Português: contexto, interlocução e sentido



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. Acesso em: 25 jan. 2016. (Fragmento adaptado).

Cliff: referência, no surf, ao paredão formado pelo corpo de uma onda que ainda não rebentou. O termo, em inglês, significa “penhasco”.

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FRANCISCO SECO/AP PHOTO/GLOW IMAGES

Surfista faz manobra em onda gigante na praia do Norte, em Nazaré, Portugal, 2014.
Página 259

Texto 2

Lembranças de quem viveu o 11 de setembro de 2001

Depois de cobrir os ataques de 11 de setembro, não adio nada que eu quero fazer. De quase três mil mortos, a maioria tinha menos de 25 anos. Porque foi no horário em que estagiários e recém-formados trabalham. Eram 8h20 da manhã. Imagina só, você acaba de se formar, vai ao trabalho, um avião bate no prédio e você morre… Eu morava perto, a duas estações de trem do World Trade Center, e por isso corri pra lá. Tinha voltado da academia, estava subindo o elevador. Minha rotina geralmente era: ia para a academia, voltava, aí ligava a televisão e o computador. Quando eu liguei a televisão tinha acabado de acontecer. Eu não entendi nada, só vi um buraco enorme no prédio.

Eu e o cinegrafista Orlando Moreira fomos os primeiros jornalistas brasileiros a chegar ao que restava do WTC. Ou seja: escombros. Fomos a pé porque o sistema de transportes da cidade tinha parado de funcionar. Fora suspenso, por receio de novos ataques. O serviço só seria restabelecido no fim da tarde. Assim mesmo, parcialmente. [...]

Não havia como falar com a redação, que ficava no centro de Manhattan. Os telefones celulares não estavam funcionando porque, quando uma das torres veio abaixo, tinha no topo a antena que permitia a comunicação telefônica. Havia muitos brasileiros, no meio da multidão que fugia. Vários, ao verem o microfone que eu segurava, com o símbolo da Globo, vinham até nós, espontaneamente, dar seu emocionado relato do que acontecera.

Foi difícil atravessar a barreira de policiais, as barricadas, a fumaça, sentindo aquele cheiro de carne queimada que, mais tarde, saberíamos vir das milhares de vítimas carbonizadas. O prefeito de Nova York, Rudy Giuliano, nos viu e mandou que colocássemos máscaras contra toda aquela poeira e poluição. Orlando trabalhava incansavelmente. Fez as impressionantes imagens que abririam o Jornal Nacional daquela noite e que são utilizadas até hoje.

De tudo, posso dizer que o mais difícil não foi a parte jornalística, árdua sim, trabalhosa sim, mas a parte humana. Difícil foi saber dos quase três mil assassinatos, ver as pessoas saltando para a morte por estarem cercadas pelas chamas, calor e fumaça, e manter para o telespectador brasileiro um relato jornalístico objetivo sem me deixar tomar pela emoção e revolta. [...]

SILVESTRE, Edney. Lembranças de quem viveu o 11 de setembro de 2001. Disponível em: . Acesso em: 25 jan. 2016. (Fragmento).

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MARIO TAMA/GETTY IMAGES

Nova York, 11 de setembro de 2001: após a queda das Torres Gêmeas, as pessoas tentam se proteger do ar saturado pela poeira dos destroços.

Análise

1. Que fato principal é relatado em cada um dos textos?

2. Resumidamente, escreva em seu caderno a sequência de acontecimentos relatados nos textos 1 e 2.

3. O texto 1 é a transcrição de trecho de uma entrevista em que a surfista Maya Gabeira relata como enfrentou uma onda gigantesca e quase morreu. Observe a linguagem e transcreva no caderno passagens do texto que apresentam a estrutura de um relato oral.

> Por que essas passagens ilustram estruturas de um relato oral?

4. O texto 2 apresenta um relato com uma estrutura mais adequada à escrita. Compare a linguagem e a organização dos textos 1 e 2. Que diferenças podem ser observadas no modo como foram estruturados?

> Elabore, no caderno, uma hipótese para explicar essas diferenças, considerando o contexto de produção e de circulação dos dois textos.

5. Que características comuns os dois textos apresentam?
Página 260

Relato: definição e usos

A todo instante contamos alguma coisa a alguém. Como foi o show de nosso artista preferido, o último filme a que assistimos, um evento importante presenciado por nós. São inúmeras as circunstâncias em que relatamos, para alguém, o que ocorreu em uma ocasião específica.

Os dois textos reproduzidos na abertura deste capítulo fazem exatamente isso: o primeiro conta o que aconteceu quando uma surfista brasileira sofreu um acidente ao tentar surfar uma onda gigante e foi resgatada por outro surfista; o segundo, como foram as experiências vividas por um repórter de televisão, em Nova York, no dia 11 de setembro de 2001. Como esses textos focalizam prioritariamente a ação, são considerados relatos.

Tome nota

O relato é um gênero discursivo no qual são apresentadas as informações básicas (os fatos) referentes a um acontecimento específico. O principal objetivo do relato, oral ou escrito, é narrar para o leitor/ouvinte uma sequência de acontecimentos. Por esse motivo, os relatos focalizam as ações.

A principal finalidade dos relatos é apresentar uma sequência de acontecimentos, o que faz com que a articulação dos fatos a serem narrados seja muito importante. De modo geral, essa articulação é feita, no plano das ideias, pela relação lógica que se estabelece entre as ações a serem relatadas.

Recorremos ao relato com grande frequência tanto em contextos de oralidade como de escrita.



Contexto de circulação

Ao contrário da maioria dos gêneros discursivos, os relatos (orais ou escritos) ocorrem em muitos contextos diferentes. Isso acontece porque recorremos a esse gênero todas as vezes que temos a necessidade de apresentar uma sequência específica de fatos, associados a uma determinada situação.

Há um contexto, porém, em que as pessoas se reúnem para ouvir e fazer relatos: as rodas de “causos”. Ainda frequentes em pequenas cidades do interior, essas situações se caracterizam pela presença de alguns “contadores de causos”, pessoas que têm uma grande habilidade em apresentar de modo envolvente as histórias que contam.

Um contexto virtual cada vez mais utilizado para fazer com que um relato seja lido pelo maior número de pessoas é o dos chamados sites de reclamação. Nesses sites, consumidores insatisfeitos com produtos, atendimento ou serviços prestados registram suas reclamações sob a forma de relatos.

É também muito comum encontrarmos trechos narrativos com características de relato integrando outros gêneros discursivos. Um exemplo infelizmente muito frequente em uma sociedade como a nossa é o boletim de ocorrência.

Cada vez que um crime é cometido, os investigadores coletam o relato das vítimas, registrando, no boletim de ocorrência, os fatos da maneira como são por elas relatados. Em outros casos — os acidentes automobilísticos, por exemplo —, há relatos pessoais conflitantes e os investigadores são obrigados a comparar versões e decidir, com base em outras informações (análise dos veículos e do local do acidente), qual reconstrução dos acontecimentos é verdadeira.

Em entrevistas (tanto orais quanto escritas), sempre que uma pergunta leva o entrevistado a reconstituir uma sequência de fatos ocorridos, ele recorre ao relato para elaborar sua resposta.

Os interlocutores dos relatos

No caso dos relatos orais, sempre haverá um interlocutor específico para quem os acontecimentos são relatados. É possível, portanto, fazer uma imagem mais precisa desse(s) interlocutor(es) e, em função dessa imagem, selecionar melhor as informações a serem apresentadas e o nível de formalidade a ser adotado no uso da linguagem.

No caso dos relatos escritos, torna-se difícil estabelecer uma imagem específica dos seus leitores, porque tal imagem dependerá do contexto em que o relato ocorre.

Se ele aparecer em uma publicação que tem como público-alvo os jovens, como as revistas Capricho ou Fluir, o perfil dos interlocutores imaginado pelo autor se aproximará do perfil dos leitores dessas revistas. Se, entretanto, o relato for publicado em uma revista de atualidades, como Veja ou Época, o perfil dos leitores torna-se mais amplo, caracterizando o que conhecemos por interlocutor universal.

Estrutura

Na organização dos relatos, o primeiro fator a ser considerado é a situação de interlocução, porque ela estabelecerá importantes diferenças entre um relato oral e um relato escrito.

Em um relato oral, costumamos estar em contato direto com nossos interlocutores que, a qualquer momento, podem nos interromper e pedir informações ou esclarecimentos. Isso dá, a quem relata oralmente um fato, maior liberdade em termos estruturais.

Quando fazemos um relato escrito, devemos lembrar que os leitores não terão como solicitar mais informações ou esclarecimentos. O texto precisa, portanto, conter todas as informações necessárias para ser compreendido por quem o lê.

Além disso, o relato escrito também deve fazer uso dos recursos de articulação textual próprios da escrita (uso de conjunções, pronomes, substituições, pontuação que garanta a relação adequada entre as ideias, etc.).

Linguagem

Como o foco dos relatos está na ação, um aspecto importante da sua estrutura é o controle do tempo. O interlocutor do texto precisa contar com marcas textuais que permitam inferir a sequência dos acontecimentos. Veja o texto a seguir.


Página 261

Eu morava perto, a duas estações de trem do World Trade Center, e por isso corri pra lá. Tinha voltado da academia, estava subindo o elevador. [...] Quando eu liguei a televisão tinha acabado de acontecer. Eu não entendi nada, só vi um buraco enorme no prédio.

No trecho, observamos que os verbos e as locuções verbais foram flexionados no passado, para indicar que os fatos relatados ocorreram em momento anterior ao do próprio relato. A sequência em que os verbos foram apresentados reconstitui, para os leitores, a ordem dos acontecimentos.

A situação de interlocução em que ocorre o relato definirá o grau de formalidade da linguagem utilizada, tanto na oralidade quanto na escrita. Contextos que pressupõem maior familiaridade entre os interlocutores admitem maior informalidade.



Experiências compartilhadas: produção de relato

1. Pesquisa e análise de dados

Todos nós já passamos por situações embaraçosas que são motivo de riso para os outros. São os famosos “micos”. Algumas revistas e sites destinados ao público jovem chegam a ter uma seção dedicada à publicação de relatos enviados pelos leitores. Veja um exemplo.



Tinha uma porta no meio do caminho...

“Uma vez fui a uma festa na casa de um amigo do meu irmão e não conhecia ninguém lá. Mas avistei um menino lindo dentro do salão e quando fui falar com ele… PÁ! Enfiei minha cara numa porta de vidro, quase caí pra trás e todo mundo viu, até ele. Fui cambaleando até o banheiro pra ver se não tinha quebrado o nariz. Foi horrível demais!”

Mico enviado por L. G. Disponível em:


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