Boicininga: termo originário da língua tupi usado para designar a cobra cascavel.
Andirá-guaçu: termo usado para designar grandes morcegos encontrados nas Américas do Sul e Central.
Cuim: bebida preparada com uma espécie de farelo de arroz fermentado.
Sandeus: tolos, loucos.
Cauim: bebida indígena preparada com mandioca cozida e fermentada.
Preito: veneração, homenagem.
Bacanal: festa em que reina a devassidão; orgia.
5. No trecho transcrito, São Lourenço pergunta a Guaixará quem é ele. De que forma o demônio se caracteriza?
a) Guaixará é o rei dos diabos que desejam corromper a aldeia com pecados. De que maneira essa caracterização contribui para sugerir a natureza do demônio?
b) Ao ser questionado por São Lourenço, Guaixará revela o que deseja do povo da aldeia. Transcreva em seu caderno o trecho em que isso ocorre.
6. São Sebastião contradiz o diabo, quando este afirma que os índios lhe devem obediência. Qual o argumento utilizado pelo santo?
a) Segundo Guaixará e Aimbirê, São Sebastião está enganado a respeito dos indígenas. Por quê?
b) No final do trecho, São Lourenço parece concordar com a opinião de Guaixará sobre os índios. Explique.
c) De que forma o argumento utilizado por São Sebastião e o embate entre ele e o demônio sugerem a função religiosa e pedagógica desse auto?
7. Como você viu, esse auto foi escrito, originalmente, em três línguas: português, tupi e espanhol. Os versos em tupi são associados ao demônio. Observe também que os três diabos têm nomes indígenas.
> Considerando essas informações, explique de que maneira a escolha da língua falada pelos demônios e dos nomes dessas personagens acaba por reafirmar, de diferentes formas, a superioridade cultural e espiritual dos colonizadores.
Literatura e sociedade
Em 1549, Tomé de Sousa, governador-geral da colônia, chegou ao Brasil e estava autorizado a matar e escravizar os índios que resistissem ao domínio português. Na comitiva, veio o padre Manuel da Nóbrega.
> Com base nessas informações, discuta com seus colegas: o que as ações autorizadas por Portugal nessa data e o projeto de salvação dos indígenas pela fé católica declarado na Carta revelam a respeito dos interesses que guiaram o processo de colonização no período? Explique.
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Diálogos literários:presente e passado
Na atualidade, a sátira continua a ser um importante meio de denúncia dos comportamentos inadequados dos políticos, cuja função é zelar pelos interesses do povo que representam. Autores e artistas modernos e contemporâneos, em textos de diferentes gêneros discursivos (cartuns, charges, poemas, peças teatrais, etc.), criticam os desmandos e as posturas condenáveis daqueles que detêm o poder.
A sátira política nasceu na Antiguidade Clássica e inaugurou uma longa tradição. Entre os poetas que desenvolveram esse tema, destaca-se Juvenal, que criticou duramente a corrupção do Império Romano e a figura do imperador Tito Flávio Domiciano. No Arcadismo, Tomás Antônio Gonzaga, um dos líderes da Inconfidência Mineira, escreveu as Cartas Chilenas para ridicularizar o governador de Vila Rica, Luís da Cunha Meneses. O abolicionista romântico Luiz Gama também se insere nessa tradição, ao criticar a elite brasileira de forma irônica e violenta.
Como veremos no próximo capítulo, a poesia satírica também é uma das linhas que se destacam na literatura do Barroco, e Gregório de Matos será um dos autores do período a usar a sátira como uma arma para criticar os governantes de sua época.
Antes de mergulhar nesse movimento literário e compreender por que parte da obra desse autor se insere nessa tradição, veja como os textos apresentados a seguir, modernos e contemporâneos, ilustram algumas das manifestações da sátira política em diferentes gêneros e linguagens.
Dias Gomes e a caricatura do político brasileiro
O Bem-Amado
[…]
ODORICO — Quem ama a sua terra deseja nela descansar. Aqui, nesta cidade infeliz, ninguém pode realizar esse sonho, ninguém pode dormir o sono eterno no seio da terra em que nasceu. Isso está direito, minha gente?
TODOS — Está não!
ODORICO — Merecem os nossos mortos esse tratamento?
DOROTÉA E JUJU — Merecem não.
[…]
ODORICO — (Já passando a um tom de discurso) Vejam este pobre homem: viveu quase oitenta anos neste lugar. Aqui nasceu, trabalhou, teve filhos, aqui terminou seus dias. Nunca se afastou daqui. Agora, em estado de defuntice compulsória, é obrigado a emigrar; pegam seu corpo e vão sepultar em terra estranha, no meio de gente estranha. Poderá ele dormir tranquilamente o sono eterno? Poderá sua alma alcançar a paz?
TODOS — Não. Claro que não.
Populares são atraídos pelo discurso de Odorico, que se empolga, sobe ao coreto.
ODORICO — Meus conterrâneos: vim de branco para ser mais claro. Esta cidade precisa ter um cemitério.
TODOS — Muito bem! Apoiado!
DOROTÉA — Uma cidade que não respeita seus mortos não pode ser respeitada pelos vivos!
ODORICO — Diz muito bem Dona Dorotéa Cajazeira, dedicada professora do nosso grupo escolar. É incrível que esta cidade, orgulho do nosso estado pela beleza de sua paisagem, por seu clima privilegiado, por sua água radioativa, pelo seu azeite-de-dendê, que é o melhor do mundo, até hoje ainda não tenha onde enterrar seus mortos. Esse prefeito que aí está...
DOROTÉA, DULCINÉA E JUJU — (Vaiam) Uuuuuuuu!
ODORICO — Esse prefeito que aí está, que fez até hoje para satisfazer o maior anseio do povo desta terra?
DIRCEU — Só pensa em construir hotéis para veranistas!
DULCINÉA — Engarrafar água para vender aos veranistas!
ODORICO — Tudo para veranistas, pessoas que vêm aqui passar um mês ou dois e voltam para suas terras, onde, com toda certeza, não falta um cemitério. Mas aqui também haverá! Aqui também haverá um cemitério!
JUJU — (Grita histericamente) Queremos o nosso cemitério!
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DOROTÉA, JUJU, DIRCEU E DULCINÉA — Queremos o cemitério! Queremos o cemitério!
ODORICO — E haveremos de tê-los. Cidadãos sucupiranos! Se eleito nas próximas eleições, meu primeiro ato como prefeito será ordenar a construção imediata do cemitério municipal.
TODOS — (Aplausos) Muito bem! Muito bem!
(Uma faixa surge no meio do povo) VOTE NUM HOMEM SÉRIO E GANHE SEU CEMITÉRIO