Português: contexto, interlocução e sentido



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A LÍNGUA PORTUGUESA NA ÁFRICA

CABO VERDE 520 mil

GUINÉ-BISSAU 239,7 mil

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE 190 mil

MOÇAMBIQUE 13,9 milhões

ANGOLA 15 milhões

Pelas razões expostas acima, optamos por não incluir a Guiné Equatorial no mapa que destaca os países onde a língua portuguesa é falada. Explicar isso aos alunos. Com relação aos dados numéricos apresentados no mapa, eles se referem somente aos falantes de língua portuguesa.

Não correspondem, por isso, à população total dos países africanos lusófonos.

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1415: D. João I, o mestre de Avis, desembarca em Ceuta; início da conquista dos territórios africanos pelos portugueses.

Retrato de Dom João I de Portugal. c. 1434-1450. Têmpera sobre madeira, 42,5 × 33 cm. Autor desconhecido.

MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA, LISBOA

1444-1446: Duas expedições, uma liderada por Nuno Tristão e outra por Álvaro Fernandes, chegam à Guiné-Bissau.

1456: Descoberta das primeiras ilhas do arquipélago de Cabo Verde pelo navegador veneziano Luís de Cadamosto, a serviço do Infante D. Henrique.

1460: Diogo Gomes descobre outras ilhas do arquipélago.

1470: No dia de São Tomé (21/12), Pero Escobar e João de Santarém descobrem o arquipélago de São Tomé e Príncipe.

1483:Diogo Cão alcança a foz do rio Congo e o padrão português é colocado em terras angolanas. Tem início o tráfico de escravos.

Entreposto de São Jorge, costa ocidental da África. s.d. Autor desconhecido.

BIBLIOTECA ESTENSE, MÓDENA

1498: Vasco da Gama, navegando em direção às Índias, chega ao litoral de Moçambique.

1876: Abolida a escravidão em Cabo Verde.
Página 141

Retomar com os alunos o mapa da página 153, do Capítulo 11 (Simbolismo), Volume 2.

Minha língua é minha pátria?

Os quase quinhentos anos de assimilação de uma cultura imposta deixaram marcas visíveis nos povos africanos. A principal delas é a consciência de que uma literatura de expressão portuguesa sempre refletirá a tensão entre dois mundos: a sociedade colonial europeia, transposta para a África junto com os conquistadores, e a sociedade africana, multifacetada, com vários conflitos internos a serem resolvidos.

A opção de escrever em português representou, para muitos autores, uma derrota simbólica: tratava-se, afinal, da língua do conquistador. A esse respeito, o escritor Mia Couto faz uma significativa revelação sobre como o contato com a produção literária brasileira ajudou os autores africanos a começarem a se apropriar da língua portuguesa como marca de sua identidade.

[...] No outro lado do mundo, se revelava a possibilidade de um outro lado da nossa língua.

Na altura, nós carecíamos de um português sem Portugal, de um idioma que, sendo do Outro, nos ajudasse a encontrar uma identidade própria. Até se dar o encontro com o português brasileiro, nós falávamos uma língua que não nos falava. E ter uma língua assim, apenas por metade, é um outro modo de viver calado. [...]

COUTO, Mia. ... e fazer do nosso sonho uma casa. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 5 abr. 2008. Caderno 2. (Fragmento).

O dilema explicitado pelo moçambicano é real. E os textos dos autores brasileiros levaram para o outro lado do Atlântico a possibilidade de promover, também na língua portuguesa, um processo de mestiçagem que garantisse a diferenciação, pelas estruturas e pelo léxico, entre colonizadores e colonizados.

Ao reconhecer a importância do contato com textos de brasileiros como Jorge Amado para a definição dos caminhos literários a serem trilhados pelos africanos, Mia Couto revela uma irmandade literária ainda pouco conhecida entre nós.

[...] Havia pois uma outra nação que era longínqua mas não nos era exterior. E nós precisávamos desse Brasil como quem carece de um sonho que nunca antes soubéramos ter. Podia ser um Brasil tipificado e mistificado, mas era um espaço mágico onde nos renasciam os criadores de histórias e produtores de felicidade.

Descobríamos essa nação num momento histórico em que nos faltava ser nação. O Brasil — tão cheio de África, tão cheio da nossa língua e da nossa religiosidade — nos entregava essa margem que nos faltava para sermos rio. [...]

COUTO, Mia. ... e fazer do nosso sonho uma casa. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 5 abr. 2008. Caderno 2. (Fragmento).

Como povo que precisou definir a própria identidade após proclamar sua independência, os brasileiros tinham muito a ensinar aos “irmãos” africanos. A primeira lição foi, talvez, a mais significativa para a produção literária: a língua é de quem a usa e, nesse sentido, sempre será a expressão da cultura desse povo, ainda que, no passado, também tenha sido um instrumento de dominação. Definida essa margem, o rio literário podia fluir mais livremente.



1885: Apresentação do Mapa Cor-de-rosa, na Conferência de Berlim. Portugal pretendia criar uma faixa de terra ligando as colônias de Angola e Moçambique.

1890: Ultimatum (11/1): a Inglaterra exige que Portugal retire suas forças militares entre Angola e Moçambique, lá desde a Conferência de Berlim.

1924: Fundação, por Pedro Cardoso, do jornal Manduco, que valorizava o crioulo falado em Cabo Verde.

1932: Publicação do Folclore cabo-verdiano, uma compilação de música e poesias.

1936: Lançamento em Mindelo (Cabo Verde) do 1º número da revista Claridade, integrada por Baltasar Lopes, Jorge Barbosa, Manuel Lopes, Jaime Figueiredo e José Lopes.

Capa da revista Claridade, n. 9, 1960.

REPRODUÇÃO

1951: Na tentativa de preservar seu império intercontinental, Portugal passa a considerar os territórios africanos como províncias ultramarinas (ex-colônias).

1961: Surgem, em Angola, dois partidos que se dedicam à luta armada: o Movimento Pela Libertação de Angola (MPLA) e a União dos Povos de Angola (UPA); a ONU aprova moção contra Portugal.

Bandeira de Angola.

REPRODUÇÃO

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Página 142

O caminho da poesia

Boa parte da população dos países lusófonos da África não teve acesso à educação formal durante os séculos que permaneceram como colônia portuguesa. Na verdade, a instrução quase sempre era a condição para a mobilidade social em países como Cabo Verde, que contava com mais de 70% de analfabetos. O impacto de uma cultura fortemente associada à oralidade também repercute nas primeiras tentativas de produção literária independente: a poesia parecia ser, nesse contexto específico, o caminho mais seguro a ser inicialmente percorrido.

A tentativa de construir um panorama mais abrangente da produção poética destes países esbarra em uma dificuldade aparentemente intransponível. Embora tenham sido todos dominados pela mesma metrópole, viveram diferentes processos de independência social, política, econômica e cultural. Quando consideramos, porém, os principais temas que inspiram a poesia de seus autores, constatamos alguns momentos (ou fases) bem delineados e que talvez traduzam os principais pontos do caminho de um povo em busca da sua independência cultural.

De modo esquemático, esses momentos podem ser assim representados:



Alienação em relação à própria condição

Fase de assimilação

O escritor não leva em consideração sua condição no momento de produção literária. Por estar em estado quase absoluto de alienação, seus textos poderiam ser criados em qualquer outra parte do mundo.



Percepção da realidade

Fase de resistência

Surgem os primeiros sinais de um sentimento nacional que se anuncia nos temas abordados (a dor de ser negro, o indigenismo).



Consciência de colonizado

Fase de construção da identidade africana

Consolida-se o processo de desalienação. Uma vez consciente de sua condição de colonizado, o escritor pode voltar sua produção para o meio sociocultural e geográfico em que vive.



Fase histórica da independência

Fase de definição da independência literária

Reconstituição da individualidade autoral: o texto é produzido com liberdade e começam a surgir tópicos próprios da produção literária africana (o mestiço, a identificação com a África como “terra-mãe”, etc.).



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1962: Fundação da Frente de Libertação de Moçambique, Frelimo (25/7); seu primeiro presidente é o antropólogo Eduardo Chivambo Mondlane.

Samora Machel e Eduardo Mondlane, c. 1962-1969.

KEYSTONE-FRANCE/GAMMA-KEYSTONE/GETTY IMAGES

1963: O Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) abre frente de batalha na Guiné-Bissau.

1970: Morre, em Lisboa, António de Oliveira Salazar (27/7). Marcelo Caetano dá continuidade à ditadura.

1973: A Guiné-Bissau se declara independente de Portugal (24/9). Houve reconhecimento internacional, mas não do governo português.

1974: A Revolução dos Cravos põe fim, de modo pacífico, à ditadura do Estado Novo, que havia dominado Portugal por 41 anos.

Soldados portugueses durante a Revolução dos Cravos. Lisboa, 1º maio 1974.

HERVE GLOAGUEN/ GAMMA-RAPHO/ GETTY IMAGES

1974: Portugal reconhece a independência da Guiné-Bissau (10/9).

1975: Moçambique (25/6) e Angola (11/11) conquistam suas independências.

Agostinho Neto, líder do MPLA e primeiro presidente de Angola, 1979.

AP/GLOW IMAGES
Página 143

Para que se possa formar uma visão de conjunto da poesia africana de língua portuguesa é necessário considerar esses marcos do longo processo de definição de uma voz literária própria.

Uma vez construída a identidade literária coletiva, os autores passam a se dedicar à definição de um trajeto literário próprio, estabelecendo de modo mais definido seus estilos individuais. Alguns deles, como Mia Couto, alcançam uma maturidade literária plena, que faz com que suas obras, mesmo ao tratar da realidade africana, toquem em questões de natureza mais universais.

Segundo um conhecido estudioso da literatura africana, Manuel Ferreira, algumas publicações específicas também devem ser consideradas quando procuramos identificar momentos significativos da produção literária dos países africanos lusófonos.

[...] Os fundamentos irrecusáveis de uma literatura africana de expressão portuguesa vão definir-se com precisão, deste modo: a) em Cabo Verde a partir da revista Claridade (1936-1960); b) em São Tomé e Príncipe com o livro de poemas Ilha de nome santo (1943), Francisco José Tenreiro; c) em Angola com a revista Mensagem (1951-1952); d) em Moçambique com a revista Msaho (1952); e) na Guiné-Bissau com a antologia Mantenhas para quem luta! (1977). [...]

FERREIRA, Manuel. Literaturas africanas de expressão portuguesa I. Lisboa: ICP, 1977. p. 34. COSTA, José Francisco. Poesia africana de língua portuguesa. Disponível em:


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