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No dia seguinte, antes de sair de Anuradhapura, dei a volta na Árvore Bo, descendente da Árvore Bodhi original na índia. Antes de fazer isso, curvei-me diante de uma estátua do Buda num templo ao lado da árvore. Havia lá um monge coletando pequenas doações. Dei 100 rúpias, um único dólar, nada, mas uma enorme quantia para eles. Em troca, além do mérito e da bênção, o monge amarrou um barbante no meu pulso direito, como é o costume. Eu já havia juntado alguns desses barbantes brancos e vermelhos na índia.
— Você não pode cortá-los — havia me dito Shantum. -Servem para lembrar de estar no presente e no Dhamma.
Eu gostava porque achava que pareciam sexy. Além disso serviam para uma rápida identificação cultural para aqueles que sabiam o que significavam. Jurei não cortá-los até se desfazerem sozinhos.
Fora da cidade, num calor igual ao de uma sauna, subi 1.840 degraus de granito para ver as ruínas de um mosteiro que Mahin-da e seus companheiros monges tinham construído e onde, em 247 a.C, ele conheceu o rei Devanampiya Tissa, que participava de uma caçada real. Mahinda falou dos ensinamentos do Buda e logo depois o rei e quase todos no resto do país tornaram-se seguidores fervorosos. O peregrino chinês Fa-Hsien registrou ter visto alguns milhares de monges morando ali no início do século V. Vi um casal de namorados passeando em câmera lenta, descendo aqueles degraus, e outros poucos, no dia em que estive lá.
Mas quando cheguei ao topo, em uma das cavernas no alto do morro, chamado de Mihintale, fui cercado por um grupo de estudantes, de olhos brilhantes e bonitos com seus uniformes de escola, em excursão. Eles me abordaram e quiseram chamar a minha atenção.
— De que país o senhor é? - perguntavam em coro.
O inglês dos ceilandeses no Sri Lanka tem aquela mesma melodia do dialeto dos indianos, só que eles mesmos provavelmente rejeitariam essa comparação.
Normalmente aceito esse tipo de brincadeira, mas naquele dia eu estava distraído. A uma hora ou duas de distância da sede
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distrital de Sarvodaya em Batticaloa, no litoral leste, a minha ansiedade só fazia aumentar. No dia 2 de março, um dia depois da minha chegada no Sri Lanka, uma manchete de matéria de uma coluna no canto esquerdo inferior da primeira página do Daily News, o maior jornal de língua inglesa no país, anunciava discretamente: "Candidato do PUN assassinado em Batticaloa." Um candidato do Partido da União Nacional, o principal partido de oposição do país, concorrendo à eleição geral do município de Batticaloa, tinha sido alvejado no primeiro assassinato relacionado à campanha política. A história dizia que o LTTE apoiava um candidato da Aliança Nacional Tâmil (ANT). A diagramação da reportagem e a falta de dados sugeria que isso era tão importante como um gato que subiu na árvore. Na parte de cima da página havia uma história que um número bem maior de cingaleses ia reparar: "Seleção do críquete é um imenso jogo de paciência."
No dia seguinte ocorreu outro assassinato dentro da campanha. O delicado cessar-fogo no conflito étnico de vinte anos entre os cingaleses e os tâmeis tinha sido violado. Os jogos de guerra estavam operando novamente, e o "imenso jogo de paciência" seria muito necessário, mas um bem muito raro por ali.
Quando me aproximei de Batticaloa, notei um número cada vez maior de guardas militares armados à beira da estrada em bases militares, com barracas e arame farpado atrás deles. Até meu motorista estava ficando nervoso.
A sede municipal do movimento, numa área residencial tranqüila, estava fervilhando de atividade - a equipe dedicada e supe-ranimada, a maioria de vinte e poucos anos, corria de um lado para outro, e a papelada voava no rastro deles. Dava para ver que Sarvodaya Shramadana era uma máquina bem treinada e bem azeitada, a marca registrada do dr. Ariyaratne era evidente. O coordenador daquele centro municipal, E. L. A. Careem, a quem o dr. Ariyaratne havia avisado da minha visita, recebeu-me cheio de entusiasmo. Convidou uns oito membros destacados da sua equipe para ir à sala dele e me informar sobre seus esforços. O conflito tinha atingido sua comunidade seriamente, disseram. Empregos eram escassos. Às vezes era difícil conseguir provisões
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do outro lado das áreas de segurança, sem mencionar o constante estresse psicológico que representava a violência iminente que pairava sobre suas cabeças.
Depois observei aldeões que pediam recursos, cada um deles defendendo pequena ajuda financeira para os empreendimentos mais simples. Um rapaz requereu um empréstimo do banco de reservas Sarvodaya de 98 mil rúpias (980 dólares) para comprar uma lambreta. Com isso ele não teria mais de rodar com sua bicicleta 20 quilômetros todos os dias para pegar as provisões que vendia em sua pequena loja de rua. O rapaz já havia demonstrado que sabia poupar. Teria três anos para pagar o empréstimo, com taxas de juros menores do que um décimo das taxas de juros de empréstimos do governo. E ele teve seu empréstimo aprovado com facilidade.
Mais tarde aquele dia mesmo, o sr. Careem levou a mim e a alguns membros da equipe para uma aldeia, onde jovens da região tinham ido de ônibus para passar um fim de semana. Isso me fez lembrar dos acampamentos de verão que freqüentei quando criança, combinando despertar espiritual, serviço comunitário voluntário e incentivo à confiança nos grupos de colegas. Os habitantes das aldeias se reuniram sob uma frondosa figueira diante de dois templos, um hinduísta, o outro budista. Havia uma energia contagiante que o sr. Careem e o pessoal dele espalhava. Ele tinha me dito mais cedo que a estratégia era construir confiança, descobrir o que a comunidade considerava suas necessidades prioritárias e depois responder com um plano de ação imediato. No início notei o povo das aldeias abaixado de cócoras, ouvindo o discurso. Pude imaginar que apesar das necessidades deles serem muitas, traziam embutida uma desconfiança de forasteiros. Talvez já tivessem ouvido tudo aquilo antes. Talvez tivessem sido traídos. Talvez, cercados pela guerra civil, a paranóia e as suspeitas deles fossem justificadas.
Aparentemente acreditavam que estavam ouvindo porque alguns líderes das aldeias começaram a dar seus palpites. E de repente as pessoas começaram a se organizar em grupos pequenos. O sr. Careem empurrou-me para um desses grupos, formado por
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jovens que caminhavam alegres em fila única por uma trilha que parecia levar a lugar nenhum. Descobri um dos membros do Sarvodaya que falava inglês e que pôde me explicar enquanto andávamos. Estávamos caminhando por aquela trilha que ia dar em campos que tinham sido abandonados, ele disse. Agora os aldeões tinham esperança de poder começar a plantar ali de novo, já que a população vinha aumentando dramaticamente. Essa pessoa disse que do ponto de vista do Sarvodaya, a maior preocupação era o controle populacional - o número de grávidas na adolescência e de mães solteiras era galopante —, mas alimentar os bebês que choravam de fome era a maior necessidade do momento. Gostei de ver que Sarvodaya escutava. Essa tinha sido uma reclamação constante sobre o Peace Corps; eles chegavam e faziam o que achavam que era melhor para as comunidades, em vez de ajudá-las a fazer o que elas consideravam melhor para si mesmas. O nosso trabalho era simplesmente limpar o caminho que tinha sido coberto pelo mato. Peguei uma foice e comecei a ceifar lado a lado com os voluntários bem vestidos. Mas notei outra coisa: apesar de os habitantes das aldeias terem ido caminhando até aquele lugar junto com os voluntários, a maioria ficou parada observando o trabalho dos visitantes.
- Não esperamos que eles saiam correndo para fazer por si mesmos - explicou o meu companheiro —, senão já teriam feito isso muito tempo antes de nós chegarmos aqui. Mas achamos que se formos exemplos, o orgulho deles vai motivá-los a assumir o trabalho.
Era a estratégia Huck Finn mais uma vez. Depois de o pessoal de Sarvodaya ir embora, a esperança era que os aldeóes entenderiam que trabalho duro resulta em benefício pessoal. Aquelas eram lições quase embaraçosas de tão simples, mas o movimento Sarvodaya era exatamente isso: oferecer o fundamental. E enquanto o governo falhava em criar uma infra-estrutura de verdade, o dr. Ariyaratne e essa equipe e os voluntários ofereciam os tijolos e a argamassa para ajudar os aldeões a construir suas vidas.
Embora não tivessem pronunciado uma única palavra sobre o budismo, aquele recado de auto-suficiência e de automotivação
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era o mesmo que Buda teria dado ali. "O indivíduo, de fato é seu próprio protetor. Que outro protetor poderia haver?", diz o Buda em O Dhammapada. "Cada um tem de ser a própria luz", ele disse nas últimas horas da vida.
Um programa específico mostrou-me bem como a vida ali era tênue, e também como a abordagem budista de Sarvodaya transcendia a necessidade de uma aula de filosofia budista.
O sr. Careem e alguns colegas da sede municipal levaram-me para o que parecia uma incursão fadada ao malogro para a aldeia de Eravur, por becos e ruelas intermináveis, até darem a impressão de que eles também estavam irremediavelmente perdidos. A beira de um bairro pequeno que terminava num campo aberto, paramos numa casa vazia e entramos num cômodo sem móveis. Subitamente o barulho de risadas de crianças desfez o silêncio. De algum quarto nos fundos apareceu cerca de uma dúzia de crianças, idades entre cinco e 18 anos, e formaram um círculo. Duas garotas de 19 anos, uma hindu, a outra muçulmana, de hijab (pano que cobre a cabeça), lideraram o grupo com canções animadas e atividades lúdicas. Os muçulmanos aqui são a minoria das minorias, representam cerca de sete por cento da população.
Então mostraram para as crianças uma série de cartazes ilustrando minas terrestres. Aquele era o propósito das brincadeiras daquele grupo. Estavam aprendendo a reconhecer as armas mortais que estão por toda parte como restos esquecidos. Essa educação sobre os riscos das minas era subsidiada pela European Union Humanitarian Aid Office (ECHO) da Comissão Européia e UNICEF, mas a equipe era de Sarvodaya. Chamam toda aquela região de "área não liberada", querendo dizer área onde ainda existem esses artefatos. As minas custaram vidas e membros de crianças e adultos. Esse é o preço do ódio, da intolerância religiosa, da xenofobia e das guerras.
Quando as crianças entraram na sala, um grupo de mães também apareceu, vindas de uma cozinha nos fundos que eu não havia notado. Elas ficaram de cócoras, em silêncio, mas observando atentamente, para certificar-se de que os filhos prestavam atenção. Esse jogo e as canções que pediam para as crianças memori-
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zarem, podiam ser questão de vida ou morte, e ninguém sabia mais disso do que aquelas mulheres. Algumas contaram para mim quantos membros da família tinham perdido. Mais tarde Rajani Kanagalingam, o diretor do programa, detalhou o sucesso daquele empenho na educação sobre o risco das minas. Antes de o programa ter início em 2003, 21 pessoas tinham se ferido. Depois que começou, nenhuma. Antes, três mortes foram atribuídas a minas terrestres. Depois, uma só. As minas, eles contaram com tristeza, não distinguem se suas vítimas são tâmeis ou cingaleses, hindus, budistas ou muçulmanos, velhos ou jovens, pais ou mães, naturais do Sri Lanka ou jornalistas norte-americanos. Desse modo as minas não fazem nenhuma discriminação, como o Buda. Tentei fazer esse comentário como humor negro budista, mas não houve reação, como não devia haver mesmo.
O assunto não era de fato para ser motivo de riso, mas eu estava ficando confuso e talvez um pouco cínico. Monges na política? Budistas em guerra? Uma cultura que fora tão avançada,
^Vf\>$* ** r -
Uma pré-escola no município de Anuradhapura no Sri Lanka, construída com recursos da Sarvodaya e com professores treinados pelo Sarvodaya. À direita está Vinsor Kanakaratne, coordenador municipal de Sarvodaya.
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agora se revelava tão primitiva, tão dividida? O budismo era parte da fundação cultural daquele país; se o budismo "funciona", então o Sri Lanka devia ser seu melhor cartão de visita. Em vez disso, é um país que sangra por dentro. Por quê? Era o koan que levei para casa, aquele que provavelmente nunca seria respondido.
Os lindos rostos das crianças continuaram gravados na minha mente no dia seguinte quando voltei para Colombo. Foi sorte minha chegar a Kandy na véspera da lua cheia, dia auspicioso em qualquer medida, mas mais ainda para os budistas do Sri Lanka. Diz a lenda que o nascimento, a iluminação e a morte de Buda ocorreram em luas cheias. As luas cheias, chamadas de poya, são dias de sabático, feriado oficial em que as lojas da cidade ficam fechadas, ninguém serve bebida alcoólica e a matança - inclusive de peixe - é proibida. Nessa noite, em Sri Dalada Maligawa, o templo do Dente, abre-se o véu da vitrine que esconde uma série de sete caixas de ouro com pedras incrustadas, dentro das quais, diz a lenda, está um dos incisivos de Buda. Uma vez por ano, em agosto, o conjunto de caixas todo sai em desfile pelas ruas de Kandy nas costas de um elefante elaboradamente enfeitado e paramentado. Em 1998 um esquadrão suicida terrorista do LTTE atirou-se contra o templo, matando 11 pessoas e ferindo 23. O ataque ocorreu dias antes do qüinquagésimo aniversário da independência do Sri Lanka. O prédio ficou muito destruído, mas quando estive lá parecia quase todo restaurado. Relatos informam que o dente ficou incólume.
O salão contíguo da vitrine estava repleto de casais e famílias com filhos de todas as idades, todos chorando, pelo menos foi o que me pareceu naquele calor abafado. Aquele não era apenas um dia santo, era um feriado com ritual de família. Esperei pacientemente, procurei observar a minha respiração, mas mesmo quando consegui bloquear o choro dos babus, as gotas do meu suor escorreram para os meus olhos e acabaram com a minha concentração.
Por fim, olhando fixamente para aquela pequena janela de vidro, vi algum movimento e pensando que apenas eu tinha nota-
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do, levantei-me rápido, como qualquer cidadão respeitável de Nova York, para abrir caminho até lá na frente. Mas eu não estava sozinho. Com a sincronia de uma banda em marcha, a multidão levantou-se em massa e aos poucos foi assumindo seu lugar. Um nova-iorquino prepotente poderia aprender umas coisas com aqueles budistas do Sri Lanka. Na fila, uma cabeça inteira mais alto do que a maioria dos outros (exceto pelo ocidental ocasional também na fila), eu me destacava como um feijão-branco. Lenta mas num mesmo ritmo a fila serpenteava e dava voltas, avançando para a ansiada vitrine. Eu observava cuidadosamente o ritual. Tínhamos alguns poucos minutos para ver o que havia lá para ver e depois tínhamos de seguir em frente.
E antes de estar realmente preparado, chegou a minha vez. Tinha uma luz por dentro e outra por fora que refletia no vidro e minhas pupilas levaram alguns segundos para se adaptarem. Então havia tanto para ver naquele espaço muito pequeno, em tão pouco tempo, que acho que entrei em pânico. Não sabia onde fixar o olhar. Em vez disso examinei o quadro inteiro daquela vitrine. Era como uma exibição diminuta montada sobre umas mesas cobertas com pano branco, e dava para ver uma parede atrás de tudo. Na hora que pensei ter reconhecido a caixa e que olhei fixo para ela, para ver algum pedaço de dente branco, o homem de guarda ao lado da vitrine fez sinal indicando que meu tempo tinha acabado. Hesitei, e ele me convidou a sair dali, com gentileza mas firme também. As pessoas logo atrás de mim na fila empurravam meu cotovelo, com a mesma persuasão. Passei tão depressa pela frente da vitrine, tonto com todas aquelas pedras cintilantes e pessoas que mal vi qualquer coisa... menos ainda o dente tão querido.
Talvez a realidade seja dura demais aqui. E mais fácil agarrar-se à ilusão de um dente, desfilar com ele nas costas de um elefante e esperar que prestando obediência a ele se produza alívio para todo o sofrimento.
Peço perdão - talvez eu não tivesse me empenhado tempo suficiente nos Ensinamentos -, mas estava tendo problema para juntar as pontas ali no Sri Lanka. Rezar para um pré-molar será
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que traria de volta um braço ou uma perna? Será que o budismo tinha se distanciado tanto de suas raízes naquela primeira etapa de sua migração pelo mundo? Ou o problema seria eu? Será que eu não "acreditava" o bastante? Eu achava que fé em fadinha do dente não era o que Buda tinha em mente. No entanto eu estava pondo a minha fé no movimento Sarvodaya do dr. Ariyaratne.
Pós-escrito de um antigo paraíso:
No dia 26 de dezembro daquele mesmo ano, quando eu estava sentado em segurança em Marthas Vineyard escrevendo, o Sri Lanka vivenciou um acontecimento que literalmente varreu a vida de lá como eu havia visto, e imagino que deva ter feito com que eles passassem a questionar sua fé no dente. O Sri Lanka sofreu o impacto direto do quarto maior tsunamí do mundo desde 1900. O tsunami ganhou força ao atravessar a baía de Bengala desde o seu epicentro ao norte de Sumatra, aparentemente mirando seu alvo em Batticaloa e o litoral nordeste do Sri Lanka. Esse tsunami provocou mais mortes do que qualquer outro em toda a história. Das mais de 150 mil pessoas mortas naquela parte do mundo, estimam que 35 mil eram do Sri Lanka.
Reportagens feitas direto daquela região eram poucas. A melhor cobertura veio do meu bom amigo Jeff Greenwald, jornalista de Oakland, autor de Shopping for Buddhas entre outros livros, e fundador de uma organização respeitada chamada Viajante Ético. Ele se ofereceu para trabalhar no Sri Lanka como voluntário, de assessor de mídia para Mercy Corps, um grupo beneficente de Portland, Oregon. As reportagens que ele registrou em seu site na rede, EthicalTraveler.org eram muito dolorosas de ler e tratavam de questões que perturbavam a nós todos. Um pequeno trecho aqui.
A nossa ida de carro pelo litoral rumo ao norte até Batticaloa é interrompida por diversos desvios e retrocessos. Passamos pelo meio de uma cidade e viajamos nove quilômetros difíceis pela estrada arruinada, só para nos deparar com a ponte destruída. Ilustrado
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com violenta claridade é o rastro da onda assassina. Todo o litoral do Sri Lanka está um desastre. As vezes os danos aparecem na costa, às vezes se estendem para o interior, mas é praticamente universal. Muitas casas de veneração - budistas, hinduístas, cristãs e muçulmanas - foram poupadas, mas nem todas. Um pouco ao norte de Thirrukovil encontramos um templo hindu atingido pelo tsunami. Estátuas coloridas e partes de pinturas espalhados à beira da estrada como um buquê desfeito.
Isso tudo me faz pensar mais uma vez se eu teria compreendido — quando o mar retrocedeu, expondo o fundo até muito longe — o que vinha depois. A verdade é que não sei. Nenhum de nós teve qualquer sensação do que precede um tsunami, já que nunca presenciamos um na vida. Os filmes sobre tragédias não mostram o mar recuando; é apenas uma enorme onda que chega e arranca táxis e placas de anúncio das ruas. Será que eu ia correr para ver de perto os recifes expostos, maravilhado, ou correria na outra direção? Não há como saber se teria sido salvo pela minha intuição ou morto pela minha curiosidade.
Fiquei meses me lembrando das estradas por onde passei, os lagos por onde caminhei, as praias por onde passeei — tudo destruído. Mas pensava mais nas pessoas que tinha conhecido e ficava imaginando como estavam vivendo, se é que tinham sobrevivido. Levei algum tempo para criar coragem, mas finalmente telefonei para o dr. Ariyaratne, que estava nos Estados Unidos fazendo palestras e levantando recursos para o esforço de salvamento e reconstrução. Ele me disse que milagrosamente nenhum membro da equipe de Batti-caloa com quem eu havia passado aquele tempo tinha morrido.
- Mas, sim - disse ele -, vidas foram perdidas. Uma pré-escola que construímos ficou inteiramente destruída. As crianças, os professores, tudo.
Buscando alguma compensação eu disse:
- Bem, isso deve ter promovido uma união no país e dado uma nova perspectiva à guerra civil, não?
- Nas primeiras duas semanas houve cooperação entre o LTTE e os cingaleses - respondeu ele. - Mas depois os tâmeis
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declararam que estavam sendo discriminados, acusaram o governo de cortar os suprimentos que seriam destinados a eles. Na verdade o tsunami ampliou a distância.
E era verdade mesmo. Fiquei sintonizado com os noticiários: o número de assassinatos com motivação política aumentaram, não diminuíram, no rastro do tsunami. O LTTE não foi a única facção que aproveitou a ocasião daquela enorme tragédia para incrementar a cisão. Eu li, incrédulo, numa nota de janeiro de 2005 da agência de notícias France Presse que mesmo os inexpressivos muçulmanos estavam apontando dedos acusadores.
Deus assinou Seu nome no tsunami que fustigou o Sri Lanka e outros países no dia 26 de dezembro e enviou essa calamidade como castigo para os seres humanos que ignoravam Suas leis, dizem os muçulmanos do Sri Lanka. A prova disso, segundo Mohamed Faizeen, administrador do Centro de Estudos Islâmicos de Colombo, é uma imagem de satélite fotografada segundos depois do tsunami se abater sobre a costa oeste do Sri Lanka perto da cidade de Kalutara, e o retorno da água.
— O desenho mostra claramente o nome "Alá" em árabe - disse Faizeen, apontando para o formato das ondas, um gigantesco "E", completo, com redemoinhos e ondas menores que realmente parecem se combinar para formar o nome em árabe de "Alá".
Nesse meio tempo, Sarvodaya atendeu ao chamado daquela situação. Poucas horas depois da grande onda, abriu um centro de operação nacional que nos três meses seguintes distribuiu o equivalente a meio milhão de dólares de ajuda humanitária. Por esse trabalho foi indicado para o Quadro de Honra do HABITAT 200$ da ONU, cujos nomeados "se destacam com seu compromisso pela causa de promover o bem-estar das comunidades com formas inovadoras de reduzir a pobreza urbana e de oferecer auxílio para as vítimas de desastres como o tsunami do oceano Indico".
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TATUAGENS, PEGA-VARETAS E IMITAÇÃO DE MONGES
A mistura criativa do budismo tailandês
Enquanto houver monges vivendo alegremente na floresta, ao pé das árvores, o caminho daquele que despertou não será esquecido.
O BUDA, "DlGHA NlKAYA II"
Acredito que uma lâmina de grama não representa menos do que a trajetória das estrelas em um dia.
Walt Whitman, Leaves of Grass (Folhasderelva)
0 budismo às vezes é comparado com a água. A água é pura e clara, transparente. Mas é só acrescentar algum corante nela que fica tingida. Beba e verá que não tem gosto. Acrescente qualquer sabor e ela terá esse sabor. Agarre-a e ela se esvai entre seus dedos. Não tem forma própria. Derrame em um copo e ela adquire a forma do recipiente. E assim é também o budismo. O budismo é transparente: não tem dogma e é livre de qualquer ponto de vista teísta. No curso de sua história o budismo adquiriu a forma cultural de cada país recipiente para o qual migrou. Embora mantenha algumas características que o tornam reconhecível da era de Buda na índia, o budismo também adapta elementos exclusivos de cada novo lugar e de novos tempos. É maleável, transparente, flexível, inclusivo, não exclusivo. Essa adaptabilidade é a razão de
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o budismo ter obtido sucesso em todos os países e todas as culturas da Ásia.
Passei a entender com maior clareza o que isso significa na Tailândia, um país onde 94 por cento da população de 64 milhões é budista, um país tão comprometido com o budismo que pela constituição nacional o rei é obrigado a ser budista.
Aqui também tive de me confrontar com a diferença entre a separação norte-americana da Igreja e do estado e a completa integração das duas coisas em um país cujo nome foi trocado em 1949, de Sião (que em thai significa livre, portanto Terra dos Livres). A minha conclusão: os dois países são completamente hipócritas. Por exemplo, por que os presidentes norte-americanos terminam seus discursos à nação com: "Que Deus abençoe a América" - como se Deus pudesse aprovar as ações militares dos Estados Unidos em todo o mundo? E por que a expressão "sob Deus" foi acrescentada à Promessa de Fidelidade (Pledge of Allegiance) em 1954, de fato contradizendo a liberdade religiosa que garante a Constituição dos Estados Unidos? Os budistas, muçulmanos e hinduístas norte-americanos que não acreditam nesse Deus específico, ainda são norte-americanos patriotas. E como poderia a Tailândia, que exige que seus reis façam um retiro espiritual como parte de sua preparação, ter atacado a Birmânia e o Camboja repetidamente nos séculos XIII e XIV destruindo a cidade cambojana de Angkor Wat em 1389? Como carma é carma, o favor foi devolvido quando os burmeses invadiram o país que se chamava Sião no século XVI, e em 1766-1767 capturaram a capital de Ayuthaya e dizimaram seus templos e estátuas budistas.
Deixando de lado essas incoerências, desde a história mais antiga da Tailândia o budismo está inextricavelmente amarrado a esse belo país cercado por Mianmar (antes Birmânia), Malásia, Camboja e Laos. Aceitando a lenda de que o rei Ashoka enviou monges para "a terra dourada" no século III a.C, ou a prova arqueológica de que as comunidades monásticas budistas se estabeleceram a sudoeste do que é hoje Bangcoc no século IV d.C, o consenso é que o budismo que se desenvolveu aqui foi uma mistura de muitas práticas.
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"O budismo na Tailândia só pode ser descrito como eclético", escreve Donald Swearer, professor de religião no Swarthmore College, em The Encyclopedia of Buddhism. "Parte da influência cultural indiana na 'grande índia' dos elementos mahayana, tan-tra e escolas de budismo mais ortodoxas penetraram em diferentes regiões da Tailândia... Essas diversas expressões budistas, por sua vez, competiram com o bramanismo, o hinduísmo e com os animismos autóctones. Em vez de tender a uma linhagem sectária organizada, o amálgama religioso mais antigo na Tailândia e em outras partes do Sudeste da Ásia talvez seja melhor descrito como uma colagem sincretista de relíquias milagrosas e de monges carismáticos, dharmasastra hinduísta, divindades bramânicas, budas mahayana, práticas tântricas e as tradições do sânscrito sarvastiva-din e do pali theravada."
Eu não poderia reconhecer a metade do que ele estava citando, mas realmente vi alguns exemplos dessa mistura assim que cheguei. Não era nada parecido com o budismo que eu tinha visto nos Estados Unidos ou na Europa, na índia ou no Sri Lanka até o momento.
No meu primeiro dia, do lado de fora de Wat Maha Budre, um templo à margem do canal Saen Saep em Bangcoc, vi uma série de barraquinhas onde astrólogos e cartomantes de baralho taro e quiromantes anunciavam seus serviços, ao estilo feirante. Todas as pessoas com quem falei confirmaram ser budistas e disseram que os serviços que prestavam eram integralmente relacionados com o budismo.
- Como? - perguntei inúmeras vezes, mas ninguém pôde explicar.
O meu mediador, Prasong Kittinanthachai, ficou desconcertado pelo fato de eu ter ficado desconcertado com o fato de aquelas pessoas realmente pensarem que aquilo podia ser parte do budismo.
- O Buda tratava especialmente da realidade, de ver as coisas como elas são, não esse tipo de baboseira mística - disse eu, como se agora, depois de ter viajado por três países inteiros, eu fosse um renomado estudioso do budismo. Era, simplesmente, uma supo-
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sição racional e eu disse isso com essa convicção. No entanto, se o budismo vinha da índia, onde as origens da astrologia derivam da cultura védica que data de 3 mil a.C, então era bem possível que tivesse mesmo um lugar na compreensão cosmológica do Buda.
Prasong, um homem magro de 30 e tantos anos, que fazia mestrado de budismo, olhou para mim com uma expressão com a qual não consegui me acostumar nos dez dias que ele viajou comigo - as pálpebras abaixavam um pouco e indicavam ao mesmo tempo paciência e desprezo pela minha ignorância.
Na frente de Wat Maha Budre havia outro templo menor, e vi um monge sozinho dentro dele.
- Vamos conversar com ele - sugeri.
- Está bem, mas você não pode entrar de mãos vazias - avisou Prasong. - Tem de levar alguma espécie de dádiva.
Convenientemente, bem ao lado da porta do templo havia um vendedor de baldes brancos cheios de budas de plástico muito bregas e outras quinquilharias. Havia duas pilhas, e desconfiei de trapaça.
- Você está participando disso? - perguntei para Prasong. Ele olhou para mim daquele jeito. Comprei o mais barato e
entramos. Lá dentro a cena lembrava um cenário que Sam She-pard poderia ter criado depois de analisar demais os murais de Hieronymus Bosch. O monge mais desgrenhado que eu já tinha visto estava sentado numa almofada no meio do que parecia um depósito lotado de coisas em desordem e iluminado por uma lâmpada fluorescente. De um lado havia uma pequena TV que mal sintonizava uma estação que soava aos berros uma música pop anasalada da Tailândia. Atrás dele havia todos aqueles baldes brancos em duas pilhas também. Uma era dos baldes que ele havia recebido aquele dia. A outra eram os baldes que voltavam para a pilha de "entrada" do vendedor, para serem revendidos. Dessa vez dei para Prasong o meu olhar.
- Isso não importa - disse ele com certeza teológica. - É o gesto de dar alguma coisa para o respeitado mestre espiritual que é importante.
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Eu estava pensando que o dinheiro poderia ser melhor empregado pagando para ele um bom decorador de interiores e um gerente de marketing bem ladino.
O monge não disse nada de valor e na verdade até pareceu se aborrecer de ser recrutado para qualquer tipo de questionário sobre religião.
Dali nós fomos para outro pequeno templo na mesma praça, onde Prasong explicou o que parecia um jogo de pega-varetas. Aquilo era adivinhação sem o adivinho. Chama-se SiengSeam See. Numa pequena caixa há cerca de dez a vinte varetas numeradas, cada número corresponde a tiras de papel numeradas numa prancha. Você sacode a caixa cheia de varetas até uma cair (se cair mais de uma, tem de fazer de novo). Veja o número da vareta e procure o mesmo número nas tiras de papel, onde estão escritas breves previsões sobre a sua vida, amor ou trabalho. Parecia um cruzamento do jogo das moedas de I Ching, os biscoitos da sorte chineses e, ah, sim, pega-varetas - mas com implicações gigantescas, capazes de mudar sua vida. Experimentei. Eis a mensagem que tirei:
"Continue se empenhando, você receberá sua recompensa em breve. Caso com a lei não é favorável. O estado do paciente está piorando. Boa sorte e apoio estão chegando."
Era Eminem que eu ouvia canalizado pela estátua do Buda na frente do templo? Talvez houvesse algum fundo de verdade naquilo tudo afinal, a recompensa que chegaria logo para o trabalho árduo, o meu problema das costas, a esperança obstinada de que a sorte estaria chegando na forma de uma mulher linda e amorosa - tudo isso e mais, previsto com um movimento simples do pulso e uma vareta que cai. O budismo é ou não é espantoso? Procurei evitar julgar e quis deixar meu cinismo de lado. Mas vindo de uma cultura ocidental (insira o adjetivo implícito "racional" aqui), em que as teias de aranha da superstição tinham sido varridas (exceto os horóscopos em todos os jornais e nas revistas femininas), eu achava difícil aceitar aquilo, mais difícil ainda nos templos budistas. Mas para o povo tailandês, aquilo fazia parte da prática deles como, digamos, comer em ritual uma hóstia seca,
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fina e sem gosto e chamá-la de "o corpo de Cristo" fazia parte de outra religião.
O calor em Bangcoc era torturante. Saí do meu hotel bem cedo de manhã e levei um tapa na cara de uma toalha fumegante. Por sorte o meu hotel, o Four Seasons Bangkok, era um dos mais lindos em que eu tinha me hospedado, por isso procurei intercalar as minhas saídas com voltas freqüentes para o hotel, para o meu ecossistema com ar perfeitamente condicionado. Tinha resolvido extrapolar minha despesa de hotel na Tailândia e dar a mim mesmo umas miniférias no meio das minhas viagens. Esse hotel não poderia ser melhor escolha. Localizado bem no centro, próximo do Sky Train, tinha uma piscina comprida ao ar livre, um spa interno com uma cachoeira na Jacuzzi (para a qual as minhas costas se curvavam suavemente a fim de demonstrar minha gratidão) e um ótimo restaurante chamado Spice Market que servia pratos da culinária nacional. Além disso aqueles mimos top de linha do Four Seasons, aos quais não é nada difícil se apegar. Meu quarto de imprensa de luxo incluía acesso ao salão executivo. O que queria dizer que eu tinha uso ilimitado de acesso à Internet com alta velocidade, essencial para marcar a próxima etapa da minha viagem para Hong Kong, para a China e para o Japão. E se acertasse bem meus horários podia aproveitar o café da manhã, o almoço e o jantar do bufê de cortesia, com a atraente equipe do Four Seasons me paparicando o tempo todo. Apesar de ter estranhado ao ouvir histórias de antigos redatores da National Geographic que faziam entrevistas com nativos aborígines no bar de seus hotéis cinco estrelas em lugares como Perth, na Austrália, agora eu compreendia num nível bem básico a necessidade de às vezes garantir o nosso conforto material quando estamos viajando semanas e meses a fio, com ou sem PC.
Numa manhã bem cedo, depois de uma nadada, uma verificação de e-mails e uma porção saudável de gravlax, arrisquei sair do meu paraíso para um shopping ali perto cuja loja âncora tinha o nome bastante inapropriado de Zen. Fora o nome, eu podia
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estar no Livingston Mall em Nova Jersey, ou no Fashion Island Shopping Center em Newport Beach, na Califórnia. Os consumidores eram tão furiosos e tão ligados em liquidações como nos Estados Unidos, davam cotoveladas uns nos outros enquanto fuçavam as gôndolas de promoções. Não consegui detectar nenhuma vibração zen naquele lugar. Na verdade, Bangcoc inteira — uma cidade estrangulada pelo trânsito, que sofre de poluição sonora e do ar e que parece eternamente em obras - recendia a consumismo.
— Sim, nós cedemos para o consumismo também — disse Sulak Sivaraksa, fundador da Rede Internacional de Budistas Engajados (INEB), querendo implicar o país dele e o meu também na avenida Madisonização do budismo. - Não se pode evitar.
Ele deu como exemplo local o Wat Dhammakaya, propagandeado como o maior templo budista, propaganda essa que ouvi em referência a outras stupas por todo o mundo também.
- O maior e com a melhor acústica, com maior número de seguidores. Entendo que quanto mais contribuições você pagar, mais poderá olhar para o Buda lá. Essa mentalidade do budismo combina muito bem com a tendência para o consumismo e o capitalismo.
Um dos mais astutos observadores da Tailândia, Sivaraksa é, aos 71 anos de idade, autorizado a conjeturar sobre a sociologia do budismo tailandês. Junto com Thich Nhat Hanh, Bernie Glass-man, A. T. Ariyaratne e o Dalai Lama, ele é reconhecido como um dos proponentes mais importantes do mundo do budismo socialmente engajado. Proeminente e extrovertido intelectual e crítico social tailandês, ele foi professor, catedrático, editor, ativista e fundador de muitas organizações não governamentais, e já escreveu mais de cem livros e monografias. Em 1976, o Sião — como prefere chamar seu país, em vez da atual adaptação anglicizada - sofreu seu golpe mais sanguinário. Centenas de estudantes foram mortos e milhares foram presos. Os militares incendiaram todo o estoque de livros da livraria de Sivaraksa e expediram um mandado de prisão para ele. Ele foi forçado a permanecer no exílio por dois anos. Em 1984 foi preso sob acusação de criticar o rei, mas protestos
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internacionais acabaram conseguindo sua libertação. Em 1991 outro mandado foi expedido e ele partiu mais uma vez para o exílio político. Voltou para se defender no tribunal em 1992 e venceu em 1995. Foi duas vezes nomeado para receber o Prêmio Nobel e recebeu em 1995 o Right Livelihood Award, também conhecido como Prêmio Nobel Alternativo. Quando nos conhecemos no que tinha sido a fazenda da avó dele, hoje sede do seu trabalho internacional, ele acabava de retornar de um mês no Smith College em Northampton, Massachusetts, como professor convidado e participante de uma conferência com o título atraente de "Transbu-dismo: transmissão, tradução, transformação". A palestra dele foi: "Identidade budista no mundo moderno".
Alan Senauke, diretor do Buddhist Peace Fellowship (BPF), uma organização internacional com sede em Berkeley, Califórnia, havia recomendado que eu conhecesse Sivaraksa. Sua ONG Sathirakoses-Naga-pradeepa Foundation, foi fundada em 1968 para trabalhar com o povo em níveis nacional, regional e internacional questões de liberdade, direitos humanos, integridade da cultura tradicional, justiça social e proteção ambiental - tudo isso dentro de um contexto espiritual, na maior parte budista. Tornou-se o alicerce central para diversas organizações semelhantes, inclusive o INEB, fundado em 1987 como a primeira rede internacional budista que ligava os budistas engajados no mundo inteiro. O INEB trata de educação alternativa e ensino espiritual, questões de gênero, direitos humanos, ecologia, conceitos alternativos de desenvolvimento e ativismo.
Um homem atarracado, com a pele lisa e rosto angelical, Sivaraksa não é modesto.
— Sim, posso dizer que a idéia do Buddhist Peace Fellowship foi minha - ele me disse. - Desafiei a comunidade budista norte-americana: "Vocês sentem-se e fiquem calmos e calados. Vocês são seis por cento da população mundial, no entanto representam 47 por cento de todos os recursos do mundo. Se não fizerem nada pelos problemas do mundo, não estarão praticando o budismo."
O BPF começou em 1978 no Havaí, liderado por um grupo de zen-budistas norte-americanos e europeus "para servir como
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