Português: contexto, interlocução e sentido



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. Acesso em: 3 fev. 2016.
Página 222

Vamos acompanhar a construção do sentido da tira.



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© EDGAR VASQUES

© EDGAR VASQUES

Como a tira apresenta personagens que vivem em um lixão, o efeito de sentido produzido pelo autor revela uma intenção crítica: não faz tanta diferença para as crianças constatarem a chegada de uma estação associada à abundância, porque se alimentam de restos.

Podemos observar o uso de um raciocínio inferencial em diferentes situações de leitura. Os procedimentos apresentados a seguir são exemplos de como o raciocínio inferencial se soma a outros procedimentos necessários para a compreensão do sentido dos textos.

A identificação de pressupostos

Leia com atenção a tira abaixo, analisando o texto e as imagens.

CARAMINHOLAS

REMEDIOS

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© REMEDIOS

REMEDIOS, Filipe. www.caixadoremedios.com.br. Disponível em: . Acesso em: 5 abr. 2016.
Página 223

O homem de camisa listrada tem uma explicação para a estranha cena apresentada no segundo quadrinho.

Para compreendermos como ele chegou a essa resposta, devemos analisar o texto quadro a quadro. Veja.

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© REMEDIOS

© REMEDIOS

No terceiro quadrinho, ao responder à pergunta inicial, o homem de blusa listrada parte de um pressuposto baseado em uma visão estereotipada: não existem políticos honestos.

Somente ao ler a fala do último quadrinho é possível para o leitor inferir que ele se limita a repetir esse juízo de valor sobre os políticos e que esse juízo formou-se culturalmente em um momento anterior àquele em que os dois homens observam um outro que anda com uma guia sem nenhum animal.

Trata-se, portanto, de algo que foi pressuposto pelo homem de camisa listrada, ou seja, uma ideia, uma circunstância, um juízo ou um fato tomado como antecedente necessário de algo que foi dito.

A identificação do pressuposto de que não há políticos honestos é essencial para a compreensão do humor da tira.

Ao analisar esta tira com os alunos, discuta com eles o fato de que as generalizações, nas quais se baseiam os estereótipos, muitas vezes precisam ser discutidas, porque não correspondem à realidade dos fatos. No caso em questão, a existência de vários políticos desonestos não nos autoriza a concluir que todos os políticos o sejam.
Página 224

A explicitação de implícitos

Nem sempre a leitura das entrelinhas depende apenas de algo que foi pressuposto. Em muitos textos, a leitura das entrelinhas pode depender também de uma informação conhecida do leitor e que está subentendida, sugerida pelo texto. Observe a tira a seguir.

ARMANDINHO

ALEXANDRE BECK

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© ALEXANDRE BECK

BECK, Alexandre. Disponível em: . Acesso em: 3 fev. 2016.

Por que o menino Armandinho deseja saber se seu pai o ama mais do que ama a janela da sala? Para entender a tira, temos de reconstruir o sentido do texto preenchendo algumas lacunas que ficaram sugeridas.



ANÁLISE DOS DADOS PARA COMPREENDER O QUE MOTIVOU A AFIRMAÇÃO INICIAL

1º dado: Armandinho pergunta ao pai se ele o ama.

2º dado: o pai informa a Armandinho que o menino é o que ele mais ama na vida.

3º dado: Armandinho pede ao pai que confirme que o ama mais do que ama a janela da sala.

Conhecimento de mundo que o leitor deve ter sobre o contexto criado na tira: 1. Meninos, de modo geral, gostam de brincadeiras que envolvem atividades físicas que costumam provocar “acidentes”.

2. É grande a probabilidade de quebrar vidros de janelas quando se joga bola nas proximidades.



Análise decorrente dos dados presentes na tira e evocados pelo contexto por ela estabelecido: se meninos gostam de brincadeiras que envolvem atividades físicas e costumam quebrar janelas quando jogam bola, devemos concluir, pela pergunta feita por Armandinho no último quadrinho, que ele deixou subentendido que quebrou a janela da sala.

É esse o sentido da associação entre a pergunta inicial (“Pai, você me ama?”) e a conclusão sugerida em sua pergunta final que, à primeira vista, parece estranha (“Então é mais que a janela da sala, né?”) e que segue a resposta do pai (“Você é aquilo que mais amo nesta vida!”).

O texto da tira contém um implícito, ou seja, algo que fica subentendido (a janela da sala foi quebrada), que é sugerido pelo contexto estabelecido no texto e que depende, para ser explicitado, da capacidade do leitor de resgatar informações evocadas pelo contexto (no caso, sobre as brincadeiras preferidas pelos meninos e os riscos de acidentes a elas associados) e confrontá-las com os dados obtidos no próprio texto.

Constata-se, assim, que os implícitos estão sempre associados a uma informação anterior, pressuposta. No exemplo, é o pressuposto sobre a alta probabilidade de algo se quebrar quando crianças jogam bola que permite ao leitor compreender o sentido por trás da pergunta final de Armandinho.


Página 225

O estabelecimento de relações intertextuais

Algumas vezes nos deparamos com um texto ou imagem que nos provoca a sensação de estar diante de algo conhecido. É o que ocorre nesta tira:

PIRATAS DO TIETÊ

LAERTE

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© LAERTE


LAERTE. Piratas do Tietê. Folha de S.Paulo. São Paulo, 13 jun. 2002.

A situação representada na tira é conhecida dos fãs de seriados ou filmes policiais: várias pessoas são colocadas em pé, diante de uma parede, em uma sala fechada, cada uma com um número. Em outra sala, a testemunha observa, sem ser vista, as pessoas e tenta reconhecer o “suspeito”.

O texto da tira pode parecer, à primeira vista, incompreensível. A primeira parte (“Já não sei dizer quem foi...”) corresponde a uma fala possível de alguém que, diante de suspeitos, não seja capaz de reconhecer nenhum deles. O problema, porém, está na segunda parte da fala: “Aliás, já nem sei quem sou, de onde vim ou pra onde vou”. Que sentido pode ter uma fala como essa no contexto criado pelo autor da tira (reconhecimento de um suspeito de cometer um crime)?

Para responder a essa questão, precisamos analisar o texto e as imagens que compõem a tira. Quem são os “suspeitos” ali apresentados? Para identificá-los, temos de recorrer a informações sobre a história da filosofia ocidental, porque todos eles são caricaturas de grandes filósofos. Veja.



Suspeito” nº 1 – René Descartes (1596-1650).

Filósofo, físico e matemático francês, considerado o fundador da filosofia moderna. Ao pôr em dúvida todo o conhecimento que, então, julgava ter, concluiu que apenas poderia ter certeza de que duvidava. Se duvidava, então, necessariamente, também pensava; e, se pensava, necessariamente, existia. Nasceu assim o famoso postulado Cogito ergo sum (“Penso, logo existo”).



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FRANS HALS - MUSEU DO LOUVRE, PARIS

© LAERTE

HALS, Frans. Retrato de René Descartes. 1649. Óleo sobre tela, 77 × 68 cm.



Suspeito” nº 2 – Sócrates (470-399 a.C.).

Filósofo ateniense, conhecido como o “pai” da filosofia ocidental. A introspecção é a característica definidora da filosofia socrática. Traduz-se no famoso lema “Conhece-te a ti mesmo”.



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ARALDO DE LUCA/CORBIS/LATINSTOCK

© LAERTE

Busto, em mármore, representando Sócrates, esculpido com base em um original grego da segunda metade do século IV a.C.


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Suspeito” nº 3 – Karl Heinrich Marx (1818-1883).

Filósofo alemão, famoso pela análise que fez das relações de trabalho e produção, ao longo da história humana. Propôs, no Manifesto comunista, obra escrita em conjunto com Friedrich Engels, a criação de uma sociedade mais justa, que diminuísse as diferenças entre a burguesia e o proletariado.

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© LAERTE


ALBUM/AKG-IMAGES/LATINSTOCK - COLEÇÃO PARTICULAR

P. Nasarov & N. Gereljulk. Karl Marx, c. 1920.

Suspeito” nº 4 – Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900).

Filósofo alemão. No livro Assim falou Zaratustra (Also sprach Zarathustra), explica os passos através dos quais o homem pode se tornar um “super-homem”.



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© LAERTE

ARQUIVO BETTMANN/CORBIS/LATINSTOCK

Friedrich Wilhelm Nietzsche.

Suspeito” nº 5 – Jean-Paul Charles Aymard Sartre (1905-1980).

Filósofo francês fundador do existencialismo, corrente filosófica que defende a ideia de que o ser humano deve se sustentar pela especificidade da experiência e por sua natureza essencialmente individual. Só assim perceberemos nossa verdadeira liberdade.



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© LAERTE

ALAIN NOGUES/SYGMA/CORBIS/LATINSTOCK

Jean-Paul Sartre.

Saber quem são as personagens da tira e conhecer suas teses filosóficas nos ajuda a retomar o texto da última fala e reinterpretá-lo a partir das relações existentes entre o pensamento de cada um deles e o que ali se diz.

Descartes, Sócrates, Marx, Nietzsche e Sartre, no interior do quadro filosófico que construíram, enfrentam questão essencial: quem somos? Assim, a fala final ganha sentido no contexto das relações estabelecidas entre os vários “textos” evocados pela imagem dos filósofos. Ao apresentar essas cinco personagens como suspeitos do crime de confundir o indivíduo quanto à sua identidade, Laerte estabeleceu uma série de relações intertextuais e garantiu o humor da tira.

A intertextualidade, portanto, é a relação que se estabelece entre diferentes textos quando um deles faz referência (direta ou indireta) a outro. Trata-se de um recurso utilizado pelo autor na construção do sentido de seu texto. A relação intertextual pode dizer respeito ao conteúdo, à forma, ou mesmo à forma e ao conteúdo.

A importância de saber ler nas entrelinhas

A análise dos textos apresentados evidencia como é importante ser capaz de fazer inferências, de reconhecer pressupostos e implícitos e de estabelecer relações intertextuais. Somente os bons leitores, que dispõem de um repertório cultural mais amplo, enfrentam sem dificuldade o desafio de ler não apenas o que está escrito nas linhas, mas principalmente o que é dito ou sugerido nas entrelinhas dos textos.
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Capítulo 22 Discurso e texto

A variação nas letras das músicas antigas é muito grande. Como, neste caso, não há sites de autores (o que acontece com as músicas atuais), optou-se por utilizar sempre um mesmo site como referência e fazer algumas correções, quando necessário.

Leitura

Muitos compositores procuraram definir, em suas letras, um perfil de mulher ideal. A seguir você conhecerá duas delas.

Texto 1

Ai que saudades da Amélia

Nunca vi fazer tanta exigência


Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Nem vê que eu sou um pobre rapaz

Você só pensa em luxo e riqueza


Tudo o que você vê, você quer
Ai, meu Deus, que saudades da Amélia
Aquilo sim é que era mulher

Às vezes passava fome ao meu lado


E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: “Meu filho, o que se há de fazer!”

Amélia não tinha a menor vaidade


Amélia é que era mulher de verdade

ALVES, Ataulfo; LAGO, Mário. Ai que saudades da Amélia, 1941. Disponível em:


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