Português 8º ano



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. Acesso em: 10 mar. 2015.

a) Nos textos jornalísticos, evitam-se expressões como “na minha opinião”, “eu acho”, etc. No exemplo acima, isso é suficiente para tornar o texto puramente informativo e objetivo?

2a. Não. Apesar de atenuadas, a subjetividade e a dimensão opinativa estão presentes no texto. As impressões do repórter sobre o assunto que aborda são sutilmente expressas por meio de adjetivos e de advérbios.

b) Qual palavra revela a opinião de que, apesar de possuir características negativas, o trânsito de Londres é compensado por um fator positivo da cidade?

A palavra felizmente, que serve para que o jornalista revele e desenvolva sua opinião; por meio dela, o jornalista expressa um juízo de valor a respeito de uma realidade.

c) Qual é a função sintática desse termo na oração?

Trata-se de um adjunto adverbial.

ANOTE

Na crônica, o adjunto adverbial pode ser usado expressivamente, intensificando os sentidos do texto. Na notícia, gênero que procura a imparcialidade, o adjunto adverbial muitas vezes revela a opinião do jornalista sobre o assunto, intencionalmente ou não.



Página 58

LEITURA 2

Conto fantástico

O QUE VOCÊ VAI LER

Fig. 1 (p. 58)

Lygia Fagundes Telles (1923- ), escritora paulista. Fotografia de 2013.

Fabio Braga/Folhapress

O conto que você vai ler é de autoria de Lygia Fagundes Telles, uma das mais importantes escritoras brasileiras. Ao lê-lo, talvez você tenha uma sensação de estranhamento ou de estar diante de algo inusitado. Trata-se de um conto fantástico, um gênero no qual algum evento insólito quebra uma sequência de fatos aparentemente normais e deixa o leitor diante de uma dúvida: Isso aconteceu realmente ou não?

A caçada

A loja de antiguidades tinha o cheiro de uma arca de sacristia com seus panos embolorados e livros comidos de traça. Com as pontas dos dedos, o homem tocou numa pilha de quadros. Uma mariposa levantou voo e foi chocar-se contra uma imagem de mãos decepadas.

– Bonita imagem – disse ele.

A velha tirou um grampo do coque e limpou a unha do polegar. Tornou a enfiar o grampo no cabelo.

– É um São Francisco.

Ele então se voltou lentamente para a tapeçaria que tomava toda a parede no fundo da loja. Aproximou-se mais. A velha aproximou-se também.

– Já vi que o senhor se interessa mesmo é por isso. Pena que esteja nesse estado.

O homem estendeu a mão até a tapeçaria, mas não chegou a tocá-la.

– Parece que hoje está mais nítida...

– Nítida? – repetiu a velha, pondo os óculos. Deslizou a mão pela superfície puída. – Nítida como?

– As cores estão mais vivas. A senhora passou alguma coisa nela?

A velha encarou-o. E baixou o olhar para a imagem de mãos decepadas. O homem estava tão pálido e perplexo quanto a imagem.

– Não passei nada. Por que o senhor pergunta?

– Notei uma diferença.

– Não, não passei nada, essa tapeçaria não aguenta a mais leve escova, o senhor não vê? Acho que é a poeira que está sustentando o tecido – acrescentou tirando novamente o grampo da cabeça. [...]

– Eu poderia vendê-la, mas quero ser franca, acho que não vale mesmo a pena. Na hora que se despregar é capaz de cair em pedaços.

O homem acendeu um cigarro. Sua mão tremia. Em que tempo, meu Deus! em que tempo teria assistido a essa mesma cena. E onde?...

Era uma caçada. No primeiro plano, estava o caçador de arco retesado, apontando para uma touceira espessa. Num plano mais profundo, o segundo caçador espreitava por entre as árvores do bosque, mas era apenas uma vaga silhueta cujo rosto se reduzira a um esmaecido contorno. Pode-roso, absoluto era o primeiro caçador, a barba violenta como um bolo de serpentes, os músculos tensos, à espera de que a caça levantasse para desferir-lhe a seta.



Fig. 2 (p. 58)

Andréa Vilela/ID/BR



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O homem respirava com esforço. Vagou o olhar pela tapeçaria que tinha a cor esverdeada de um céu de tempestade. Envenenando o tom verde-musgo do tecido, destacavam-se manchas de um negro-violáceo que pareciam escorrer da folhagem, deslizar pelas botas do caçador e espalhar-se no chão como um líquido maligno. A touceira na qual a caça estava escondida também tinha as mesmas manchas, que tanto podiam fazer parte do desenho como ser simples efeito do tempo devorando o pano.

– Parece que hoje tudo está mais próximo – disse o homem em voz baixa. – É como se... Mas não está diferente?

A velha firmou mais o olhar. Tirou os óculos e voltou a pô-los.

– Não vejo diferença nenhuma.

– Ontem não se podia ver se ele tinha ou não disparado a seta...

– Que seta? O senhor está vendo alguma seta?

– Aquele pontinho ali no arco...

A velha suspirou:

– Mas esse não é um buraco de traça? Olha aí, a parede já está aparecendo, essas traças dão cabo de tudo – lamentou disfarçando um bocejo. Afastou-se sem ruído com suas chinelas de lã. Esboçou um gesto distraído. – Fique aí à vontade, vou fazer meu chá.

O homem deixou cair o cigarro. Amassou-o devagarinho na sola do sapato. Apertou os maxilares numa contração dolorosa. Conhecia esse bosque, esse caçador, esse céu – conhecia tudo tão bem, mas tão bem! Quase sentia nas narinas o perfume dos eucaliptos, quase sentia morder-lhe a pele o frio úmido da madrugada, ah, essa madrugada! Quando? Percorrera aquela mesma vereda, aspirara aquele mesmo vapor que baixava denso do céu verde... Ou subia do chão? O caçador de barba encaracolada parecia sorrir perversamente embuçado. Teria sido esse caçador? Ou o companheiro lá adiante, o homem sem cara espiando por entre as árvores? Uma personagem de tapeçaria. Mas qual? Fixou a touceira onde a caça estava escondida. Só folhas, só silêncio e folhas empastadas na sombra. Mas detrás das folhas, através das manchas pressentia o vulto arquejante da caça. Compadeceu-se daquele ser em pânico, à espera de uma oportunidade para prosseguir fugindo. Tão próxima a morte! O mais leve movimento que fizesse, e a seta... A velha não a distinguira, ninguém poderia percebê-la, reduzida como estava a um pontinho carcomido, mais pálido do que um grão de pó em suspensão no arco.

Enxugando o suor das mãos, o homem recuou alguns passos. Vinha-lhe agora uma certa paz, agora que sabia ter feito parte da caçada. Mas essa era uma paz sem vida, impregnada dos mesmos coágulos traiçoeiros da folhagem. Cerrou os olhos. E se tivesse sido o pintor que fez o quadro? Quase todas as antigas tapeçarias eram reproduções de quadros, pois não eram? Pintara o quadro original e por isso podia reproduzir, de olhos fechados, toda a cena nas suas minúcias: o contorno das árvores, o céu sombrio, o caçador de barba esgrouvinhada, só músculos e nervos apontando para a touceira... “Mas se detesto caçadas! Por que tenho que estar aí dentro?”

Apertou o lenço contra a boca. A náusea. Ah, se pudesse explicar toda essa familiaridade medonha, se pudesse ao menos... E se fosse um simples espectador casual, desses que olham e passam? Não era uma hipótese? Podia ainda ter visto o quadro no original, a caçada não passava de uma ficção. “Antes do aproveitamento da tapeçaria...” – murmurou, enxugando os vãos dos dedos no lenço.

Fig. 1 (p. 59)

Andréa Vilela/ID/BR



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Atirou a cabeça para trás como se o puxassem pelos cabelos, não, não ficara do lado de fora, mas lá dentro, encravado no cenário! E por que tudo parecia mais nítido do que na véspera, por que as cores estavam mais fortes apesar da penumbra? Por que o fascínio que se desprendia da paisagem vinha agora assim vigoroso, rejuvenescido?...

Saiu de cabeça baixa, as mãos cerradas no fundo dos bolsos. Parou meio ofegante na esquina. Sentiu o corpo moído, as pálpebras pesadas. [...]

Quando chegou em casa, atirou-se de bruços na cama e ficou de olhos escancarados, fundidos na escuridão. A voz tremida da velha parecia vir de dentro dos travesseiros, uma voz sem corpo, metida em chinelas de lã: “Que seta? Não estou vendo nenhuma seta...” [...]

Acordou com o próprio grito que se estendeu dentro da madrugada. Enxugou o rosto molhado de suor. Ah, aquele calor e aquele frio! Enrolou-se nos lençóis. E se fosse o artesão que trabalhou na tapeçaria? Podia revê-la, tão nítida, tão próxima que se estendesse a mão, despertaria a folhagem. Fechou os punhos. Haveria de destruí-la, não era verdade que além daquele trapo detestável havia alguma coisa mais, tudo não passava de um retângulo de pano sustentado pela poeira. Bastava soprá-la, soprá-la!

Encontrou a velha na porta da loja. Sorriu irônica:

– Hoje o senhor madrugou.

– A senhora deve estar estranhando, mas...

– Já não estranho mais nada, moço. Pode entrar, pode entrar, o senhor conhece o caminho.

“Conheço o caminho”, repetiu, seguindo lívido por entre os móveis. Parou. Dilatou as narinas. E aquele cheiro de folhagem e terra, de onde vinha aquele cheiro? E por que a loja foi ficando embaçada, lá longe? Imensa, real, só a tapeçaria a se alastrar sorrateiramente pelo chão, pelo teto, engolindo tudo com suas manchas esverdinhadas. Quis retroceder, agarrou-se a um armário, cambaleou resistindo ainda e estendeu os braços até a coluna. Seus dedos afundaram por entre galhos e resvalaram pelo tronco de uma árvore, não era uma coluna, era uma árvore! Lançou em volta um olhar esgazeado: penetrara na tapeçaria, estava dentro do bosque, os pés pesados de lama, os cabelos empastados de orvalho. Em redor, tudo parado. Estático. No silêncio da madrugada, nem o piar de um pássaro, nem o farfalhar de uma folha. Inclinou-se arquejante. Era o caçador? Ou a caça? Não importava, não importava, sabia apenas que tinha que prosseguir correndo sem parar por entre as árvores, caçando ou sendo caçado. Ou sendo caçado?... Comprimiu as palmas das mãos contra a cara esbraseada, enxugou no punho da camisa o suor que lhe escorria pelo pescoço. Vertia sangue o lábio gretado.

Abriu a boca. E lembrou-se. Gritou e mergulhou numa touceira. Ouviu o assobio da seta varando a folhagem, a dor!

“Não...”, gemeu de joelhos. Tentou ainda agarrar-se à tapeçaria. E rolou encolhido, as mãos apertando o coração.

Lygia Fagundes Telles. Antes do Baile Verde: contos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 67-72.

Acervo PNBE

GLOSSÁRIO
Alastrar: espalhar(-se), estender(-se).
Carcomido: roído, corroído.
Decepado: cortado, separado do corpo.
Embuçado: disfarçado.
Empastado: que não tem contornos nítidos.
Esbraseado: muito quente; corado, que apresenta tonalidade avermelhada.
Esgazeado: com expressão de desnorteamento ou de loucura.
Esgrouvinhado: desalinhado, desgrenhado.
Esmaecido: que perdeu a cor, desbotado.
Espreitar: vigiar, ficar de tocaia.
Farfalhar: produzir ruído a partir de um movimento.
Fundido: grudado, colado.
Gretado: rachado.
Impregnado: contaminado; cheio.
Lívido: muito pálido.
Minúcia: detalhe.
Perplexo: admirado; espantado.
Puído: gasto e já ralo pelo uso.
Resvalar: tocar de leve.
Sorrateiramente: disfarçadamente.
Tapeçaria: tecido próprio para enfeitar assoalhos, paredes ou janelas.
Touceira: tufo espesso formado por folhas ou finos caules de uma ou mais plantas.

Fig. 1 (p. 60)

Andréa Vilela/ID/BR



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Estudo do texto

Responda sempre no caderno.

Para entender o texto

1. A loja em que se passa essa história é apresentada como um ambiente malcuidado.

a) Que elementos do primeiro parágrafo permitem chegar a essa conclusão?

A loja tinha cheiro de uma arca de sacristia, com panos embolorados e livros carcomidos. A personagem vê uma mariposa levantar voo.

b) De que forma essa descrição contribui para a criação do mistério da narrativa?

Ao apresentar a loja como um local repleto de peças antigas e malcuidado, o narrador cria um ambiente propício às lembranças e incertezas da personagem principal, favorável à manifestação do elemento fantástico.

2. Não é a primeira vez que o homem visita a loja de antiguidades.

a) Como isso aparece no texto? Dê um exemplo.

2a. Possibilidades de resposta: “Já vi que o senhor se interessa mesmo é por isso” / “As cores estão mais vivas. A senhora passou alguma coisa nela?” / “Notei uma diferença” / “Ontem não se podia ver” / “E por que tudo parecia mais nítido do que na véspera”.

b) O que o levou a voltar à loja?

Uma tapeçaria antiga que o atrai.

3. O homem acredita que a tapeçaria está mais nítida.

a) A mulher confirma essa impressão?

Não, ela afirma não ver diferença nenhuma.

b) É possível concluir se a imagem estava de fato mais nítida, com as cores mais vivas? Por quê?

Não. Ao leitor, apresenta-se a dúvida, ele tem acesso a duas impressões diferentes.

4. A narrativa se passa em dois planos: o da cena da loja e o da cena da caçada retratada na tapeçaria.

a) A cena da caçada é apresentada, inicialmente, como uma lembrança. O que acontece nessa cena?

No primeiro plano, um caçador de arco retesado aponta para uma touceira. No segundo, outro caçador espreita por entre as árvores.

b) Em um certo momento, o homem passa a acreditar que participou da caçada. O que o faz pensar assim?

O fato de pressentir o vulto da caça e de distinguir a seta do arco do caçador. Além disso, passou a sentir que conhecia o local onde se passava a cena da tapeçaria.

c) É possível distinguir os sentimentos e as sensações da personagem principal em cada cena: na da loja e na da caçada? Justifique sua resposta com elementos do texto.

4c. É possível distinguir algumas sensações: na loja, ele está trêmulo, respira com esforço, hesitante, tem dúvidas, fica pálido e sua, tem náusea e, depois, sente paz. Na tapeçaria, sente os cheiros do bosque, sente-se impulsionado a correr, sua e sente seu lábio verter sangue e, por fim, dor. Porém, na percepção da personagem principal, as duas cenas se confundem, logo não é possível distinguir objetivamente quando algumas sensações se manifestam.

5. Ao voltar à loja, no dia seguinte, o homem encontra a velha à porta.

– Hoje o senhor madrugou.

– A senhora deve estar estranhando, mas...

– Já não estranho mais nada, moço. Pode entrar, pode entrar, o senhor conhece o caminho...

a) A qual caminho, a mulher se refere quando diz ao homem que ele “conhece o caminho”?

Ao caminho até a tapeçaria.

b) Que caminho ele, possivelmente, tem em mente quando murmura “Conheço o caminho”?

Possivelmente, o caminho dentro do bosque.



6. Uma dúvida se mantém durante toda a narrativa.

a) Que dúvida é essa?

Se o homem realmente participou da cena retratada na tapeçaria ou se foi apenas um delírio.

b) Qual é a função dessa dúvida no texto?

Ela prende a atenção do leitor, pois ele participa do mistério presente no texto e tira suas conclusões.

Fig. 1 (p. 61)

Andréa Vilela/ID/BR



ANOTE

O fato extraordinário que é apresentado em uma narrativa fantástica poderia comprometer a verossimilhança da história; porém, como sempre há espaço para a dúvida (O fato ocorreu realmente?), a verossimilhança pode ser mantida, sendo opção do leitor acreditar ou não no extraordinário.



Página 62

Responda sempre no caderno.

O texto e o leitor

1. O conto “A caçada” possibilita ao leitor duas leituras. Quais são elas?

1. 1ª: O homem tinha de fato estado na cena retratada na tapeçaria. Quando voltou à loja, penetrou na tapeçaria e foi atingido pela seta do caçador. 2ª: Tudo não passou de imaginação. Ele teve a sensação de ter estado na cena retratada e se imaginou penetrando na tapeçaria. Então, perdeu o controle sobre si mesmo, sofreu uma crise e caiu.



2. Para chegar a qualquer uma das leituras, o leitor toma como ponto de partida as informações dadas pelo narrador.

a) O narrador participa da história?

Não.

b) Em que pessoa do discurso o texto é narrado?



Ele é narrado em terceira pessoa.

c) Esse narrador descreve o ambiente da loja, transcreve o diálogo da personagens e narra as ações delas. Além disso, ele também apresenta ao leitor o mundo interior das personagens. Que efeito esse recurso acrescenta ao texto? Justifique sua resposta com um trecho do conto.

Ele apresenta o mundo interior apenas de uma das personagens, o homem. Exemplo: “Vinha-lhe agora uma certa paz, agora que sabia ter feito parte da caçada”. Ao apresentar o mundo interior das personagens, o narrador aproxima o leitor dos sentimentos e das ideias delas.

3. Releia.

O homem acendeu um cigarro. Sua mão tremia. Em que tempo, meu Deus! em que tempo teria assistido a essa mesma cena. E onde?...



Fig. 1 (p. 62)

Andréa Vilela/ID/BR

a) Nesse trecho, há duas vozes misturadas: a do narrador e a do próprio homem. Que frases são apenas a voz do narrador?

“O homem acendeu um cigarro. Sua mão tremia.”

b) Em que frases o narrador mistura o pensamento da personagem à sua própria voz?

“Em que tempo, meu Deus! em que tempo teria assistido a essa mesma cena. E onde?...”



4. Releia esta outra passagem.

O homem deixou cair o cigarro. Amassou-o devagarinho na sola do sapato. Apertou os maxilares numa contração dolorosa. Conhecia esse bosque, esse caçador, esse céu – conhecia tudo tão bem, mas tão bem! Quase sentia nas narinas o perfume dos eucaliptos, quase sentia morder-lhe a pele o frio úmido da madrugada, ah, essa madrugada! Quando? Percorrera aquela mesma vereda, aspirara aquele mesmo vapor que baixava denso do céu verde... Ou subia do chão?

a) Nesse trecho, que ações objetivas do homem são apresentadas e o que se passa apenas em seu mundo interior?

4a. Ações objetivas: o homem deixou o cigarro cair, amassou-o devagar e apertou os maxilares. As outras frases apresentam seu mundo interior: suas dúvidas, lembranças, sentimentos.

b) Como é marcada a passagem da narração das ações da personagem para a apresentação de seu mundo interior? Como é denominado esse recurso e que efeitos de sentido ele acrescenta ao texto?

4b. Nada marca essa passagem. Os pensamentos da personagem são revelados pelo discurso indireto livre, incorporado à narração do narrador. Esse recurso possibilita que o leitor conheça pensamentos e sentimentos da personagem e se aproxime dos acontecimentos narrados.



5. No trecho da questão anterior, há o uso do discurso indireto livre. Localize e copie, no caderno, outro trecho do texto de leitura em que isso ocorre.

Sugestões: “Ah, aquele calor e aquele frio!” / “E se fosse o artesão que trabalhou na tapeçaria?”.



ANOTE

No conto fantástico, é comum o emprego do narrador onisciente, que mistura à narrativa das ações trechos em que apresenta o mundo interior das personagens. Isso faz com que o leitor deixe de perceber claramente a distinção entre os fatos objetivos e o que se passa apenas na mente das personagens.



Lembre-se

No discurso direto, o narrador utiliza o travessão para delimitar as falas das personagens e caracteriza essas falas, geralmente, com verbos de elocução.

No discurso indireto, é o narrador quem reproduz as falas das personagens.

No discurso indireto livre, o narrador incorpora em sua narração as falas, os pensamentos e os sentimentos das personagens.



Página 63

6. O homem não aceita com tranquilidade a ideia de ter estado presente na cena representada na tapeçaria.

a) Que reações descritas no conto revelam isso?

Ele fica perplexo, trêmulo, sente náusea, etc.

b) Seu comportamento contribui para que o leitor aceite ou descarte a ideia de que ele vivera a cena no bosque?

O leitor se identifica com a personagem, se solidariza com suas sensações, aceitando mais facilmente que ela teria vivido a cena no bosque.

Comparação entre os textos

1. Considere a caracterização das personagens nos textos lidos no capítulo.

a) As personagens do fragmento do livro Admirável mundo novo têm nome? E as do conto “A caçada”?

Em nenhum dos textos as personagens são identificadas pelo nome.

b) No trecho de Admirável Mundo Novo, há alguma informação sobre a vida das personagens (quem são, de onde vêm, etc.)? E no conto?

Em ambos os textos, não são apresentadas as informações sobre a vida das personagens e sobre o que pode tê-las levado à situação do início da narrativa.

c) Explique cada uma destas afirmações.

••A ausência de informações que individualizem as personagens de Admirável mundo novo é coerente com a visão que se terá do ser humano no futuro, segundo o autor da história.

••A ausência de informações sobre as personagens de “A caçada” é um recurso para levar o leitor a hesitar entre acreditar ou não no fato extraordinário que o homem vive.

1c. No futuro previsto pelo autor do livro, a individualidade do ser humano não terá importância; as pessoas serão vistas apenas como parte de sua casta, não como seres particularizados. / A ausência de informações sobre as personagens do conto deixa um espaço maior para a imaginação do leitor: Quem terá sido esse homem? Qual sua história? E essa mulher? Nesse espaço, por exemplo, pode caber uma dúvida sobre uma ligação da personagem com o sobrenatural, favorecendo o elemento fantástico da narrativa.

2. Considere o espaço onde se passam os fatos narrados em cada texto.

a) Em Admirável mundo novo, que associação se pode fazer entre a limpeza do ambiente e o desejo de eliminar a liberdade de escolha, os questionamentos à autoridade e as vontades individuais?

2a. O cômodo onde se passa a ação, limpo e sem móveis, pode refletir o desejo de eliminar a liberdade e a individualidade, vistas como sujeira.

b) Se as ações de Admirável mundo novo se passassem em um espaço como o do conto “A caçada”, o texto seria verossímil? Por quê?

Não. As ações de Admirável mundo novo relacionam-se ao espaço do laboratório, elemento real para as personagens. Um experimento como o descrito seria improvável em uma loja de antiguidades e, portanto, inverossímil.

O LEITOR COMO CÚMPLICE

Lygia Fagundes Telles formou-se em Educação Física e em Direito, mas depois seguiu sua vocação literária e tornou-se uma das escritoras brasileiras mais lidas e premiadas. Veja o que ela disse, em entrevista a uma revista, sobre sua relação com o leitor.

Revista Marie Claire: Você acha que a literatura ajuda as pessoas?

Lygia Fagundes Telles: O leitor não sabe, mas ele me ajuda, é um cúmplice, no melhor sentido da palavra. Quando escrevo, eu estendo uma ponte e digo ‘venha’. De certa forma, eu me desembrulho para estender essa ponte, e o leitor, do outro lado, também se esforça e se desembrulha para aceitar o meu convite. […]”

Silvana Tavano. Disponível em:


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