CAPÍTULO 77
Os EUA Possui uma pequena frota de aviões apreendidos em operações de repressão ao tráfico de drogas que são usados para o transporte de figurões das Forças Armadas. A frota reúne uma dúzia de jatos particulares, incluindo três G-4 reformados. Cerca de meia hora antes, um desses G-4 havia decolado da pista de Thule e lutado para subir acima das nuvens em meio à tempestade. Agora o jatinho rumava para o sul, envolto pela noite.
Naquele momento sobrevoava o Canadá, dirigindo-se para Washington. A bordo estavam Rachel Sexton, Michael Tolland e Corky Marlinson, sozinhos em uma cabine para oito passageiros, parecendo jogadores exaustos voltando de alguma competição, uniformizados com macacões e bonés com a inscrição USS Charlotte.
Na parte de trás da cabine, Corky roncava quase tanto quanto as turbinas Grumman. Tolland estava sentado mais para a frente, completamente esgotado, olhando pela janela para as nuvens abaixo deles. Rachel estava do outro lado do corredor, sabendo que não conseguiria dormir nem mesmo se lhe dessem comprimidos. Sua mente estava girando em torno do mistério do meteorito e da conversa na sala morta do submarino com Pickering. Antes de encerrar a conexão, o diretor tinha transmitido a Rachel duas informações perturbadoras.
Primeiro, Marjorie Tench havia afirmado que possuía uma gravação em vídeo do depoimento privado de Rachel para a equipe da Casa Branca.
Tench agora ameaçava usar esse vídeo como prova caso a agente do NRO tentasse voltar atrás e negar a autenticidade dos dados do meteorito.
Aquela notícia era particularmente irritante porque Rachel dissera muito claramente ao presidente que seu relatório era destinado somente à equipe da Casa Branca. Aparentemente, Zach Herney ignorara o acordo que fizera com ela.
A segunda revelação inquietante dizia respeito a um debate na CNN ao qual seu pai havia comparecido mais cedo, naquela mesma tarde.
Aparentemente, Marjorie Tench fizera uma rara aparição em público e habilmente levara seu pai a definir de forma inequívoca sua posição contra a NASA. Mais especificamente, Tench o obrigara a proclamar de forma crua seu ceticismo quanto à possibilidade de se encontrar vida fora da Terra.
Comer seu chapéu? Foi o que Pickering contou que o senador prometeu fazer se a NASA encontrasse vida extraterrestre. Rachel ficou pensando no que Tench teria feito para conseguir extrair aquela declaração tão conveniente de seu pai. A Casa Branca havia armado o tabuleiro com cuidado, alinhando impiedosamente suas forças e preparando o grande colapso de Sexton. Como uma equipe numa competição de luta livre política, o presidente e Marjorie tinham cercado seu adversário e preparado o ataque final. Enquanto Herney permanecia dignamente fora do ringue, Tench batia pesado, circulando e posicionando o senador para o nocaute do presidente.
Zach Herney dissera a Rachel que tinha pedido à NASA para adiar o anúncio da descoberta com a finalidade de confirmar a veracidade dos dados. Rachel percebia agora que a espera trouxera outras vantagens para o presidente. O adiamento permitiu que a Casa Branca aprontasse cuidadosamente a corda na qual o próprio senador iria se enforcar.
Rachel não sentia pena de seu pai, mas agora enxergava claramente que, por baixo daquela aparência calorosa e gentil do presidente Zach Herney, havia um tubarão astuto. Afinal, para chegar ao cargo mais poderoso do mundo é preciso ter instinto assassino. A questão era saber se esse tubarão era um espectador inocente ou um participante ativo daquele jogo.
Ela se levantou para esticar as pernas. Enquanto andava pelo corredor do avião, sentia-se frustrada porque as informações que possuía eram muito contraditórias. Com sua lógica absoluta, Pickering havia concluído que o meteorito deveria ser falso. Por outro lado, Corky e Tolland, com suas certezas científicas, insistiam que era autêntico.
Rachel só podia fiar-se no que tinha visto: uma rocha carbonizada, cheia de fósseis, sendo retirada do gelo.
Passou ao lado de Corky e olhou para ele, ainda bastante machucado depois da fuga no gelo. O inchaço na bochecha estava diminuindo e os pontos tinham boa aparência. Ele dormia com as mãos rechonchudas segurando a amostra do meteorito, como se fosse um ursinho.
Ela inclinou-se e gentilmente retirou a amostra das mãos de Corky.
Olhou para o fragmento, observando novamente o fóssil. Elimine todas as suposições, repetiu para si mesma, forçando-se a reorganizar seus pensamentos. Restabeleça a cadeia de provas. Era um velho ensinamento do NRO. Reconstruir uma prova desde o início, ou "voltar à estaca zero", como costumavam dizer, era algo que todos os analistas faziam quando as peças não se encaixavam perfeitamente bem.
Reconstrua as provas.
Voltou a andar pelo corredor.
Esta pedra de fato representa prova de que há vida extraterrestre?
Uma prova, ela sabia, era uma conclusão construída sobre uma pirâmide de fatos, uma vasta base de informações já aceitas sobre as quais afirmações mais específicas eram feitas.
Elimine todas as suposições básicas. Comece de novo. O que temos?
Uma rocha.
Ela pensou nisso durante algum tempo. Uma rocha. Uma rocha com criaturas fossilizadas. Andando de volta para a frente do avião, sentou-se ao lado de Tolland.
- Mike, queria lhe propor um jogo.
Ele olhou para Rachel, mas parecia distante, profundamente imerso em seus pensamentos.
- Um jogo?
Ela entregou-lhe a amostra do meteorito.
- Faça de conta que você está vendo essa rocha fossilizada pela primeira vez. Eu não lhe disse nada sobre sua origem ou sobre como foi encontrada. O que você me diria a respeito?
Tolland soltou um suspiro tristonho.
- Engraçado você me perguntar isso. Eu acabei de pensar em algo bem estranho...
Centenas de quilômetros atrás do jato que levava Rachel, Tolland e Corky, um avião de aparência peculiar voava bem baixo em direção ao sul, sobre um oceano deserto. A bordo, a equipe da Força Delta estava em silêncio. Aqueles homens já haviam sido retirados de outros lugares às pressas, mas nunca daquela forma.
O controlador estava furioso.
Mais cedo, Delta-Um informara-lhe que eventos inesperados na plataforma deixaram sua equipe sem outra escolha senão exercer a força, o que tinha incluído matar quatro civis, incluindo Rachel Sexton e Michael Tolland.
O controlador ficara chocado ao saber. Apesar de matar ser um ato
autorizado como último recurso, aquilo obviamente não fazia parte dos planos.
Mais tarde, a insatisfação do controlador em relação às mortes se transformara em pura raiva quando ele descobriu que os assassinatos não tinham saído como planejado.
- Sua equipe falhou! - disse o controlador. O tom de voz andrógino da máquina não conseguia mascarar a fúria de quem estava do outro lado. - Três de seus quatro alvos ainda estão vivos!
Impossível!, pensou Delta-Um ao ouvir aquilo.
- Mas nós vimos quando...
- Eles fizeram contato com um submarino e agora estão a caminho de Washington.
- O quê?
O controlador prosseguiu num tom mortífero:
- Ouçam bem o que vou dizer. Vou lhes dar novas ordens. E não há espaço para falhas desta vez.
CAPÍTULO 78
O senador Sexton já estava se sentindo mais esperançoso quando foi acompanhar seu visitante até ao elevador. O testa-de-ferro da SFF não viera, afinal de contas, castigá-lo, e sim ter uma boa conversa para restaurar sua confiança e dizer-lhe que a guerra não havia terminado.
Uma possível brecha na armadura da NASA.
A fita de vídeo daquela estranha coletiva de imprensa convenceu Sexton de que o velho estava certo: o diretor da missão PODS, Chris Harper, estava mentindo. Mas por quê? E, se a NASA não consertara o software do PODS, como é que havia encontrado o meteorito?
Enquanto andavam em direção ao elevador, o velho disse:
- Algumas vezes, para desmanchar uma trama, basta encontrar uma ponta pela qual puxar a linha. Talvez possamos descobrir uma maneira de tirar proveito da vitória da NASA. Levantar algumas dúvidas. Quem sabe aonde isso poderá nos levar? - Os olhos do homem se fixaram nos de Sexton. - Ainda não estou pronto para cair na lona, senador. E espero que você também não esteja.
- Claro que não - afirmou Sexton, mostrando resolução em seu tom de voz. - Já caminhamos bastante.
- Chris Harper mentiu sobre o conserto do PODS - disse o velho ao entrar no elevador. - E precisamos saber por quê.
-Vou descobrir isso o mais rápido possível - respondeu o senador. Sei exatamente a quem perguntar.
- Excelente. Seu futuro agora depende disso.
Sexton voltou para seu apartamento sentindo-se mais leve e com as idéias mais frescas. A NASA mentiu sobre o PODS. A única questão era como provar aquilo.
Ele já estava pensando em Gabrielle Ashe. Seja lá onde fosse que ela estivesse naquela hora, provavelmente estaria se sentindo por baixo.
Com certeza sua assessora tinha assistido à coletiva e devia estar perto de alguma janela, preparando-se para pular. Sua proposta de tornar a NASA uma questão central para a campanha havia sido o maior erro em toda a carreira de Sexton.
Ela me deve essa, pensou o senador. E sabe disso.
Gabrielle já tinha demonstrado que possuía um "jeitinho" para obter informações secretas da NASA. Ela tem um contato. Há semanas a assessora vinha conseguindo informações confidenciais. Tinha conexões que não estava compartilhando com Sexton. Conexões que ela poderia
acionar para obter informações sobre o PODS. Além disso, naquela noite Gabrielle estaria especialmente motivada: tinha uma dívida a pagar, e o senador acreditava que ela faria de tudo para voltar às boas graças com ele.
Quando Sexton chegou à porta de seu apartamento, o guarda-costas o cumprimentou.
- Boa noite, senador. Fiz bem em ter deixado Gabrielle entrar hoje? Ela disse que era urgente falar com o senhor.
Ele parou.
- Como?
- A senhorita Ashe. Ela apareceu com informações importantes hoje, mais cedo. Foi por isso que eu a deixei entrar.
Sexton ficou paralisado, olhando para a porta de seu apartamento. O que esse sujeito está falando?
A expressão do segurança mudou. Ele parecia confuso e preocupado.
- Senador? Está tudo bem? O senhor se lembra, não? Gabrielle entrou enquanto estavam todos reunidos. Ela falou com o senhor, não foi? Tem que ter falado, pois passou um tempão aí dentro...
Sexton sentiu seu pulso subir às alturas. Esse imbecil deixou a Gabrielle entrar em meu apartamento durante uma reunião fechada com a SFF? Ela ficou andando pela casa e depois saiu sem me dizer nada? Ele podia imaginar o que sua assessora tinha ouvido. Esforçando-se para controlar a raiva, deu um sorriso forçado para o guarda-costas.
- Ah, sim! Perdoe-me, estou muito cansado. E bebi um pouco, também. A senhorita Ashe falou comigo, claro. Sim, está tudo certo.
O homem relaxou.
- Ahn... Por acaso ela disse para onde ia quando saiu? - perguntou o senador.
- Não, ela estava com muita pressa.
- Tudo bem, obrigado - disse Sexton, entrando em seu apartamento, furioso. Minhas ordens eram bem simples! Nenhuma visita! A suposição mais lógica era que, se Gabrielle tinha passado algum tempo lá dentro e saído sem dizer nada, então devia ter ouvido mais coisas do que deveria. Logo hoje...
Sexton sabia que, acima de tudo, não podia se dar ao luxo de perder a confiança de Gabrielle. As mulheres muitas vezes se tornavam vingativas e faziam horrores quando se sentiam traídas. Ele precisava dela. Naquela noite mais do que nunca.
CAPÍTULO 79
No quarto andar dos estúdios da ABC, Gabrielle Ashe estava sentada sozinha olhando para o carpete gasto na sala de Yolanda. Ela sempre tinha se vangloriado de ter bons instintos e de saber em quem confiar.
Agora, pela primeira vez em muitos anos, sentia-se perdida, sem saber que rumo tomar. Seu celular tocou, despertando-a de seus devaneios.
Relutantemente, pegou-o.
- Gabrielle Ashe.
- Gabrielle? Sou eu.
Reconheceu a voz do senador no mesmo instante, ainda que ele parecesse estar surpreendentemente calmo, considerando-se tudo o que havia acontecido.
- Esta foi uma noite e tanto por aqui, então deixe eu lhe contar as notícias. Com certeza você assistiu à coletiva do presidente. Minha nossa, nós realmente entramos no barco errado. Você provavelmente está se culpando pela coisa toda, mas não faça isso. Quem poderia ter adivinhado? Não é sua culpa mesmo. De qualquer maneira, preste atenção. Acho que há uma forma de nos sairmos bem dessa.
Gabrielle levantou-se, incapaz de imaginar do que Sexton poderia estar falando. Essa definitivamente não era a reação que ela esperava.
- Eu tive uma reunião - prosseguiu o senador - com representantes das indústrias privadas do setor espacial e...
- Você teve? - deixou escapar Gabrielle, surpresa por ouvi-lo admitir aquilo. - Quero dizer... eu não sabia de nada.
- É, mas não foi nada demais. Eu teria chamado você para se juntar a nós, mas esses caras se preocupam muito com questões de privacidade. Alguns deles estão fazendo donativos para minha campanha e não é algo que eles queiram anunciar por aí.
Gabrielle sentiu-se totalmente desarmada.
- Mas... isso não é ilegal?
- Ilegal? Claro que não! Todas as doações estão abaixo do limite permitido. O dinheiro não é tão relevante para a campanha, mas eu preciso dar atenção a esses caras mesmo assim. Digamos que é um investimento no futuro. Não falo muito disso porque, honestamente, pode parecer estranho. Se a Casa Branca soubesse de algo, com certeza faria um grande estardalhaço. Enfim, olhe, não foi por isso que liguei. É que, logo após a reunião, eu conversei com o dirigente da SFF...
Durante alguns minutos, apesar de Sexton continuar falando, tudo o que Gabrielle conseguia sentir era o sangue subindo por seu rosto, agora vermelho de vergonha. Sem que ela tivesse perguntado, o senador tomara a iniciativa de lhe contar sobre a reunião daquela noite com o setor aeroespacial. Tudo perfeitamente legal. E pensar no que ela quase tinha chegado a fazer! Ainda bem que Yolanda estava lá para impedi-la.
Eu quase caí no conto de Marjorie Tench!
- ...e então eu disse ao dirigente da SFF que você talvez pudesse obter a informação de que precisamos - concluiu Sexton.
Gabrielle voltou à realidade e disse apenas:
- Tudo bem.
- Aquele contato de quem você obteve todas as informações internas da.NASA durante esses últimos meses... Devo presumir que você ainda tem acesso a ele?
Marjorie Tench. Gabrielle trincou os dentes, pensando que nunca poderia contar ao senador que fora manipulada por sua informante durante todo aquele tempo.
- Ahn... Acho que sim - mentiu.
- Ótimo. Há informações importantes que você precisa obter. Agora mesmo.
Enquanto ouvia, Gabrielle ficou pensando no quanto ela tinha subestimado o senador Sedgewick Sexton ultimamente. É certo que parte do brilho daquele homem havia se perdido desde que ela começara a seguir de perto os seus passos. Mas naquela noite ele estava em plena forma. Em face do que parecia ser um golpe mortal para sua campanha, Sexton estava planejando um contra-ataque. E, ainda que Gabrielle fosse responsável por ele ter trilhado aquele caminho azarado, o senador não a culpou. Em vez disso, estava lhe dando uma chance de se redimir. E era exatamente isso que ela pretendia fazer, qualquer que fosse o preço.
CAPÍTULO 80
William Pickering estava olhando pela janela de seu escritório para as luzes dos carros que cruzavam a Leesburg Highway. Muitas vezes
pensava nela quando ficava lá, sozinho, no topo do mundo.
Todo este poder... e não consegui salvá-la.
A filha de Pickering, Diana, havia morrido no mar Vermelho enquanto fazia um treinamento a bordo de um pequeno navio de escolta da Marinha. Seu navio estava ancorado num porto seguro em uma tarde.ensolarada quando uma pequena embarcação feita à mão, carregada de explosivos e manejada por dois terroristas suicidas, moveu-se lentamente pelo porto e explodiu ao bater no casco. Diana Pickering e 13 outros jovens soldados americanos morreram naquele dia.
William Pickering ficou arrasado. O sofrimento tomou conta dele durante um longo tempo. Quando descobriram que o ataque partira de uma célula terrorista já conhecida que a CIA estava tentando encontrar havia anos, a tristeza de Pickering transformou-se em fúria.
Enraivecido, foi até o quartel-general da CIA e exigiu respostas.
O que descobriu era difícil de digerir.
Aparentemente, a CIA estava preparada para atacar aquela célula havia alguns meses e estava apenas esperando pelas fotos de alta resolução de um satélite para planejar um ataque certeiro aos terroristas em seu esconderijo nas montanhas do Afeganistão. As fotos deveriam ter sido tiradas pelo satélite de 1,2 bilhão de dólares do NRO chamado Vortex 2. Mas o satélite tinha sido destruído quando o foguete que iria colocá-lo em órbita explodiu na plataforma de lançamento.
Por causa do acidente da NASA, o ataque da CIA fora adiado e, agora, Diana Pickering estava morta.
Racionalmente, o diretor do NRO sabia que a NASA não era diretamente culpada, mas sentimentalmente não conseguia perdoá-la. A investigação sobre a explosão do foguete revelou que os engenheiros da agência responsáveis pelos sistemas de injeção de combustível tinham sido forçados a usar materiais de qualidade inferior para não estourar o orçamento.
- Para missões não-tripuladas - explicou Lawrence Ekstrom numa entrevista coletiva -, a NASA procura acima de tudo uma boa relação custo/benefício. Neste caso, devemos admitir que os resultados foram indesejáveis. Iremos examinar o assunto.
Indesejáveis. Diana estava morta.
Para piorar, como o satélite era obviamente secreto, o público jamais veio a saber que a NASA havia desintegrado um projeto de 1,2 bilhão de dólares do NRO e, junto com ele, indiretamente, diversas vidas de americanos.
- Senhor? - a secretária de Pickering interrompeu suas divagações. - Linha um. É Marjorie Tench.
Pickering deixou de lado seus pensamentos sobre o passado e olhou para o telefone. De novo? Uma luz piscava na linha um, parecendo pulsar com uma urgência irritada. Fechando a cara, ele atendeu o telefone.
- Pickering falando.
Tench parecia fora de si do outro lado.
- O que ela lhe disse?
- O quê?
- Rachel Sexton falou com você. O que ela lhe disse? E que diabos ela estava fazendo em um submarino? Explique isso!
O diretor percebeu que não seria possível negar aquele fato. Tench havia feito suas próprias investigações. Ele estava surpreso de que ela tivesse descoberto sobre o Charlotte, mas parece que a consultora havia usado seu poder político para obter respostas.
- Sim, a senhorita Sexton entrou em contato comigo.
- E você providenciou para removê-la do submarino sem falar comigo?
- Providenciei um transporte. Isso é um fato.
Faltavam ainda duas horas para que os três passageiros chegassem à base de Bollings, da Força Aérea, ali perto.
- E ainda assim você decidiu não me informar?
- Rachel Sexton fez algumas acusações muito perturbadoras.
- Sobre a autenticidade do meteorito e sobre um suposto ataque contra a vida dela?
- Entre outras coisas.
- É óbvio que ela está mentindo.
- Você está ciente de que ela está em companhia de outras duas pessoas que corroboraram a história dela?
Tench fez uma pausa.
- Sim. É muito constrangedor. A Casa Branca está bastante preocupada com as alegações desses indivíduos.
- A Casa Branca ou você, pessoalmente?
O tom de voz dela tornou-se cortante como uma lâmina.
- Até onde isso lhe diz respeito, diretor, não há diferença alguma hoje à noite.
Pickering não se deixou impressionar. Não era novidade para ele que membros da equipe presidencial ou políticos exaltados tentassem estabelecer uma posição de força junto à comunidade de inteligência. E poucos faziam isso com tanto vigor quanto Marjorie Tench.
- O presidente sabe que você está me ligando?
- Francamente, diretor, estou chocada que você alimente devaneios desse tipo.
- Você não respondeu à minha pergunta. Não encontrei nenhuma razão lógica para que essas pessoas tenham decidido mentir. Só posso concluir que elas estejam dizendo a verdade ou, então, cometendo um engano de boa-fé.
- Engano? Dizendo que eles foram atacados? Falhas nos dados do meteorito que a NASA deixou escapar? Não me venha com essa! Isso obviamente é uma jogada política.
- Se for, os motivos não estão nada evidentes.
Tench soltou um suspiro profundo e baixou seu tom de voz.
- Diretor, há forças envolvidas nisso sobre as quais você talvez não esteja ciente. Podemos debater o assunto mais tarde, mas neste momento preciso saber onde a senhorita Sexton e os outros estão. Preciso chegar ao fundo dessa história antes que provoque algum dano permanente. Onde eles estão?
- É uma informação que prefiro não compartilhar neste momento. Entrarei em contato depois que eles chegarem.
- Errado. Eu estarei lá para recebê-los quando chegarem.
Você e quantos agentes do serviço secreto?, pensou Pickering.
- Se eu lhe informar a hora e o local da chegada, teremos uma oportunidade de conversar amigavelmente, ou você pretende levar um exército pessoal para colocá-los sob custódia?
- Essas pessoas representam uma ameaça direta ao presidente. A Casa Branca tem o direito de detê-las e questioná-las.
Ela estava certa, e Pickering sabia disso. De acordo com o parágrafo 18, seção 3.056 do Código dos Estados Unidos, agentes do serviço secreto podem usar armas de fogo, matar e realizar prisões sem mandado judicial simplesmente por suspeita de que uma pessoa tenha cometido ou esteja pensando em cometer um crime ou qualquer ato de agressão contra o presidente. O serviço tinha carta-branca. Costumavam ser detidos regularmente mendigos maltrapilhos que vagavam do lado de fora da Casa Branca e crianças em idade escolar que, por brincadeira, mandavam e-mails ameaçadores para o presidente.
Pickering tinha certeza de que o serviço secreto poderia justificar a
prisão de Rachel e dos dois cientistas no subsolo da Casa Branca, assim como também poderia mantê-los lá indefinidamente. Seria uma jogada arriscada, mas Tench parecia querer correr o risco. A questão era o que iria acontecer depois, se Pickering deixasse que Tench tomasse o controle da situação. Ele não tinha a menor intenção de descobrir.
- Farei o que for necessário - declarou a consultora - para proteger o presidente de falsas acusações. A simples implicação de que houve uma ação maliciosa jogaria uma sombra profunda sobre a Casa Branca e a NASA. Rachel Sexton abusou da confiança que o presidente lhe deu e não tenho a menor intenção de deixar que ele pague por isso.
- E se eu requisitar que seja permitido à senhorita Sexton que apresente seu caso frente a uma comissão oficial de inquérito?
- Então você estaria indo contra uma ordem presidencial direta e dando a ela uma plataforma para armar uma grande confusão política! Eu vou lhe perguntar mais uma vez, diretor. Para onde eles estão se dirigindo?
O diretor do NRO soltou um suspiro pesado. Quer ele dissesse ou não que o avião iria aterrissar na base de Bollings, Marjorie tinha seus próprios meios de descobrir. A questão era se faria isso ou não. E, pelo tom de voz dela, Pickering podia perceber que a consultora não iria descansar enquanto não tivesse as respostas. Marjorie Tench estava com medo.
- Marjorie - disse Pickering, com uma clareza na voz que não deixava espaço para dúvidas. - Alguém está mentindo para mim. Disso eu sei. Ou Rachel Sexton e dois cientistas civis, ou então você. Acredito que seja você.
Tench explodiu do outro lado.
- Como você ousa...
- Sua indignação não me afeta, então sugiro que a guarde para outra hora. Você deve saber que tenho provas concretas de que a NASA e a Casa Branca não contaram toda a verdade esta noite.
Tench ficou em silêncio, e Pickering deixou que ela pensasse um pouco.
- Assim como você, não quero começar um conflito político. Mas andaram espalhando mentiras por aí. Mentiras que não vão ficar de pé por muito tempo. Se você quer que eu a ajude, precisa começar a ser honesta comigo.
Tench pareceu tentada a aceitar a oferta, mas ainda cautelosa.
- Se você está tão certo de que alguém está mentindo, por que não se pronunciou?
- Não me meto em assuntos políticos.
Tench murmurou algo que se parecia muito com "vá pro inferno".
- Você está me dizendo, Marjorie, que o pronunciamento do presidente esta noite foi completamente verdadeiro?
Houve um longo silêncio na linha. Pickering sabia que o jogo era dele agora.
- Ouça, nós dois sabemos que isso é uma bomba-relógio que vai explodir alguma hora. Mas não é tarde demais. Certamente podemos chegar a um acordo.
Tench não disse nada durante alguns segundos. Finalmente suspirou e respondeu:
- Temos que nos encontrar.
Na mosca, pensou Pickering.
- Há algo que preciso lhe mostrar - disse Tench. - Acredito que vai esclarecer as coisas.
- Vou até o seu escritório agora mesmo.
- Não - ela respondeu rapidamente. - Já é tarde e sua presença aqui iria gerar boatos. Prefiro manter esse assunto entre nós.
Pickering leu nas entrelinhas. O presidente não está sabendo de nada.
- Posso recebê-la aqui, se preferir. Tench pareceu desconfiada.
- Vamos nos encontrar em algum lugar discreto.
Como Pickering esperava.
- O Memorial de Roosevelt é próximo à Casa Branca - disse ela. - A esta hora da noite deve estar vazio.
Pickering pensou a respeito. O Memorial de Roosevelt ficava entre o Memorial de Jefferson e o de Lincoln, numa parte bastante segura da cidade. Depois de refletir um pouco, ele concordou.
- Dentro de uma hora - disse Tench. - E venha sozinho. -
Desligou.
Imediatamente após desligar, Marjorie ligou para Ekstrom. Sua voz estava tensa.
- Pickering pode se tornar um problema.
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