. Acesso em: 3 mar. 2016.
O título da tira, ”Na padaria da vida”, chama a atenção do leitor para a intenção da autora de explorar o duplo sentido. Como não existem “padarias da vida”, devemos nos preparar para estabelecer aproximações entre o texto dos quadrinhos, o contexto de uma padaria real e a própria vida.
No primeiro quadrinho, uma adolescente afirma que as pessoas entram na padaria da vida “querendo um sonho”. Em padarias reais, sonhos são doces feitos com farinha de trigo, cobertos por açúcar e canela. Na vida, sonhos são projetos, fantasias, desejos das pessoas.
No segundo quadrinho, a fala anterior é completada com uma constatação de caráter negativo: “[Na padaria da vida,] você entra querendo um sonho, mas leva um bolo”. Porém, o referente real do termo bolo (doce ou salgado feito com massa de farinha de trigo, assado em tabuleiros e fôrmas) não deveria ser visto como algo negativo.
Em uma padaria real, a personagem poderia ter a intenção de comprar um sonho e mudar de ideia, escolhendo um bolo. Isso não seria motivo para descontentamento ou frustração, como a expressão da personagem parece sugerir. No entanto, devemos nos lembrar de que o termo bolo também é utilizado em expressões coloquiais com valor conotativo: dar um bolo / levar um bolo. Dar um bolo significa não cumprir um compromisso assumido ou não comparecer a um encontro marcado. Como a personagem da tira constata que, na padaria da vida, quem entra querendo um sonho acaba levando um bolo, está se colocando na posição de quem espera alcançar algo com que sonhou, mas termina frustrada pela realidade da vida. É esse jogo que cria o duplo sentido no texto da tira.
Ambiguidade: a indeterminação problemática
Em alguns casos, observamos que um texto pode ter mais de um sentido sem que isso tenha sido intencionalmente produzido. Nesses casos, dizemos que ocorreu uma ambiguidade.
Tome nota
Ambiguidade é a indeterminação de sentido que certas palavras ou expressões apresentam, dificultando a compreensão do enunciado.
• Ambiguidade estrutural
A presença de passagens ambíguas frequentemente provoca dificuldade de compreensão de um texto e deve ser evitada. Muitas vezes a ambiguidade é criada pelo posicionamento de determinada palavra ou expressão em um enunciado. Observe:
HTTP://WWW.RECEITASSUPREME.NET/RECEITA-DE-DOCE-DA-AVO-DECHOCOLATE/ – ACESSO EM 11/11/2015
Receitas Supreme. Disponível em: . Acesso em: 1º abr. 2016.
A chamada do site de receitas parece sugerir algo absurdo: a existência de uma avó de chocolate. A posição da locução adjetiva de chocolate, após o substantivo avó, cria a possibilidade de que chocolate esteja determinando a matéria de que é feita a avó (como em anel de ouro).
A intenção do autor da chamada é muito diferente: informar que vai apresentar uma receita da vovó para um doce de chocolate. A diferença de interpretação é muito importante, porque muda completamente o sentido do que se pretendeu dizer.
É claro que as pessoas que leem essa chamada fazem a interpretação correta: trata-se de uma “receita de doce de chocolate da avó”. Mesmo assim, o texto provoca estranhamento e riso.
Página 167
O deslocamento da locução adjetiva para depois do substantivo doce eliminaria a ambiguidade estrutural desse enunciado: “Receita de doce de chocolate da avó”. Outra solução seria deslocar a locução da avó para depois do substantivo receita e substituir a preposição de por dois-pontos: “Receita da avó: doce de chocolate”.
• Ambiguidade lexical
Às vezes, a interpretação ambígua é desencadeada pelo uso de uma palavra que não permite identificação precisa de seu referente no texto. É o caso, por exemplo, do pronome relativo que. Veja.
O padre Rolim, outro dos inconfidentes, era filho de José da Silva Oliveira, caixa da Real Administração dos Diamantes. Era o dono de Chica da Silva, irmã de criação do padre Rolim que foi amante do último contratador de diamantes, João Fernandes de Oliveira, que, por sua vez, era filho do primeiro contratador, seu homônimo.
Alves, Márcio Moreira. Federação, nepotismo e outras mexidas. O Globo, Rio de Janeiro, 11 set. 2003. (Fragmento).
O texto refere-se a algumas pessoas que tomaram parte da Inconfidência Mineira. Quando o autor fala sobre o parentesco do padre Rolim com a famosa escrava Chica da Silva, o pronome relativo provoca uma interpretação estranha. Do modo como foi utilizado, o pronome pode se referir tanto ao padre quanto a Chica da Silva. E, a depender de seu referente, muda a identidade do(a) amante de João Fernandes de Oliveira.
Nesse caso, a história é conhecida e nos ajuda a decifrar o problema: Chica da Silva foi amante de João Oliveira e tornou-se uma mulher poderosíssima no arraial de Tijuco justamente por conta dessa relação. Quem não conhece a história, porém, pode dar outra interpretação muito diferente a essa passagem do texto.
Para evitar a ambiguidade, basta substituir o pronome relativo que por a qual. Com a flexão de gênero marcada, saberíamos que o referente do pronome teria de ser Chica da Silva.
Explicar aos alunos que uma outra solução para a ambiguidade seria apresentar o aposto “irmã de criação do padre Rolim” entre parênteses [Era o dono de Chica da Silva (irmã de criação do padre Rolim), que foi amante...]. Nesse caso, o pronome que teria como referente obrigatório Chica da Silva.
ATIVIDADES
Leia atentamente a tira abaixo para responder às questões 1 e 2.
Hagar
Chris Browne
© 2016 KING FEATURES SYNDICATE/IPRESS
BROWNE, Chris. Hagar. Folha de S.Paulo. São Paulo, 22 ago. 2015. Disponível em:
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