Por que uma idéia de dois mil e quinhentos anos atrás pareceria hoje mais relevante do que nunca? Como os ensinamentos do Buda podem nos ajudar a resolver muitos problemas do mundo



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'■:■' ' .. alguma influência sobre todos os contatos que estabeleci nos últimos trinta anos nessa área; de ler tudo que estivesse ao meu alcance sobre o movimento do budismo engajado. Não, o que pensei foi: "Será que as minhas costas vão agüentar arrastar bagagem pelos terminais dos aeroportos, em trens e ônibus, dormir em camas com integridade estrutural questionável?" A resposta ressoante que tentei me convencer a acreditar: "Elas não podem deixar de agüentar!" (E quase pude ouvi-las suspirando aliviadas quando recebi minha passagem da classe executiva pelo correio.) Por sorte, eu teria uma ajuda com a bagagem, a logística e a língua em cada país através dos serviços de coordenadores culturais de cada país - o codinome deles na Geographic é "consertadores" ("fixers") — que trabalham com redatores e fotógrafos de fora que têm contrato com a revista. O que está implícito nesse apelido é que eles consertam o que os ocidentais incultos quebram - sejam tradições culturais, gafes sociais, regras de frigobares de hotéis — ou arranjam vistos onde são impossíveis de conseguir, quartos de hotel quando não estão disponíveis, ou acesso a pessoas importantes que sem eles nem responderiam. Fiquei pensando se os portfólios deles incluíam conserto de costas quebradas.

Foi então que jogaram o pozinho mágico em mim. E praticamente na mesma hora também descobri a trilha sonora do filme que minha vida ia se tornar no próximo ano. Tenho certeza que você não vai adivinhar a música. Eu mesmo não teria adivinhado em 10 mil vidas. Ia pensar em alguma composição de Dylan ("How does it feeeeel/To be onyour ooooown?"). Mas na verdade é uma canção chamada "Lose Yourself", do cantor de rap Eminem, de quem eu só sabia que era branco, de Detroit e polêmico por causa de algumas letras de suas músicas que eram contra os homossexuais. Eu também sabia que "Lose Yourself" era a música mais tocada do filme 8 Mile (8 Mile - Rua das ilusões), no qual Eminem estrelou fazendo um personagem idêntico a ele. Assisti ao filme mais por curiosidade. Saí do cinema e fui direto para a Tower Records e comprei o CD.

Detesto música rap e hip-hop em geral. É tudo muito violento, muito cheio de testosterona e macheza, muito misógino.



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Coisas do tipo: "Puta isso", "porra aquilo", "minha galera encheu a sua de porrada".

Mas essa música era diferente. Nessa história de um cantor de rap fracassado que se prepara para recuperar a fama, para redimir sua honra, a letra revela um homem inseguro e vulnerável, no fundo do poço, uma contradição completa da imagem machista que a maioria dos rappers procura cultivar. O início já a separa imediatamente do resto do gênero: um piano inspirador solando em oito acordes, estabelecendo delicadamente a base harmônica que permeia a melodia. Então uma guitarra corta acordes em tempo duplo com urgência temerária. Eminem fala baixo, pergunta o que você faria se tivesse apenas uma chance de conquistar tudo que almeja. Agarraria essa oportunidade? Ou a jogaria fora?

Ele falava diretamente comigo, ou será que eu estava sofrendo de um caso extremo de narcisismo budista, no qual tudo que acontecia comigo, à minha volta ou ao alcance da minha audição, continha uma referência tangencial a alguma ideologia budista? Ou será que ele estava falando com todos que estavam no fim da linha? E a isca:



Você deve se perder na música, no momento...

E a frase final sussurrava em meus ouvidos:



Você pode fazer qualquer coisa que resolver fazer, cara.

Toquei a música enquanto me exercitava, quando estava escrevendo, nos programas noturnos constitucionais, parado no trânsito na 101 ou na 405, e em qualquer outro momento em que precisasse de uma dose de autoconfiança. Primeiro ouvia apenas pela motivação - eu posso fazer qualquer coisa que resolver fazer. Mas então a letra começou a se comunicar comigo de outro lugar. Apesar de duvidar muito que Eminem pudesse distinguir um bodhisattva de uma boazuda, detectei ali um tema budista de fundo. Perdendo-se no momento, isto é, estando presente no momento, ele se encontra. Se ele se concentrar poderá fazer tudo



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que quiser. Para mim soava como a prática budista da plenitude da mente, que é prestar muita atenção no momento.

Eu sabia que tinha deixado passar oportunidades demais. Sabia que meu tempo estava quase acabando, que um homem com mais de cinqüenta já está na descida da montanha-russa e que o sucesso era minha única opção.



Você pode fazer qualquer coisa que resolver fazer, cara.

Essas últimas palavras, no tom de voz baixo de um homem que tenta se vender para si mesmo, transformaram-se no meu outro mantra.

Estava pronto para tentar.

Havia mais forças por trás disso do que apenas o momento ruim que eu estava passando e o resto do monólogo "nada vale um tostão furado nesse mundo maluco". Tinha sido sorte e uma grande oportunidade para mim receber esse contrato quando uma onda de budismo se avolumava no mundo inteiro. Nas últimas décadas do século XX o budismo estava florescendo e penso que vai continuar assim no novo milênio. Reuni alguns fatos:

• Em 1987 havia 429 centros budistas na América do Norte. No fim do século XX o número tinha crescido 260 por cento, totalizando 1.062 centros, conforme relata o dr. Coleman em The New Buddhism.

• Havia cerca de 400 mil pessoas que se declaravam budistas nos Estados Unidos em 1990. Em 2001 estimativas deram conta de que esse número tinha dado um salto para três milhões, segundo um estudo feito pelo sociólogo Barry Kosmin, quando estava na City University de Nova York.

• Num estudo feito em 2004 e publicado no Journal for the Scientific Study ofReligion, os sociólogos Wendy Cage e Robert Wuthrow descobriram que um em cada oito norte-americanos acredita que os ensinamentos ou práticas budistas exerceram influência significativa em sua espiritualidade.

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Em um nível mais anedótico, a explosão do budismo se torna evidente em toda parte.

A avenida Madison, o principal barômetro da cultura moderna do que está em voga e do que não está, abraçou o budismo e se curvou diante dos seus poderes comerciais. A palavra "zen" agora aparece em dezenas de produtos, desde linhas de produtos para tratamento da pele até uma firma na Internet e um relógio despertador. Zen Cart é um pacote de software com carrinho de compras de comércio virtual grátis.

A palavra "karma" também foi incorporada. Karma é o nome de um MP3 player novo e muito difundido (Zen é a marca fantasia de um MP3 player concorrente). E o nome de um sabonete ("Karma não é apenas uma fragrância, é mais uma opção de vida", diz o texto promocional). Karma Labs é a firma que cria jogos de aventura para a Macintosh and PC. O Laboratório de Interface do Usuário e o departamento de Computação Gráfica da Universidade de Colômbia estavam desenvolvendo um produto que receberia o nome de KARMA (acrônimo de Knowledge-based Augmented Reality for Maintenance Assistance - Realidade Aumentada com Base no Conhecimento para Assistência de Manutenção), um sistema acoplado à cabeça para auxiliar na manutenção de impressoras a laser.

Nenhum desses produtos tem qualquer coisa a ver com a real definição de carma, que é o correspondente em sânscrito para a palavra "ação". Tanto no hinduísmo como no budismo, segundo a lei do carma, os atos físicos e mentais de um indivíduo determinam as conseqüências na vida dele, e na próxima vida dele. Resumindo, o carma é a lei da causa e do efeito. Cada ação provoca uma reação.

O mesmo acontece com a palavra "nirvana", o estado budista da iluminação espiritual, uma palavra reconhecida universalmente e praticamente mal compreendida universalmente também, mas que mesmo assim batiza muitas embalagens de produtos. Junto com os indefectíveis produtos de cuidados para a pele, para o cabelo e para a saúde, Nirvana era, entre outras coisas, o nome de um distribuidor de sementes de maconha e outros produtos feitos com a planta. Nirvana Golf Technologies fabrica tacos de golfe.




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