Shaolin, Shaolin, reverenciado por tantos heróis do mundo inteiro.
Shaolin, Shaolin, sempre lido por suas histórias sobrenaturais.
A exótica arte marcial... sem igual! O mundo se deslumbra com
Shaolin. A longa história, de longa data, o belo e resplandecente Shaolin. Mosteiro milenar, lugar enfeitiçado: monte Song Shan e vale profundo
e silencioso. Todos anseiam. Cidade natal das artes marciais, belo lugar, bem conhecido sob o sol,
deixa um bom nome para sempre. Bem conhecido sob o sol, deixa um bom nome para sempre. Bem conhecido sob o sol, deixa um bom nome para sempre... Shaolin, Shaolin, Shao... lin, Shao... lin...
- Todos os meninos da minha idade, os pais se preocupavam se o filho ia fugir para entrar para o mosteiro depois de verem aquele filme - ele me contou quando éramos levados para conhecer um verdadeiro monge Shaolin na vida real. - Muitos fizeram isso. E eu também fiz planos. Mas meus pais eram muito rígidos e disseram que iam impor um castigo terrível se eu fugisse. - Ele deu uma risada.
Mas eu não estava rindo enquanto observava o nosso motorista cantar pneu no tráfego intenso - intenso porque a venda de carros novos tinha se elevado 82 por cento em 2003, e 11 por cento em 2004 na China. "Cantar pneu" devia constar do manual do motorista chinês porque esse era o estilo de todos os motoristas nas ruas. Esse comportamento devia se basear neste princípio: "Se eu fingir que não vejo você cantando pneu na minha frente quando dobro a esquina cantando pneu sem parar nem olhar para a esquerda ou para a direita, então você terá de parar, ou o seu carro virá cantando pneu para cima do meu." Baseado no que eu via pelo pára-brisa, não fiquei surpreso de ler mais tarde que o número de pessoas mortas nas estradas chinesas tinha aumentado
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cinco vezes desde 1985. Em 2003, mais de 104 mil chineses morreram em acidentes de trânsito, mais que o dobro do total nos Estados Unidos, apesar dos Estados Unidos terem quase nove vezes o número de veículos rodando pelas estradas. Eu rapidamente apelidei isso de "direção kung fu". Esse comportamento parecia tão contraditório com os ensinamentos budistas de altruísmo e compaixão que fiquei imaginando se os professores de auto-escolas eram não budistas treinados nas piores ruas maquiavélicas dos Estados Unidos... em Boston. Sentar no banco de trás foi uma prova para o meu desejo de controlar não só o carro, mas todos os outros carros na estrada. Apesar de observar a minha respiração, ouvi a mim mesmo berrando obscenidades. Devo ter deixado um buraco no chão do carro onde instintivamente apertava o pedal do freio que não estava lá.
Por algum milagre conseguimos chegar a salvo em Dengfeng. O meu filme sobre essa cidade ia se chamar Crouching Tourism Boom, Hidden Agenda (Armar o bote para a explosão do turismo, Programa Secreto). Com mais de 1,5 milhão de pessoas visitando o templo Shaolin todo ano, Dengfeng se beneficiou com essa onda kung fü, ao toque de mais de 66 milhões de dólares. Mas além de atrair o eventual aficionado de kung fu,*a cidade também se tornou um ímã para o estudante mais sério da arte marcial. Com um espírito empreendedor característico da nova China, muitos monges que foram expulsos do templo durante a Revolução Cultural montaram escolas de kung fu que hoje são uma verdadeira indústria em crescimento. Há mais de 10 mil alunos chineses de kung fu nas trinta ou mais escolas especiais e centros de treinamento de Dengfeng, onde também aprendem os três Rs da educação primária. Dengfeng é a maior base de treinamento de kung fu do país. Às 4h30 da manhã rodei pela cidade de carro e observei até uma dúzia de grupos de quarenta a cem meninos, com idades que iam dos 8 aos 18 anos, com uniformes de aquecimento, correndo pelas ruas da cidade em formação, a versão moderna dos soldados do Exército Vermelho que poderiam ter corrido daquele jeito quarenta anos antes. Às seis horas faziam exercícios de aquecimento e praticavam os movimentos em locais
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improvisados atrás dos prédios. Depois iam para aulas em salas rústicas, voltavam para a prática do kung fu e finalmente iam estudar à noite nos quartos dos dormitórios lotados com seus beli-ches enfileirados.
As famílias pagam bem para enviar os filhos para essas escolas. Recebem educação acadêmica medíocre, mas são bem treinados. O chamariz é o estrelato no cinema (sonhos com o espadachim Jackie Chan ou com a dança de Bruce Lee povoam suas cabeças) ou trabalhos com os inúmeros grupos de excursão Shaolin, poucos dos quais podem contar com monges Shaolin autênticos como membros. Na verdade, a guerra pelo direito de propriedade do nome é dura, assim como a guerra por um troféu no campeonato de kung fu. De acordo com os números fornecidos pelo templo, oitenta escolas de kung fu usam o nome Shaolin e mais de cem empresas, inclusive algumas que vendem carros, cerveja, pneus e móveis, usam Shaolin como marca registrada, todos sem consultar o templo. Recentemente o templo venceu um processo contra
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