Por que uma idéia de dois mil e quinhentos anos atrás pareceria hoje mais relevante do que nunca? Como os ensinamentos do Buda podem nos ajudar a resolver muitos problemas do mundo



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Shi De Cheng, à direita, com seu mestre, Shi Su Yuan, nos aposentos privados do mosteiro Shaolin, na periferia de Dengfeng, na China, onde dizem que o budismo ch'an e o kungfu se originaram. Shi De Cheng agora administra uma das dezenas de escolas de kungfu em Dengfeng.

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Pedi para conhecer outros monges kung fu que imaginei que deviam morar ali. Entramos em outra área privada onde moravam alguns monges em quartos muito pequenos, escuros e api-nhados de coisas. Os homens pareciam fora de forma, cansados, meio sem ânimo... o oposto de Shi De Cheng. Fu Ching e eu nos entreolhamos. Ele parecia estarrecido e eu sabia por quê. Pelos folhetos e filmes, somos levados a acreditar que os jovens monges levam vidas monásticas no mosteiro Shaolin, praticando seu kung fu nos pátios cercados de muros altos. Este não é o caso. Pode ter sido, mas não é mais. Só que perpetuar a ilusão serve para alimentar uma visão romântica à qual os chineses se agarram desespera-damente, já que reforça sua ligação com tempos antigos. E podemos até supor que inspira um espírito de luta que ajudou os chineses, especialmente a nova geração, a enfrentar as ameaças à sua liberdade, a ficar na frente de tanques em movimento.

Entretanto o mais importante é que esse ato orquestrado de fumaça e espelhos dos monges Shaolin criou uma indústria muito lucrativa. O que existe hoje é uma marca, pela qual as pessoas do Oriente e do Ocidente brigam para ostentar.

Eu saí de lá, e da República Popular, com uma sensação muito forte que o ismo que vai "conquistar" a China não será o budismo nem o comunismo, mas sim o capitalismo.

Do mosteiro Shaolin fui de avião para Beijing, onde foi me encontrar no aeroporto a mediadora que tinha encontrado Fu Ching para mim. (Ele havia voltado de avião para Chengdu e eu esperava que não fosse abandonar a mulher e a família para se tornar um monge kung fu.) Se a central de elenco tivesse enviado Zhang Ziji, a estrela espadachim de O tigre e o dragão, eu não ficaria mais satisfeito. O nome dela era Jia Liming. Tinha covinhas do tamanho da província de Sichuan (mais ou menos cinco Texas), um dente da frente lascado que sem mais nem menos achei muito cativante e misterioso, e uma risada vigorosa, incomum nas mulheres asiáticas, que costumam cobrir a boca quando riem delicadamente. Ela era extrovertida e falante, hilariantemente cínica como as pessoas antenadas de Tribeca, e muito, muito inteligente. Nós nos demos

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bem demais, o que foi um grande alívio, se levar em conta que pensei que ia me perder antes de chegar à China.



E tinha outra coisa que me interessava em Jia Liming. Ela nasceu em 1973, seis anos antes da "abertura". Quando se formou na universidade por volta de 1994, a República Popular em que tinha nascido havia se transformado completamente - era um planeta bem diferente, eu imaginava. A geração dela era uma geração de transição. De certa forma ela era o equivalente chinês dos nossos baby boomers norte-americanos. A maioria dos seus colegas, segundo ela mesma, estavam profundamente empenhados em obter sucesso nos negócios. Mas ela era mais parecida com a minha geração, do final dos anos 60. Já saturadas com a corrida desenfreada para o consumismo, algumas pessoas com boa educação na faixa etária dela estavam abandonando aquela disputa urbana e indo morar nas montanhas, como o nosso movimento de volta à terra. Disse que tanto ela como muitos de seus amigos desapareciam indo para lugares como o extremo noroeste da província de Yunnan, para Zhongdian, que o governo chinês rebati-zou de Xangrilá em 2002, identificando-a oficialmente com o filme de James Hilton, O horizonte perdido (Lost Horizon). À sombra da montanha Meili Snow, o pico mais alto de Yunnan, numa região cuja maioria da população era de descendência tibetana, eles se reuniam em cafés rústicos, fumavam, bebiam chá de manteiga de iaque e cerveja, e embebiam a mística da cultura e dos rituais tibetanos. Esses eram os "povos nativos" em torno dos quais os jovens chineses gravitavam, como nossos nativos americanos, os guardiões dos portões para o passado deles - ou para o passado que eles gostariam de ter tido. Essas tribos eram os oprimidos com quem se identificavam.

Ela disse que tinha aceitado esse emprego de trabalhar para mim porque pelo fato de estar sempre com os tibetanos tinha se interessado pelo budismo. Conhecia a história budista e os vários Budas, mas recitava aqui como um guia turístico. Não senti uma conexão espiritual... não no início. E assumi comigo mesmo o compromisso de encorajá-la a experimentar a meditação, que nunca tinha feito. Uma noite, notando que ela às vezes ficava dispersiva e frenética, sugeri que tentássemos dez a 15 minutos de

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