Português 9º ano



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. Acesso em 22 fev. 2015.

Tragédia de avião em Taiwan é filmada (bem de perto) por câmera de carro
Disponível em: . Acesso em 22 fev. 2015.

Prejuízo com chuva atinge 420 mil no Sul; tragédia é pior da história do PR
Disponível em: . Acesso em 22 fev. 2015.

Copie no caderno a frase que melhor resume a ideia de tragédia.

• Situações em que forças maiores definem a vida das pessoas, causando sofrimento, tristeza e até morte.

• Situações em que as pessoas lutam pela sobrevivência e desafiam, com sucesso, forças maiores.



6. O que mais você sabe sobre o mito de Dioniso? O que poderia ser considerado trágico em sua história?

7. Considerando ainda o sentido de tragédia que escolheu na questão 5, você já leu alguma peça, viu alguma no teatro ou na televisão que pudesse ser considerada trágica?

8. A leitura do texto a respeito de Dioniso permite perceber que, quando surgiu, o teatro teve finalidade bem diferente da que lhe atribuímos hoje. Explique essa afirmação.

9. Nas comédias modernas, de certa forma, o diálogo original entre o comos e o cortejo (participantes da procissão) se mantém, ainda que o público nem sempre fale. Você concorda com essa afirmação? Por quê?

O que vamos fazer nesta unidade

Nesta unidade, você e sua turma poderão conhecer algumas tragédias e algumas comédias; experimentar a linguagem teatral; organizar o Festival do Riso, com a dramatização de cenas das comédias que serão estudadas.



Vamos pensar

• O que são tragédias?

• O que são comédias?

• Como aproveitar a escola para conhecer mais sobre elas?


Página 135

Capítulo 1 - Pode se chocar e se emocionar, porque as tragédias foram feitas para provocar isso mesmo!
Página 136

Conversa afinada

Sugerimos que esta seção seja realizada oralmente, no coletivo, para se caracterizar como uma situação de leitura compartilhada.



1. Do quadro abaixo, que sentimentos e sensações você associaria à máscara teatral grega e às expressões faciais dos atores? Por quê?

angústia


curiosidade

revolta


harmonia

resignação

medo

felicidade



desespero

2. Que tipo de cor predomina nas roupas usadas pelos atores?

• Que possíveis intenções de sentido pode haver na escolha dessas cores para os figurinos?



3. O que parece predominar nessas cenas: a exploração de cenários mais detalhados ou menos detalhados?

• Em qual das cenas a ideia de morte está claramente simbolizada? Explique.



4. Para você, como as encenações dessas peças devem ter explorado os outros elementos típicos do teatro: a interpretação do texto pela voz dos atores, o uso de efeitos sonoros (sonoplastia) e a iluminação?

5. O que você já sabe sobre as tragédias representadas pelas fotos?

O que vamos fazer neste capítulo

Você e sua turma conhecerão o mito de Medeia, presente em uma importante tragédia grega, e em uma peça da dramaturgia brasileira moderna. Experimentarão dúvidas que assombraram o príncipe Hamlet, para quem “há bem mais segredos entre o céu e a terra do que possamos desconfiar...



Pesquisa e ação

Planejando as ações

Você já ouviu falar no jovem Jasão e seu grupo de amigos, os argonautas? E da princesa Medeia, que resolveu trair o próprio pai para ajudar esse jovem? Vamos até a Cólquida para saber mais sobre esse mito? Faça pesquisas em dicionários e livros de mitologia grega ou na internet e descubra:



1. Por que Jasão reuniu os argonautas?

2. O que era e como ficava protegido o velo (também chamado de velocino, velino ou tosão) de ouro?

3. Que provas Jasão teve que enfrentar para trazer o velo de ouro?

4. Como Medeia o ajudou?

5. Por que ela fez isso?
Página 137

Medeia, de Eurípedes

O mito de Medeia teve diferentes versões. Em uma delas, conta-se que, depois de fugir da Cólquida com Jasão, teria ido para o reino dele, Iolco, na Tessália, e causado a morte do rei usurpador, Pélias. Como castigo, ele precisou fugir para Corinto com Jasão e os filhos que eles tiveram. Lá, teriam sido perseguidos e seus filhos teriam sido mortos. Já em outra versão, conta-se que a morte das crianças teria sido causada acidentalmente pela própria Medeia. A partir de 431 a.C., porém, com a encenação da tragédia Medeia, de Eurípedes, o mito passou a ter uma versão praticamente definitiva: Jasão abandonou Medeia para se casar com a filha de Creonte, o rei de Corinto. O monarca decidiu, ainda, expulsar Medeia por temer que ela reagisse. Tomada de ciúme e fúria, ela se vingou, causando a morte do rei, da princesa e dos próprios filhos.



Quem é

Ao lado de Ésquilo e Sófocles, Eurípedes (480 a.C-406 a.C) forma o trio dos grandes autores gregos. Diferentemente dos outros dois, que celebravam a grandeza dos heróis legendários, Eurípedes preferia retratar as paixões humanas. Defensor da igualdade e da democracia, incluía pessoas simples do povo e lutava em favor das mulheres, estrangeiros e escravos.

FEIST, Hildegard. Pequena viagem pelo mundo do teatro. São Paulo: Moderna, 2005. p. 12. (Fragmento adaptado).

Leitura

Ama

Ah, que os céus jamais tivessem permitido à nave Argo voar sobre as neblinas cinzentas que cobrem o mar azul das rochas Cienaias, essas montanhas de pedras movediças que esmagam os barcos temerários. Que nunca os bosques de pinheiros do Pélion tivessem sido derrubados e transformados em poderosos remos nas mãos dos nobres heróis que foram se apossar do Velocino de Ouro para Pélias.

Pois aí, Medeia, minha senhora, também não teria navegado para as torres de Iolco, com sua alma incendiada por amor a Jasão, nem, dominada por essa paixão, teria convencido as filhas de Pélias a matarem o pai, enquanto ela fugia com seus próprios filhos, vindo viver aqui em Corinto, com eles e o marido, Jasão.

Glossário
Ama: mulher que administra a casa alheia, governanta.
Movediças: que se movem com facilidade.
Temerários: arrojados; imprudentes.
Página 138

Aqui, embora estrangeira e fugitiva, encontrou simpatia e proteção de todos os coríntios, pois vivia em perfeita harmonia com Jasão, os dois formando uma pessoa só, ela e o marido. Pois o escudo para a felicidade conjugal é a mulher não discordar jamais de seu esposo. Mas agora o mais profundo amor se transformou no mais rasgado ódio. Jasão traiu seus próprios filhos, traiu minha senhora, casou com a filha de Creonte, rei desta terra, tem o poder, dorme em leito real.

Medeia, ultrajada, desgraçada, invoca os juramentos que Jasão sacramentou com a mão direita, e as supremas promessas de fidelidade feitas por ele, quando, usando seus poderes de feitiçaria, ela o apoiou em tudo e contra todos para alcançar o Velocino, ajudando-o até na luta contra os gigantescos touros de patas de bronze e bocas de fogo. E agora ela brada aos céus para que sejam testemunhas do que Jasão lhe deu em paga.

Aqui jaz minha senhora, jejuando, sem tocar alimento, entregue à dor, se desfazendo em lágrimas o tempo todo, desde que soube da traição do esposo, jamais erguendo o olhar, o rosto rente ao chão. Seus ouvidos são rochedos em meio às ondas — surdos à voz de todos os amigos. Apenas de vez em quando, quase imperceptivelmente, ela ergue o pescoço alvinitente, lamenta por si mesma, pelo pai, pela pátria que traiu, por tudo que abandonou para juntar-se ao homem que agora assim a menospreza.

Ela, pobre senhora, aprendeu na triste experiência o irreparável que é abandonar a terra pátria. Agora odeia os filhos, já não sente alegria em contemplá-los. Tenho medo de que cometa algum terrível desatino. Seu gênio é terrível — não suportará essa ofensa por muito tempo. [...]

EURÍPEDES. Medeia. Tradução de Millôr Fernandes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. p. 9-10. (Fragmento).



Conversa afinada

Sugerimos que esta seção seja realizada oralmente, no coletivo, para se caracterizar como uma situação de leitura compartilhada.



1. A ama acredita que os destinos são traçados pelos homens ou pelos deuses? Explique.

2. Releia.

“Aqui, embora estrangeira e fugitiva, encontrou simpatia e proteção de todos os coríntios, pois vivia em perfeita harmonia com Jasão, os dois formando uma pessoa só, ela e o marido. Pois o escudo para a felicidade conjugal é a mulher não discordar jamais de seu esposo.”



a) O que o emprego da palavra embora pela ama sugere sobre o modo como os estrangeiros eram tratados na Grécia?

b) Que motivo a ama aponta para a boa recepção de Medeia em Corinto?

Glossário
Jaz: está deitada.
Alvinitente: de cor branca e brilhante.
Página 139

c) Que sentidos podem ser atribuídos à metáfora “escudo da felicidade conjugal”?

d) Que visão sobre a mulher está implícita no trecho “Pois o escudo para a felicidade conjugal é a mulher não discordar jamais de seu esposo”?

e) Qual é a sua opinião: Medeia se comporta de acordo com essa visão?

A tragédia em outro tempo e espaço: o mito de Medeia ganha vida em uma vila operária do Rio de Janeiro, nos anos 1970

Escrita por Chico Buarque e Paulo Pontes, em 1975, Gota d’água recria a tragédia de Medeia em uma vila operária (a Vila do Meio-Dia), no Rio de Janeiro dos anos 1970.

O destino das personagens, claro, nada mais tem a ver com os deuses do Olimpo. Suas vidas são em grande parte determinadas pelas contradições de um país que se “modernizava”, acumulava capital e bens, mas sem resolver a má distribuição deles.

A figura do capitalista apenas preocupado com o enriquecimento é representada por Creonte. Ele é dono de todas as moradias da vila operária. Apesar de já terem pagado a ele praticamente o dobro do que estava em contrato, quase todos os moradores ainda lhe devem bastante, e muito por conta dos juros abusivos, não acompanhados pelos salários. O resultado é que não há como deixar de ser “caloteiro”, como protesta com bom humor uma das personagens:

Falhei de novo a prestação da casa...
Mas, pela minha contabilidade, pagando ou não, a gente sempre atrasa
Veja: o preço do cafofo era três
Três milhas já paguei, quer que comprove?
Olha os recibos: cem contos por mês
E agora inda me faltam pagar nove
Com nove fora, juros, dividendo, mais correção, taxa e ziriguidum, se eu pago os nove que inda estou devendo, vou acabar devendo oitenta e um...

BUARQUE, Chico; PONTES, Paulo. Gota d’água. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. p. 21. (Fragmento).



Quem é

Natural do Rio de Janeiro, Chico Buarque é considerado um dos maiores compositores da música popular brasileira. Sua carreira começou na década de 1960, quando venceu o Festival de Música Popular Brasileira com a canção “A banda”. Em 1969, exilou-se na Itália devido à repressão do governo militar, mas, no ano seguinte, retornou ao Brasil para lutar pela democratização do país. Além de músico, Chico escreveu peças, como Roda viva e Gota d’água, e livros, como os premiados Budapeste e Leite derramado.


Página 140

Vale a pena ouvir!

Gota d’água

É expressão idiomática e significa mais ou menos “o que está no limite”, “o que não é mais possível de ser suportado”. Além de nomear a peça, ela é o título do samba que deu a Jasão o caminho para o sucesso. Na verdade, porém, a composição é de Chico Buarque e, além de integrar a peça, passou a circular com autonomia pela esfera musical.

Vale a pena pesquisar e ouvir a força e a beleza dos versos e da melodia!

Deixe em paz meu coração


Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d’água...
BUARQUE, Chico; PONTES, Paulo. Gota d’água. Intérprete: Chico Buarque. In: BUARQUE, Chico. Chico Buarque ao vivo – Paris, Le Zenith. Rio de Janeiro: Sony/BMG Brasil, 1990. 1 CD. (Fragmento).

O poder de Creonte é representado no cenário por uma cadeira imponente que pertenceu ao pai dele e que é usada por ele ao longo da peça. No texto, ela é chamada de trono.

Jasão era morador da vila, juntamente com Joana. Com o apoio dela, teve tempo para se dedicar ao samba e acabou alcançando sucesso com “Gota d’água”. A fama do novo artista atraiu o interesse da filha de Creonte, Alma.

Como o Jasão grego, o rapaz abandonou a antiga parceira e foi viver as promessas de sucesso e conforto trazidas pelo ingresso no mundo endinheirado de Creonte.

Assim, além da história de abandono e sofrimento de Joana, a Medeia carioca, o texto coloca em questão a trajetória de um artista que, originalmente popular, “vendeu” a liberdade de criação para viver do lucro fácil.

Na cena que você lerá a seguir, Jasão e Alma acabam de ter uma conversa a respeito do apartamento que Creonte está mobiliando para os dois. Alma está entusiasmada e questiona a aparente indiferença de Jasão. Ele se defende afirmando ter dificuldade para largar a vida que construiu na vila, as amizades, a rotina, que alimentam seu lado de sambista. Nesse momento, entra Creonte disposto a preparar Jasão para ocupar sua “cadeira” nos negócios.



Quem é

Paraibano de Campina Grande, Paulo Pontes mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi importante para a vida cultural da cidade. Com suas comédias que retratavam o costume carioca, tornou-se nacionalmente conhecido. Mas o grande salto na carreira teatral aconteceu quando recebeu o prêmio de melhor autor por Gota d’água, escrita em parceria com Chico Buarque.


Página 141

Clipe

Em seu curto tempo de vida, Noel Rosa compôs uma extensa e primorosa obra musical. Suas canções são marcadas pelo senso crítico no qual retrata a sociedade e suas questões cotidianas. Um exemplo é a canção Por causa da hora, que ironiza o primeiro horário de verão implantado em 1931.

Noel morreu em 4 de maio de 1937, aos 26 anos de idade.

Visite o blog dedicado ao sambista: http://noelrosacentenario.wordpress.com/>.



Leitura

[...]
(Entrada súbita de Creonte quando Jasão está quase sentado no trono)

CREONTE
Ei... Alma mia, dá um beijo! (beija Alma) Noel Rosa,
senta lá que eu quero a minha cadeira
(Jasão afasta-se do trono para dar lugar a Creonte)
Alma, faça o favor, seja bondosa,
me deixe só com Jasão. Tem poeira
nos olhos dele e eu preciso tirar

ALMA
Beijo, pai. Beijo, amor... (Sai)

CREONTE
Já reparou
que o rádio não para mais de tocar
seu sambinha?...

JASÃO
É, parece que pegou

CREONTE
Parece que pegou? Tem que pegar!
Só tem que pegar. Aprende, meu filho,
dessa lição você vai precisar
Se você repete um só estribilho
no coco do povo, e bate, e martela,
o povo acredita naquilo só
Acaba engolindo qualquer balela
Acaba comendo sabão em pó
Imagine um samba...

JASÃO
Sim, mas parece


que o samba é bom...

CREONTE
Bom? Espetacular


Eu pago pra tocar porque merece
E continuo fazendo rodar
em tudo que é horário...
Página 142

JASÃO
Eu não pedi,


seu Creonte, eu nunca...

CREONTE
Ora, eu sei que não


Noel Rosa, eu pago porque logo vi
que era um samba de boa inspiração
e, por que não?, um bom investimento
Você sabe que eu gosto de ajudar
quem não tem recursos e tem talento
Não é porque você vai se casar
com minha filha, que eu não vou dar bola
a genro, nem Alma precisa...

JASÃO
Eu sei

CREONTE
Te ajudo como ajudo o time, a escola
e essas famílias que eu sempre ajudei
Dou fantasias para o carnaval,
dou uniformes para o campeonato
e água pro conjunto habitacional
desta Vila do Meio-Dia, exato?

JASÃO
Exato...

CREONTE
Mas o que eu quero falar
não é isso. É coisa muito importante

JASÃO
Sobre Alma?...

CREONTE
Não sei como começar
(Tempo) Essa cadeira... repare um instante...
Já viu?...

JASÃO
Que é que tem?...

CREONTE
Escute, rapaz,
você já parou pra pensar direito
o que é uma cadeira? A cadeira faz
o homem. A cadeira molda o sujeito
pela bunda, desde o banco escolar
até a cátedra do magistério
Existe algum mistério no sentar
que o homem, mesmo rindo, fica sério
Você já viu um palhaço sentado?
Pois o banqueiro senta a vida inteira,
o congressista senta no senado
e a autoridade fala de cadeira
O bêbado sentado não tropeça,
a cadeira balança mas não cai
[...]
Pois bem, esta cadeira é a minha vida
Veio do meu pai, foi por mim honrada
e eu só passo pra bunda merecida
Que é que você acha?...

JASÃO
Eu não acho nada,


quer dizer, nunca pensei..., realmente...
Pra mim... cadeira era só pra sentar...

CREONTE
Então senta...

JASÃO
Eu? O senhor quer que eu sente?

CREONTE
Senta! (Jasão senta) Muito bem. Eu vou lhe contar


Se fosse outro homem eu não deixaria
sentar aí, mas você é quase um sócio,
vai casar com Alma e algum dia iria
sentar mesmo... Gostou?...

JASÃO
Bom, meu negócio


é mais samba, música popular...

CREONTE
É boa? Macia?...


Página 143

JASÃO
Como?...

CREONTE
É gostosa
de sentar?...

JASÃO
Ah, é! Dá pra relaxar


o corpo todo...

CREONTE
Muito bem, Noel Rosa


Um dia vai ser sua essa cadeira
Quero ver você nela bem sentado,
como quem senta na cabeceira
do mundo. Sendo sempre respeitado,
criando progresso, extirpando as pragas,
traçando o destino de quem não tem,
fazendo até samba, nas horas vagas
Porém... existe um pequeno porém
Não vai ser assim, pega, senta e basta
Primeiro você vai me convencer
que tem condições de assumir a pasta

JASÃO
Eu sou compositor...

CREONTE
pra viver
de samba?...

JASÃO
É o que eu ia dizer...

CREONTE
Pois não

JASÃO
Sabendo fazer, o negócio é bom


Tem problemas com arrecadação,
mas já tá provado que o nosso som
tem força no mercado. Então nós vamos
montar uma editora pra controlar
os sambas de escola... Depois pegamos...

CREONTE
Isso. É por aí. Mas só que fuçar


em direito autoral dá confusão
Então por que você não faz como eu
e não emprega essa imaginação
trabalhando só no que vai ser teu?

JASÃO
Eu só...

CREONTE
Não é melhor? Fala, rapaz

JASÃO
É melhor...

CREONTE
E então?

JASÃO
Mas o senhor disse...

CREONTE
Disse o quê?...

JASÃO
Isso de ser capaz,


ter condições... talvez eu não servisse...

CREONTE
Não! Você tem muita capacidade,


que é isso? Só quero estar bem seguro
que, no caso de uma necessidade,
posso confiar em você. É o futuro
da minha obra que vou lhe passar
com todos os seus segredos. Enfim,
preciso saber se posso confiar
em você, meu rapaz. Posso?...

JASÃO
Por mim


acho que pode, já que Alma é sua filha

CREONTE
Então posso confiar?...

JASÃO
Pode confiar

CREONTE
Está bem, vou lhe ensinar a cartilha


da filosofia do bem sentar
Página 144

(A orquestra ataca a introdução com ritmo bem marcado; enquanto canta, Creonte vai ajeitando Jasão na cadeira)

Ergue a cabeça, estufa o peito,


fica olhando a linha de fundo,
como que a olhar nenhum lugar
Seguramente é o melhor jeito
que há de se olhar pra todo mundo
sem ninguém olhar teu olhar
Mostra total descontração,
deixa os braços soltos no ar
e o lombo sempre recostado

Assim é fácil dizer não


pois ninguém vai imaginar
que foi um não premeditado
Cruza as pernas, que o teu parceiro
vai se sentir mais impotente
vendo a sola do teu sapato
E se ele ousar falar primeiro
descruza as pernas de repente
que ele vai entender no ato

(A orquestra interrompe seu fundo musical e rítmico)

CREONTE
Por hoje era o que eu tinha a dizer


Mas preste atenção que a partir de agora
todo mundo um pouco vai depender
de você. Cuidado que existe hora
pra ser amigo e pra ser o poder

Não queira sair por aí afora


dizendo o que pensa. Diga o contrário
Esqueça o nome do seu companheiro
e cumprimente o pior salafrário,
que ninguém é inútil por inteiro
Esteja quase sempre sem horário
e sempre de partida pro estrangeiro...
Por falar nisso, sai, vai namorar,
Noel Rosa, porque eu tenho o que fazer

JASÃO (Levantando-se e saindo)


Poxa, nunca imaginei que sentar
fosse tão difícil. Bom, aprender...
[...]

BUARQUE, Chico; PONTES, Paulo. Gota d’água. Disponível em:


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