PERRY GARFINKEL é colaborador do The New York Times desde 1986 e se especializou em viagens e tendências culturais. Jornalista veterano, tem feito coberturas das influências do Oriente no Ocidente há mais de trinta anos. Vive em Martha's Vineyard. Está no site www.buddhaorbust.com
Design de capa: David Tran
Foto da capa: Buddha, Kyle Kolker
093dVS3Q no
vana
i
Perry Garfinkel
BUDA
OU DESAPEGO
Viagens pelo mundo em busca da Verdade, do significado da felicidade e do homem que encontrou tudo isso
Tradução de Alyda Christina Sauer
Título original
BUDDHA OR BUST
In Search of Truth, Meaning, Happiness
and the Man Who Found Them Ali
Copyright © 2006 by Perry Garfinkel Todos os direitos reservados.
Tradução da edição brasileira publicada mediante acordo com a Harmony Books, uma divisão da Random House, Inc..
Direitos para a língua portuguesa reservados
com exclusividade para o Brasil à
EDITORA ROCCO LTDA.
Av. Presidente Wilson, 231 — 8? andar
20030-021 - Rio de Janeiro, RJ
Tel.: (21) 3525-2000 - Fax: (21) 3525-2001
rocco@rocco.com.br
www.rocco.com.br
Printed in Brazil/Impresso no Brasil
preparação de originais FÁTIMA FADEL
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
Garfinkel, Perry. ' m Buda ou desapego: Viagens pelo mundo em busca da verdade, do sig-
nificado da felicidade e do homem que encontrou tudo isso/Perry Garfinkel; tradução de Alyda Christina Sauer. - Rio de Janeiro: Rocco, 2007. il., mapa - (Arco do Tempo. Nos passos do budismo)
Tradução de: Buddha or bust: in search of truth, meaning, happiness and the man who found them ali Inclui bibliografia ISBN 978-85-325-2152-1
l.Garfinkel, Perry. 2. Budismo -Aspectos sociais. 3. Vida espiritual (Budismo). I. Título. II. Série.
CDD - 294.3 07-0337 CDU-294.3
Lillian K Garfinkel
Saiba você ou não — e suspeito que você não sabe
— você é minha professora de budismo, mãe.
Ariana Garfinkel e Ryan Romeiser
Nunca existirá um pai que ame tanto afilha e
o genro mais do que eu amo vocês.
Sumário 5
AGRADECIMENTOS 9
Mapa **> 12
1 - SURGIMENTO DE BUDA 75
O conhecimento com 2.500 anos que hoje é mais relevante do que nunca
2 - BEM-VINDO À NOVA ERA (AXIAL) <** 34
Budafoi o primeiro baby boomer do mundo?
3 - DESCOBRINDO A VERDADE DE BUDA
PARA O SOFRIMENTO NA POLÔNIA «» 48
4 - NA TERRA ONDE BUDA NASCEU •**> 65
A Índia e seu novo despertar para aquele que despertou
5 - AINDA DERRAMANDO LÁGRIMAS 124
Sri Lanka antes e depois do tsunami
6 - Tatuagens, pega-varetas e imitação
de monges 147
A mistura criativa do budismo tailandês
7 - Para onde quer que vá, é lá que você está...
mesmo em hong kong 175
8 - despertar o gigante adormecido O budismo retorna lentamente para a China
9 - MANTER O CORAÇÃO SUTRA DO BUDISMO AINDA BATENDO NO JAPÃO «*> 224
10 - A VOLTA PARA O OM DOS LIVRES E BRAVOS 248
O budismo norte-americano é a ruga mais recente no rosto eternamente sorridente
11 - GAUTAMA VAI PARA A GÃLIA **> 276
Budismo com um toque francês
12 - ENTREVISTA COM O DALAI LAMA 291
Ele me cativou ao dizer alô
13 - RESPIRAR, SOLTAR O AR 315
A busca continua
VOCABULÁRIO BUDISTA BÁSICO «*> 321 REFERÊNCIAS =*° 325 BIBLIOGRAFIA **> 329
Agradecimentos
Ofereço uma profunda mesura de gratidão às seguintes pessoas. Este livro e eu não seríamos os mesmos sem elas.
Shaye Areheart, editora da Harmony Books, entendeu o que eu tinha em mente, até melhor do que eu mesmo.
Julia Pastore, editora sênior da Harmony, que me encorajou a investigar meus sentimentos mais a fundo, e fazer isso de uma forma oportuna.
Cary Wolinsky que começou tudo isso por ter a sabedoria de pôr água numa semente que tinha sido plantada muitos anos atrás.
A equipe da revista National Geographic: Bernard Ohanian, antigo editor associado que me animou a desenvolver uma idéia que se transformaria numa missão; Oliver Payne, editor de manuscritos, que vivia perguntando: "Como vai Buda?"; Alan Mair-son, redator, que me empurrava e questionava na fase da proposta; Heidi Schultz, pesquisadora contratada especialmente, que contribuiu muito com a minha investigação dos fatos; Erika Lloyd, antiga coordenadora editorial, uma felicidade trabalhar com ela; e principalmente Peter Porteous, editor sênior, que pressionou quando era necessário e teve paciência quando cabia, do primeiro rascunho até o último.
Steve McCurry, fotógrafo excepcional, que tolerou minhas sugestões de fotos... e sim, Steve, você pode recomendar um lead sempre que quiser.
Candice Furhman é a agente que eu sempre procurei.
Sue e Shel Mattison mantinham em ordem as minhas contas e a minha cabeça, e ficavam ligadas com o mundo por e-mail.
Alan Senauke, antigo diretor-executivo da Buddhist Peace Fellowship (BPF) em Berkeley, foi meu Garganta Profunda budista, oferecendo orientação, contatos e acesso a pessoas e lugares que eu nunca teria encontrado sozinho. Como agradecimento estou doando parte dos lucros com Buda ou desapego para a BPF.
Também quero agradecer aos amigos que me deram idéias, estímulo e inspiração de todas as formas, desde o início: Wes Nis-ker, Arlan Wise, Julie Berriault, Daniel Goleman, Joseph Golds-tein, Jon Kabat-Zinn, John Bush, Mirabai Bush, Joely Johnson, Mark Mazer, Liz e Mike Zane, e Sheila Donnelly Theroux.
Todos os seres vivos, quer saibam quer não, seguem este Caminho.
-O BUDA, SUTRA LÓTUS BRANCO
Libertem-se da escravidão mental; só nós mesmos podemos libertar nossas mentes.
- Bob Marley, "Redemption Song"
O artista precisa ter cuidado de nunca chegar
a um lugar quando ele considera estar em algum lugar.
Sempre temos de compreender que estamos constantemente
em estado de nos tornar. E se conseguimos permanecer
nesse reino, ficaremos bem.
- Bob Dylan no documentário
de Martin Scorsese
No Direction Home, parte 2, 2005
'.'
1
SURGIMENTO DE BUDA
Um conhecimento com 2.500 anos que hoje é mais relevante do que nunca
Você não pode ter tudo que quer. E impossível e inalcançável Felizmente, existe outra opção. Você pode aprender a controlar a sua mente, para não entrar nesse ciclo infinito de desejo e frustração. Pode aprender a não querer o que quer, a reconhecer os desejos mas não ser controlado por eles.
- O BUDA
Os ensinamentos fundamentais de Gautama, como agora começa a ficar nítido para nós por meio do estudo das fontes originais, são muito claros e muito simples e estão em íntima harmonia com as idéias modernas. São, além de qualquer discussão, a realização de uma das inteligências mais penetrantes que o mundo já conheceu.
- H. G. WELLS, em OutlineofHistory
O homem que mais me ensinou sobre budismo não era um monge de cabeça raspada e manto amarelo. Ele não falava sânscrito e não vivia num mosteiro no Himalaia. Na verdade ele nem era budista. Era Carl Taylor, que sempre viveu em San Francisco e que parecia ter quarenta e muitos anos. Naquele momento só parecia estar com frio, sentado bem reto numa cama com rodas nos jardins externos do asilo do Hospital Laguna Honda, próximo de Twin Peaks, San Francisco. Era uma tarde de verão de céu
15
completamente azul, mas nessa cidade isso muitas vezes significa um frio que penetra nos ossos. Carl estava morrendo de câncer.
Eu passava uma semana com o Projeto de Asilos Zen, um grupo de voluntários budistas que assistiam à equipe da unidade do asilo com 24 leitos, uma das maiores instituições públicas de atendimento de internação nos Estados Unidos. O projeto, agora espalhado pelo mundo todo, utiliza dois ensinamentos centrais do budismo - a consciência do momento presente e a compaixão - como ferramentas para ajudar a levar certo grau de dignidade e humanidade àqueles que estão nos últimos estágios de suas vidas. Não são coisas fáceis de aprender.
Sentei ao lado de Carl e ajudei a arrumar o velho casaco de aviador que ele usava como cobertor. Tratava seu diagnóstico terminal com bravura resignada. Tentei conversar sobre trivialidades, mas não funcionou. Que palavras de consolo se pode oferecer para alguém que não viverá muito tempo e sabe disso?
- Que tipo de trabalho você faz... é... fazia?
Silêncio prolongado. Ele deu uma lenta tragada no cigarro. Passou uma eternidade enquanto observamos uma nuvem pequenina quebrar a monotonia azul e cruzar o céu.
— Eu não falo sobre o meu passado.
Muito bem. Fiz um esforço para manter a conversa e verifiquei mentalmente a minha lista de perguntas. Mas se não podia perguntar sobre o passado dele, e se não havia sentido em perguntar sobre o futuro, a única coisa que sobrava era o presente. E no presente eu estava aprendendo que não há perguntas; há apenas o existir. Isso me deixou constrangido a princípio: privado dessas perguntas o jornalista fica sem identidade.
Mas Carl parecia satisfeito apenas de me ver ali sentado, só a minha companhia já ajudava a aliviar um pouco do seu sofrimento. Depois que aceitei não ter nada a fazer, nenhum lugar para ir e talvez, o que era mais importante, não ter de representar ninguém, relaxei. Carl olhou para mim de soslaio e sorriu. Nós dois compreendemos que eu tinha acabado de aprender uma pequena lição. Juntos observamos outra nuvem passar.
16
Naquela semana aprendi outras coisas do curso Budismo 101 - ensinamentos sobre a impermanência da vida, sobre o nosso apego a como queremos que as coisas sejam e a decepção que sentimos quando essas coisas não acontecem, sobre sofrimento físico e mental, sobre o valor do que os budistas chamam de sangha, cuja melhor tradução é comunidade. Mas acima de tudo vi como o aprendizado de um homem na índia há 2.500 anos tinha sido atualizado e adaptado ao mundo moderno.
No mundo inteiro hoje em dia há um novo budismo. Sua filosofia e prática estão sendo aplicadas para ampliar as terapias mentais e físicas, e para aprimorar as reformas ambientais e políticas. Os atletas usam o budismo para aperfeiçoar seu desempenho nos esportes. Por meio dele executivos de empresas aprendem a administrar melhor o estresse. A polícia se arma com ele para desmontar situações voláteis. Pessoas que sofrem de dores crônicas o aplicam como lenitivo. Como seus ensinamentos têm essa relevância contemporânea, o budismo hoje passa por um renascimento, mesmo em países como a índia, onde quase desapareceu, e na China, onde foi proibido.
O budismo não é mais só para os monges ou ocidentais com tempo de sobra e renda suficiente para ter acesso às coisas do Oriente. Cristãos e judeus o praticam. Afro-americanos meditam ao lado de nipo-americanos. Só nos Estados Unidos, o número de pessoas que se declaram budistas saltou de 400 mil em 1990 para mais de três milhões em 2001, escreve James Coleman, sociólogo da Universidade Politécnica Estadual da Califórnia, em The New Buddhism. E segundo um estudo de 2004 publicado no Journal for the Scientific Study ofReligion, um em cada oito norte-americanos — mais de 37 milhões de pessoas - acredita que os ensinamentos budistas tiveram uma influência importante na sua espiritualidade. O Projeto de Asilos Zen é um exemplo de "budismo engajado socialmente", um termo criado pelo monge budista Thich Nhat Hanh, que teve de se exilar do Vietnã na década de 1960 por suas atividades contra a guerra. Ainda "engajado" com a idade de 79 anos, ele viajou pelo seu país de origem três meses em 2005 - o 30° aniversário da tomada do Vietnã pelo Partido Comunista
17
- divulgando os ensinamentos budistas onde um dia tinha sido um pária.
No sul da França, em seu centro de retiro Plum Village, ele recebe regularmente, entre outros grupos, palestinos e israelenses em oficinas de solução do conflito e negociação de paz. Tais sessões muitas vezes começam com animosidades, disse-me o reverendo Hanh, e com a mesma freqüência terminam com abraços.
-Tudo começa com um antigo ditado modificado: "Não faça só alguma coisa, sente-se" - ele disse com seu fiapo de voz.
Um homem muito magro, com orelhas grandes e olhos fundos, o reverendo Hanh estava sentado na varanda de sua cabana com vista para os vinhedos verdejantes de Bordeaux. Parecia incoerente estar conversando com ele no coração de uma região que atrai adoradores de Baco, não de Buda.
- Com todo esse trabalho engajado, primeiro temos de aprender o que o Buda aprendeu, para fazer com que a mente se imobilize. Depois não agimos; é a ação que nos leva.
De fato, a ação tinha me levado para uma expedição de proporções épicas, uma jornada ambiciosa e por vezes árdua em busca da presa da humanidade mais ameaçada e mais fugidia. Eu circunaveguei o globo à procura de nada menos do que a verdade, o sentido da vida e a felicidade. Fui atrás de um homem que quase meio bilhão de pessoas hoje em dia acredita firmemente que encontrou as três coisas... e mais ainda. Então naveguei pelo legado desse homem, mapeando a migração e mutação em mais de dois milênios das táticas bastante simples que ele desenvolveu para capturar esse objetivo.
Ele ficou conhecido por muitos nomes - Tathagata, Sakya-muni, Siddhartha Gautama —, mas é mais reconhecido pelo nome que homenageia a sua sabedoria: o Buda, "aquele que despertou".
Embora essa filosofia tivesse motivado o surgimento de uma religião praticada há muito tempo por toda a Ásia, e neste último século em regiões do Ocidente também, a minha busca não era de natureza religiosa. E agora, depois de estudar a vida dele, acredito
18
que nem a do Buda era. Ele, como eu, como você, como qualquer pessoa que pensa, sente, se emociona, simplesmente queria respostas para perguntas que têm uma natureza tão universal que transcendem os ismos e que partem da alma do que significa ser humano. Perguntas que perseguem, assombram, desafiam, confundem, frustram, inspiram e motivam as pessoas praticamente desde o momento em que são desmamadas.
- Quem sou eu?
- Por que estou aqui?
- O que é essa coisa chamada vida? E a maior de todas:
- Como posso chegar ao próximo fim de semana com um pouco menos de sofrimento e um pouco mais de felicidade?
Verdade. Sentido da vida. Felicidade.
Eu questionava as três coisas e muito depressa chegava ao que me parecia ser uma conclusão bem plausível, de que nenhuma das três existia... quando o Buda apareceu para mim na forma da tarefa mais instigante de toda a minha vida. E já não era sem tempo.
A revista National Geographic aceitou a minha proposta de escrever uma grande matéria vagamente intitulada "Seguindo os passos de Buda". Controlando o meu ego, fiquei sabendo que consegui o contrato porque um dos maiores fotógrafos da revista, Steve McCurry (ele fotografou o famoso perfil da revoltada menina afegã de olhos verdes) já tinha uma coleção de imagens de monges e estátuas budistas cobrindo a Ásia. Deram-me um adiantamento polpudo, uma passagem de avião classe executiva de volta ao mundo sem limite de paradas e me alvejaram com todo o tipo de vacinas enquanto eu aplicava em mim mesmo as fantasias típicas de jornalista com matérias de capa e aparições no programa Larry King de entrevistas na televisão.
- Então nos vemos daqui a dez semanas - eles disseram.
Eu barganhei mais dez, ainda mais ajuda de custo para a viagem e depois de um tempo este livro que você está segurando. Mas o que realmente recebi em troca foi muito maior - nada que chegasse perto do verdadeiro despertar, mas certamente uma fiança cósmica para me livrar da prisão.
Dostları ilə paylaş: |