. Acesso em: 1º abr. 2016.
A chamada do site de receitas parece sugerir algo absurdo: a existência de uma avó de chocolate. A posição da locução adjetiva de chocolate, após o substantivo avó, cria a possibilidade de que chocolate esteja determinando a matéria de que é feita a avó (como em anel de ouro).
A intenção do autor da chamada é muito diferente: informar que vai apresentar uma receita da vovó para um doce de chocolate. A diferença de interpretação é muito importante, porque muda completamente o sentido do que se pretendeu dizer.
É claro que as pessoas que leem essa chamada fazem a interpretação correta: trata-se de uma “receita de doce de chocolate da avó”. Mesmo assim, o texto provoca estranhamento e riso.
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O deslocamento da locução adjetiva para depois do substantivo doce eliminaria a ambiguidade estrutural desse enunciado: “Receita de doce de chocolate da avó”. Outra solução seria deslocar a locução da avó para depois do substantivo receita e substituir a preposição de por dois-pontos: “Receita da avó: doce de chocolate”.
• Ambiguidade lexical
Às vezes, a interpretação ambígua é desencadeada pelo uso de uma palavra que não permite identificação precisa de seu referente no texto. É o caso, por exemplo, do pronome relativo que. Veja.
O padre Rolim, outro dos inconfidentes, era filho de José da Silva Oliveira, caixa da Real Administração dos Diamantes. Era o dono de Chica da Silva, irmã de criação do padre Rolim que foi amante do último contratador de diamantes, João Fernandes de Oliveira, que, por sua vez, era filho do primeiro contratador, seu homônimo.
Alves, Márcio Moreira. Federação, nepotismo e outras mexidas. O Globo, Rio de Janeiro, 11 set. 2003. (Fragmento).
O texto refere-se a algumas pessoas que tomaram parte da Inconfidência Mineira. Quando o autor fala sobre o parentesco do padre Rolim com a famosa escrava Chica da Silva, o pronome relativo provoca uma interpretação estranha. Do modo como foi utilizado, o pronome pode se referir tanto ao padre quanto a Chica da Silva. E, a depender de seu referente, muda a identidade do(a) amante de João Fernandes de Oliveira.
Nesse caso, a história é conhecida e nos ajuda a decifrar o problema: Chica da Silva foi amante de João Oliveira e tornou-se uma mulher poderosíssima no arraial de Tijuco justamente por conta dessa relação. Quem não conhece a história, porém, pode dar outra interpretação muito diferente a essa passagem do texto.
Para evitar a ambiguidade, basta substituir o pronome relativo que por a qual. Com a flexão de gênero marcada, saberíamos que o referente do pronome teria de ser Chica da Silva.
ATIVIDADES
Leia atentamente a tira abaixo para responder às questões 1 e 2.
Hagar
Chris Browne
© 2016 KING FEATURES SYNDICATE/IPRESS
BROWNE, Chris. Hagar. Folha de S.Paulo. São Paulo, 22 ago. 2015. Disponível em: . Acesso em: 3 mar. 2016.
1. Como deveria ser entendida a pergunta feita por Hagar a Eddie Sortudo?
> Considerando a resposta dada por Eddie, que sentido ele atribuiu à pergunta? Justifique com elementos da tira.
2. O duplo sentido foi explorado pelo autor da tira para produzir o humor. Explique.
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Leia atentamente a placa ao lado para responder às questões de 3 a 5.
ARQUIVO PESSOAL
Placa informativa no Parque Portugal, em Campinas.
3. O autor da placa pretendia deixar clara uma proibição referente ao uso dos pedalinhos. Que proibição é essa?
4. Do modo como foi escrita a advertência, ela permite uma segunda interpretação. Qual seria ela?
> O nosso conhecimento de mundo impede que seja feita essa interpretação da advertência na placa. Por quê?
5. As duas interpretações possíveis para a advertência feita na placa são provocadas por uma ambiguidade estrutural. Por quê?
> Como a advertência deveria ser redigida para evitar a ambiguidade estrutural?
Ironia
Leia com atenção a charge.
João Montanaro
© JOÃO MONTANARO/FOLHAPRESS
MONTANARO, João. Folha de S.Paulo. São Paulo, 29 mar. 2014. Disponível em: . Acesso em: 2 mar. 2016.
1. A charge apresenta um momento da conversa de um casal. Com base nesse diálogo, explique qual o tema provável da conversa entre as personagens.
2. O que o comentário feito pelo homem revela sobre o modo como ele vê as mulheres? Explique.
3. O que o comentário feito pela mulher revela sobre o modo como ela encara a postura assumida pelo homem?
4. Como deve ser entendida a fala da mulher no contexto da charge?
A análise do diálogo entre o homem e a mulher, na charge, deixa claro que, muitas vezes, as falas e os textos não devem ser interpretados ao pé da letra. Como vimos, a resposta da mulher ao comentário machista feito pelo homem deve ser entendida, no contexto da tira, como uma afirmação claramente irônica.
Tome nota
Ironia é o efeito resultante do uso de uma palavra ou expressão que, em um contexto específico, ganha sentido oposto ou diverso daquele que habitualmente tem.
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João Montanaro faz, na charge, um jogo intencional ao estabelecer uma relação entre a visão do que um homem machista julga ser o comprimento adequado de uma saia (30 cm) e uma postura que denota pouca inteligência (supor que, no século XXI, as mulheres vão aceitar resignadamente que os homens determinem como devem se vestir). O leitor, ao constatar que a mulher utiliza a mesma medida (30 cm) para aludir à pequenez do cérebro desse homem, entende que o autor da charge pretendeu ironizar comportamentos machistas.
De olho na fala
Na fala, a intenção irônica costuma ser marcada por uma prosódia particular (maior duração, entoação exagerada, altura de voz). Na tira abaixo, o negrito é usado para evidenciar o modo irônico como Heart usa a prosódia para sugerir que ela não tem qualquer interesse em assistir ao jogo de hóquei de rua. A expressão da personagem (olhos revirados para cima, boca entreaberta e posição dos pés e das mãos), no segundo quadro, também contribui para explicitar o caráter irônico da sua fala.
Heart
Mark Tatulli
© 1999 MARK TATULLI, INC. ALL RIGHTS RESERVED/DIST. BY UNIVERSAL UCLICK
TATULLI, Mark. Heart of the city. Disponível em:
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