sessenta metros abaixo da superfície, perfeitamente envolto em uma matriz de gelo sólido, o PODS viu algo que se parecia com um glóbulo amorfo com cerca de três metros de diâmetro.

- Um bolsão de água?

- Não. Nada líquido. Estranhamente, essa anomalia era mais dura do que o gelo que a cercava.

Rachel pensou um pouco.

- Então... seria uma rocha ou algo assim.

- Essencialmente, sim - disse ele.

Rachel ficou esperando o grande desfecho, mas Ekstrom não disse nada.

Estou aqui só porque a NASA encontrou uma grande rocha no gelo?

- Ficamos realmente animados quando o PODS calculou a densidade dessa rocha. Enviamos imediatamente uma equipe para cá a fim de analisá-la. Como viemos a descobrir, a rocha que está no gelo abaixo de nós é significativamente mais densa do que qualquer outra que possa ser encontrada aqui, na ilha de Ellesmere. Na verdade, é mais densa do que qualquer rocha em um raio de 650 quilômetros.

Rachel olhou para o gelo abaixo de seus pés, imaginando a enorme rocha lá embaixo, em algum lugar.

- Você quer dizer que alguém a trouxe para cá? Ekstrom pareceu se divertir um pouco com essa idéia.

- A rocha pesa mais de oito toneladas e está recoberta por 60 metros de gelo, o que significa que está ali, intocada, por mais de 300 anos.

Rachel sentiu um cansaço se abater sobre ela enquanto seguia o administrador pela entrada de um longo e estreito corredor, passando entre dois guardas armados da NASA que estavam de vigia. Ela olhou para Ekstrom.

- Devo supor que há uma explicação lógica para a presença da pedra aqui... e para todo este segredo?

- Com certeza - respondeu Ekstrom, sem titubear. - A rocha encontrada pelo PODS é um meteorito.

Rachel parou na mesma hora, na passagem, e encarou o administrador.

- Um meteorito?

Uma onda de desapontamento tomou conta dela. Um meteorito era um anticlímax após a enorme expectativa gerada pelo presidente. Esta descoberta sozinha irá justificar todas as despesas e as trapalhadas anteriores da NASA? Em que Herney estava pensando? Meteoritos eram, claro, um dos tipos mais raros de rochas na Terra, mas a NASA descobria meteoritos o tempo todo.

- Este é um dos maiores já encontrados em todo o mundo - disse Ekstrom rispidamente, de pé na frente dela. - Acreditamos que seja um fragmento de um meteorito que, como foi documentado, caiu no oceano Ártico no início do século XVIII. Muito provavelmente essa rocha foi ejetada com o impacto do meteorito no oceano. Deve ter caído aqui, na geleira Milne, e aos poucos foi soterrada pela neve ao longo dos últimos 300 anos.

Rachel fechou a cara. Aquela descoberta não iria mudar nada. Sentiu crescer sua suspeita de que estava testemunhando um golpe publicitário sem proporções armado pela NASA e pela Casa Branca - as duas entidades, em desespero, tentavam elevar uma descoberta casual ao status de uma grande vitória da NASA de projeção mundial.

- Você não parece muito impressionada - disse Ekstrom.

- Acho que eu esperava algo... diferente.

Ele baixou o rosto, encarando-a.

- Um meteorito desse tamanho é uma descoberta muito rara, senhorita Sexton. Em todo o mundo, poucos são maiores que ele.

- Eu entendo que...

- Mas não foi o tamanho do meteorito que nos deixou entusiasmados. Se permitir que eu termine minha explicação, irá compreender que ele possui algumas características impressionantes nunca antes vistas em nenhum outro meteorito, grande ou pequeno. - Ele apontou para o final do corredor. - Se puder me acompanhar, gostaria de apresentá-la a alguém mais qualificado do que eu para lhe explicar essa descoberta.

Rachel não entendeu o que ele quis dizer.

- Alguém mais qualificado do que o administrador da NASA?

Os olhos frios de Ekstrom se fixaram nela.

- Mais qualificado, senhorita Sexton, no sentido de que é um civil. Presumo que, como analista de inteligência, você queira receber os dados de uma fonte imparcial.

Touché. Rachel ficou em silêncio.

Seguiu o administrador até o final do corredor estreito, que acabava em uma pesada e escura cortina. Rachel podia ouvir o murmúrio confuso de muita gente falando do outro lado, as vozes ecoando no espaço.

Sem dizer mais nada, o administrador estendeu o braço e abriu a cortina. Rachel ficou temporariamente cega pela claridade ofuscante.

Quando seus olhos se ajustaram ao ambiente, viu a enorme sala que se abria diante dela e ficou boquiaberta.

- Meu Deus... - sussurrou. Que lugar é este?


CAPÍTULO 20
O estúdio de gravação da CNN nos arredores de Washington D.C. é um dos 212 espalhados pelo mundo que estão ligados, via satélite, à central do Turner Broadcasting System em Atlanta.

Eram 13h45 quando a limusine do senador Sedgewick Sexton parou no estacionamento. Ele andou em direção à portaria do prédio, sentindo-se bastante confiante. Sexton e Gabrielle foram cumprimentados, ao entrar, por um produtor barrigudo da CNN que tinha um sorriso efusivo estampado no rosto.

- Senador Sexton, seja bem-vindo. Tenho boas notícias. Acabamos de descobrir quem a Casa Branca resolveu enviar para enfrentá-lo no debate. - O produtor deu um sorrisinho malicioso. - Espero que esteja bem preparado. - Apontou para o vidro da cabine de produção que dava para o estúdio.

Ao olhar pelo vidro, o senador quase caiu para trás. Do outro lado, em meio à fumaça de seu cigarro, estava o rosto mais feio de todo o cenário político.

- Marjorie Tench? - disse, perplexa, Gabrielle. - O que ela está fazendo aqui?

Sexton não tinha a menor idéia, mas, independentemente da razão, sua presença ali era uma ótima notícia. Um sinal claro de que o presidente estava completamente desesperado. Que outro motivo ele teria para mandar sua conselheira sênior para a frente de batalha? Zach Herney estava lançando mão de artilharia pesada, e o senador via aquilo como uma ótima oportunidade.

Quanto maior o adversário, maior é a queda.

Ele não tinha dúvida de que Tench seria uma oponente astuciosa, mas, olhando para ela, estava certo de que o presidente cometera um grande erro de julgamento. Marjorie era pavorosamente feia. Lá estava ela, desengonçada em sua cadeira, fumando um cigarro, a mão direita se movendo lentamente, indo e vindo de seus lábios finos como se fosse um gigantesco louva-a-deus se alimentando.

Meu Deus, pensou Sexton, ela devia se limitar a participar de debates em programas de rádio.

Nas poucas vezes em que vira a carranca amarelada da conselheira em algum jornal ou revista, o senador custara a crer que aquela fosse uma das faces mais poderosas de Washington.

- Não estou gostando disso - sussurrou Gabrielle.

Sexton não lhe deu atenção. Quanto mais pensava naquela oportunidade, mais satisfeito ficava. Havia algo de que poderia tirar ainda mais proveito do que do visual inadequado de Marjorie; a conselheira sempre fora uma forte defensora de que o futuro da América como líder mundial dependia de sua superioridade tecnológica. Ela era uma partidária ardorosa dos programas de pesquisa e desenvolvimento de alta tecnologia patrocinados pelo governo e, acima de tudo, pela NASA.

Várias pessoas acreditavam que era por conta da pressão interna exercida por Marjorie que o presidente se mantinha tão firmemente posicionado a favor da decadente agência espacial.

Sexton pensou se Herney não estaria, no fundo, querendo punir Tench por todos os conselhos ruins que ela lhe dera em relação à NASA. Será que ele está jogando sua conselheira sênior aos leões?

Gabrielle Ashe olhou para Marjorie através do vidro e sentiu um profundo incômodo. Aquela mulher era uma víbora astuta e sua presença era inesperada. Os dois fatos juntos faziam os instintos da assessora de Sexton se aguçarem. Considerando-se a postura de Marjorie em relação à NASA, o fato de o presidente enviá-la para enfrentar o senador parecia uma má idéia. O presidente, contudo, não era tolo.

Algo dizia a Gabrielle que aquela entrevista podia terminar mal.

Para piorar a situação, Gabrielle já podia sentir o senador comemorando antecipadamente seu desempenho naquele debate. Sexton tinha o péssimo hábito de passar do ponto quando se tornava presunçoso. A questão da NASA tinha gerado um bom impulso nas pesquisas, mas ele vinha exagerando um pouco no assunto, na opinião dela. Muitos candidatos já haviam perdido campanhas por terem partido para o nocaute quando deveriam apenas esperar pelo final do round.

O produtor parecia animado com a disputa mortal que viria a seguir.

- Vamos prepará-lo para as câmeras, senador.

Quando Sexton foi em direção ao estúdio, Gabrielle puxou-o discretamente.

- Sei o que você está pensando - ela disse bem baixo. - Mas fique atento. Não passe do ponto.

- Passar do ponto? Eu? - respondeu Sexton, com um sorriso malicioso.

- Lembre-se de que essa mulher é boa naquilo que faz.

Sexton deu uma piscadela e disse:

- E eu também.


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