Português: contexto, interlocução e sentido



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. Acesso em: 4 mar. 2016.

A análise do texto permite que sejam identificadas características associadas a interlocutores de perfil muito específico.

O título faz referência a um carro com características bem definidas (“Você vai grudar nesse carro. Sem parafina.”). A intenção do texto é promover a identificação entre o leitor a quem o texto do anúncio se dirige (“cariocas de série”) e o carro que está sendo apresentado.

Para alcançar esse objetivo, o autor do texto precisa deixar claro quem é esse interlocutor. Isso é feito por meio de diferentes recursos, a começar pela reprodução, no centro da página, da imagem de um carro envolvido por ondas. Ao fundo, avista-se o Cristo Redentor, que é uma referência turística da cidade do Rio de Janeiro. Embaixo do carro, vê-se um desenho semelhante ao das calçadas de Copacabana. À direita, aparece um homem carregando uma prancha de surfe. Trata-se de Rico, conhecido surfista carioca que se tornou um dos ícones do esporte na cidade.

No canto esquerdo inferior, são destacados alguns acessórios do carro (saias laterais, spoilers dianteiros e traseiros, filme nos vidros, rack, porta-óculos, prancha exclusiva) que procuram acentuar a identificação entre ele e os surfistas (e amantes desse esporte) cariocas. Uma evidência da importância dessa identificação para a eficácia do anúncio é o fato de que, além de oferecer acessórios característicos de modelos esportivos, o automóvel anunciado vem com uma exclusiva prancha do Rico. Todos esses elementos visuais e textuais (a referência, no título, à parafina utilizada para aumentar a aderência das pranchas) definem o perfil do interlocutor preferencial desse anúncio publicitário: cariocas amantes do surfe.

É importante não confundir o conceito de interlocutor específico com o conjunto de leitores reais que de fato lerão determinado texto. O trabalho com um perfil de interlocutor específico, como vimos, afeta a organização geral do texto (tema abordado, conceitos apresentados, vocabulário utilizado).


Página 238

Os exemplos apresentados mostram a importância de, no momento de elaboração de um texto, fazer a melhor representação possível dos interlocutores a quem ele será dirigido. Com base nessa representação, o autor decidirá que tipo de informação deverá apresentar e quais recursos linguísticos utilizará para alcançar os objetivos do texto.



ATIVIDADES

Leia o texto abaixo para responder às questões de 1 a 3.



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PS10/DINISA



Clube de Criação do Rio de Janeiro. Disponível em: . Acesso em: 4 mar. 2016.

1. Descreva os elementos visuais presentes no anúncio.

> O autor do texto pretende que os leitores identifiquem, a partir das pistas oferecidas, uma importante personagem histórica. Que personagem é essa?

2. Esse anúncio foi criado para “falar” com um interlocutor de perfil bem específico. Que interlocutor é esse?

> Quais são os elementos do anúncio que indicam ser esse o interlocutor escolhido?

3. “Nenhum texto vale o risco.”. Esse texto, que aparece com destaque no anúncio, tem uma evidente função persuasiva. Explique.
Página 239

Leia o texto abaixo para responder às questões de 4 a 6.



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O GLOBO


Inteligemcia. Disponível em: . Acesso em: 4 mar. 2016.

4. É possível afirmar que esse anúncio se dirige a um interlocutor específico? Justifique.

5. Qual é a finalidade do anúncio?

> O que, no texto, permite que essa finalidade seja identificada?

6. Há, no texto do anúncio, uma passagem que sugere que a violência tem sido um problema no carnaval carioca. Transcreva no caderno essa passagem.

> O slogan (“Brinque o Carnaval, não brinque com o Rio”) foi construído a partir de um jogo de palavras. Explique qual é a relação entre esse slogan e o foco da campanha.
Página 240

O texto e seu contexto

Além de se dirigir a interlocutores com perfil definido, todo texto faz referência a circunstâncias de natureza cultural, social, política, que precisam ser conhecidas pelos leitores/ouvintes para que o sentido do texto possa ser construído. Observe.



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REPRODUÇÃO



Veja. São Paulo: Abril, ano 41, ed. 2.056, n. 15, 16 abr. 2008.

O anúncio publicitário traz, em destaque, palavras de ordem escritas em um muro: “Abaixo a ditadura!”, “É proibido proibir” e “Faça amor, não faça guerra”. Ao lado dessas palavras de ordem vê-se o símbolo ☮, criado para uma campanha inglesa pelo desarmamento nuclear e posteriormente adotado pelos hippies americanos nas manifestações contra a Guerra do Vietnã, o que fez com que passasse a ser utilizado como símbolo da paz a partir dos anos 1960. O boxe vermelho dá a entender que essas palavras de ordem fazem parte de acontecimentos associados ao ano de 1968.

O autor do anúncio apostou que os elementos apresentados são suficientes para garantir que as pessoas interessadas no programa anunciado reconhecerão um conjunto de referências evocadas pelo símbolo da paz e pelas palavras de ordem escritas no muro. Para reconhecer tais referências, o leitor do anúncio precisaria dispor de um conjunto de informações associadas a um período marcante da história do século XX, em geral, e do Brasil em particular, que, entre os anos de 1964 e 1968, foi governado por militares. O mês de maio de 1968 foi marcado por uma série de manifestações estudantis no mundo ocidental. Na França, os jovens gritavam palavras de ordem como “É proibido proibir”, “A imaginação no poder”, “Corra, o velho mundo quer te pegar”. Nos Estados Unidos, os hippies proclamavam “Faça amor, não faça guerra”. No Brasil, mais de 100 mil pessoas saíram às ruas do Rio de Janeiro, aos brados de “Abaixo a ditadura”, para protestar contra a morte de um estudante.
Página 241

Para entender esse anúncio, o leitor precisaria não só conhecer todos esses fatos, mas também estabelecer uma relação entre os enunciados que aparecem escritos no anúncio e o período de intensa turbulência social que marcou o ano de 1968 no mundo. Somente com base no estabelecimento dessas relações é possível compreender o convite feito, no texto do boxe vermelho: “Conheça todos os lados dessa história”.

O autor do anúncio espera, portanto, que o leitor recupere, a partir da imagem das palavras de ordem escritas no muro, uma série de fatores extralinguísticos, ou seja, acontecimentos, datas, símbolos que não fazem parte do sistema da língua, mas cuja identificação é fundamental para que o sentido do texto possa ser compreendido. Esses elementos constituem, portanto, o contexto desse texto.

Tome nota

Contexto é o conjunto das circunstâncias (sociais, políticas, históricas, culturais, etc.) a que um texto se refere.

A identificação do contexto de um texto depende inteiramente do conhecimento de mundo dos leitores. Os textos, escritos ou orais, não têm existência autônoma, porque sua significação depende do reconhecimento de um contexto e da relação que os leitores/ouvintes estabelecem com ele.



A relação entre contexto e interlocução

Como o contexto de um texto é constituído por fatores extralinguísticos, sempre que produzimos um texto, precisamos decidir quais informações contextuais devem ser fornecidas para que o sentido dele possa ser construído por seus interlocutores.

O anúncio analisado pressupõe que o leitor seja capaz de reconhecer referências a um contexto político-cultural específico. As palavras de ordem “Abaixo a ditadura”, “É proibido proibir” e “Faça amor, não faça guerra”, associadas ao ano de 1968, oferecem elementos necessários para a compreensão do contexto que o anúncio pretende evocar. O convite para assistir a um programa de televisão dedicado aos acontecimentos marcantes do ano de 1968 sugere que os autores tenham, de seus interlocutores, a imagem de pessoas capazes de relacionar os elementos contextuais apresentados a um período importante da história do século XX. Esses elementos têm a função de despertar, nos leitores do anúncio, o desejo de assistir à série de programas dedicados ao ano de 1968. A intenção persuasiva do texto só será realizada se o leitor compreender essas referências contextuais.

Portanto, de agora em diante, lembre-se: todas as vezes que for escrever um texto, pense primeiro nos leitores a quem você irá se dirigir. Procure estabelecer uma imagem que defina, para você, o perfil desses leitores e, em função dessa imagem, decida quais são os argumentos, as informações, os dados e os fatos capazes de atender melhor à finalidade do texto.

As observações que fizemos sobre contexto e sobre os interlocutores têm por objetivo esclarecer que não é possível escrever bons textos sem controlar muito bem esses dois aspectos, presentes em qualquer situação de interlocução.

O perfil do leitor: produção de texto informativo

1. Leitura e análise do texto

As perguntas e respostas apresentadas a seguir fazem parte de um conjunto de 50 questões publicadas em uma reportagem da revista Veja. Foram elaboradas para oferecer, de modo objetivo e resumido, as principais informações disponíveis acerca do aquecimento global. Os interlocutores preferenciais dessa revista apresentam um perfil bastante genérico.



A questão tematizada é de grande interesse e merece ser conhecida e discutida, dadas as consequências do aquecimento global para a humanidade. Para que você tenha informações suficientes sobre essa questão, selecionamos 10 perguntas e respostas das 50 que fazem parte da matéria publicada na revista.
Página 242

O planeta tem pressa

Até mesmo os mais incrédulos já concordam: a temperatura da Terra está subindo e a maior parte do problema é provocada por ações do homem, como a queima de combustíveis fósseis. Ainda persistem divergências acerca do tamanho do impacto sobre a vida humana

1. O AQUECIMENTO GLOBAL É PROVOCADO PELA AÇÃO HUMANA? Como se viu, a Terra já experimentou ciclos de aquecimento muito antes de o homem fazer sua primeira fogueira. O que parece claro, agora, é que a atividade humana está contribuindo para o aumento no ritmo da elevação da temperatura média global. Isso se dá pela emissão principalmente de CO2, o que dificulta a dissipação do calor para o espaço. Atualmente, a atividade humana produz mais CO2 do que a natureza. Antes da Revolução Industrial, as emissões de origem humana somavam 290 ppm (partes por milhão) de CO2. Agora chegam a 380 ppm. Uma das principais razões é a ineficiência energética. Para se ter uma ideia, uma única lâmpada, ao final de sua vida útil, terá consumido em eletricidade o equivalente a 250 quilos de carvão (cálculo, claro, válido para os países que geram energia elétrica com carvão mineral).

2. POR QUE A EMISSÃO DE CO2 AUMENTA A TEMPERATURA? O aumento da concentração de gases cria uma barreira na atmosfera. Ela impede que o calor do sol, quando refletido pela Terra, se dissipe no espaço. O calor fica retido entre a superfície do planeta e a camada de gases. Daí o nome efeito estufa. O CO2 é o principal vilão porque sua presença é predominante. Equivale a 70% da concentração desses gases.

3. QUE OUTROS FATORES PODEM CONCORRER PARA O AUMENTO DA CONCENTRA ÇÃO DE GASES DO EFEITO ESTUFA? Além da atividade humana, fatores naturais contribuem para as alterações climáticas: o processo de decomposição natural de florestas, o aumento na atividade solar e as erupções vulcânicas. Mas nenhum desses fatores produziu transformações com a velocidade que a atividade humana vem provocando.

4. QUAL O PRINCIPAL AGENTE DA EMISSÃO DE CO2? A queima de combustíveis fósseis. Ela é responsável por cerca de 80% das emissões globais desse gás, o que coloca o mundo numa espécie de sinuca de bico. Não há desenvolvimento sem consumo de energia, e a energia disponível em larga escala depende de carvão, petróleo e gás natural. A principal razão é que os combustíveis fósseis, quando queimados, emitem, em forma de gás, o carbono que ficava armazenado no subsolo. Isso aumenta a concentração na atmosfera.

5. QUAL O PESO DO DESMATAMENTO E DAS QUEIMADAS NESSE FENÔMENO? Cerca de 18% das emissões de CO2 são originadas de queimadas.

6. QUAL A PARCELA DE RESPONSABILIDADE DOS PAÍSES EMERGENTES NO AQUE-CIMENTO GLOBAL? Quando se analisa historicamente, a parcela de culpa desses países é pequena. A questão é como eles vão se comportar daqui em diante. Como são muito populosos e têm grande potencial de crescimento econômico, podem se tornar os grandes vilões do futuro.

7. QUAL A PARTICIPAÇÃO DO BRA SIL, EM ESPECIAL? A maior preocupação em relação ao Brasil é quanto às queimadas e aos desmatamentos. Esses dois fatores respondem por 75% das emissões de CO2 no país. Se forem consideradas apenas as emissões de CO2 decorrentes da queima de combustíveis fósseis, o Brasil é o 16º maior poluidor do mundo. Mas, se for levada em conta a devastação ambiental, o país salta para a quarta posição.

[...]


8. QUANDO O AQUECIMENTO PASSOU A ACONTECER COM MAIS INTENSIDADE? O acúmulo de gases começou com o advento da Revolução

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AMY TOENSING/NATIONAL GEOGRAPHIC SOCIETY/CORBIS/LATINSTOCK

Imagem de satélite mostrando o monte Kilimanjaro, Tanzânia, em 2012. Entre 2000 e 2009, a camada de gelo do Kilimanjaro diminuiu cerca de 26%.
Página 243

Industrial, no século XVIII. O aquecimento é diretamente proporcional à atividade industrial. Portanto, quanto mais intensa ela for, mais dióxido de carbono (CO2), metano e óxido nitroso (N2O) serão lançados na atmosfera. Os problemas começaram a se manifestar agora porque esses gases tendem a se acumular.



9. QUANTO A TEMPERATURA GLOBAL JÁ SUBIU? Durante o século XX, a temperatura média global subiu cerca de 0,75 grau.

[...]


10. HÁ TEMPO PARA EVITAR O DESASTRE? Há tempo de evitar as consequências mais negativas, mas não todas. A Terra já está se aquecendo. O objetivo viável é evitar que se aqueça catastroficamente.

FRANÇA, Ronaldo; SOARES, Ronaldo. O planeta tem pressa. Disponível em:


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