. Acesso em: 13 mar. 2015.
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Brincantes ao som do gonguê
Observe a imagem a seguir.
Figura 4
Os membros de um grupo de Maracatu tocam seus instrumentos na cidade de Olinda, Pernambuco, no Carnaval de 2011.
Jorge Silva/Reuters/Latinstock
Agora, leia o trecho da letra de música.
Toque o gonguê, balance o ganzá
É no baque virado que o Estrela vai passar
Cante sinhá, toque sinhô
Sou afro-africano e também Nação Nagô
Trecho da letra da música Toque o gonguê. FRANÇA, Walter. Toque o gonguê. Intérprete: Maracatu Nação Estrela Brilhante do Recife. In: ______. Maracatu Nação Estrela Brilhante do Recife. Recife, produção independente, 2002. Disponível em: . Acesso em: 13 mar. 2015.
Como seu corpo reage ao ouvir uma música bem ritmada? Será que você se transforma em um brincante?
AMPLIANDO
Brincante é uma palavra usada para fazer referência à pessoa que brinca, que participa de manifestações artísticas e culturais populares, como a congada, o reisado, a catira, as cavalhadas, as festas de boi, maracatu e outras tradicionais da nossa cultura.
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Sons, ritmos e movimento!
São tantos os sons de instrumentos que nos convidam ao movimento. Pode começar com um gesto tímido, só um dedinho, o calcanhar, a cabeça, os ombros... Depois, balança para cá e para lá e, quando você se dá conta, seu corpo se pôs a dançar.
De onde vem essa vontade, esse impulso de dançar?
Observe a imagem a seguir.
Figura 5
Cenas de dança e caça em pintura rupestre no sítio arqueológico Xique-Xique, Sertão do Seridó, Carnaúba dos Dantas, Rio Grande do Norte. Foto de 2014. Na imagem da direita, detalhe ampliado.
Fotos: André Dib/Pulsar
Olhando para as pinturas dessa imagem, o que você percebe?
O que as pessoas retratadas nessas imagens estão fazendo? Estão dançando? São cenas de caça ou uma forma de trazer bons presságios para viver o dia a dia em um tempo distante do nosso? Será uma forma de festejar ou de rezar?
É difícil dizer com certeza o que representam realmente, mas são curiosas essas imagens traçadas sobre as rochas.
No passado, no período chamado Pré-História, as pessoas já dançavam. É o que mostram os estudos sobre essas imagens de arte rupestre encontradas no sítio arqueológico Xique-Xique, que fica lá no Sertão do Seridó, em Carnaúba dos Dantas, município do Rio Grande do Norte.
E a vontade de fazer música, de onde vem?
AMPLIANDO
A arte rupestre caracteriza imagens criadas por meio de gravação, traçado e pintura sobre suporte rochoso. Refere-se também à arte visual da Pré-História.
Sítio arqueológico é o lugar onde estão imagens, objetos, documentos e outros materiais importantes para o estudo da história, da ciência, da cultura e da arqueologia. Assim que descobertos, esses locais são catalogados e preservados. Em alguns casos, são tombados como patrimônio cultural, histórico e científico da humanidade.
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Tema 2 - Histórias dançadas e cantadas
Observe a imagem a seguir.
Figura 6
Maracatu rural, de Bebeth, 2009. Óleo sobre tela, 60 cm × 73 cm.
Bebeth. 2009. Óleo sobre tela. Galeria Jacques Ardies, São Paulo
No Brasil, muitas histórias podem ser contadas por meio de danças, ao ritmo dos sons do gonguê, do agbê (também conhecido como xequerê), de tambores, de ganzás... manifestações artísticas e culturais que podemos ver também nas formas e cores de pinturas naïfs, como nas obras acima e a seguir.
Imagine a história! Uma única bandeira para todo o território brasileiro, um chefe acima de todos os chefes e uma família maior que todas as famílias eram ideias que precisavam ser propagadas pelos colonizadores. Todos precisariam saber que havia uma monarquia, que tinha a força da lei, da ordem e do comando sobre tudo e todos no território conquistado.
AMPLIANDO
Pinturas naïfs são imagens criadas em diferentes materiais por artistas autodidatas, que aprenderam por conta própria. Trata-se de uma arte espontânea em que não são seguidas regras rígidas na construção de imagens. Na arte naïf, o que vemos são diferentes estilos, temas e poéticas que expressam percepções de mundo de modo simples e puro. O termo naïf vem do latim nativus, que significa nascente, natural e espontâneo.
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Todavia, a coroa portuguesa não foi a única a reinar em terras brasileiras. Antes mesmo de ser país, com o nome de Brasil, caciques governavam suas tribos indígenas. Depois da colonização, grandes líderes viveram e reinaram em nossas terras para além do que era oficial, ou seja, do que era legítimo para a coroa portuguesa.
Figura 7
Frevo pernambucano, de Antonio Militão dos Santos, 2012. Óleo sobre tela, 70 cm × 50 cm.
Antonio Militão dos Santos. 2012. Óleo sobre tela. Coleção particular
Danças e cantos que contam histórias
As histórias e lendas de amor e de lutas, de reis pobres e reis escravizados passaram a ser exaltadas com alegria, transformadas em festas e cultura do povo, como podemos ver na obra acima. Inspirados cancioneiros criavam melodias e versos cantados; costureiras e bordadeiras faziam as coloridas vestes para festejar. Em cada canto, o povo se enfeitava como podia. As pessoas imaginavam, criavam e improvisavam. Juntavam instrumentos, roupas e fitas coloridas e lançavam-se à música, à dança e
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à celebração. E o tempo encarregou-se de dar a essas festas, culturas e acontecimentos o nome de “tradição”.
Assim, chamamos o maracatu, a congada, o reisado, a catira, as cavalhadas, as festas de boi (como o boi de mamão e o boi de reis), o baile sulista e muitos outros eventos como esses de cultura popular tradicional, pois foi do povo que surgiram. A repetição dessas comemorações, com o passar dos anos e da comunicação entre as gerações, transformou-as em algo tradicional dessas culturas.
Há muita arte na realeza poética do povo brasileiro, propagada por todo o território no decorrer dos séculos. As sonoridades misturam-se. Da floresta, da caravela, do navio negreiro, dos piratas e de imigrantes além-mar originaram-se as sementes da cultura popular do Brasil.
Vamos nos deparar com um interessante encontro no chão artístico de nossa terra: um rei negro celebrado nos tambores, danças e cores do maracatu.
AMPLIANDO
Na arte, a poética pode ser compreendida como o conteúdo de um discurso expressivo em uma linguagem. Também é a expressão de um indivíduo ou de um coletivo, conforme seus repertórios culturais e suas vivências.
Figura 8
Andrea Teixeira Leite. 2014. Acrílico sobre tela. Coleção particular. Foto: Isabella Matheus
Ciranda de gente, de Andrea Teixeira Leite, 2014. Acrílico sobre tela, 50 cm × 70 cm.
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MUNDO CONECTADO
- A geografia da dança
A Geografia pode ser uma ótima amiga em nosso estudo. Que tal criar um grande mapa do Brasil cheio de cultura popular tradicional?
Para que todos possam ver os lugares onde a cultura popular tradicional está e suas diferentes manifestações, você e os colegas podem criar mapas com essas informações. Depois de prontos, esses mapas podem ser usados em um jogo informativo e divertido.
Agora, crie o seu mapa do Brasil. Baseie-se em um mapa original, como os usados nas aulas de Geografia. Peça ajuda aos professores.
Figura 9
Figura 10
Ilustrações: Leonardo Conceição
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Figura 11
Leonardo Conceição
Pesquise os nomes do lugar, da cidade, do estado, da região e a cultura, a arte e as manifestações tradicionais, principalmente as maneiras de dançar, cantar, criar imagens, instrumentos e outras atividades artísticas de cada lugar do país. Você pode desenhar ou escrever dicas e palavras-chave (como bonecões, foliões, guarda-chuvas coloridos, passos de dança) para marcar as características artísticas e culturais de cada lugar em uma folha de papel, que será a resposta. Em outra folha, coloque perguntas ou charadas, que serão o desafio. Exemplos:
⋅ O que é, o que é? Tem gente que dança com um guarda-chuva na mão.
⋅ O que é, o que é? Tem corte de rei e muita gente a batucar.
⋅ O que é, o que é? Tem boi bem arrumado na rua a dançar.
Coloque esses papéis dentro de envelopes. Um para as perguntas e outro para as respostas e tarefas a fazer, como dançar (em algum ritmo brasileiro pesquisado, como congada, jongo, umbigada, coco, samba, entre outros), contar uma história, cantar uma música e outras prendas a cumprir para deixar o jogo mais divertido.
Combine com os colegas e professores as regras da pesquisa e do jogo. Use um dado para jogar e escolha um número para cada região do Brasil. Exemplo: 1 para região Centro-Oeste, 2 para o Nordeste, 3 para o Norte, 4 para o Sul e 5 para o Sudeste. O número 6 pode ser o coringa, em que o jogador pode escolher a região que quiser.
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Tema 3 - Ouvido musical
Observe a imagem a seguir.
Figura 12
Imagem de apresentação de maracatu na Barra de Ibiraquera, em Ibituba, Santa Catarina, 2012.
Leo Drumond/Nitro Imagens/Latinstock
Agora, leia este trecho de letra de música.
[...]
Absurdo, o Brasil pode ser um absurdo
Até aí tudo bem, nada mal.
Pode ser um absurdo, mas ele não é surdo
O Brasil tem ouvido musical
Que não é normal
[...]
Trecho da música Love, love, love. VELOSO, Caetano. Intérprete: Caetano Veloso. In: _____. Muito (Dentro da Estrela Azulada). Rio de Janeiro: Polygram, 1978. LP. Lado B, faixa 8.
O cantor e compositor baiano Caetano Veloso (1942), em sua música Love, love, love (1978), fala ironicamente do seu espanto sobre coisas absurdas que vê – e critica – em nosso país, mas faz um elogio ao povo brasileiro, ao dizer da nossa sensibilidade especial para a música. Um povo que nasceu de muitas etnias desenvolveu-se em muitos ritmos.
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Música de estilos múltiplos
Os brasileiros são, em geral, considerados possuidores de um ouvido privilegiado e de uma sensibilidade musical especial, muito rica, diversa e original. Em nosso país, escutamos e criamos ritmos e expressões musicais muito distintas, como samba, xaxado, rock, forró, frevo, lambada, sertanejo, funk, baião, ciranda, repente, coco, embolada, catira e, entre tantos outros, o maracatu. Já citamos essa palavra algumas vezes nesta unidade, mas... afinal, o que é maracatu?
Leia o trecho de outra letra de música a seguir.
Marinheiros, capitães, negros sobas
Rei do congo, a rainha e seu povo
[...]
A nação maracatu, nosso tema geral
Vem do negro esta festa de Reis
Trecho da letra da música Reis e rainhas do maracatu. NASCIMENTO, Milton; NOVELLI; ANGELO, Nelson; FRAN. Reis e rainhas do maracatu. Intérprete: Milton Nascimento. In: ______. Clube da esquina 2. Rio de Janeiro: EMI/Odeon, 1978. Álbum duplo. Faixa 11.
Maracatu é um ritmo musical e também uma importante manifestação da cultura popular nordestina, originado em Pernambuco. Como muitas das expressões criativas brasileiras, ele integra contribuições da cultura africana, europeia e indígena. Na forma tradicional, ele apresenta música, dança e figurinos especiais, com os participantes deslocando-se em bloco, cantando e dançando coreografias típicas.
Originalmente, grupos de negros que foram escravizados no Brasil elegiam um rei e uma rainha para representar, aqui, o país africano do Congo. Depois da coroação em uma igreja, acompanhavam os reis em procissão, com um batuque ritmado e potente, homenageando uma padroeira, geralmente a Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros no Brasil. Apesar de já terem se passado quase 400 anos da primeira manifestação e de muitas coisas terem mudado ao longo desse tempo, a tradição do evento permanece, com o desfile do grupo levando à frente, devidamente fantasiados, representantes do rei e da rainha, assim como príncipes, embaixadores, dançarinas e indígenas.
Embora os grupos de maracatu saiam no Carnaval, desfilem, dancem, fantasiem-se de personagens e, assim, assemelhem-se a blocos carnavalescos, o maracatu não possui coreografia nem enredo próprios.
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O maracatu do Chico Rei
Você sabia que há também uma música muito interessante chamada Maracatu do Chico Rei? Pois bem, ela foi criada por um compositor erudito brasileiro chamado Francisco Mignone (1897-1986). Na realidade, não é apenas uma música para ser escutada, mas sim um bailado – uma música composta para ser dançada. Ela foi concebida em 1933 e sua interpretação está a cargo de um coro, que é o conjunto de cantores, e de uma orquestra.
Figura 13
Apresentação da Orquestra Sinfônica Jovem e Coral Infantojuvenil de Camaçari, no Teatro Cidade do Saber (TCS), em Camaçari, Bahia, 2012.
Marilton Trabuco
Para a música Maracatu do Chico Rei, Mignone criou um tema marcante. O que é um “tema” na música?
Geralmente, “tema” em música corresponde a um trecho de melodia ou de ritmo que possui, por assim dizer, uma “personalidade” própria. É aquela parte da música que costuma ser repetida com frequência e, depois, quando a música acaba, fica ainda ressoando em nossa memória por algum tempo. Quando alguém fala os títulos Asa branca, Mulher rendeira, Hino Nacional ou Parabéns a você, em geral, a maioria das pessoas lembra imediatamente das melodias de cada uma dessas músicas. Pois bem, o tema musical de Maracatu do Chico Rei bem poderia fazer parte desse grupo. Ele foi encontrado há cerca de dois séculos e traz uma melodia escrita em dez compassos.
AMPLIANDO
Orquestra refere-se ao conjunto de músicos e seus instrumentos. As principais formações de orquestra são a orquestra sinfônica e a orquestra filarmônica. Apesar de terem nomes diferentes, são semelhantes como instrumental: um conjunto musical que compreende muitos instrumentos de cordas, sopros, metais e percussão. As orquestras tornam-se frequentes por volta de 1600 e, desde lá, vêm se modificando de acordo com a história da própria música. Assim, vários dos novos instrumentos que surgiram foram sendo incorporados, e sua sonoridade adaptou-se aos hábitos de escuta mais contemporâneos. As orquestras, inicialmente, eram formadas por poucos músicos, ao passo que hoje podem atingir mais de 100 instrumentos. Uma orquestra atual de tamanho médio pode conter, por exemplo: 24 violinos, 8 violas, 8 violoncelos, 4 contrabaixos, 3 flautas, 3 clarinetes, 3 oboés, 3 fagotes, 4 trompas, 4 trompetes, 4 trombones, 2 tubas, 1 piano, 1 harpa e vários instrumentos de percussão. Há outros tipos específicos de orquestra, de tamanhos e configurações diferentes, conforme o estilo musical escolhido.
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Figura 14
Ilustração de uma orquestra atual de tamanho médio.
Figura 15
Ilustração de instrumentos de uma orquestra atual de tamanho médio. Temos: (A) 24 violinos, (B) 8 violas, (C) 8 violoncelos, (D) 4 contrabaixos, (E) 3 flautas transversais, (F) 3 oboés, (G) 3 clarinetes, (H) 3 fagotes, (I) 4 trompas, (J) 4 trompetes, (K) 4 trombones, (L) 2 tubas, (M) 1 piano, (N) 1 harpa e (O) vários instrumentos de percussão (caixas, repinique, xilofone, carrilhão, cajon, atabaques, gongo, pratos, triângulo, entre outros).
Ilustrações: Leonardo Conceição
A
B
C
D
J
K
O
L
G
I
N
M
E
F
H
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Dica didática: neste momento, aproveite para apresentar aos alunos várias influências de manifestações populares na música, tanto erudita quanto popular. Pesquise e apresente aos alunos as músicas citadas aqui. Proponha uma conversação sobre esse material para trabalhar as competências de análise crítica e compreensão de contextos.
Vamos, mais à frente, compreender melhor o que é compasso. Por enquanto, veja o exemplo a seguir.
Figura 16
Trecho de partitura da música Chico Rei, com indicação dos compassos.
Partitura Gráfica, de C. Kater.
Compasso 1
Compasso 2
Compasso 3
Compasso 4
Compasso 5
Compasso 6
Compasso 7
Compasso 8
Compasso 9
Compasso 10
Outros artistas da nossa música brasileira também se dedicaram a cantar a história de Chico Rei.
O maracatu moderno
Ao lado do maracatu tradicional, encontram-se também expressões modernas do maracatu. Afinal de contas, tudo na vida está em constante renovação e nas artes e na cultura não seria diferente.
Durante muito tempo, o maracatu foi uma festa realizada somente no interior de algumas comunidades e, dessa forma, relativamente restrita ao seu estado de origem (Pernambuco).
Nos últimos anos, o maracatu vem ganhando reconhecimento nacional. Esse destaque é dado, por um lado, pelo fato de ocorrer, como evento festivo, em grandes cidades do Brasil, com grupos de maracatu saindo em comemorações durante o Carnaval. Por outro lado, pelo seu ritmo ter despertado o interesse de músicos e percussionistas da atualidade, sendo interpretado de maneira literal ou variada, servindo também como inspiração para novas e originais criações musicais.
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Por volta de 1990, no Recife, capital de Pernambuco, onde nasceu o ritmo e a festa do maracatu, o movimento cultural manguebeat (ou manguebit) utilizou como referência o maracatu.
Fusão das palavras mangue e beat, o manguebeat é caracterizado por uma mistura de maracatu com rock, hip-hop e música eletrônica, explorando de maneira original a fusão entre cultura nacional (como o maracatu) e cultura estrangeira (como o rock norte-americano), integrando tradição com modernidade.
Leia este trecho da letra de uma famosa música.
[...]
O bico do beija-flor, beija a flor, beija a flor,
E toda a fauna a flora grita de amor
Quem segura o porta-estandarte, tem a arte, tem a arte
E aqui passa com raça eletrônico maracatu atômico
Manamaiê, ô
Manamaiê, ô
Manamaiê, ô
Manamaiê, ê...
[...]
Trecho da letra da música Maracatu atômico. MAUTNER, Jorge; JACOBINA, Nelson. Maracatu atômico. Intérprete: Gilberto Gil. In: _____. Nightingale. Rio de Janeiro: Warner Music, 1979. CD. Faixa 7.
AMPLIANDO
Beat é uma palavra da língua inglesa que, em português, significa bater, batida. Na música, esse termo é usado geralmente para fazer referência ao toque, batida, cadência, ou seja, o jeito de tocar, bater, executar um ritmo.
Mangue é um ambiente formado por árvores de raízes longas que se espalham pelas areias à beira de rios próximos a litorais. Ambientes naturais ricos em crustáceos (principalmente caranguejos e siris), peixes e moluscos. No Brasil, muitas populações ribeirinhas e litorâneas vivem da extração de recursos desses locais.
Essa música, de modo muito original, presta homenagem a essa forma de expressão tradicional que é o maracatu. Composta por Jorge Mautner (1941) e Nelson Jacobina (1953-2012), ela se chama Maracatu atômico e já foi gravada por diversos intérpretes, como Gilberto Gil (1942) e Chico Science & Nação Zumbi.
Figura 17
Nelson Jacobina, com um violão, e Jorge Mautner, com um violino, em Niterói, em 2011. Parceiros na composição de várias músicas, entre elas, Maracatu atômico, nos anos 1970.
Paulinho Muniz
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A importância do maracatu reflete-se também por sua influência em outras formas de expressão essenciais na cultura brasileira, como é o caso do samba. O consagrado compositor e cantor brasileiro Jorge Ben Jor (1945) compôs, ainda jovem, a música Mas que nada, lançada em seu primeiro disco, Samba Esquema Novo, de 1963. Essa música do disco, ainda no formato LP (Long Play, mais conhecido hoje em dia como disco de vinil), tornou-se um grande sucesso, tendo sido regravada por muitos outros intérpretes, do Brasil e do exterior.
Jorge Ben Jor criou um estilo muito particular em suas composições e melodias, influenciado pelos mais variados estilos.
Leia o trecho da letra de música a seguir.
[...]
Ô ariá raiô, obá obá obá
[...]
Esse samba que é misto de maracatu
É samba de preto velho, samba de preto tu
[...]
Trecho da letra da música Mas que nada. BEN JOR, Jorge. Mas que nada. Intérprete: Jor Ben Jor. In: _____. Samba Esquema Novo. Rio de Janeiro: Philips, 1963. LP. Faixa 1.
Figura 18
Capa do disco Samba Esquema Novo, de Jorge Ben Jor, 1963.
Samba Esquema Novo. Jorge Ben Jor. Gravadora: Philips Records. 1963
E o nosso herói Chico Rei tornou-se também tema de escola de samba! Em 1964, a Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, do Rio de Janeiro, desfilou tendo por tema do samba-enredo esse herói.
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Leia a seguir um trecho da letra do samba, composto pelos autores Geraldo Babão (1926-1988), Djalma Sabiá (1926) e Jarbas Soares de Carvalho, irmão de Geraldo, mais conhecido como Binha.
Vivia no litoral africano
Uma régia tribo ordeira cujo rei era símbolo
De uma terra laboriosa e hospitaleira
Um dia, essa tranquilidade sucumbiu
Quando os portugueses invadiram
Capturando homens
Para fazê-los escravos no Brasil
[...]
Ao longe, Minas jamais ouvia
Quando o rei, mais confiante
Jurou à sua gente que um dia os libertaria
Letra da música Chico Rei. BABÃO, Geraldo; SABIÁ, Djalma; BINHA. Chico Rei. Intérprete: Martinho da Vila. In: _____. Martinho da Vila – Voz e coração. Rio de Janeiro: Sony Music, 2002. CD. Faixa 13.
Veja uma imagem do desfile sobre Chico Rei.
Figura 19
Imagem do desfile da Acadêmicos do Salgueiro, cujo tema foi Chico Rei. Rio deJaneiro, 1964.
Arquivo/Agência O Globo
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MUNDO CONECTADO
- O poeta curioso
Nas aulas de Língua Portuguesa, você provavelmente verá algum poema de Mário de Andrade (1893-1945), retratado na pintura de Tarsila do Amaral, reproduzida a seguir. Vá à biblioteca da sua escola e veja se há livros com poemas, contos ou pesquisas folclóricas desse importante poeta e estudioso da arte e da cultura do Brasil. Além de muito talentoso na arte da escrita, era muito curioso. Talvez por isso tenha realizado tantas pesquisas sobre as raízes da nossa língua, trazida pelo povo português e que, aqui, se misturou com palavras de origens indígenas e africanas.
Podemos encontrar referências valiosas ao maracatu no livro Danças dramáticas do Brasil, escrito com base em pesquisas feitas no início do século XX por este reconhecido poeta e musicólogo brasileiro, Mário de Andrade (2. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2002 – Edição Comemorativa). Ele menciona sobre a possível origem americana que esse termo pode ter, derivando-se de maraca, que é um instrumento típico de percussão dos indígenas brasileiros, e catu, que em tupi significa “bom”, “bonito”. Aprofundando-se na pesquisa ainda mais, Mário de Andrade nos diz que marã significa “guerra” ou “confusão”, e assim considera, então, que o significado final possível para maracatu seria “guerra bonita”, integrando nessa expressão o engajamento de um combate com a beleza da festividade.
Que tal ser um pesquisador do folclore, como Mário de Andrade? Na sua região, quais são as manifestações populares? Que músicas são cantadas? Sobre o que falam? Quais são os instrumentos utilizados para tocá-las? A que manifestação cultural tradicional essas músicas estão ligadas? É possível saber quem são os compositores?
O material recolhido por projetos de Mário de Andrade em andanças pelo Brasil foi reunido em CDs e acervos de discoteca em centros culturais e museus. Inspirados nas extensas pesquisas dele, que tal você e os colegas criarem um CD com músicas folclóricas da sua região?
Para conhecer as pesquisas de Mário de Andrade e ouvir músicas de várias partes do Brasil, acesse a página Mário de Andrade – Missão de pesquisas folclóricas, no site do Sesc São Paulo. Disponível em:
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