Português 8º ano



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. Acesso em: 13 mar. 2015.

Fig. 1 (p. 39)

Edvard Munch. O grito, 1893. Óleo, têmpera e pastel sobre cartão, 91 cm × 73,5 cm. Nasjonalgalleriet, Oslo, Noruega.

Nasjonalgalleriet, Oslo, Noruega/ID/ES

2. Você vai ajudar a polícia a desvendar esse crime.

a) Reúna-se em grupo com quatro alunos.

b) Elejam uma pessoa famosa para ser o possível ladrão dos quadros.

c) Em seguida, formulem algumas pistas para que os colegas de classe possam adivinhar quem é o ladrão.

d) Os alunos fazem as perguntas e o grupo responde apenas “sim” ou “não”.

e) O aluno que primeiro descobrir quem é o ladrão vence o jogo.

Boa investigação!

PARA SABER MAIS

Livros

Um estudo em vermelho, de Conan Doyle. Editora L&PM.
Acervo PNBE

Fig. 2 (p. 39)

L&PM Pocket/Arquivo da editora

UM ESTUDO EM VERMELHO

Assassinato no Expresso do Oriente, de Agatha Christie. Editora Nova Fronteira.

Fig. 3 (p. 39)

Nova Fronteira/Arquivo da editora

Agatha Christie

O coração revelador, de Edgar Allan Poe. Editora Melhoramentos.

Fig. 4 (p. 39)

Melhoramentos/Arquivo da editora

EGDAR ALLAN POE

Criatura contra criador, de Sarah K. Edições SM.

Fig. 5 (p. 39)

Edições SM/Arquivo da editora

CRIATURA CONTRA CRIADOR

Página 40

ATIVIDADES GLOBAIS

REFLEXÃO LINGUÍSTICA

Responda sempre no caderno.

1. Leia a tira.

Fig. 1 (p. 40)

Gilmar/Acervo do artista

Gilmar. Para ler quando o chefe não estiver olhando. São Paulo: Devir, 2004. p. 13.

Q1: OLHA AQUI, ZÉ: ROÇA PRECISA DE FUNCIONÁRIO COM TRANSPORTE PRÓPRIO!

Q2: DEIXA DE BESTEIRA, MULHER!
DESDE QUANDO EU TENHO TRANSPORTE?!

Q3: ORA E PARA QUE SERVE O EURICO? PARA FICAR AÍ TOMANDO CAFÉ E ASSISTINDO À TV O DIA TODO, É?

a) Que situação é retratada na tira?

A mulher ajuda o marido a encontrar emprego procurando vagas no caderno de classificados de um jornal.

b) Por que o marido não se interessa pela vaga que a mulher selecionou no jornal?

A vaga pede funcionário com transporte próprio, e, segundo o marido, ele não tem isso.

c) Qual é o sujeito da oração “Roça precisa de funcionário com transporte próprio!”? Classifique-o.

Roça: sujeito simples.

d) Transforme o sujeito do exercício anterior em indeterminado e explique como fez a alteração.

“Precisa-se de funcionário com transporte próprio!” Eliminou-se o sujeito roça e utilizou-se o pronome se como índice de indeterminação do sujeito com o verbo transitivo indireto precisar.



2. Classifique o verbo das orações a seguir quanto à predicação.

a) Trabalha-se dia e noite.

Verbo intransitivo.

b) Necessita-se de mais recursos para os operários terminarem a reforma.

Verbo transitivo indireto.

c) Precisa-se de engenheiros.

Verbo transitivo indireto.

d) Levanta-se cedo nesta casa.

Verbo intransitivo.

e) Torce-se pelo sucesso da economia de nosso país.

Verbo transitivo indireto.

f) Nos dias de hoje, morre-se de tristeza.

Verbo intransitivo.

g) Nessa cidade, vive-se em paz.

Verbo intransitivo.

3. É possível identificar quem pratica a ação verbal das orações do exercício anterior? Explique sua resposta.

As orações têm sujeito indeterminado e, por estarem descontextualizadas, não é possível saber quem praticou a ação verbal.



4. Leia a tira.

Fig. 2 (p. 40)

Bill Watterson. Os dias estão simplesmente lotados. São Paulo: Best News, 1995. v. 2. p. 29.

Calvin & Hobbes, Bill Watterson. © 1992 Watterson/Dist. by Atlantic Syndication/Universal Press Syndicate

Q1: OS INSETOS QUANDO VOAM FAZEM PIRUETAS E ZIGUE-ZAGUES MALUCOS. EU QUERIA SABER POR QUE ELES NÃO FICAM TONTOS E VOMITAM

Q2: TALVEZ ELES FIQUEM!
EWW, QUE NOJO! HA HA HA! MAS ENTÃO POR QUE ELES CONTINUARAM VOANDO DAQUELE JEITO?

Q3: TALVEZ OS INSETOS GOSTEM DE VOMITAR!


EWWWW! ELES GOSTAM! HA HA HA HA ! BLAUCH!

Q4: EU TE DIGO, HAROLDO, É LEGAL TER UM AMIGO QUE APRECIA UMA FRANCA DISCUSSÃO DE IDEIAS.

a) Qual é o motivo da conversa entre Calvin e Haroldo?

Eles discutem o voo dos insetos e suas consequências.

b) Por que o verbo gostar está destacado no terceiro quadrinho?

Porque é o que causa o sentimento de asco em Calvin.

c) Classifique os verbos voar, fazer e ficar no primeiro quadrinho.

Voar: verbo intransitivo; fazer: verbo transitivo direto; ficar: verbo de ligação.

d) Qual é o complemento do verbo fazer e como se classifica?

“piruetas e zigue-zagues malucos”: objeto direto.

e) Copie do primeiro quadrinho um predicativo do sujeito.

“Tontos”.



Página 41

O que você aprendeu neste capítulo

Contos de enigma

Enredo: baseados na lógica, de modo que haja um motivo para o crime, um meio de executá-lo e pistas que permitam ao detetive desvendá-lo.

• O autor apresenta evidências, necessárias à elucidação do mistério, e pistas falsas, que enganam algumas personagens e leitores, mas não o detetive.

Contos de terror

• Os contos de terror despertam no leitor sensações de medo e horror diante da morte, da loucura e do mal que se esconde na mente humana.

• As personagens são assombradas por fantasmas e vivem experiências extraordinárias. Em outros contos, a causa do terror se encontra na mente da personagem.

• Nos contos de terror, a descrição do espaço e do tempo são recursos para criar suspense.



Sujeitos

Sujeito simples: apresenta um só núcleo.

Sujeito composto: apresenta dois núcleos ou mais.

Sujeito oculto ou desinencial: é identificado por meio do contexto ou das desinências verbais.

Oração sem sujeito: apresenta verbo impessoal.

Sujeito indeterminado: é aquele que não está expresso na oração nem pode ser identificado pelo contexto. A indeterminação do sujeito é feita de duas formas:

• Flexionando o verbo na terceira pessoa do plural, sem que se refira a nenhum termo expresso anteriormente.

• Empregando o verbo (intransitivo, transitivo indireto ou de ligação) na terceira pessoa do singular e acrescentando-lhe o pronome se (índice de indeterminação do sujeito).



Verbos

Verbos transitivos: necessitam de complemento para completar-lhe o sentido.

Verbos intransitivos: têm sentido completo e não precisam de complemento verbal.

Verbos de ligação: ligam o predicativo do sujeito ao sujeito.



Vírgula

Não se emprega: entre os termos essenciais da oração (sujeito + predicado). Também não se emprega a vírgula entre o verbo e seus complementos.

Emprega-se: para separar nomes de lugar, quando vêm antepostos a datas; para separar palavras que têm a mesma função sintática na oração; para isolar expressões explicativas.

Autoavaliação

Para fazer a autoavaliação, releia o quadro O que você aprendeu neste capítulo.

• . De qual dos dois gêneros você gostou mais: do conto de enigma ou do conto de terror?

• . Como foi fazer a leitura do conto de enigma do colega? Você desvendou o crime à medida que foi lendo?

• . O que você poderia ter feito para tornar o seu conto de enigma mais misterioso?

• . Quais são suas dúvidas em relação aos aspectos gramaticais apresentados neste capítulo?



Página 42

ORALIDADE

Contação de histórias de assombração

1. Leia o que o pesquisador Luís da Câmara Cascudo escreveu sobre seu tempo de menino, na fazenda, no Rio Grande do Norte.

[...] Depois da ceia faziam roda para conversar, espairecer, dono da casa, filhos maiores, vaqueiros, amigos, vizinhos. Café e poranduba. Não havia diálogo, mas uma exposição. Histórico do dia, assuntos do gado, desaparecimento de bois, aventuras do campeio, façanhas de um cachorro, queda num grotão, anedotas rápidas, recordações, gente antiga [...] alegrias, planos para o dia seguinte.

Todos sabiam contar estórias. Contavam à noite, devagar, com os gestos de evocação e lindos desenhos mímicos com as mãos. Com as mãos amarradas não há criatura vivente para contar uma estória. [...]

Luís da Câmara Cascudo. Literatura oral no Brasil. 2. ed. São Paulo: Global, 2009.



GLOSSÁRIO
Campeio: ato de andar a cavalo pelos campos.
Evocação: lembrança.
Grotão: cavidade profunda, depressão que aparece nas encostas de morros.
Poranduba: história, narrativa.

Fig. 1 (p. 42)

Vista de uma fazenda no início do século XX, Bauru (SP).

Reminiscências/Iconographia

a) Explique com suas palavras o hábito descrito por Câmara Cascudo.

Resposta pessoal. MP

b) Câmara Cascudo nasceu em 1898, e sua infância passou-se em uma realidade diferente da atual. A tradição de contar histórias, porém, manteve-se em muitos lugares. Sua família tem o hábito de fazer reuniões para conversar e contar histórias? Se sim, conte como são essas reuniões.

Resposta pessoal. MP

2. Você sabe o que é uma história de Trancoso? E um conto da carochinha? Leia.

História de Trancoso e conto da carochinha são outros nomes para os contos populares povoados por elementos fantasiosos e sobrenaturais. Esses contos são tão antigos que já não se sabe quem os criou. E, por serem contados de memória, vão surgindo pequenas variações nas histórias.

Você conhece alguma história assim? Que personagens e elementos fantásticos compõem essa história?

Resposta pessoal. Sugestão: bruxas, fadas, dragões, esqueleto, sereias, fantasmas, alma penada, etc.



3. Leia uma versão de um conhecido conto de assombração.

Encurtando o caminho

Tia Maria, quando era criança, um dia se atrasou na saída da escola, e na hora em que foi voltar para casa já começava a escurecer. Viu uma outra menina passando pelo cemitério e resolveu cortar caminho, fazendo o mesmo trajeto que ela.

Tratou de apressar o passo até alcançá-la e se explicou:

– Andar sozinha no cemitério me dá um frio na barriga! Será que você não se importa se nós formos juntas?

– Claro que não. Eu entendo você – respondeu a outra. – Quando eu estava viva, sentia exatamente a mesma coisa.

Ângela Lago. Sete histórias para sacudir o esqueleto. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002.

a) Quem é a menina que tia Maria encontra no cemitério?

É um fantasma, uma alma penada.

b) Pelas informações dadas no texto, deduz-se que a história se passa em que época e onde? Explique.

Resposta pessoal. MP



Página 43

Produção de texto: coleta e contação de contos de assombração

1. Forme um grupo com quatro colegas. Vocês vão pesquisar contos de assombração e trazê-los para a classe no dia combinado com o professor.

2. Existem alguns sites e livros que trazem contos de medo, mas a maioria das histórias se encontra apenas na memória das pessoas, em especial das mais velhas. Por isso, sugerimos que vocês comecem a pesquisa conversando com essas pessoas. Perguntem a elas se conhecem alguma história de medo, de assombração, de morte. Deem como exemplo o conto “Encurtando o caminho”. Anotem ou gravem o que conseguirem. No final, registrem o nome da pessoa, a região de origem da história, caso a pessoa saiba, e como ela conheceu o conto e a pessoa que o contou.

3. Ao recolher os textos, prestem atenção à linguagem usada por quem os contou. É possível que haja expressões que vocês não conheçam: perguntem ao contador o que elas querem dizer e anotem-nas, com o significado; escrevam se essas expressões são antigas, se são típicas do interior ou de outras regiões do país. Quando contarem as histórias, empreguem e expliquem essas expressões.

4. Sentem-se, em grupo, e contem entre vocês as histórias de assombração pesquisadas. Vocês podem ler ou contar de cor, ou, ainda, podem ler alguns trechos e contar outros de memória. O importante é envolver os colegas no clima da história. Para isso, preparem-se.

• Identifiquem as partes do conto: introdução, conflito, clímax e desfecho.

• Encontrem a entonação mais adequada para cada parte. O clímax, por exemplo, é o ponto culminante da narrativa e pode ser valorizado, fazendo-se uma pausa antes de contar como o conflito se resolve.

• Ensaiem para fazer alguns gestos expressivos com as mãos (os “lindos desenhos mímicos”, de Câmara Cascudo).



Fig. 1 (p. 43)

Lasar Segall. Vilna e eu, 1910. Litogravura, 40 cm x 27,5 cm.

Acervo do Museu Lasar Segall-IPHAN/Minc. Fotografia: ID/BR

5. Escolham uma das histórias do grupo para contar à classe e decidam qual de vocês vai contá-la.

6. Quem for contar uma história à classe deve usar os mesmos recursos empregados na contação em grupo e informar a fonte e o lugar de origem do conto.

7. Para concluir o trabalho com os contos de assombração, converse com os colegas e o professor sobre as seguintes questões.

a) Na maioria dos contos, há informações precisas sobre a identidade das personagens, sobre o lugar e o tempo em que se passa a ação?

b) Pela caraterização das personagens (como elas se vestem, como se divertem, qual o papel das mulheres na família, etc.), é possível concluir se essas histórias se passam em um tempo antigo ou atual? Explique.

c) Há alguma fórmula característica para iniciar os contos de medo, como “Era uma vez...” ou outra?

d) De onde foi extraída a maioria dos contos recolhidos?

e) Muitos contos de assombração estão guardados apenas na memória de pessoas mais velhas. O que se pode fazer para que as gerações futuras tenham a oportunidade de conhecê-los?



Página 44

CAPÍTULO 2 - Romance de ficção científica e conto fantástico

CONVERSE COM OS COLEGAS

1. A fotografia ao lado mostra o edifício The Crystal, situado ao leste de Londres, Inglaterra, e inaugurado em setembro de 2012. O que esse edifício apresenta de original?

Fig. 1 (p. 44)

Edifício sustentável The Crystal. Londres, Inglaterra. Fotografia de 2012.

Tim Ayers/Alamy/Latinstock

Com uma estrutura feita de ferro e vidro, o edifício tem um formato original com vários ângulos e paredes inclinadas.



2. Essa construção seguiu os padrões de edifícios ecológicos e sustentáveis. Há, no prédio, sistemas de ventilação natural e de coleta da água da chuva, painéis para captação de energia solar e tomadas de carregamento para carros elétricos.

a) Quais devem ter sido os motivos para a construção de um edifício com essas características?

2a. Os motivos para essa construção podem estar relacionados à preocupação contemporânea com a escassez dos recursos naturais e o uso de fontes renováveis de energia.

b) Quais são as possíveis vantagens dessa construção?

2b. Ao aproveitar a ventilação natural, a água da chuva e a energia solar, a administração do edifício tem gastos reduzidos. Além disso, o edifício é um centro de desenvolvimento sustentável, servindo de incentivo e exemplo para que outros projetos sigam padrões ecológicos e sustentáveis.

3. No mundo atual, as cidades estão crescendo e enfrentando muitos problemas. O ser humano precisa criar condições adequadas para continuar a viver nesses lugares.

Cite dois problemas comuns aos moradores das grandes cidades.

Sugestões: engarrafamentos, falta de água e de energia, escassez de áreas verdes para lazer, etc.

4. Nas cidades do futuro, certamente, alguns problemas que enfrentamos nos dias de hoje serão solucionados com descobertas de novas tecnologias e novas formas de convivência.

a) Como você imagina que serão as moradias no futuro?

Resposta pessoal. MP

b) Como as pessoas vão se locomover?

Resposta pessoal. MP

c) Que outras mudanças podem ocorrer no cotidiano da cidade?

Resposta pessoal. MP

Tudo o que a ciência nos apresenta hoje pode e certamente vai mudar em pouco tempo. O romance de ficção científica apresenta um mundo em que essa evolução já aconteceu. É o que você vai estudar neste capítulo.

Você vai aprender também sobre o conto fantástico, aquele em que há sempre um elemento que nos causa estranhamento, ainda que apresente marcas do real.

Página 45

O que você vai aprender

• Características do romance de ficção científica e do conto fantástico


A verossimilhança
Adjuntos adverbiais e adjuntos adnominais
Homônimos

Página 46

LEITURA 1

Romance de ficção científica

O que você vai ler

Fig. 1 (p. 46)

Aldous Huxley (1894-1963), escritor inglês. Fotografia de cerca de 1945.

Stringer/Hulton Archive/Getty Images

O autor inglês Aldous Huxley escreveu, em 1931, o romance Admirável mundo novo. O texto que você vai ler faz parte do segundo capítulo desse livro.

A história se passa em um futuro distante. A sociedade é dividida em castas e organizada de modo que não haja angústia, ansiedade, medo ou sofrimento. A engenharia genética evoluiu a tal ponto que todos os indivíduos são gerados em laboratório; posteriormente, passam por um processo de condicionamento mental, a fim de ocuparem adequadamente a casta que lhes foi reservada. O Estado tem total controle sobre os cidadãos; não há liberdade de escolha, questionamentos nem desejos, apenas aceitação.

No trecho a seguir, um Diretor de Incubação e Condicionamento (DIC) mostra a um grupo de estudantes como funciona o condicionamento dos bebês da casta Delta, preparados para realizar tarefas simples, que não exigem nenhuma habilidade específica.

• .Admirável mundo novo foi escrito há mais de setenta anos. Que representação de futuro você espera encontrar nessa narrativa?



Admirável mundo novo

[...] O D.I.C. e seus alunos entraram no elevador mais próximo e foram levados ao quinto andar.

Berçários. Salas de Condicionamento Neopavloviano, indicava o painel de avisos.

O Diretor abriu uma porta. Entraram num vasto cômodo nu, muito claro e ensolarado, pois toda a parede do lado sul era constituída por uma única janela. Meia dúzia de enfermeiras, com as calças e jaquetas do uniforme regulamentar de linho branco de viscose, os cabelos assepticamente cobertos por toucas brancas, estavam ocupadas em dispor vasos com rosas sobre o assoalho, numa longa fila, de uma extremidade à outra do cômodo. Grandes vasos, apinhados de flores. Milhares de pétalas, amplamente desabrochadas e de uma sedosa maciez, semelhantes às faces de inumeráveis pequenos querubins [...].

As enfermeiras perfilaram-se ao entrar o D.I.C.

– Coloquem os livros – disse ele, secamente.

Em silêncio, elas obedeceram à ordem. Entre os vasos de rosas, os livros foram devidamente dispostos – uma fileira de livros infantis pequenos, cada um aberto, de modo convidativo, em alguma gravura agradavelmente colorida, de animal, peixe ou pássaro.

– Agora, tragam as crianças.

Elas saíram apressadamente da sala e voltaram ao cabo de um ou dois minutos, cada qual empurrando uma espécie de carrinho, onde, nas suas quatro prateleiras de tela metálica, vinham bebês de

Fig. 2 (p. 46)

Marcos Guilherme/ID/BR



Página 47

oito meses, todos exatamente iguais (um Grupo Bokanovsky, evidentemente) e todos (já que pertenciam à casta Delta) vestidos de cáqui.

– Ponham as crianças no chão.

Os bebês foram descarregados.

– Agora, virem-nas de modo que possam ver as flores e os livros.

Virados, os bebês calaram-se imediatamente, depois começaram a engatinhar na direção daquelas massas de cores brilhantes, daquelas formas tão alegres e tão vivas nas páginas brancas. Enquanto se aproximavam, o sol ressurgiu de um eclipse momentâneo atrás de uma nuvem. As rosas fulgiram como sob o efeito de uma súbita paixão interna; uma energia nova e profunda pareceu espalhar-se sobre as páginas reluzentes dos livros. Das filas de bebês que se arrastavam engatinhando, elevaram-se gritinhos de excitação, murmúrios e gorgolejos de prazer.

O Diretor esfregou as mãos.

– Excelente! – comentou. – Até parece que foi feito sob encomenda.

Os mais rápidos engatinhadores já haviam alcançado o alvo. Pequeninas mãos se estenderam incertas, tocaram, pegaram, despedaçando as rosas transfiguradas, amarrotando as páginas iluminadas dos livros. O Diretor esperou que todos estivessem alegremente entretidos. Depois disse:

– Observem bem. – E, levantando a mão, deu o sinal.

A Enfermeira-Chefe, que se encontrava junto a um quadro de ligações na outra extremidade da sala, baixou uma pequena alavanca.

Houve uma explosão violenta. Aguda, cada vez mais aguda, uma sirene apitou. Campainhas de alarme tilintaram, enlouquecedoras.

As crianças sobressaltaram-se, berraram; suas fisionomias estavam contorcidas pelo terror.

– E agora – gritou o D.I.C. (pois o barulho era ensurdecedor) –, agora vamos gravar mais profundamente a lição por meio de um ligeiro choque elétrico.

Agitou de novo a mão, e a Enfermeira-Chefe baixou uma segunda alavanca. Os gritos das crianças mudaram subitamente de tom. Havia algo de desesperado, de quase demente, nos urros agudos e espasmódicos que elas então soltaram. Seus pequenos corpos contraíam-se e retesavam-se; seus membros agitavam-se em movimentos convulsivos, como se puxados por fios invisíveis.

– Nós podemos eletrificar todo aquele lado do assoalho – berrou o Diretor para explicar-se. – Mas isso basta – continuou, fazendo um sinal à enfermeira.

As explosões cessaram, as campainhas pararam de soar, o ganido da sirene foi baixando de tom até silenciar. Os corpos rigidamente contraídos distenderam-se; o que antes fora o soluço e o ganido de pequenos candidatos à loucura expandiu-se novamente no berreiro normal do terror comum.

– Ofereçam-lhes de novo as flores e os livros.



Fig. 1 (p. 47)

Marcos Guilherme/ID/BR



Página 48

As enfermeiras obedeceram; mas, à aproximação das rosas, à simples visão das imagens alegremente coloridas do gatinho, do galo que faz cocorocó e do carneiro que faz bé, bé, as crianças recuaram horrorizadas; seus berros recrudesceram subitamente.

[...]

– Elas crescerão com o que os psicólogos chamavam de um ódio “instintivo” aos livros e às flores. Reflexos inalteravelmente condicionados. Ficarão protegidas contra os livros e a botânica por toda a vida. – O Diretor voltou-se para as enfermeiras. – Podem levá-las.



Sempre gritando, os bebês de cáqui foram colocados nos seus carrinhos e levados para fora da sala, deixando atrás de si um cheiro de leite azedo e um agradabilíssimo silêncio.

Um dos estudantes levantou a mão. Embora compreendesse perfeitamente que não se podia permitir que pessoas de casta inferior desperdiçassem o tempo da Comunidade com livros e que havia sempre o perigo de lerem coisas que provocassem o indesejável descondicionamento de algum dos seus reflexos... enfim, ele não conseguia entender o referente às flores. Por que se dar ao trabalho de tornar psicologicamente impossível aos Deltas o amor às flores?

[...]

As flores do campo e as paisagens, advertiu [o Diretor], têm um grande defeito: são gratuitas. O amor à natureza não estimula a atividade de nenhuma fábrica. Decidiu-se que era preciso aboli-lo, pelo menos nas classes baixas [...].



Aldous Huxley. Admirável mundo novo. 2. ed. São Paulo: Globo, 2001. p. 51-55.

GLOSSÁRIO
Assepticamente: feito de maneira extremamente limpa, sem germes e impurezas.
Cáqui: tecido opaco de cor marrom.
Casta: camada social que forma uma das partes de uma sociedade organizada em diversos níveis de hierarquia.
Condicionamento: processo de influenciar ou determinar uma atitude ou um comportamento; ato de acostumar ou moldar uma pessoa ou um animal para situações diferentes.
Convulsivo: súbito e involuntário.
Espasmódico: em que há contração muscular involuntária e não ritmada.
Fulgir: brilhar, resplandecer.
Gorgolejo: som de voz ou ruído semelhante ao do gargarejo.
Neopavloviano: relativo à teoria dos reflexos condicionados, elaborada pelo fisiologista russo Ivan Ilitch Pavlov (1846-1936).
Perfilar-se: endireitar-se, alinhar-se, colocar-se em posição vertical.
Querubim: anjo; criança muito bonita.
Recrudescer: aumentar; reaparecer com sintomas mais graves.
Retesar-se: tornar-se rígido.
Urro: berro muito forte geralmente de animais; bramido ou rugido de algumas feras.

Fig. 1 (p. 48)

Marcos Guilherme/ID/BR



Página 49

Estudo do texto

Responda sempre no caderno.

Para entender o texto

1. Com que objetivo as crianças foram levadas à sala de condicionamento?

Para demonstrar um experimento aos alunos.



2. Por que as enfermeiras enfileiraram vasos de rosas e livros com gravuras no chão?

Fig. 1 (p. 49)

Marcos Guilherme/ID/BR

Para atrair os bebês, os quais, ao verem esses objetos, foram tocá-los. A ideia era fazer os bebês terem vontade e possibilidade de pegar os objetos.

3. Explique por que o diretor ficou tão satisfeito quando o brilho do sol fez com que as flores e as gravuras se tornassem mais atraentes para os bebês.

3. Isso aumentou o desejo dos bebês de irem até as rosas e os livros para tocá-los, tornando o condicionamento mais eficiente, já que haveria um maior contraste entre o ato prazeroso de tocar os objetos e o desprazer de ouvir o barulho e sentir os choques.



4. A enfermeira-chefe baixou uma pequena alavanca.

a) Que efeitos esse gesto provocou?

Explosão, toque de sirene e campainhas de alarme, barulho ensurdecedor.

b) Qual foi a intenção desse gesto?

Assustar e irritar os bebês, provocando neles um profundo mal-estar.

5. Que lição o diretor pretendia que as crianças aprendessem?

A lição de que belas flores e livros causam terror e dor.



6. Pense nos equipamentos e nas pessoas que estavam na sala.

a) Há algum aparelho extravagante, de funcionamento complexo ou que utilize fonte de energia diferente das que conhecemos? Explique.

Não. Alarmes, sirenes e choques elétricos acionados por uma alavanca são todos elementos que conhecemos.

b) Pelas descrições, as pessoas têm aparência física diferente da nossa?

Não. A única estranheza é o fato de os bebês serem todos iguais e estarem uniformizados.

c) Como se explica o fato de os bebês serem todos iguais?

Eles foram produzidos em laboratório.

d) Que elementos da narrativa revelam que o mundo onde se passa a cena funciona de modo diferente do nosso?

6d. O fato de os bebês serem iguais; a descrição dos procedimentos aos quais são submetidos e a maneira de pensar das personagens que consideram natural que o amor aos livros e à natureza seja abolido das classes mais baixas da sociedade.

7. Por que, na sociedade retratada no texto, o amor à natureza é inadequado aos indivíduos da casta Delta?

7. O amor à natureza é gratuito. Para admirá-la, os indivíduos não têm custos; dessa forma, não são motivados a produzir bens de valor. Além disso, estimula a sensibilidade das pessoas, predicado que, segundo os valores da sociedade retratada na história, as classes mais baixas da sociedade não deveriam possuir.



ANOTE

Nos romances de ficção científica, o enredo se desenrola em um mundo onde a Ciência se desenvolve segundo a imaginação do autor, acentuando-se algum conhecimento científico já existente.

Em Admirável mundo novo, o futurismo não está na concepção de equipamentos sofisticados, mas na prática de uma engenharia voltada para a moldagem física e psicológica de seres humanos, que vivem em um sistema científico de castas, cuja livre vontade foi anulada por um condicionamento metódico.

A verossimilhança

1. Leia as informações a seguir.

O condicionamento é um processo de aprendizagem e modificação de comportamento através de mecanismos estímulo-resposta sobre o sistema nervoso central do indivíduo. […]

O primeiro tipo de condicionamento, denominado Condicionamento Clássico, foi desenvolvido pelo fisiologista russo Ivan Pavlov. Pavlov fez uma experiência envolvendo um cão, uma campainha e um pedaço de carne. O fisiologista percebeu que quando o cão via o pedaço de carne, ele salivava, o que foi chamado de reflexo não condicionado.

Pavlov também começou a tocar a campainha (estímulo neutro) quando ia mostrar o pedaço de carne.

Rapidamente o cão passou a associar a carne com a campainha, salivando também toda vez que ela era tocada. Essa reação a um estímulo neutro foi chamada de reflexo condicionado. […]

Tiago Dantas. Condicionamento. Disponível em:


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