Português: contexto, interlocução e sentido



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. Acesso em: 26 fev. 2016.

Para enfatizar a sensação de perda de tempo associada ao trabalho burocrático, o texto da tirinha faz referência ao número de anos em que um funcionário executa as mesmas funções. Nesse contexto, o verbo haver indica tempo transcorrido, é impessoal e, por isso, flexiona-se na 3ª pessoa do singular.

“Você faz isso sete anos, filho!”

Na tira a seguir, Hagar utiliza o verbo haver com o sentido de existir. Nesse contexto, esse verbo também é impessoal e, portanto, só pode ser flexionado na 3ª pessoa do singular.


Página 240

HAGAR


CHRIS BROWNE

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© 2016 KING FEATURES/IPRESS

BROWNE, Chris. Hagar. Folha de S.Paulo. São Paulo, 8 nov. 2001.

Atenção: guerras é núcleo do objeto direto do verbo haver e não pode, por isso, determinar a flexão verbal. É preciso cuidado em casos como esse para não errar, pensando que o objeto direto é sujeito e fazendo, com ele, a concordância de um verbo impessoal.

“… se conseguíssemos descobrir, não haveria mais tantas guerras.”


VTD: haveria
objeto direto: guerras

Verbo fazer indicando tempo transcorrido

É também impessoal o verbo fazer quando indica tempo transcorrido. Nesse caso, também deve permanecer na 3ª pessoa do singular. Observe a primeira fala do sapo, na tira abaixo.

NÍQUEL NÁUSEA

FERNANDO GONSALES



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© FERNANDO GONSALES

GONSALES, Fernando. Níquel Náusea. Folha de S.Paulo. São Paulo, 11 mar. 2002.

Atenção: dias é objeto direto do verbo fazer e não pode, por isso, determinar a flexão verbal. É preciso cuidado em casos como esse para não errar, pensando que o objeto direto é sujeito e fazendo, com ele, a concordância de um verbo impessoal.

Faz dias que não aparece uma mosca!!”


VTD: Faz
objeto direto: dias

Concordância especial: o verbo ser

O verbo ser merece destaque quando se discute a concordância verbal. Há casos em que este verbo concorda com o sujeito da oração, há casos em que concorda com o predicativo e há casos, ainda, em que pode concordar tanto com o sujeito como com o predicativo, a depender do termo que se quer destacar.
Página 241

Verbo ser indicando tempo

Na indicação de tempo, o verbo ser concorda com o numeral que ocorre no predicativo. Observe os exemplos.



é uma hora da tarde.

Hoje são dezesseis de agosto.

Observe que, na especificação do dia do mês, o verbo ser concorda no singular com o substantivo dia, caso ele anteceda o numeral.



Hoje é dia dezesseis de agosto.

Verbo ser + sujeito constituído por pronome interrogativo, indefinido ou demonstrativo

Quando o sujeito do verbo ser é um dos pronomes interrogativos que ou quem, o pronome indefinido tudo ou um dos pronomes demonstrativos isto, isso, aquilo, a concordância se faz com o predicativo do sujeito. Se o sujeito for o pronome indefinido tudo ou um dos pronomes demonstrativos isto, isso, aquilo, e a intenção for destacar o conjunto, a concordância deve ser feita com o pronome. Observe os exemplos a seguir.



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REPRODUÇÃO



Veja Rio. São Paulo: Abril, 30 out. 2002. p. 12.

“Nem tudo são flores.”



pronome indefinido: tudo

predicativo do sujeito: flores

Tudo é flores .

pronome indefinido: tudo

predicativo do sujeito: flores
Página 242

Verbo ser + sujeito constituído por expressões que indicam quantidade

Quando o sujeito da oração é constituído de expressões que indicam quantidade, preço, valor, medida no plural, o verbo ser permanece na 3ª pessoa do singular.



Cem dólares é um preço razoável por uma diária de hotel em Nova York.

Duzentos quilos é muito peso para transportar nesse carro.

Verbo ser + pronome pessoal do caso reto

Quando, na oração, um pronome pessoal do caso reto desempenhar a função de sujeito ou de predicativo, a concordância do verbo ser será com o pronome. Observe.



Eu sou o Conde Drácula.

O Conde Drácula sou eu.

Verbo ser + núcleo do sujeito no singular + núcleo do predicativo no plural

Quando o verbo ser ocorre entre um sujeito cujo núcleo é um substantivo comum no singular e um predicativo cujo núcleo é um substantivo comum no plural, a tendência é o verbo concordar com o predicativo.

Observe a fala da joaninha no segundo quadrinho da tira a seguir, em que o predicativo tem dois núcleos e o primeiro deles está no plural.

BICHINHOS DE JARDIM

CLARA GOMES

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© CLARA GOMES

GOMES, Clara. Livro do blog Bichinhos de jardim. Rio de Janeiro: Blogbooks, 2009. p. 119.

“O problema são essas cores alegres e esse traço infantil [...]”



sujeito predicativo do sujeito

Concordância ideológica

Em alguns contextos específicos, a língua portuguesa admite a realização de uma concordância que não toma por base a forma em que se apresenta o núcleo do sujeito e sim a ideia associada ao sujeito da oração. É a chamada concordância ideológica.



Tome nota

Concordância ideológica é aquela em que o termo flexionado (verbo, adjetivo ou pronome) concorda com a ideia de número, gênero ou pessoa associada ao referente do sujeito da oração. A concordância ideológica é também chamada de silepse.
Página 243

Silepse de número

A silepse de número é frequente quando se tem como sujeito um substantivo coletivo que tem forma singular, mas expressa ideia de pluralidade.

Recomenda-se evitar a silepse de número, mas ela é por vezes utilizada e mesmo valorizada na linguagem literária. Sua ocorrência em contextos mais informais é rara, mas pode acontecer. Observe a fala de Garfield no último quadrinho da tira a seguir.

GARFIELD

JIM DAVIS



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© 2002 PAWS, INC./DIST. BY UNIVERSAL UCLICK

DAVIS, Jim. Garfield. Folha de S.Paulo. São Paulo, 16 fev. 2002.

Mordam-se de inveja, gataria!”

No exemplo, o substantivo gataria tem uma forma singular que recupera um sentido coletivo (muitos gatos). Embora atue como vocativo, na fala de Garfield, esse substantivo dá uma pista ao leitor para a ideia que está por trás da flexão de número do verbo morder. É como se o Garfield estivesse dizendo: Mordam-se de inveja, gatos!

Silepse de gênero

A silepse de gênero é comum com os pronomes de tratamento.

Vossa Excelência não acha que está excessivamente irritado ?

pronome de tratamento (feminino): Vossa Excelência

adjetivo (masculino): irritado

Silepse de pessoa

Ocorre, por exemplo, quando o falante também se considera incluído em um sujeito na 3ª pessoa do plural. Veja a fala do Sr. Rabujo no primeiro quadrinho da tira a seguir.

CHICLETE COM BANANA

ANGELI

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© ANGELI


ANGELI. Chiclete com banana. Folha de S.Paulo. São Paulo, 25 fev. 2006.
Página 244

“Convoco todos os homens de bem para que reconstruamos este país…”

A flexão do verbo na 1ª pessoa do plural indica que o falante quer se incluir no conjunto dos “homens de bem”.

A silepse de pessoa também pode ser observada, na linguagem informal, em algumas circunstâncias, quando se usa a expressão a gente com o significado de nós. Observe a propaganda feita por uma agência publicitária para comemorar um prêmio conquistado pelo voto popular.



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REPRODUÇÃO



Folha de S.Paulo. São Paulo, 3 set. 2004.

Este ano a agência XXX ganhou os maiores prêmios da propaganda. Foram 3 medalhas de ouro no Clube de Criação de São Paulo, uma das premiações mais importantes do Brasil. Em Cannes, a premiação mais importante do mundo, foram 6 finalistas e um leão de bronze. Além de 3 medalhas e o grande prêmio de Comercial do Ano no Voto Popular, onde quem vota é quem mais entende de propaganda: o consumidor.

O uso da silepse de pessoa, nesse caso, tem a função de chamar a atenção do leitor do jornal para a natureza do prêmio conquistado: a agência, além de receber vários prêmios da crítica especializada (3 medalhas de ouro no Clube de Criação de São Paulo, um leão de bronze em Cannes), teve o filme Lua II escolhido como comercial do ano pelo Voto Popular.

A associação entre a forma a gente ganhamos e a fala característica de uma variedade popular é imediata. E, no anúncio, essa associação funciona para “traduzir” a mensagem desejada pela agência: somos os preferidos do “povão”.



ATIVIDADES

Leia com atenção o texto a seguir para responder às questões de 1 a 4.

Um futuro singular

Senhor diretor, estou escrevendo esta carta porque temo pela minha saúde mental, e se algo acontecer comigo quero que todos saibam o motivo, principalmente o senhor, do qual eu esperava toda a compreensão, já que partilha comigo a crença de que só com um profundo respeito à gramática da língua portuguesa construíremos uma nação desenvolvida. [...]


Página 245

Sempre fui um dedicado professor de português, o senhor me conhece bem, tantas vezes me elogiou... Trabalho no ensino fundamental de sua escola há mais de vinte anos! [...] Sempre tive devoção pela língua portuguesa! É uma verdadeira religião para mim! Luto contra as gírias, os estrangeirismos e os erros gramaticais como um cristão contra os hereges! Minha luta pelo emprego do português correto é uma verdadeira cruzada! Uma guerra santa! [...]

Tudo começou naquela tarde de sábado, quando fui lavar meu carro e o rapaz me cobrou “dez real”. Depois deixei o carro numa vaga, e me custou “dois real”. O camelô me ofereceu “três cueca”, minha empregada tinha pedido “quatro quilo de batata”, o feirante me ofereceu “seis limão”, outro gritou “os peixe tão fresco!”; depois meu porteiro se prontificou a levar “as sacola” até o elevador e deu o recado de que “meus filho” ainda não tinham chegado “das compra”. Desesperado, me dei conta de que os plurais estavam sumindo! [...]

JAF, Ivan. In: CAMPOS, Carmen Lucia da Silva; SILVA, Nilson Joaquim da (Orgs.). Lições de gramática para quem gosta de literatura. São Paulo: Panda Books, 2007. p. 86-90. (Fragmento).



1. O texto é uma carta dirigida a um interlocutor específico. Quem é esse interlocutor?

> Que relação há entre esse interlocutor e o autor da carta?

2. No último parágrafo, o autor da carta explicita o motivo que o levou a escrever: a constatação de que “os plurais estavam sumindo”. Transcreva no caderno as expressões que ele ouviu de diferentes pessoas e que o levaram a tal constatação.

> Considerando essas expressões, explique o que o autor da carta quer dizer ao afirmar que os “plurais estão sumindo”.

3. Na linguagem oral e em contextos informais, a estrutura a que se refere o autor da carta é comum e pode ser observada na fala de usuários de diversas variedades linguísticas. Ela não surge aleatoriamente. Leia novamente o texto e procure explicar a regra que poderia determinar essa estrutura.

4. Com base no texto, é possível afirmar que o autor da carta considera o “sumiço do plural” um “erro gramatical” a ser corrigido. O que essa postura revela sobre o modo como ele encara a língua?

> Do ponto de vista do modo como a língua é efetivamente usada na sociedade, essa postura pode ser considerada inadequada. Explique.

Leia o texto abaixo para responder às questões 5 e 6.

Táxis rosa exclusivos para mulheres começam a circular no México

Com assombro e curiosidade, os habitantes da cidade mexicana de Puebla veem passar por suas ruas coloniais 35 táxis rosa, cujo uso e manejo está restrito para mulheres. “As pessoas nos param nas ruas para nos parabenizar, e as mulheres querem saber como pedir por uma corrida”, disse nesta segunda-feira à agência Efe Lidia Hernández, uma das motoristas de Pink Taxis, a companhia que diz ser pioneira do ramo no país.

Minutos mais tarde, o carro de Hernández foi parado em Zócalo, a praça principal de Puebla, que é capital do Estado de mesmo nome, e uma senhora disse que a iniciativa é “fantástica” e que deveriam haver mais unidades. [...]

MEDRANO, Paula Escalada. Folha de S.Paulo, 19 out. 2009. Disponível em:


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