. Acesso em: 27 jan. 2016. (Fragmento).
O jornalista Bernardo Esteves, para construir o perfil de uma personagem insólita — um homem obcecado por máquinas de lavar roupa —, recorre a termos e expressões que estabelecem, no texto, um campo semântico específico.
Como o texto da reportagem precisa focalizar um mesmo eletrodoméstico (a máquina de lavar), o jornalista se viu obrigado a explorar diferentes modos de fazer referência a esse objeto. No subtítulo e no primeiro parágrafo o autor fez uso de sinônimos (lavadoras e máquina de lavar) para retomar, em momentos diferentes, o mesmo referente.
Há outros termos e expressões que, dado o campo semântico criado, necessariamente fazem referência a máquinas de lavar: máquina, modelo importado, modelo, últimas unidades, primeiro modelo, modelo novo. Se o campo semântico fizesse referência a veículos, por exemplo, esses mesmos termos poderiam ser utilizados. Isso acontece porque seu sentido se define na relação com o campo semântico estabelecido no texto.
Além dos termos e expressões utilizados para recuperar um mesmo referente (a lavadora de roupa), o campo semântico inclui outros aspectos associados ao processo de lavagem de roupa: configurações, ciclos de lavagem, etc.
O fato de o modelo cobiçado por Fernando Ricci ser sofisticado e caro deu a Bernardo Esteves a possibilidade de criar uma metáfora (a Ferrari das lavadoras) com base em uma relação de semelhança com modelo importado.
Esse exemplo mostra a importância de sabermos controlar relações de sentido entre palavras de um mesmo texto, porque elas nos ajudam a construir a articulação das partes, estabelecendo assim a coesão textual.
Pratique
Sua tarefa agora será a de escrever uma reportagem sobre pessoas dependentes dos smartphones, explorando as possibilidades lexicais criadas pelo campo semântico definido em seu texto. Considere, como ponto de partida para a sua pesquisa sobre o tema, o trecho abaixo.
Veja mais orientações no Guia de recursos.
60% das pessoas dormem segurando smartphones, diz pesquisa
Consumidores por todo o mundo admitem: eles dormem com seu smartphone, o levam para o banho e resgatariam o aparelho de um incêndio antes de salvar o gato da família.
Essas são algumas das descobertas de uma pesquisa feita em sete países entre mais de 7 mil pessoas sobre seus hábitos com smartphones divulgada nesta terça-feira [...]
Sessenta por cento dos entrevistados disseram que dormem segurando seus aparelhos — com a maior porcentagem na Índia (74%) e China (70%). E 57% disseram que levam seus celulares para o banheiro, com as maiores porcentagens na China e no Brasil.
Um em cada seis usuários de smartphones disse que usa o aparelho durante o banho, e mais da metade (54%) afirmou que procuraria o celular antes do gato da família no caso de um incêndio.
ISTOÉ online. 28 jul. 2015. Disponível em: . Acesso em: 27 jan. 2016. (Fragmento).
Página 165
Capítulo 16 Efeitos de sentido
Duplo sentido
Uma das figuras de linguagem, a ironia (figura de pensamento), será abordada com mais destaque neste capítulo, dado o seu importante papel na construção de efeitos de sentido e a frequência com que é utilizada intencionalmente pelos usuários da língua.
Observe atentamente o anúncio reproduzido abaixo.
REPRODUÇÃO
Época. São Paulo: Globo, n. 264, 9 jun. 2003.
Desnaturado: perverso, cruel, desumano.
1. Uma expressão, neste anúncio, foi usada para provocar uma reação de estranhamento no leitor. Qual é ela?
> Explique por que o leitor provavelmente reagiria dessa forma.
2. Como deve ser entendida essa expressão, no contexto do anúncio? Justifique.
3. No caderno, transcreva, do anúncio, a passagem em que se faz uma alusão ao sentido pejorativo da expressão em questão.
> Que função essa passagem cumpre no contexto do anúncio?
4. Podemos afirmar que o anúncio foi criado para explorar o duplo sentido da expressão “filho da mãe”. Por quê?
Em diferentes situações de interlocução, observamos que as pessoas exploram a possibilidade de palavras ou expressões receberem mais de uma interpretação. Quando fazem isso, cria-se um efeito de duplo sentido.
Embora ambiguidade e duplo sentido sejam considerados sinônimos, preferiu-se estabelecer uma ligeira distinção conceitual entre os dois. Duplo sentido será usado sempre que a possibilidade de mais de uma interpretação for intencional, algo produzido pelo sujeito. O termo ambiguidade será usado sempre que a possibilidade de mais de uma interpretação resultar de alguma construção linguística problemática e não intencional.
Tome nota
Duplo sentido é a propriedade que têm certas palavras e expressões da língua de serem interpretadas de duas maneiras diferentes.
Recorremos ao duplo sentido para provocar o riso, despertar a curiosidade (caso do anúncio da Fundação S.O.S. Mata Atlântica), criar implícitos. Como usuários da língua, devemos ser capazes de reconhecer quando uma palavra ou expressão pode adquirir mais de um sentido. Devemos, também, ser capazes de associar cada um desses sentidos possíveis a um contexto particular.
Duplo sentido e conotação
Textos publicitários, como já vimos, recorrem ao uso conotativo da linguagem para criar efeitos de sentido específicos e alcançar seu principal objetivo: persuadir os leitores a fazer algo (comprar um produto, contribuir para uma campanha, etc.).
Textos de humor gráfico, como a charge, o cartum e as tiras cômicas, também costumam explorar a tensão entre uma interpretação denotativa e uma interpretação conotativa de certos termos. Observe, na próxima página, a tira da cartunista Nat Bespaloff.
Página 166
Nat Bespaloff
@RENATTOHENRI/NAT BESPALOFF
BESPALOFF, Nat. Disponível em:
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