Português: contexto, interlocução e sentido


O texto informa que, no dia 25 de março de 2015, a moeda brasileira (o real) sofreu uma significativa desvalorização frente ao dólar. >



Yüklə 4,35 Mb.
səhifə80/84
tarix09.01.2019
ölçüsü4,35 Mb.
#93960
1   ...   76   77   78   79   80   81   82   83   84

4 O texto informa que, no dia 25 de março de 2015, a moeda brasileira (o real) sofreu uma significativa desvalorização frente ao dólar.

> Essa informação é essencial para a compreensão da charge, porque, uma vez reconhecidas as imagens (George Washington e os animais que ilustram as cédulas de real), saber que a moeda brasileira perdeu valor diante do dólar permite interpretar o simbolismo associado às cabeças de animais penduradas na parede como troféus de caça. George Washington, o caçador, representa o dólar forte que tem o poder de “abater” o real.

5 “George, o caçador” é uma representação simbólica (uma metáfora) criada por Dalcio para ilustrar o efeito da alta do dólar sobre o real. Como um caçador, o dólar muito valorizado tem o poder de “matar” a moeda nacional. Os animais presentes nas cédulas de 2, 10, 20, 50 e 100 reais acabam transformados em troféus de caça no contexto das relações econômicas entre Brasil e Estados Unidos.

Atividades (p. 157)

1 As duas cenas apresentam um caminho pavimentado cercado por árvores encobertas pela neblina. Em primeiro plano, parado nesse local, há um homem de costas, segurando um bastão na mão esquerda. Ao fundo, vindo na direção contrária, vê-se uma mulher vestindo roupas esportivas e correndo. O que diferencia uma cena da outra é o fato de haver, na segunda, um cachorro tentando pegar o bastão que está na mão do homem.

2 Na primeira cena, os elementos do contexto sugerem uma situação de perigo para a moça: o fato de o homem estar parado à beira do caminho segurando um bastão (em uma atitude, à primeira vista, suspeita) e de o local estar praticamente deserto dão a ideia de que um potencial agressor aguarda a aproximação da moça para atacá-la com o objeto que carrega.

> Provavelmente não. Na segunda cena, a presença do cachorro junto do homem faz com que a situação seja reinterpretada, pois estabelece outro contexto para o momento retratado. O que se vê, nesse caso, é um homem que leva seu cão para passear; o bastão que carrega, por sua vez, é o brinquedo com o qual o seu cão se diverte. Esse homem, embora apresentado na mesma posição que na cena anterior, não parece mais um potencial agressor e sua atitude não desperta suspeita. Sendo assim, ele não seria visto como uma ameaça à moça que corre naquele local.

3 O enunciado leva o leitor a constatar como a presença do animal altera o contexto das duas cenas, modificando a leitura das intenções do homem: na primeira cena, a ausência do animal, associada aos outros elementos retratados, sugere que ele seja um potencial agressor e esteja esperando para atacar a mulher que corre; na segunda, a presença do cão faz com que o contexto estabelecido seja outro e o homem deixa de ser visto como uma ameaça.

4 Na primeira cena, vemos uma jovem diante do caixa de um estabelecimento de uma rede de fast food decidindo qual das opções de lanches escolherá para comprar. Na segunda cena, vemos uma outra personagem diante de cinco latas de lixo também pensando qual delas escolherá para, provavelmente, vasculhar.

> Na primeira cena, os elementos que identificam o contexto são os seguintes: um funcionário uniformizado diante de uma caixa registradora, com uma máquina de cartões de débito ou crédito ao lado dela; o display atrás dele com opções numeradas de lanches ou combos (como os vistos em redes de fast food, compostos, usualmente, de um sanduíche, uma bebida e um acompanhamento — em geral, uma porção de batata frita); o balão de pensamento com os números de 1 a 5 (sugerindo a indefinição da garota diante das opções). Na segunda cena, o contexto é definido pelos elementos que sugerem a miséria em que vive a personagem (as roupas velhas e esfarrapadas que usa); pelas cinco latas coloridas, semelhantes às usadas para a separação de diferentes tipos de lixo; pelo balão de pensamento com os números de 1 a 5 (sugerindo também a indefinição da personagem diante das opções que tem diante de si).

5 Os dois contextos identificados na charge representam a imensa diferença da realidade vivida pelas personagens: enquanto uma tem condições de escolher e comprar o que deseja comer, a escolha da outra consiste nos restos de comida que porventura encontrará em uma das latas de lixo.

6 Dalcio critica a grande desigualdade social existente na nossa sociedade. Enquanto parte da população tem garantidos direitos básicos de cidadania, dentre os quais está a alimentação, outra vive em condições tão extremas de pobreza que não consegue nem mesmo se alimentar de forma digna e, muitas vezes, é levada a vasculhar latas de lixo em busca de restos de comida.

Atividade suplementar (p. 158)

Uma discussão sobre sentidos literal e figurado

Muito além do jardim, de Hal Ashby. EUA, 1979.

Chance é um jardineiro que passa toda a sua vida cuidando de um jardim e assistindo à televisão. É só através da telinha que ele toma contato com o mundo externo. Quando seu patrão morre, Chance é obrigado a deixar a casa onde sempre morou e acaba atropelado por um magnata. Suas falas sinceras e diretas surpreendem seu novo protetor e passam a ser interpretadas como expressão de opiniões geniais.

Assista com os alunos ao filme Muito além do jardim e aproveite as várias cenas em que há uma evidente confusão entre o que Chance diz de modo literal e o que é interpretado como uma visão figurada do mundo. Discuta as razões que levam o jardineiro a ser incapaz de compreender os usos figurados da linguagem e que, por outro lado, levam seus interlocutores a não acreditarem que ele possa estar sendo literal e, portanto, dizendo obviedades.

Esta atividade pode ser um interessante ponto de partida para a discussão dos conceitos de sentido literal e figurado abordados no capítulo.



Sentido literal e sentido figurado (p. 158)

1 Ele vai para a cozinha, retira um pepino do barril de conserva e fica segurando esse pepino com a mão esticada.

2 Hagar esperava que Eddie Sortudo, ao fazer seu hambúrguer, não colocasse pepino.

3 Suspenda o pepino.

> Eddie deveria ter considerado o contexto da fala. A observação “suspenda o pepino” é feita depois de Hagar ter informado que gostaria de um hambúrguer “completo”, ou seja, com todos os ingredientes normalmente utilizados para preparar esse tipo de sanduíche. Nesse contexto, não se deve interpretar ao pé da letra o comando “suspenda o pepino”: ele deve ser entendido como equivalente a “não utilize pepino no meu hambúrguer”.
Página 386

4 Espera-se que os alunos percebam que Eddie ignora o contexto em que a fala de Hagar ocorre e, por esse motivo, dá a ela uma interpretação equivocada. O conhecimento das características dessa personagem favorece a compreensão do seu comportamento: Eddie sempre toma ao pé da letra aquilo que é dito a ele, desconsiderando totalmente o contexto de produção dos enunciados. É com base nesse comportamento que se constrói o efeito de humor da tira. Sugere-se aproveitar a oportunidade para retomar o que foi discutido na primeira seção deste capítulo, ou seja, a importância do conhecimento de mundo para uma correta interpretação do sentido dos textos. Nesse caso, as personagens da tira comportam-se de modo característico e suas ações devem ser interpretadas de acordo com a personalidade de cada uma delas. Desconhecer o contexto em que o texto está inserido compromete a sua leitura e interpretação.

Atividades (p. 159)

1 Na 1ª tira: “[Alguém] bater as botas”. Na 2ª tira: “O mundo estar de cabeça para baixo”.

> A expressão “bateu as botas” significa que alguém morreu, faleceu. A expressão “o mundo está de cabeça para baixo” faz referência ao fato de algumas situações não estarem de acordo com o esperado ou revelarem completa inversão de valores.

2 A alusão a esse profissional pode ser identificada no fato de o amigo de Armandinho estar se comportando como um jornalista: tem nas mãos um bloco e uma caneta e se interessa pelo que foi narrado pelo seu interlocutor, fazendo perguntas (“E quando foi isso?” e “Entendi... E ele estava doente?”) que sugerem a possibilidade de ele ter interesse em transformar o acontecimento relatado em notícia.

3 Os traços físicos da personagem (olhos orientais e tonalidade de pele diferente da do outro homem), o fato de ela questionar a constatação de o mundo estar de “cabeça pra baixo”, além de os dois homens estarem na parte de baixo do globo, sugerem que se trata de uma pessoa oriental. Essas características justificam seu questionamento, já que, para ela, o mundo não estaria invertido.

4 Na 1ª tira, a afirmação de Armandinho de que seu pai “finalmente bateu as botas” refere-se ao fato de que ele bateu os pés de seu calçado um contra o outro para tirar a areia que estava neles. A expressão foi usada em sentido literal. Na 2ª tira, a personagem que afirma que o mundo está de cabeça para baixo refere-se, literalmente, ao fato de ele e o amigo estarem no que se costuma identificar como a parte inferior do globo terrestre. O pronome esse, presente na mesma fala, deixa claro que a referência feita é literal, identificando o globo sobre o qual se encontram as personagens.

> Porque, como acontece com todas as línguas, o português tem algumas expressões que são geralmente utilizadas em sentido figurado. A inversão de sentido das expressões analisadas (utilizadas em sentido literal nas duas tiras) surpreende o leitor, provocando o efeito de humor.

5 No primeiro quadrinho, há duas personagens conversando em meio a um monte de lixo. Essa imagem nos remete a outras que frequentemente vemos quando são mostrados os lixões que existem pelo país. Além disso, podemos identificar, na tira, os recursos visuais que representam características desses lixões: as moscas que sobrevoam o monturo em que as personagens se encontram e as pequenas espirais que sugerem, visualmente, o odor desprendido do lixo ali depositado.

> No segundo quadrinho, observa-se, em frente ao lixão, um espaço tipicamente urbano. Há um carro passando, uma mulher caminhando de mãos dadas com uma criança e placas indicando um restaurante, uma escola, uma livraria, um cinema e um hospital (representado pela cruz vermelha).

6 A cor está presente no espaço urbano, enquanto o lixão foi desenhado em preto e branco. Essa oposição visual parece destacar, para o leitor da tira, a imensa diferença na vida das pessoas que vivem “de um e de outro lado da rua”. Para os que vivem do lado “colorido”, há vários elementos que garantem direitos básicos da cidadania: habitação, alimentação, educação, saúde. Do lado sem cor, há somente o lixão. O que nos leva a concluir que as pessoas que vivem desse lado não têm acesso às condições mínimas de vida digna.

7 “Só poder atravessar a rua.”

> Interpretada em sentido literal, a fala deveria ser entendida como o desejo da personagem de percorrer a distância espacial entre o lado da rua em que se encontra e o outro lado. Interpretada em sentido figurado, essa fala representa a esperança da personagem de que as eleições possam transformar as condições em que vive e lhe deem acesso a condições mais dignas de existência.

8 O sentido figurado. Compreender que “atravessar a rua” significa ter acesso a uma vida digna é condição para que a crítica feita pelo autor seja entendida.

Relações lexicais (p. 160)

1 A mãe chama a atenção de Armandinho porque ele não tem o hábito de arrumar suas coisas. Segundo ela, o menino não arruma os brinquedos, não arruma a cama, não arruma o armário, não arruma nada.

2 O menino discorda da mãe. Alega que não é verdade que ele não “arrume nada”. Afirma que arruma “desculpas”.

3 A resposta de Armandinho para a mãe surpreende pelo inesperado. Ela reclama da desordem em que o menino deixa seus brinquedos, sua cama, seu armário. Então, quando usa o verbo arrumar, é evidente que ela está se referindo ao sentido de pôr as coisas em ordem, guardá-las em seus lugares. O menino atribui outro sentido ao mesmo verbo: quando diz que arruma desculpas, Armandinho está dizendo que arranja (consegue, encontra) desculpas para explicar a sua bagunça.

4 A mãe faz uso de um sentido corrente do verbo arrumar, porque está brigando com o filho, que não guarda suas coisas nos devidos lugares. Armandinho, por sua vez, percebe que a mãe está brava e tenta desarmá-la com o sentido inesperado que dá ao verbo arrumar. Ao dizer que arruma desculpas, o menino informa à mãe que pretende encontrar motivos que justifiquem o fato de não arrumar seus brinquedos, sua cama e seu armário.

Atividades (p. 162)

1 Permanente é algo que tem caráter eterno, perene, que não termina; provisório é algo passageiro, que tem uma duração finita.

a) Os adjetivos expressam situações opostas, ou seja, são antônimos.

b) Os elementos escolhidos para exemplificar essa relação de oposição (casamento × namoro; amor × paixão; profissão × emprego; endereço × estada; arte × tendência), à primeira vista, podem ser interpretados como opostos, ao serem caracterizados, respectivamente, como permanentes ou provisórios. Um casamento parece ter um caráter mais permanente que um namoro, assim como o amor, se confrontado com a paixão; uma profissão em relação ao emprego; um endereço em relação a uma estada; a arte em oposição à tendência.

2 Para a autora, um casamento que dura muito tempo (20 anos), mas chega ao fim, é provisório; e a crença de que o amor é permanente é uma ilusão à qual os seres humanos se agarram.
Página 387

a) Para comprovar que um casamento é provisório, independentemente de sua duração, a autora recorre às mudanças que ocorrem com todos os seres humanos. Segundo ela, as transformações que vamos sofrendo ao longo da vida determinam o caráter provisório das nossas relações. O que vale sempre é o momento presente. O mesmo raciocínio serve para o amor: nenhum amor, segundo ela, permanece o mesmo ou resiste ao tempo sem reavaliações. Sendo assim, não pode ser permanente.

b) Os termos destacados são expressões adverbiais que se referem ao momento presente. Dessa forma, reforçam a ideia de que cada situação vivida por alguém (como o casamento) está relacionada ao que vivenciamos em dado momento da nossa vida: o hoje, o agora. Por isso mesmo, por se relacionarem ao presente, trazem consigo um valor transitório ou provisório. O que vale para o momento atual pode não ter sido verdadeiro no passado ou poderá não valer para o futuro.

3 “Um endereço não é para sempre”; “uma profissão pode ser jogada pela janela”; “a arte passa por ciclos”.

> Podemos afirmar que a autora conclui que nada pode ser considerado permanente. Todas as nossas experiências são determinadas por crenças, desejos, opiniões e valores que nos guiam em um dado momento de nossa vida: o presente (“agora é que nossa crença se estabiliza, a necessidade se manifesta, a vontade se impõe — até que o tempo vire”). Portanto, elas serão provisórias, já que podem sofrer mudanças com o decorrer do tempo.

4 Como a intenção de Martha Medeiros era questionar imagens preconcebidas sobre o que costuma ser visto como provisório ou duradouro, ela precisa que o leitor, desde o início de sua crônica, comece a refletir sobre essas “oposições” clássicas que são socialmente aceitas como inquestionáveis. É o uso dos adjetivos permanente e provisório que dá o foco inicial à questão que será tematizada. Daí em diante, todo o texto é construído a partir do resgate das oposições socialmente aceitas (a efemeridade do namoro, da paixão, do emprego, da estada; a permanência do casamento, do amor, da profissão, do endereço) e seu sistemático questionamento. Como todo o texto trabalha com oposições, a possibilidade de estabelecer essa relação por meio de antônimos é condição fundamental para que Martha Medeiros possa desenvolver seu raciocínio.

5 “Estamos fritos.”

> A expressão “estar frito”, em determinados contextos, adquire um sentido figurado, expressando a possibilidade de, em dada situação, alguém ter problemas ou passar por momentos difíceis.

6 As personagens da tira são ovos que tentam atravessar uma rua em um dia ensolarado. Por isso, quando um deles afirma “se ficarmos tempo demais no sol, estamos fritos”, a expressão “estamos fritos” deve ser entendida literalmente: se eles ficarem muito tempo expostos ao calor do sol podem se transformar em ovos fritos.

Pratique (p. 164)

Sugestão

O objetivo desta produção é proporcionar ao aluno o contato com o encadeamento de informações em um texto por meio da exploração das relações lexicais estudadas no capítulo. Ao construir sequências expositivas em torno de um mesmo tópico, o aluno deverá evitar repetições desnecessárias de um mesmo termo ou expressão. No momento de avaliar a produção, é importante que o professor observe se os alunos foram capazes de explorar as possibilidades abertas pelo campo semântico no momento de estabelecer as relações coesivas referenciais. Deve, ainda, observar se o caráter informativo, próprio do gênero reportagem, foi respeitado no texto.



CAPÍTULO 16

Efeitos de sentido

Duplo sentido (p. 165)

1 A expressão é filho da mãe.

> O leitor provavelmente estranharia o uso dessa expressão, porque ela é frequentemente utilizada com um sentido pejorativo, como um palavrão, que significa “pessoa traiçoeira, desonesta, não confiável”. No anúncio, pede-se que o leitor seja um filho da mãe, e isso, à primeira vista, choca.

2 A expressão deve ser entendida como um apelo para que os leitores reconheçam a natureza como mãe e participem de projetos para a preservação do meio ambiente. O anúncio foi criado para divulgar o dia mundial do meio ambiente e tem por objetivo despertar nas pessoas o interesse em ajudar na luta pela preservação da natureza.

3 “É uma grande oportunidade para você mostrar que não é um filho desnaturado.”

> Ela sugere que os leitores que não aderirem aos projetos de preservação do meio ambiente não se importam com sua “mãe” natureza.

4 Quando, em letras imensas, o anúncio faz o apelo inicial ao leitor (Seja mais um filho da mãe), tem a intenção de chocar, criar uma certa inquietação em quem lê a revista, porque a primeira interpretação dessa expressão é a mais negativa possível. Esse choque inicial é o que faz com que o leitor continue a ler o texto para tentar entender por que estaria sendo insultado desse modo. Quando se prossegue na leitura e o contexto do apelo fica claro (trata-se do dia mundial do meio ambiente), a expressão imediatamente ganha um sentido positivo: ser mais um filho da mãe significa ser mais uma pessoa engajada na luta pela preservação da natureza. Essa é uma interessante estratégia persuasiva, porque o texto provoca no leitor o desejo de descobrir do que trata o anúncio e, assim, garante que ele seja lido até o fim.

Atividades (p. 167)

1 Deve-se entender que Hagar gostaria de saber o que se passava na cabeça de Eddie naquele momento.

> Eddie entendeu que Hagar gostaria de saber o que estava sobre a sua cabeça. Por isso, ele responde que está usando o elmo de sempre, o que fica evidente quando ele mostra o capacete a Hagar.

2 O efeito de humor é produzido pelo fato de o termo na (em + a), usado na expressão “o que tem na cabeça hoje”, permitir que a pergunta seja lida como uma referência ao que se passa dentro da cabeça de Eddie Sortudo ou como uma alusão ao que estaria sobre a cabeça dele. O efeito de humor é alcançado quando as duas personagens dão uma interpretação diferente à expressão “[ter algo] na cabeça”: enquanto Hagar a utiliza em sentido figurado (o que se passa dentro da cabeça), Eddie entende a pergunta de seu chefe em sentido literal (o que há sobre a sua cabeça).

3 Nos pedalinhos, o colete salva-vidas não pode ser usado por pessoas que estejam sem camisa.

4 Do modo como a placa foi escrita, parece que o colete salva-vidas só pode ser utilizado em pedalinhos que estejam vestindo camisa. Nos pedalinhos que estiverem “sem camisa”, não se poderia usar o colete.
Página 388

> As pessoas que sabem o que é um pedalinho (pequeno barco próprio para o lazer que acomoda duas pessoas sentadas, movido por pedais e utilizado em lagoas) jamais suporiam que essa embarcação deva usar uma camisa. Nesse sentido, o conhecimento de mundo é suficiente para levar os leitores da placa a fazerem a interpretação correta e descartarem a absurda.

5 Como o sintagma “sem camisa” foi colocado após o substantivo pedalinhos (embora devesse aparecer próximo do seu referente, o verbo usar — “usar colete salva-vidas”), passa a admitir dois referentes possíveis, o verbo e o substantivo.

> “Proibido usar, sem camisa, colete salva-vidas nos pedalinhos.”

Ironia (p. 168)

1 Pelo que diz o homem sobre a roupa da mulher, podemos imaginar que os dois estão discutindo a adequação da roupa que ela escolheu usar para sair.

2 A fala do homem revela que ele tem uma visão machista das mulheres. Ao tentar determinar qual deveria ser o comprimento adequado da saia da mulher, sugere que ela não é capaz de escolher as próprias roupas: depende de um homem para orientá-la.

3 A mulher deixa bem claro que não aceita a tentativa do homem de censurar a roupa escolhida por ela. Nesse sentido, seu comentário revela uma resistência ao comportamento machista de seu interlocutor.

4 Após ouvir que não deveria sair “com menos de 30 cm de saia”, a mulher retruca: “E você com 30 cm de cérebro”. Nesse contexto, devemos entender que ela está questionando a inteligência do homem ao fazer uma referência ao suposto tamanho do cérebro dele. Quando utiliza exatamente a mesma medida para estabelecer a “dimensão” do cérebro de seu interlocutor, a mulher sugere que ele é uma pessoa pouco inteligente, que não teria cérebro suficiente para sair à rua e interagir com as outras pessoas. Essa é a sua forma de responder ao julgamento feito por ele sobre a inadequação da roupa escolhida por ela.

Atividades (p. 170)

1 Devemos entender que o consumidor gostaria que o preço do litro da gasolina fosse reduzido.

2 O frentista do posto de gasolina é irônico. As perguntas formuladas por ele deixam claro que considera uma impossibilidade a redução do valor do litro de combustível. Por essa razão, trabalha com a sugestão absurda de redução da quantidade de mililitros contida em um litro de gasolina (“Para quanto? 900 ml?”).

3 Gregorio constrói o seu texto como se fosse um taxista que estivesse se manifestando contra o serviço oferecido pelos motoristas associados ao aplicativo Uber. Ao longo do texto, esse taxista vai se caracterizando e ao grupo a que pertence por meio dos exemplos, que representariam comportamentos reprováveis e que seriam supostamente típicos dos taxistas em geral.

4 O título “Protesto contra excelência” revela o olhar crítico e irônico que caracteriza o texto, porque qualquer pessoa julgaria um absurdo alguém protestar contra um serviço de alta qualidade. É evidente que se trata de uma ironia, porque, em geral, protestos são feitos para denunciar a baixa qualidade na prestação de um serviço e não a sua excelência.

a) No texto, os taxistas são apresentados como profissionais que não se preocupam com o conforto de seus passageiros e não primam pela educação e pelo respeito no que se refere ao tratamento dispensado aos clientes. Além disso, sentem-se no direito de recusar uma corrida, caso não tenham gostado da pessoa que a solicitou. Pode-se supor que os motoristas do Uber apresentariam características opostas às dos taxistas, ou seja, prestariam um serviço de excelente qualidade, além de tratar seus passageiros de modo respeitoso e educado.



b) Para construir a ironia, o texto apresenta uma caracterização dos taxistas que se baseia no que seria um comportamento negativo e generalizado: a falta de respeito e de educação no tratamento dispensado aos passageiros e a prestação de um serviço de qualidade questionável. Embora esses comportamentos possam ser identificados em alguns desses profissionais, não se pode afirmar que todos os taxistas ajam dessa maneira. Percebe-se, portanto, que a crônica representa os taxistas de modo estereotipado.

5 O uso da ironia tem por objetivo tornar evidente, para os leitores, a crítica de Gregorio Duvivier não apenas aos aspectos condenáveis na postura de alguns taxistas, mas também à qualidade do serviço prestado por eles. Como consequência da crítica feita, o leitor deve concluir que o autor é favorável à legalização de serviços, como o Uber, que oferecem opções aos usuários de táxi.

Humor (p. 171)

1 O homem diz que sente saudades do vento salgado batendo em seus cabelos. Hagar provavelmente associa esse sentimento a uma postura mais sentimental, de alguém que relembra o passado com nostalgia.

2 Não. A primeira fala da personagem, aludindo à saudade do vento batendo em seus cabelos, sugere que Hagar tem bons motivos para considerá-lo sentimental. Sua resposta (“Não, sou careca.”) é surpreendente, porque muda completamente o foco do diálogo para uma condição física (não ter cabelos). Na verdade, ele sente saudades do tempo em que tinha cabelos, não da sensação do vento salgado do mar batendo em seus cabelos.

3 O autor da tira provavelmente pretende provocar o riso do leitor com a resposta inesperada do interlocutor de Hagar. Como o viking, nós também nos surpreendemos com a última fala da personagem e rimos, porque certamente não era isso que esperávamos como resposta.

Atividades (p. 173)

1 Sim. O autor, ao reproduzir o monólogo interior do goleiro durante um jogo de futebol, permite que o leitor “acompanhe” os pensamentos desse jogador enquanto ele espera (ou não) defender o seu time, impedindo que o adversário faça um gol. Além disso, ficam claros os conflitos vividos por essa personagem que, ao mesmo tempo em que espera jogar bem e “aparecer” no jogo, também tem medo de não conseguir defender uma bola e acabar, por isso, sendo ridicularizada pela torcida e pelos demais jogadores.

2 Antes de cada ataque do jogador de número 7, o goleiro fica em dúvida sobre como isso ocorrerá, isto é, se o adversário vai chutar a bola ou se vai cruzá-la. A essa dúvida, segue outra: se o jogador cruzar, o goleiro se pergunta se deve ficar na sua posição ou sair para defender a bola. Esses questionamentos são apresentados em formas de perguntas que o goleiro faz a si mesmo enquanto o jogador adversário se aproxima.

> Na primeira jogada, o goleiro consegue dar um soco na bola e afirma (talvez de forma exagerada) que ela foi parar “quase no meio de campo”. Ressalta ainda que a jogada foi tão boa que ele até acredita ter escutado palmas da torcida. Na segunda jogada, o goleiro consegue pegar a bola de forma “encaixada”. Nos dois casos, ele se define como um goleiro “bom à beça”. Essa satisfação do personagem a cada defesa e a forma como
Página 389

ele se refere a si mesmo como um jogador excelente acabam por contribuir para a construção do humor nesses trechos.



3 a) A cena é divertida porque, além de o goleiro ficar aliviado com o fato de o chute a gol não ter representado um “perigo” real, o movimento feito pelo personagem é descrito como uma “grande” manobra que o fez parecer um jogador profissional. Isso porque, apesar de apenas ter levantado o braço para acompanhar a trajetória da bola, o goleiro afirma ter feito o movimento “com classe”.

b) O humor é explorado quando o goleiro lamenta que o movimento realizado por ele (levantar o braço para acompanhar a trajetória da bola) tenha exposto o furo “no sovaco” que ele tem na camisa. Além disso, o fato de essa reflexão interior levar o personagem a constatar que precisa comprar uma camisa nova (vermelha) e associar essa aquisição ao melhor desempenho que terá como goleiro também contribui para a construção do humor.



4 Quando ocorre o último chute a gol, a situação é engraçada por dois motivos: o goleiro fica frente a frente com o jogador de número 8, definido pela personagem como muito bom, e o adversário faz o gol chutando entre as pernas do goleiro, o que é uma grande humilhação. O fato de o goleiro, que se caracterizou como “bom à beça” durante o texto, ter tomado um gol dessa forma contribui para o humor da cena.

> Um elemento que colabora com a construção do humor é o fato de o goleiro, primeiro, elogiar o zagueiro quando trava o camisa 7 (afirma que ele vai chegar na seleção) e mais tarde chamá-lo de “besta” porque não consegue parar o camisa 8. Um outro momento engraçado é quando o goleiro cita o Aristides, dizendo que este quebrou o dedo porque se jogou no pé do Tonelada. Marcas de oralidade como “Xi, lá vem o 8” e “Meu, que soco que eu dei!” também intensificam o efeito do humor.

CAPÍTULO 17

Recursos estilísticos: figuras de linguagem

Figuras de linguagem (p. 174)

1 Pedro Gabriel define o mar como um “deserto que não seca”.

2 a) Sabemos que os desertos são imensas áreas sem água. São, portanto, secos. A contradição está em definir uma imensidão de água — o mar — como seca.

b) O leitor deve concluir que Pedro Gabriel está criando uma relação de semelhança entre dois espaços definidos pela sua imensidão: o deserto e o mar. Esse sentido é reforçado pela qualificação atribuída ao mar-deserto no texto: ele não seca.



3 O segundo poema visual oferece uma definição para a ação de partir.

> Os desenhos apresentam uma cena de partida: alguém, em terra, vê a partida de alguém que se afasta em um pequeno barco. Sobre o barco, alguns pássaros voam.

4 A definição, no primeiro texto, é feita a partir de uma única imagem (“o mar é um deserto”). No segundo texto, além de haver duas imagens: “o navio singra” / “a saudade sangra”, o autor estabelece uma relação de temporalidade entre elas. Assim, primeiro o navio singra, depois a saudade sangra.

5 O leitor deve perceber que há um pressuposto sobre a saudade que, embora não explicitado, é aceito como uma verdade universal: a saudade provoca sofrimento. É a partir do sofrimento causado pela saudade que Pedro Gabriel cria uma aproximação com o verbo sangrar. Geralmente, as pessoas sangram quando se ferem e os ferimentos provocam dor (sofrimento). Então, o sofrimento causado pela saudade é semelhante ao provocado por um ferimento que sangra.

6 As imagens criadas (mar: deserto que não seca / saudade que sangra) revelam o trabalho do autor com o aspecto expressivo da linguagem. Embora os dois poemas visuais ofereçam definições aos leitores, a intenção de Pedro Gabriel é fazê-lo de modo poético: em lugar de apresentar informações que caracterizem os termos definidos, traz imagens que evocam sentimentos, experiências pessoais e, assim, permitem que os leitores se relacionem de modo subjetivo com os textos.

Atividades (p. 177)

1 Porque ele constata que todas as geladeiras, novas ou velhas, sofrem de calafrios.

> O autor atribui os calafrios da sua geladeira à “existência gélida, inerte, repetitiva e monótona” das geladeiras. Segundo ele, o frio constante e “a solidão no escuro da cozinha” são fatores que contribuem para que a geladeira sofra de calafrios durante a noite.

2 Os trechos “brrr, cruoc, téc” e “brrrrrrrrrrrrrunhonnnn tomp! Bzzzzzzzzzzzz”.

a) O recurso utilizado por Caco Galhardo é a onomatopeia, uma figura sonora que procura reproduzir sons específicos.

b) Porque as onomatopeias são usadas, nesse texto, para caracterizar a diferença entre os sons da geladeira nova e os da velha, permitindo ao leitor imaginar como são os sons dos tais “calafrios” das geladeiras durante a noite.

3 Paronomásia.

> O autor da letra da canção utiliza as palavras e expressões de dentro, entro, centro, sem centro e dentro, que têm sons semelhantes, mas significados diferentes, para construir o sentido do texto.

4 Resposta pessoal. Não existe uma resposta única, mas seria interessante os alunos perceberem que os termos usados (de, dentro, entro, centro) sugerem que a canção tematiza uma busca interior ou um “mergulho” em si mesmo, um voltar-se para “dentro”. Essa busca poderia ser entendida, também, como forma de se equilibrar, centrar-se, quando há algum tipo de perturbação emocional ou externa.

> Ao explorar a semelhança sonora e os diferentes significados das palavras e expressões utilizadas no poema, o texto ganha expressividade. A disposição e a sonoridade dos termos sugerem algo contínuo e repetitivo, como se a busca interior fosse cada vez mais profunda e infindável. Nesse sentido, é interessante observar que, com base nas possibilidades de desdobramento de apenas duas palavras (dentro/centro), Arnaldo Antunes compôs o texto, produzindo todas as palavras utilizadas (de, entro, sem). Era inevitável, portanto, a recorrência da paronomásia, já que o princípio de composição é a semelhança fônica e gráfica das palavras.

Atividades (p. 180)

1 As definições são: “uma cadeia infinita de moléculas”, “um enorme jardim” e “um soneto”.

a) A figura de palavra é a metáfora.

b) Segundo Maria Joana, cada um dos profissionais citados definiria vida a partir de uma metáfora criada com base em seus conhecimentos específicos, que serviria para ilustrar a complexidade e a beleza do elemento definido. Assim, o químico, que estuda a composição molecular dos corpos simples e sua ação uns sobre os outros, define vida como a junção de um número infinito de moléculas, elementos que formam estruturas mais complexas quando organizados em cadeia. Já para o botânico, cientista que se dedica ao estudo das plantas, a vida seria um enorme jardim. Na visão do poeta, que se ocupa de fazer versos, a vida seria um soneto, composição poética de estrutura fixa.

2 Não. Enquanto as definições atribuídas ao químico, ao biólogo e ao poeta apontam para aspectos positivos, para
Página 390

Maria Joana a vida é um trabalho pesado. Os objetos de limpeza mencionados por ela — balde e vassoura — e o uso do aumentativo faxinão intensificam a ideia de que o trabalho a ser feito é desagradável e exaustivo.



3 As metonímias usadas por Sakamoto são: “a Olivetti havia lhe dado um poema”, “um sorriso lindo abriu a porta” e “mostrou sua Olivetti”.

a) Em duas das ocorrências de metonímia, a marca (“Olivetti”) é utilizada para fazer referência ao objeto (máquina de escrever). Já em “um sorriso lindo abriu a porta”, a metonímia é construída pela referência a uma parte (no caso, o sorriso da moça) em lugar do todo (a moça que abriu a porta).

b) Ao substituir as palavras máquina de escrever e moça por outros termos que mantêm relação contígua com o referente, o autor faz com que o leitor imagine com mais detalhes a cena criada. Aqueles que conhecem as máquinas de escrever da marca Olivetti, tão comuns há algumas décadas, são capazes de imaginá-la em ação e reconhecer o som característico que suas teclas produzem quando algo é datilografado. Ao mencionar que “um sorriso lindo abriu a porta”, o autor sinaliza para o leitor qual é a característica mais encantadora da moça.

4 a) O autor faz uso de onomatopeias para se referir ao barulho da máquina de escrever.

b) Isso acontece em dois momentos do texto: “ouviu um tec-tec-tec” e “Meses depois, tec-tec, um endereço”.

c) As onomatopeias são palavras criadas para representar sons. No miniconto de Leonardo Sakamoto, elas são usadas para representar o barulho da máquina de escrever. Esses sons são os indicadores de uma quebra do silêncio que caracterizava a vida do protagonista: depois da separação, vivia angustiado com sua solidão e passava as noites sem dormir (“a solidão foi se assentando em gosto amargo deixado pelas noites em branco”). O som da Olivetti, representado pelas onomatopeias, põe fim ao silêncio e cria, no leitor, a expectativa de uma mudança futura.

5 Como se pode identificar na informação apresentada na parte superior da charge, a questão tematizada é o recorde alcançado pela arrecadação de impostos na época em que a charge foi publicada.

> Os elementos são: o texto que introduz a charge (“Arrecadação de impostos apresenta o maior recorde de toda a história”), a pergunta feita pelo menino (“Pai, o que são impostos?”) e a resposta dada pelo pai (“A gente paga... e espera receber de volta em forma de investimentos e serviços públicos!”).

6 a) A figura de linguagem é a comparação, expressa no trecho “[Imposto] é como esse bumerangue”.

b) Ela foi construída a partir da relação de semelhança estabelecida entre o pagamento de impostos e o movimento de um bumerangue: assim como esse objeto que, depois de ser lançado, retorna ao ponto de partida, o dinheiro arrecadado com o pagamento de impostos deveria retornar ao contribuinte “em forma de investimentos e serviços públicos”.



c) Vê-se, nos dois últimos quadros da charge, que a comparação feita pelo pai não surte o efeito que ele esperava, pois o bumerangue por ele lançado não retorna ao ponto de partida. Fica evidente que pai e filho esperam o retorno do objeto por bastante tempo, porém anoitece e o menino diz ao pai que eles devem ir embora, pois a mãe já havia telefonado várias vezes. A situação retratada nesses dois quadros revela que a comparação com o bumerangue expressa a crítica feita à arrecadação recorde dos impostos no Brasil: embora os cidadãos paguem um valor muito alto em impostos, não veem retorno em forma de direitos e benefícios.

Figuras de sintaxe (ou de construção) (p. 181)

1 Nas duas tiras, uma personagem pergunta à outra se tem algo para o incômodo físico que está sentido (enjoo ou dor de cabeça).

2 Nos dois casos, a pergunta feita é entendida de modo contrário ao esperado e, em lugar de oferecer algo para resolver o problema, as personagens oferecem algo que pode desencadeá-lo.

3 A fala é “[...] ou queria dizer para curar uma?”.

> Nos dois casos, omite-se, na pergunta, o verbo que define o que as personagens esperam em relação ao incômodo que sentem (desejam curá-lo). Essa omissão permite que as perguntas feitas sejam interpretadas de outro modo: como se essas personagens desejassem algo para provocar enjoo ou dor de cabeça. É essa ambiguidade que cria o efeito de humor.

Atividades (p. 184)

1 Em primeiro lugar, podemos destacar o título da crônica, que recupera, com alterações, o do sermão cristão: o “Sermão da montanha” transforma-se, no texto de Drummond, em “Sermão da planície (para não ser escutado)”. Também a expressão bem-aventurados é retomada na crônica, mas para tratar das “bem-aventuranças” relacionadas ao futebol e à torcida pela Copa do Mundo. Além disso, a primeira frase da crônica (“Bem-aventurados os que não entendem nem aspiram a entender de futebol, pois deles é o reino da tranquilidade.”) mantém a mesma estrutura da primeira frase do sermão (“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.”), mas com as alterações necessárias para tratar do assunto escolhido pelo cronista para o “seu sermão”.

2 O texto de Drummond começa definindo como bem-aventurados todos os que não entendem ou não desejam entender de futebol, pois terão sempre tranquilidade. A partir daí, o sermão passa a tratar daqueles que, mesmo entendendo esse esporte, não serão tomados pela “paixão” pelo futebol (os que não assistem às partidas, os que “não têm paixão clubista”) ou com ele não terão uma relação profissional (não fazem a escalação dos jogadores, não são escalados para os jogos, não são cronistas esportivos), além dos que não conheceram esse esporte, pois nasceram, viveram e morreram antes de sua criação. Todos esses são bem-aventurados porque não sofrem emocional ou fisicamente (não correm risco de enfarto, não são xingados, não têm sua integridade física ameaçada) os efeitos do esporte.

a) Porque, mesmo afirmando que sejam bem-aventurados os que não amam o futebol e não sofrem pelas emoções provocadas pela paixão pelo esporte, o autor afirma, de forma contraditória, que são bem-aventurados aqueles que, depois de escutarem o sermão, torcerem fervorosamente pela vitória da seleção brasileira em todas as Copas do Mundo, como faz o “próprio sermoneiro”, já que a razão não deve prevalecer “quando o futebol invade o coração”.

b) A expressão para não ser escutado se explica porque, embora o autor apresente vários motivos para considerar bem-aventurados os que não sofrem torcendo por futebol, deixa evidente que a paixão de um torcedor, como a dele própria, não pode ser explicada pela razão. Por isso, esse sermão foi feito “para não ser escutado”, já que ele mesmo, embora desencantado, continuará torcedor apaixonado.

3 Bem-aventurados (os que).

a) A figura de linguagem que se caracteriza por essa repetição sistemática de uma mesma expressão é a anáfora.

b) A repetição da expressão chama a atenção do leitor para o fato de que não ser um torcedor apaixonado deve ser considerado uma bem-aventurança. Essa perspectiva, porém, é negada pela última afirmação do texto, que sugere exatamente o contrário: bem-aventurados são justamente os torcedores apaixonados da seleção brasileira.

4 A primeira oposição se dá entre as referências geográficas: sermão da montanha e sermão da planície. No caso do texto bíblico, a referência à montanha diz respeito ao local onde Cristo
Página 391

teria feito esse sermão específico. Na crônica de Drummond, o termo planície refere-se ao campo de futebol, onde serão disputadas as partidas que costumam fazer sofrer os torcedores mais fanáticos. A maior oposição, porém, está no fato de que o sermão bíblico foi feito para ser seguido e o de Drummond já explicita, no título, que o sermão da planície não deve ser escutado. Na verdade, é quase como se as bem-aventuranças ali enumeradas não pudessem ser alcançadas, porque exigiriam que o brasileiro deixasse de torcer por sua seleção de futebol, um esporte considerado a “paixão” nacional.



Atividades (p. 187)

1 “Humor muito sutil.”

> Porque a expressão humor muito sutil suaviza o fato de a apresentação de humor (stand-up) do amigo da personagem feminina não ser engraçada. Pelo contexto da tira, pode-se imaginar que, ao ser obrigada a dar sua opinião sobre o stand-up do amigo, a jovem usa a expressão para evitar chateá-lo.

2 O Homem-legenda “traduz” o eufemismo utilizado pela moça com a frase “Não tem graça nenhuma!!”. Com essa fala, o Homem-legenda sugere que a expressão utilizada pela jovem atenua o fato de que a apresentação não teve graça. O humor da tira é construído justamente pela presença de uma personagem que “traduz”, com sua “legenda”, a fala da moça.

3 As duas personagens são um coração e um cérebro. O Coração representa a emoção e o Cérebro, a razão.

> O Coração comenta sua empolgação sempre que compra livros novos. O Cérebro, por sua vez, retruca que seu interlocutor deveria usar essa animação para ler os (muitos) livros que já tem.

4 Cérebro, em sua fala, utiliza uma hipérbole, representada pelo número 1.678.908.098. Esse número é usado para fazer referência, de modo exagerado, ao fato de o Coração já ter muitos livros. Para o Cérebro, em lugar de comprar livros novos, seu interlocutor deveria ler os muitos que já tem.

> As personagens do cartum são representadas por elementos que remetem imediatamente à razão e à emoção, evocadas no título. O embate entre comportamentos racionais e passionais é explicitado pelo diálogo entre o Coração e o Cérebro: o primeiro expressa o prazer alcançado ao comprar novos livros; o segundo condena a irracionalidade desse comportamento, quando ainda há muitos livros não lidos à disposição do Coração. O uso da hipérbole é fundamental para a construção do humor do texto, porque explicita de modo inequívoco a crítica de Cérebro ao fato de as atitudes de Coração serem regidas pela emoção e não pela razão.

Enem e vestibulares (p. 188)

1 a) A expressão de duplo sentido é “andar na linha”, podendo significar “fazer tudo de maneira correta” ou referir-se à linha de trem, já que a empresa transporta contêineres por via férrea.

b) O termo sustentável está relacionado ao trem porque, ao contrário de outros meios de transporte, não polui o meio ambiente.



2 a) Sim. O trecho ambíguo é “Não posso me queixar”, que pode ser entendido como: “não tenho de que me queixar, estou satisfeito” ou “não tenho permissão para me queixar, pois posso ser punido caso me manifeste”.

b) Mas se você perguntar a quaisquer cidadãos de uma ditadura o que acham de seu país, eles respondem, sem hesitação: Não podemos nos queixar.



Pratique (p. 190) Sugestão

O objetivo desta atividade é permitir que os alunos se deem conta de como a linguagem figurada e os recursos estilísticos participam da construção de textos. No momento de avaliar o resultado da análise, é importante discutir como a crônica seria diferente se Fabrício Carpinejar tivesse adotado um modo mais objetivo para desenvolver a comparação que seu pai faz entre ele e uma personagem dos quadrinhos Marvel, o Wolverine. Identificamos, a seguir, os recursos estilísticos presentes no texto.



Figuras de palavra

Embora a comparação entre o cronista e a personagem Wolverine seja o ponto de partida do texto, ela não se concretiza em termos linguísticos. Está sempre presumida nos momentos em que o escritor nos apresenta as semelhanças e as diferenças entre ele e a personagem Wolverine. Por exemplo, no segundo parágrafo: “Não tenho o queixo quadrado e a baixa estatura do desenho da Marvel Comics. Muito menos a suíça e o cabelo alvoroçado do ator Hugh Jackman [...].”. Por essa razão, não deve ser considerada exemplo de figura de palavra.

Metáforas: “[...] meu alto poder de cicatrização”; “Quando não há porta, eu espero no escuro até ser a porta”; “A ansiedade [...] acaba por aumentar minha vontade de ver de novo a luz”; “cavar a terra por dentro da terra”; “A chuva lava minha ferida”; “A carne da memória”; “as palavras são garras”.

Figuras de sintaxe

Anáfora: “Não morro de uma única vez. Não desisto. Não me entrego [...].”; “Penso nos filhos, penso nos amigos, penso na literatura [...].”.



Figuras de pensamento Hipérbole: “Tenho fúria de viver”.

UNIDADE 6

Introdução aos estudos gramaticais

CAPÍTULO 18

A gramática e suas partes

Todas as línguas têm uma gramática (p. 192)

1 Dois homens trocam comentários enquanto esperam o ônibus.

2 Esse título é uma referência à decisão do Governo sobre o valor do salário mínimo. Os comentários feitos expressam a opinião dos dois homens (refletem, na verdade, seu descontentamento) sobre o valor definido para o mínimo.

3 O jogo de palavras é estabelecido entre o verbo comemorar e o seu desdobramento em dois verbos distintos: comer e morar.

> A ironia contida na fala “Comer e morar então...” leva os leitores a perceberem que o reajuste proposto para o salário mínimo é insuficiente para garantir direitos básicos dos cidadãos (alimentação e moradia).

4 O termo que resume a opinião negativa, na primeira fala, é impossível.

a) Podemos reconhecer que esse termo é formado pelo acréscimo do prefixo im- ao adjetivo possível. É o acréscimo desse prefixo que dá sentido negativo ao termo, indicando que algo não é possível.

b) Há, na língua portuguesa, muitas outras palavras cujo sentido negativo é estabelecido pelo acréscimo desse mesmo prefixo. Alguns exemplos: infeliz, impertinente, inadequado, incomum, inválido, etc.

Atividades (p. 193)

1 O problema que a tira aborda é a situação de miséria em que vivem muitos brasileiros, como o pai e o filho que são personagens dessa tira.

2 O jogo de palavras é estabelecido entre os termos gente e indigente.
Página 392

a) O pai parece saber que algumas palavras da língua portuguesa são formadas pelo acréscimo de unidades morfológicas dotadas de significação própria (radicais e afixos). Então, interpreta a estrutura da palavra indigente como constituída de um prefixo de valor negativo (indi-) associado ao radical -gente. No contexto da sua fala, é como se a palavra indigente significasse “não gente”.

b) Por meio desse termo, resultante de uma análise morfológica intuitiva, Rango define a condição de miséria que caracteriza a vida dele e a do filho.

3 A ironia contida na resposta de Rango (“Nós somos indigente.”) leva o leitor a perceber que pai e filho vivem em uma situação de extrema miséria. Sendo assim, não poderiam ser definidos como “gente”, uma vez que não têm garantidos direitos mínimos da cidadania, como alimentação, moradia, saúde, etc., assim como milhares de brasileiros.

4 A loja pretende informar ao cliente que ele deverá retirar nova senha se não estiver na loja quando o número da senha recebida por ele for anunciado.

a) De acordo com a redação do texto, a outra interpretação da mensagem seria a seguinte: se a senha não estivesse na loja quando fosse chamada, teria que retirar outra.

b) Essa outra interpretação causaria estranhamento porque, da forma como o texto está redigido, a não explicitação do sujeito das ações nomeadas (não estiver na loja e terá que retirar outra senha) favorece uma interpretação absurda, embora sintaticamente possível: a de que a senha (e não o cliente) deve realizar tais ações. Para evitar essa interpretação indesejada, o texto deveria ter sido redigido com a explicitação do sujeito sintático, de modo a deixar claro que é o cliente quem deve desempenhar as ações.

5 Possibilidades: “Caso não esteja na loja quando (o número de) sua senha for chamada(o), o cliente terá que retirar outra”. “Se não estiver na loja quando (o número de) sua senha for chamada(o), o cliente terá que retirar outra”.

6 Os homens dirigem-se, aparentemente, a alguém que mora em um buraco.

7 Ele vê o “homem buraco” como um ser primitivo, menos desenvolvido.

> Quando o “homem buraco” não responde à primeira pergunta feita (“Por que você mora no buraco?”), a pessoa que está na calçada tenta “simplificar” a linguagem, usando primeiro substantivo (buraco) e verbo (mora) para depois explicitar a pergunta (por quê?). As reticências sugerem, além disso, que a fala é mais pausada. A estrutura, agora, assemelha-se a uma organização tópico-comentário, em que algo é nomeado (buraco) para chamar a atenção do interlocutor sobre o assunto da conversa. Só depois disso é que se explicita a questão.

8 Quando conversam entre si, os homens que estão na calçada fazem um uso “normal” da linguagem, sem qualquer restrição na utilização de palavras ou alteração em sua ordem. Quando se dirigem ao “homem buraco”, procuram simplificar a linguagem, eliminando os termos relacionais (preposições, pronomes, etc.) e as flexões (o verbo aparece no infinitivo), como se desejassem reconstruir uma linguagem mais “primitiva”.

A formação da língua portuguesa (p. 196)

A história da formação da língua portuguesa começa no final do primeiro milênio antes de Cristo, quando os romanos iniciaram o processo de conquista de grande parte da Europa ocidental, parte da Europa oriental e do norte da África, regiões que vieram a constituir o chamado império Romano.



Do Lácio à península Ibérica. Os romanos, habitantes do Lácio, eram falantes de latim. Na marcha pela ocupação de novos territórios, levaram sua língua às regiões conquistadas. Os povos dessas regiões sofreram um processo de dominação cultural em que o latim era a língua de contato.

O latim falado pelos soldados e pela burocracia romana era o latim vulgar, uma variedade popular diferente do latim clássico, falado pelas elites de Roma.



O contato linguístico entre conquistadores e conquistados. Como língua de superestrato (língua dos conquistadores), o latim vulgar sobrepôs-se, regionalmente, às várias línguas de substrato (língua dos povos dominados). Desse contato resultaram variedades regionais do latim vulgar que constituíram os vários romances, expressão derivada de romanice loqui (“falar como os romanos”).

Romances: os descendentes do latim. Os romances regionais, com o tempo, transformaram-se nas línguas neolatinas ou românicas (italiano, francês, espanhol, português, romeno) e nos dialetos românicos (provençal, ladino, catalão e outros até hoje falados em determinadas regiões da Europa).

Origens da língua portuguesa: guerras, cruzadas e disputas territoriais. A história da língua portuguesa começa com a conquista da península Ibérica, região onde hoje se situam Portugal e Espanha.

Os romanos desembarcaram na península Ibérica, no ano 218 a.C., para deter o avanço dos cartagineses que pretendiam, sob o comando de Aníbal, conquistar Roma. Com a vitória, os romanos fixaram-se definitivamente no território, iniciando o processo de romanização da região. Esse processo completou-se no século I d.C., quando o latim já era a língua oficial da península.

No século V, a península Ibérica foi invadida pelos bárbaros, povos de origem germânica. No século VIII, a região sofreu nova invasão: a dos mouros (árabes).

Os mouros fixaram-se inicialmente no sul, e foram pouco a pouco conquistando toda a península. A língua oficial passou a ser o árabe, mas os invasores demonstraram tolerância linguística e autorizaram as populações a continuarem utilizando o romance regional em sua vida cotidiana.

A influência linguística dos árabes restringiu-se ao vocabulário. Nas línguas portuguesa e espanhola, incorporaram-se várias palavras referentes principalmente à agricultura, à moradia, ao comércio, às cores, às ciências, à administração, à cavalaria, entre outros campos lexicais.

A reconquista da península. Nem toda a população da península aceitou a dominação moura. Aqueles que não aceitavam viver sob a dominação de uma cultura islâmica refugiaram-se nas Astúrias e na Galícia. Dali deram início à reconquista da península Ibérica, organizando cruzadas para retomar territórios peninsulares conquistados pelos árabes.

D. Henrique, conde de Borgonha, foi uma personagem central nessa história. Em reconhecimento pelo seu empenho na luta contra os mouros, D. Afonso VI, rei de Leão e Castela, deu-lhe em casamento sua filha, D. Tareja, e concedeu-lhe o Condado Portucalense, território constituído de uma parte desmembrada da Galícia, no extremo noroeste da península. O nome desse território faz referência a Portucale, importante povoação junto ao rio Douro (hoje cidade do Porto).

Considera-se, porém, que o surgimento de Portugal aconteceu em 1143, quando D. Afonso Henriques, filho de D. Henrique, venceu a batalha de Ourique contra o reino de Castela e se fez coroar rei de Portugal.

Nesse momento, havia, na península Ibérica, três grandes agrupamentos linguísticos: o galego-português (falado na Galícia e em Portugal), o catalão (falado na região nordeste) e o castelhano (falado no restante do território).



Fases no desenvolvimento do português. As fases importantes no desenvolvimento da língua portuguesa são: 1) fase proto-histórica (do século XI ao século XII); 2) fase arcaica (do século XII ao século XVI); 3) fase moderna (do século XVI aos dias de hoje).

O português no mundo. Com as conquistas marítimas portuguesas, o português foi levado para várias partes do mundo e é hoje falado na América (Brasil), na África (Açores, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Madeira, Moçambique, São Tomé e Príncipe) e na Ásia (Damão, Diu, Goa, Macau e Timor Leste).
Página 393

Árvore genealógica da língua portuguesa

0393_001.jpg

HALL JR., Robert A. External history of language change. Nova Iorque: American Elsevier, 1974. Disponível em:


Yüklə 4,35 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   76   77   78   79   80   81   82   83   84




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin