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CAPÍTULO 21
A imensa câmara principal da habisfera seria uma visão estranha em qualquer lugar do planeta. O fato de estar situada sobre uma plataforma de gelo no Ártico só tornava aquilo ainda mais inacreditável para Rachel.

Olhando para cima, ela via um domo futurístico constituído de blocos triangulares brancos encaixados uns nos outros e sentia-se como se tivesse entrado em um enorme sanatório. As paredes desciam inclinadas até tocar o chão de gelo sólido, onde uma grande quantidade de lâmpadas halógenas parecia montar guarda em torno do perímetro, projetando a luz para cima e conferindo a toda a câmara uma luminosidade efêmera.

Placas de borracha preta foram usadas como revestimento, ziguezagueando sobre o chão de gelo e unindo um emaranhado de estações de pesquisa científica portáteis. Em meio ao equipamento eletrônico, uns 30 ou 40 cientistas da NASA trabalhavam duro, trocando idéias, sorrindo e falando em tom animado. Rachel reconheceu a eletricidade que percorria aquela sala.

Era a excitação diante de uma nova descoberta.

Enquanto ela e o administrador circulavam pela câmara, Rachel notou os olhares de surpresa e de contrariedade no rosto das pessoas que a reconheciam. Seus sussurros podiam ser ouvidos claramente naquele espaço reverberante.

- Aquela não é a filha do senador Sexton?

- Que diabos ELA está fazendo aqui?

- Não acredito que o administrador esteja conversando com ela!

De certa forma, Rachel quase esperava encontrar bonecos de vodu com a imagem de seu pai pendurados pela sala. A hostilidade em torno dela, contudo, não era a única emoção no ar. Ela também podia sentir um orgulho bem nítido, como se a NASA soubesse muito bem quem iria rir por último.

Ekstrom levou Rachel até uma fileira de mesas onde um homem estava sentado sozinho na frente de um computador. Ele usava calça de veludo cotelê, camisa de gola rulê preta e pesadas botas de marinheiro, em vez do uniforme padrão branco que os funcionários da NASA vestiam.

Estava de costas para eles quando se aproximaram.

O administrador pediu a Rachel que esperasse e caminhou na direção do homem. Os dois conversaram brevemente. Em seguida, ele assentiu cordialmente e começou a desligar seu computador. Ekstrom voltou para falar com Rachel.

- O senhor Tolland irá cuidar de você de agora em diante. Ele também foi recrutado pelo presidente, então creio que vocês vão se entender bem.

- Obrigada.

- Suponho que você já tenha ouvido falar de Michael Tolland.

Rachel deu de ombros, seu cérebro ainda tentando compreender aquele lugar incrível.

- O nome não me diz nada.

O homem se aproximou, sorrindo.

- Não lhe diz nada? - Sua voz era profunda e amigável. - Esta é a melhor notícia que tive hoje. Parece que não consigo mais me apresentar por conta própria.

Quando Rachel olhou para ele, congelou. É claro que conhecia aquele rosto bonito. Todo mundo nos Estados Unidos o conhecia.

- Ah - disse ela, corando quando o homem apertou sua mão. - Você é o Michael Tolland.

Quando o presidente contara a Rachel que ele havia recrutado cientistas civis de primeira linha para verificar a autenticidade da descoberta da NASA, ela tinha imaginado um grupo de "nerds" esquisitões, carregando nos bolsos calculadoras com suas iniciais gravadas. Michael Tolland era o contrário de tudo aquilo.

Ele era uma das mais conhecidas "celebridades do mundo científico" dos Estados Unidos, em grande parte por ser o apresentador de um documentário semanal na televisão chamado Maravilhas aos mares, no qual mostrava aos espectadores fenômenos fascinantes dos oceanos, como vulcões submarinos, serpentes marinhas de três metros e tsunamis. A mídia elogiava Tolland, tido como uma mistura de Jacques Cousteau com Carl Sagan, dizendo que seus conhecimentos, seu entusiasmo despretensioso e seu desejo insaciável por novas aventuras eram responsáveis pelo enorme sucesso do programa. E, como os críticos não se cansavam de dizer, o carisma discreto e a virilidade de Tolland também contribuíam fortemente para elevar os índices de audiência, principalmente entre o público feminino.

- Senhor Tolland... - balbuciou Rachel - ...eu sou Rachel Sexton.

Tolland abriu um sorriso simpático.

- Oi, Rachel. Pode me chamar de Mike.

Rachel não sabia o que dizer em seguida, uma situação bem atípica para ela. A sobrecarga de informações estava começando a pesar: a habisfera, o meteorito, todos aqueles segredos, ver-se subitamente diante de uma celebridade da televisão...

- Estou surpresa por encontrá-lo aqui - disse ela, tentando puxar conversa. - Quando o presidente me disse que havia recrutado cientistas civis para averiguar a autenticidade da descoberta da NASA, acho que eu esperava encontrar... - hesitou.

- Cientistas de verdade? - disse Tolland, sorrindo.

Rachel ficou vermelha, envergonhada.

- Não foi isso que eu quis dizer, eu...

- Não se preocupe - prosseguiu Tolland. - É o que mais tenho ouvido desde que cheguei aqui.

Ekstrom pediu licença e disse que voltaria a encontrá-los mais tarde.

Agora era Tolland quem olhava para Rachel com curiosidade.

- O administrador disse que você é filha do senador Sexton.

Rachel fez que sim com a cabeça.

- Infelizmente.

- Uma espiã de Sexton por trás das linhas inimigas?

- As linhas de batalha nem sempre estão onde parecem estar.

Seguiu-se um breve silêncio incômodo.

- Então, conte-me - prosseguiu Rachel rapidamente -, o que um oceanógrafo de fama mundial está fazendo sobre uma geleira com algumas dezenas de cientistas espaciais da NASA?

Tolland soltou um risinho.

- Para dizer a verdade, encontrei um cara que se parecia muito com o presidente. Ele me pediu um favor. Eu abri a boca para dizer "Vá se danar", mas, curiosamente, o que saiu foi "Sim, senhor".

Rachel riu pela primeira vez naquela manhã.

- Bom, bem-vinda ao clube.

Apesar de quase todas as celebridades parecerem ser mais baixas fora das telas, Rachel achou que Tolland era ainda mais alto. Seus olhos castanhos eram atentos e exibiam o mesmo brilho vigoroso que tinham na TV, e sua voz também possuía o mesmo tom de modéstia e entusiasmo. Com porte atlético e cabelos negros e espessos caindo em tufos despenteados sobre a testa, Michael Tolland aparentava 45 anos bem vividos. Tinha um queixo quadrado e um jeitão casual que transmitiam confiança. Quando o apresentador apertou a mão de Rachel, ela sentiu a calosidade áspera de suas palmas e lembrou-se de que Tolland não era uma típica celebridade "de estúdio", mas um veterano dos mares e um pesquisador ativo.

- Para ser franco - admitiu Tolland, meio encabulado -, acho que fui trazido aqui mais por meu valor como figura pública do que por meus conhecimentos científicos. O presidente pediu que eu viesse e preparasse um documentário para ele.

- Um documentário? Sobre um meteorito? Mas você é um oceanógrafo!

- Foi exatamente o que eu respondi. Mas ele disse que não conhecia ninguém que fizesse documentários sobre meteoritos. Depois disse que meu envolvimento ajudaria a dar mais credibilidade a esta descoberta. Aparentemente ele está pensando em transmitir meu documentário como parte da coletiva de imprensa desta noite, quando anunciará a descoberta.

Usar uma celebridade como porta-voz. Rachel viu mais uma vez a habilidade política de Zach Herney em ação. A NASA era muitas vezes acusada de falar coisas que o grande público não podia compreender.

Desta vez seria diferente. Iriam colocar em cena um mestre da comunicação, alguém que o público americano conhecia e em quem confiava quando o assunto era ciência.

Tolland apontou para o lado diametralmente oposto do domo. Em uma parede distante estava sendo preparada uma área para a imprensa. Havia um carpete azul estendido sobre o gelo, câmeras de TV, luzes especiais e uma longa mesa com diversos microfones sobre ela. Como pano de fundo, uma pessoa estava prendendo uma enorme bandeira americana na parede.

- É para hoje à noite - explicou ele. - O administrador da NASA e alguns de seus melhores cientistas estarão em contato, via satélite, com a Casa Branca, de forma que possam participar da transmissão do presidente às oito da noite.

Muito adequado, pensou Rachel, feliz ao saber que Zach Herney não iria deixar a NASA completamente de fora de seu comunicado.

- Então - perguntou Rachel com um suspiro -, será que alguém finalmente vai me dizer o que há de tão especial nesse meteorito?

Tolland levantou as sobrancelhas e sorriu de forma misteriosa.

- Acho que é mais fácil mostrar o que há de tão especial do que apenas explicar. - Fez um sinal para que Rachel o seguisse em direção a uma área de trabalho próxima. - O cara que trabalha aqui tem várias amostras que você vai gostar de ver.

- Amostras? Vocês têm amostras do meteorito?

- Claro! Fizemos algumas perfurações e pegamos várias. Na verdade, foram as amostras iniciais do núcleo que chamaram a atenção da NASA para a importância da descoberta.

Sem saber muito bem o que esperar, Rachel seguiu Tolland até a estação de trabalho. Aparentemente estava vazia. Havia um copo de café sobre uma mesa repleta de amostras de rocha, paquímetros e outros equipamentos para análise. O café ainda estava fumegando.

- Marlinson! - gritou Tolland, olhando em volta. Nenhuma resposta. Ele se virou para Rachel, frustrado, e disse: - Ele provavelmente se perdeu enquanto tentava achar creme para o café. Olha, eu fiz pós-graduação em Harvard com esse cara e ele conseguia se perder dentro do próprio dormitório. Agora lhe deram uma Medalha Nacional de Mérito em Ciência por seu trabalho em astrofísica. Não dá para entender.

Rachel olhou para Tolland, surpresa.

- Marlinson? Você não está falando do famoso Corky Marlinson, está?

Tolland riu.

- Só existe um.

- Corky Marlinson está aqui? - ela perguntou, impressionada. As idéias de Marlinson sobre os campos gravitacionais eram lendárias entre os projetistas de satélites do NRO. - Marlinson é um dos cientistas que o presidente recrutou?

- É, o cara é um dos cientistas de verdade...

Mais verdadeiro, impossível, pensou Rachel. Corky Marlinson era um dos cientistas mais brilhantes e respeitados que conhecia.

- O incrível paradoxo a respeito de Corky - disse Tolland - é que ele pode citar a distância daqui a Alfa Centauro em milímetros, mas não consegue dar um nó na própria gravata.

- Minhas gravatas já vêm com nós! - interveio uma voz anasalada e amistosa ressoando de algum lugar por perto. - A eficiência é mais importante que o estilo, Mike. Mas isso é algo que não entra na cabeça de alguém de Hollywood, não é?

Rachel e Tolland se viraram para ver o homem que tinha acabado de sair de trás de uma alta pilha de equipamento eletrônico. Era baixo, com o corpo ao mesmo tempo largo e gorducho, lembrando um pouco um cão da raça pug com olhos esbugalhados e cabelos ralos penteados para o lado.

Quando viu Rachel ao lado de Tolland, parou abruptamente.

- Meu Deus, Mike! Estamos numa geleira em pleno Pólo Norte, e ainda assim você consegue encontrar uma mulher bonita! Eu sabia que deveria ter ido trabalhar na TV.

Michael Tolland ficou bastante sem jeito.

- Senhorita Sexton, por favor, perdoe o doutor Marlinson. O que ele não tem em termos de tato é mais do que compensado pelos fragmentos aleatórios de conhecimento absolutamente inútil que possui a respeito de nosso universo.

Corky aproximou-se.

- Uma verdadeira honra. Desculpe, não ouvi seu nome...

- Rachel - disse ela. - Rachel Sexton.

- Sexton? - Corky soltou um risinho debochado. - Você não é parente daquele senador depravado e sem a menor visão de futuro, espero!

Tolland coçou a cabeça, olhando para baixo.

- Na verdade, Corky, o senador Sexton é o pai de Rachel.

Corky parou de rir e falou, desanimado:

- Mike, acho que dá para entender por que nunca me dei muito bem com mulheres, não é?

CAPÍTULO 22
O astrofísico Corky Marlinson levou Rachel e Tolland até sua área de trabalho e começou a remexer em suas ferramentas e amostras de rocha. Ele se movia como uma mola extremamente tensa prestes a explodir.

- OK - disse ele, trêmulo de animação. - Senhorita Sexton, você está prestes a ouvir uma apresentação-relâmpago sobre meteoritos, um curso em 30 segundos de Corky Marlinson.

- Melhor ser um pouco paciente, na verdade ele sempre quis ser um ator - disse Tolland, dando uma piscadela para Rachel.

- Isso, e Mike sempre quis ser um cientista respeitável. – Corky vasculhou uma caixa de sapatos e pegou três amostras de rocha, enfileirando-as em sua mesa. - Estas são as três classes principais de meteoritos existentes no mundo. Rachel olhou para as três amostras. Todas pareciam ser objetos vagamente esféricos do tamanho de bolas de pingue-pongue. Elas tinham sido cortadas ao meio para mostrar a parte central.

- Todos os meteoritos são compostos de uma quantidade variável de ligas de níquel e ferro, silicatos e sulfetos. Nós os classificamos com base nas relações existentes entre a quantidade de metal e de silicato.

Rachel estava com uma forte impressão de que a "apresentação-relâmpago" de Corky iria durar bem mais do que 30 segundos.

- Veja esta primeira amostra - disse Corky, apontando para uma rocha brilhante e absolutamente negra. - É um meteorito com núcleo de ferro. Bem pesado. Esse cara aterrissou na Antártica há alguns anos.

Rachel estudou o meteorito. Certamente se parecia com algo vindo de outro planeta: uma pesada bolha de ferro acinzentada cuja superfície havia sido queimada e escurecida.

- Esta camada externa carbonizada é chamada de crosta de fusão - prosseguiu Corky. - É o resultado do calor extremo enquanto o meteoro cai em nossa atmosfera. Todos os meteoritos possuem essa crosta. - Corky passou rapidamente para a próxima amostra. - Este aqui é o que chamamos de um meteorito rochoso-ferroso.

Rachel observou a nova amostra, notando que ela também estava carbonizada na parte externa. Sua coloração era verde-clara, e a seção interna parecia uma colagem de fragmentos angulares coloridos, como em um caleidoscópio.

- Bonito.

-Você está brincando, isto é lindo! - Corky falou por algum tempo sobre o alto conteúdo de olivina e como isso causava o brilho esverdeado, depois pegou dramaticamente a terceira e última amostra, entregando-a para Rachel.

Ela segurou o último meteorito na palma da mão. Sua coloração era marrom-acinzentada, lembrando granito. Parecia só um pouco mais pesado do que uma pedra terrestre do mesmo tamanho. A única indicação de que não era uma pedra comum era sua crosta de fusão - a superfície externa carbonizada.

- Nós dizemos que este aí é um meteorito rochoso. É a classe mais comum de meteoritos. Mais de 90% dos meteoritos encontrados na Terra pertencem a essa categoria.

Rachel ficou surpresa. Ela sempre tinha pensado nos meteoritos como algo semelhante à primeira amostra: glóbulos metálicos de aparência alienígena. O meteorito em sua mão não tinha nada de excepcional.

Tirando o fato de que havia sido carbonizado por fora, podia ser confundido com uma rocha comum. Os olhos de Corky agora estavam quase pulando fora das órbitas de tanto entusiasmo.

- O meteorito que está enterrado no gelo aqui em Milne é do tipo rochoso, bastante parecido com o que está em suas mãos. Esses meteoritos são quase idênticos às rochas vulcânicas da Terra, o que dificulta sua detecção. Em geral são uma mistura de silicatos leves - feldspato, olivina, piroxênio. Nada muito divertido.

Concordo, pensou Rachel, devolvendo a amostra.

- Ele se parece muito com uma rocha que alguém jogou em uma lareira e deixou queimando.

Corky começou a rir.

- Teria sido uma lareira dos infernos! A fornalha mais poderosa que já conseguimos construir não chega nem perto de reproduzir o calor que um meteorito agüenta quando entra em nossa atmosfera.

Tolland sorriu, condescendente, para Rachel.

- Agora vem a parte boa - disse Tolland.

- Pense nisso - prosseguiu Corky, pegando a amostra de volta. – Vamos imaginar que este garotão aqui é do tamanho de uma casa. - Segurou a amostra bem alto acima de sua cabeça. - OK, ele está no espaço flutuando pelo nosso sistema solar, resfriado pela temperatura do espaço a -100° Celsius.

Tolland estava rindo para si mesmo, aparentemente por já ter visto a encenação de Corky mostrando a chegada do meteorito na ilha de Ellesmere. Corky começou a baixar a amostra.

- Nosso meteorito está se dirigindo para a Terra e, conforme se aproxima, a gravidade se apodera dele fazendo com que acelere mais e mais.

Rachel observou enquanto ele acelerava a trajetória da amostra em sua mão, simulando a aceleração da gravidade.

- Agora está se movendo muito rapidamente - exclamou o cientista. - Mais de 60 mil quilômetros por hora! Cento e trinta e cinco quilômetros acima da superfície da Terra, o meteorito entra em forte atrito com a atmosfera. - Corky sacudia a amostra violentamente enquanto a abaixava na direção do gelo. - Abaixo de 100 quilômetros já começa a brilhar! O ar em volta do meteorito está se tornando incandescente, e o material da superfície se funde por causa do calor.

- Corky começou a fazer sons engraçados de coisas queimando e fritando. - Agora está cruzando a marca dos 80 quilômetros, e seu exterior atinge mais de 800° Celsius!

Rachel continuava olhando a cena, sem acreditar que o astrofísico ganhador da medalha de honra estivesse chacoalhando vigorosamente o meteorito e fazendo ruídos cômicos como uma criança.

- Sessenta quilômetros! - Corky já estava gritando. - Nosso meteorito encontra a barreira atmosférica. O ar é denso demais! Ele é violentamente desacelerado a uma taxa superior a 300 vezes a força da gravidade! - Corky imitou um som de carro freando e reduziu a velocidade de descida drasticamente. - Instantaneamente, ele esfria e pára de brilhar. Entramos na fase do vôo escuro! A superfície do meteoróide se torna mais dura, passando do estágio fundido até formar a crosta de fusão carbonizada.

Rachel percebeu que Tolland fazia força para não cair na gargalhada. Corky, indiferente, se ajoelhou sobre o gelo para encenar o golpe de misericórdia - o impacto com a Terra.

- E agora nosso enorme meteorito está voando através da camada inferior de nossa atmosfera... - De joelhos, posicionou o meteorito na direção do solo em uma inclinação pequena. - Está se dirigindo para o oceano Ártico... o ângulo é oblíquo... está caindo... parece que vai ricochetear no oceano... está caindo... e... - Ele encostou a amostra no gelo. - BUM!

Rachel deu um pulo.

- O impacto é cataclísmico! O meteorito explode. Fragmentos voam para todos os lados, ricocheteando e rolando sobre o oceano! - Corky entrou no modo de "câmera lenta", rolando a amostra e fazendo-a quicar através do oceano invisível em direção aos pés de Rachel. - Um dos fragmentos continua se movimentando rumo à ilha de Ellesmere, ricocheteando mais uma vez no oceano e indo parar em terra... – O astrofísico levou a pedra até bem perto do sapato de Rachel, depois moveu-a por cima do sapato dela e rolou-a até parar perto do tornozelo. - Finalmente, ele pára bem alto na geleira Milne, onde a neve e o gelo rapidamente o encobrem, protegendo-o da erosão atmosférica - disse Corky, levantando-se com um sorriso no rosto.

Rachel estava boquiaberta. Deu uma risada simpática, satisfeita com a demonstração.

- Bem, Dr. Marlinson, essa explicação foi excepcionalmente...

- Clara?


- Isso mesmo! - Rachel sorriu.

Corky devolveu-lhe a amostra.

- Observe o corte transversal.

Ela examinou o interior da rocha durante algum tempo, mas não viu nada.

- Coloque-a contra a luz, depois movimente de leve - disse Tolland, com seu tom sempre amigável - e olhe atentamente.

Rachel aproximou a pedra de seus olhos e girou-a devagar contra as fortes luzes que estavam posicionadas acima deles. Agora podia ver algo. Eram pequenos glóbulos metálicos cintilando dentro da pedra.

Dezenas deles estavam salpicados por todo o corte transversal como gotículas de mercúrio, cada uma com cerca de um milímetro de diâmetro.

- Essas pequenas bolhas são chamadas de côndrulos e ocorrem apenas em meteoritos - disse Corky.

- Nunca vi nada igual em uma pedra aqui da Terra.

- Nem irá ver! - declarou Corky. - Os côndrulos são uma estrutura geológica que não existe em nosso planeta. Alguns são incrivelmente antigos, constituídos talvez por materiais datando dos primórdios de nosso universo. Outros são bem mais novos, como os que você está vendo. Estes, especificamente, datam apenas de 190 milhões de anos atrás.

- Você está me dizendo que 190 milhões de anos é novo?

- Claro! Na escala cosmológica, isso foi ontem. Mas o importante aqui, contudo, é que esta amostra contém côndrulos, que são uma evidência conclusiva de que se trata de um meteorito.

- Certo - disse Rachel. - Então os côndrulos são uma evidência conclusiva. Entendi esta parte.

- E, finalmente - disse Corky, soltando um suspiro -, se a crosta de fusão e os côndrulos não forem convincentes o bastante, nós, astrônomos, temos um método infalível para confirmar que um meteorito é autêntico.

- E que método é esse?

Corky fez um gesto vago com as mãos e disse:

- Ah, nós usamos um microscópio petrográfico de polarização, um espectrômetro de fluorescência de raios X, um analisador de ativação de nêutrons ou um espectrômetro de plasma de acoplamento indutivo para medir as relações ferromagnéticas.

- Quanto exibicionismo... - resmungou Tolland. - Olha, o que Corky quer dizer é que podemos provar que uma pedra é um meteorito simplesmente através da análise de seu conteúdo químico.

- Ei, marinheiro! - protestou Corky. - Vamos deixar as questões científicas com os cientistas, certo? - Voltou-se para Rachel e continuou. - Nas pedras da Terra, o mineral níquel irá sempre ocorrer em porcentagens extremamente elevadas ou extremamente baixas, mas nunca no meio disso. Nos meteoritos, contudo, a quantidade de níquel recai em uma gama de valores intermediários. Assim, se analisarmos uma amostra e descobrirmos que a quantidade de níquel reflete valores intermediários, podemos garantir, sem sombra de dúvida, que é um meteorito.

Rachel estava ficando impaciente.

- Cavalheiros, já entendi que crostas de fusão, côndrulos, conteúdo de níquel em níveis intermediários, tudo isso prova que algo veio do espaço. Isso está claro - disse, colocando a amostra de volta sobre a mesa de Corky. - Mas ninguém me explicou ainda o que eu estou fazendo aqui.

Corky soltou um suspiro condescendente.

- Você quer ver uma amostra do meteorito que a NASA encontrou aqui no gelo?

- Antes que eu morra, se possível.

Desta vez Corky procurou em seu bolso, tirando de lá uma pequena pedra em formato de disco. O segmento de rocha tinha o formato de um CD, cerca de 25 mm de espessura e parecia ter uma composição similar à do meteorito rochoso que ela acabara de ver.

- Este corte veio de uma amostra cilíndrica que extraímos ontem - disse Corky, passando o disco para Rachel.

A julgar pela aparência, não havia nada de extraordinário naquele meteorito. Era uma rocha pesada, de um alaranjado-claro. Parte da borda estava carbonizada e escurecida, aparentando ser um segmento da superfície do meteorito.

- Posso ver a crosta de fusão - disse Rachel. Corky concordou.

- É, essa amostra foi tirada da parte mais externa do meteorito, então dá para ver um pouco de crosta nela.

Rachel inclinou o disco contra a luz e pôde ver os pequenos glóbulos metálicos.

- E também posso ver os côndrulos.

- Ótimo! - exclamou Corky, eufórico. - E eu posso completar seu raciocínio dizendo que já analisamos essa amostra usando um microscópio petrográfico de polarização e que seu conteúdo de níquel recai em um nível intermediário. Meus parabéns, você acabou de confirmar com toda a certeza que a rocha em suas mãos veio do espaço.

Rachel olhou para ele, confusa.

- Dr. Marlinson, isso é um meteorito. Supostamente ele tem que vir do espaço, não? Perdi alguma coisa?

Corky e Tolland trocaram um olhar cúmplice. Tolland colocou a mão no ombro de Rachel e disse baixinho:

- Vire-o do outro lado.

Rachel virou o disco. Levou um curto tempo até que seu cérebro assimilasse o que estava vendo. E então a verdade passou por cima dela como um rolo compressor.

Impossível!, pensou, sem ar, enquanto percebia que sua definição de "impossível" havia acabado de mudar para sempre.

Incrustada na pedra havia uma forma que em uma amostra de rocha terrestre seria considerada comum. Em um meteorito, contudo, era completamente inconcebível.

-É um... - Rachel gaguejou, quase incapaz de dizer a palavra. – É um... inseto! Esse meteorito contém o fóssil de um inseto!

Tolland e Corky sorriam, alegres.

- Bem-vinda ao clube.

O enorme fluxo de emoções que tomou conta de Rachel deixou-a sem fala por alguns instantes. Mesmo aturdida pelo que acabara de ver, compreendeu que não havia qualquer dúvida de que aquele fóssil havia sido, em um passado remoto, um organismo vivo. A impressão petrificada tinha cerca de oito centímetros e parecia ser a parte inferior de um enorme besouro ou outro inseto rastejante. Sete pares de pernas articuladas estavam agrupadas sob um exoesqueleto que, por sua vez, parecia ser segmentado em placas, como as de um tatu.

Rachel se sentia estonteada.

- Um inseto espacial...

- É um isópode - disse Corky. - Os insetos têm apenas três pares de pernas, não sete.

Rachel nem mesmo o ouviu. Sua cabeça continuava girando enquanto olhava para o fóssil em suas mãos.

- Você pode ver claramente - prosseguiu Corky - que a carapaça dorsal é segmentada em placas como no tatu-bolinha, embora os dois apêndices salientes, como uma cauda, façam com que se pareça com um inseto.

A mente de Rachel já não registrava mais o que ele dizia. A classificação da espécie era completamente irrelevante. Todas as peças do quebra-cabeça se encaixaram de uma só vez: o segredo guardado pelo presidente, o entusiasmo da NASA...

Há um fóssil neste meteorito! Não apenas vestígios de bactérias ou micróbios, mas uma forma de vida avançada! Prova de que há vida em outros lugares do universo!



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