Português: contexto, interlocução e sentido



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. Acesso em: 2 mar. 2016.

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Lixo na região da rua 25 de Março, São Paulo, maio de 2013.

MARIO ÂNGELO/SIGMAPRESS/FOLHAPRESS
Página 300

>> Alguns aspectos do problema

De lata cheia em lata cheia, cada brasileiro que viva até os 70 anos de idade vai produzir 25 toneladas de detritos. Como a família média no país é formada por quatro pessoas, cada lar irá fabricar 100 toneladas de lixo. São números pavorosos, mas pouca gente dá atenção a isso até que o lixo — feito um vulcão aparentemente extinto — dê sinais de vida. [...]

O problema ganha uma dimensão mais perigosa por causa da mudança no perfil do lixo. Há cinquenta anos, os bebês [...] utilizavam fraldas de pano, que não eram jogadas fora. Tomavam sopa feita em casa e bebiam leite mantido em garrafas reutilizáveis. Hoje, os bebês usam fraldas descartáveis, tomam sopa em potinhos que são jogados fora e bebem leite embalado em tetrapak. Ao final de uma semana de vida, o lixo que eles produzem equivale, em volume, a quatro vezes o seu tamanho. Na metade do século, a composição do lixo era predominantemente de matéria orgânica, de restos de comida. Com o avanço da tecnologia, materiais como plásticos, isopores, pilhas, baterias de celular e lâmpadas são presença cada vez mais constante na coleta. [...] Levando-se em consideração que

[...] 70% do lixo brasileiro é jogado a céu aberto, a contaminação dos lençóis freáticos localizados abaixo desses lixões não para de crescer.

[...]

LIMA, Mauricio. Um bebê = 25 toneladas de lixo. Veja. São Paulo: Abril, ed. 1589, 17 mar. 1999. Maurício Lima/Editora Abril. Disponível em: . Acesso em: 17 mar. 2013



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Lixão a céu aberto, Ilha Comprida, São Paulo, maio de 2009.

JOSÉ MARIA TOMAZELA/ESTADÃO CONTEÚDO

>> Lixo × riqueza

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FERNANDO JOSÉ FERREIRA

Fonte: The Economist. A rubbish map, 7 jun. 2012. Disponível em: . Acesso em: 6 abr. 2016.

Fonte: Banco Mundial


Página 301

>> Uma possível solução

[...]


Papel e plástico formam cerca de metade do lixo urbano do planeta, mas o problema tende a diminuir à medida que alternativas biodegradáveis se popularizarem. Para cada tonelada de papel reciclado, em média trinta árvores são poupadas. Reciclar 1 tonelada de alumínio consome 5% da energia necessária para produzir 1 tonelada a partir da bauxita. O Brasil está adiantado nesse setor: recicla 87% das latas de alumínio, reaproveita um terço do papel e 40% das garrafas plásticas de refrigerantes. A reciclagem gera 200 000 empregos no país e 1,5 milhão em todo o mundo. Calcula-se que 700 milhões de toneladas de materiais de todo tipo sejam recicladas anualmente no planeta. Isso representa um faturamento anual de 200 bilhões de dólares. Nos EUA, a reciclagem emprega diretamente meio milhão de pessoas, o dobro do que emprega a indústria do aço, segundo levantamento do Instituto Worldwatch. [...]

No caminho certo. Veja. São Paulo: Abril, ed. 1885, 22 dez. 2004. Disponível em: . Acesso em: 17 mar. 2013.



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Triagem de lixo para a reciclagem. Rio de Janeiro, novembro de 2006.

ROGÉRIO REIS/PULSAR IMAGENS

>> Um pouco de humor

RANGO


EDGAR VASQUES

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© EDGAR VASQUES

Disponível em: . Acesso em: 2 mar. 2016.
Página 302

No momento de avaliar os relatórios produzidos em sala, dois aspectos devem ser considerados: 1) a pertinência das informações coletadas e apresentadas pelas equipes; 2) a adequação do texto à estrutura do gênero solicitado. É importante observar, nesse sentido, se os alunos foram capazes de fazer uma introdução mais geral, informando qual a questão a ser tratada e os objetivos do relatório; se conseguiram realizar, de modo adequado, uma transição textual da questão mais geral do lixo urbano para a questão particular do modo como o lixo urbano é tratado na cidade em que moram. Também é interessante avaliar o uso de diferentes linguagens na apresentação dos dados. Caso sejam apresentados gráficos, eles contribuem para tornar mais claros os dados para o leitor do texto? Por fim, é preciso observar se a seção final do relatório traz conclusões decorrentes dos dados apresentados no desenvolvimento.

Agora que você já tem alguns dados, pesquise, em site, jornais, revistas e livros, outras informações importantes para a compreensão do problema apresentado pelo acúmulo de lixo nos grandes centros urbanos.

O foco da pesquisa deverá ser a situação de coleta e reciclagem de lixo em sua cidade. Pesquise no site da prefeitura local dados referentes à limpeza urbana: há coleta seletiva? O que é feito com o lixo domiciliar, industrial, hospitalar? São feitas campanhas para conscientizar os cidadãos da importância da coleta seletiva e da reciclagem do lixo? Condomínios são estimulados a realizar a coleta seletiva?

Com base na análise dos dados obtidos, elabore, em equipe, um relatório intitulado Situação atual da coleta e reciclagem de lixo na cidade X.

Por se tratar de tema de interesse geral, considere como possíveis leitores do relatório todos os moradores da sua cidade.

Caso a prefeitura local não tenha, em seu site, informações sobre o destino dado ao lixo urbano, orientar os alunos a buscarem essas informações por telefone.

2. Elaboração

>> Organize as informações coletadas durante a pesquisa:

• Quais delas são de caráter mais geral?

• Quais apresentam aspectos específicos da questão abordada?

• Quais dados referem-se à sua cidade?



>> A estrutura do relatório deve obedecer às orientações fornecidas neste capítulo. Para isso, será necessário definir os seguintes aspectos:

• Como deve ser feita a introdução?

• Que informações serão apresentadas no desenvolvimento?

• Algum gráfico será utilizado para apresentação dos dados coletados? Em caso afirmativo, que tipo de gráfico ilustra melhor as informações a serem destacadas para o leitor?



>> A linguagem deve ser simples, objetiva e direta. Devem ser evitados comentários pessoais e uso de linguagem figurada.

>> Lembre-se de considerar também os seguintes aspectos:

• O perfil do leitor a quem o texto se dirige.

• O veículo em que o relatório pode ser divulgado (jornal da escola ou da cidade, mural da sala, site da internet).

3. Reescrita do texto

As diferentes equipes devem trocar os relatórios escritos.

Leiam o relatório produzido por uma outra equipe. Verifiquem se a organização e a apresentação dos dados obedeceram ao perfil de cada uma das seções características desse gênero textual. Analisem a adequação da linguagem utilizada no texto. Façam sugestões de reelaboração ou apontem os trechos que parecerem inadequados.

Concluída a etapa de leitura e análise dos textos, cada equipe deverá reler o relatório que produziu e realizar as alterações sugeridas pelos colegas, caso sejam pertinentes.



De olho na internet

Nos sites abaixo você encontra uma série de informações úteis sobre: lixo, coleta seletiva, reciclagem, legislação ambiental, etc. Se desejar, pode utilizá-los como base para uma pesquisa mais aprofundada que possa auxiliá-lo no momento de elaboração do texto proposto.

• http://www.lixo.com.br/

• http://www.compam.com.br/

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Lixo

Devido à natureza dinâmica da internet, com milhares de sites sendo criados ou desativados diariamente, é possível que alguns dos indicados não estejam mais disponíveis. Alertar os alunos sobre isso.
Página 303

Produção de texto

Unidade 8 - Argumentação

A argumentação vem sempre associada a um desafio: convencer alguém de alguma coisa, demonstrar a validade de um juízo de valor, defender um ponto de vista. Cada uma dessas finalidades se manifestará, em maior ou menor grau, nos gêneros discursivos de estrutura argumentativa. Ao conhecê-los, saberemos melhor como selecionar e organizar argumentos de natureza diferente para alcançar objetivos como demonstrar, persuadir e convencer.

Capítulos

19. Textos publicitários, 307
• Textos publicitários: definição e usos

20. Resenha, 319
• Resenha: definição e usos
Página 304

Tipos de argumento

Rem tene, verba sequentur.
(“Sê senhor do argumento, as palavras virão.”)

Catão.


BARELLI, Ettore; PENNACCHIETTI, Sergio (Org.). Dicionário das citações. Tradução de Karina Jannini. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 415.

Argumentar é defender uma ideia, uma tese, uma posição. Argumentos, portanto, são as “provas” apresentadas para demonstrar que o que se pretende defender corresponde à verdade ou é o resultado de um processo analítico fundamentado na razão.

O argumento por raciocínio lógico e o argumento por citação, também conhecido como argumento de autoridade, participam da estratégia de convencimento do leitor em um artigo de opinião.

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Título: antecipa para o leitor a questão que será analisada no texto (exclusão social).

Prédios na Praia de Copacabana com a favela do Cantagalo ao fundo, na cidade do Rio de Janeiro, 2014.

RENATA MELLO/PULSAR IMAGENS

1º parágrafo: contextualização da questão que será analisada. Início da análise do autor, marcada pelo uso de termos associados à 1ª pessoa do singular. O parágrafo termina com a explicitação de uma pergunta retórica que define a questão central a ser respondida pela análise argumentativa apresentada no texto. É interessante observar como a argumentação construída por Ferreira Gullar se apoia em uma série de perguntas retóricas.

Exclusão social, o que é isso?

Por que considerar “excluídos” aqueles que nunca estiveram de fato “incluídos”?

De algum tempo para cá, a parte da sociedade que mora em favelas e bairros pobres é qualificada como “excluída”. Ou seja, os moradores da Rocinha e do Vidigal, por exemplo, não vivem ali porque não dispõem de recursos para morar em Ipanema ou Leblon, e sim porque foram excluídos da comunidade dos ricos. E eu, com minha mania de fazer perguntas desagradáveis, indago: mas alguma vez aquele pessoal da Rocinha morou nos bairros de classe média alta e dos milionários? Afora um ou outro que possa ter se arruinado socialmente ou que tenha optado por residir ali, todos os demais foram levados a isso por sua condição econômica ou porque ali nasceram. Então por que considerá-los “excluídos”, se nunca estiveram “incluídos”?



Subtítulo: explicita a perspectiva analítica que será defendida pelo autor. No caso, Ferreira Gullar discorda do uso do termo excluídos para fazer referência a moradores de bairros carentes. O autor do subtítulo não costuma ser o articulista, e sim o editor do jornal ou revista onde o texto será publicado.

Página 305



Argumento por raciocínio lógico: o autor do texto busca demonstrar, por meio da criação de nexos causais (relações de causa e efeito), que a conclusão a que chegou é necessária, e não fruto de uma interpretação pessoal facilmente contestável.

3º parágrafo: proposição de uma nova perspectiva de análise. Ferreira Gullar continua a recorrer à construção de relações de causa e consequência para convencer o leitor, baseando-se em novo argumento por raciocínio lógico: se, nos bairros onde moram os ditos “excluídos”, há quase 1 milhão de pessoas que participam da vida econômica, cultural e esportiva da cidade, então não podem ser consideradas excluídas. Uma terceira pergunta retórica aparece no texto, agora para fazer com que o leitor chegue à mesma conclusão do articulista sobre a participação intensa dessas pessoas em todas as esferas da vida na cidade. A argumentação por raciocínio lógico é retomada e inclui alguns exemplos de aspectos em que a vida dos moradores de bairros de periferia carece de condições semelhantes às desfrutadas por moradores de outros bairros. Essa concessão argumentativa é feita para evitar um possível contra-argumento que procure justificar considerá-los “excluídos” porque não vivem nas mesmas condições das pessoas que moram em bairros de maior prestígio. O parágrafo termina com a afirmação de sua tese inicial.

No meu pouco entendimento, excluído é quem pertenceu a uma entidade ou a comunidade e dela foi expulso ou impedido de nela continuar. Quem nunca pertenceu às classes remediadas ou abastadas não pode ter sido excluído delas. Mais apropriado seria dizer que nunca foi incluído. Ainda assim, se não me equivoco, incorreríamos em erro. Senão, vejamos: a Rocinha, o Vidigal, o Borel e a favela da Maré fazem parte da cidade do Rio de Janeiro, não fazem? Seria correto afirmar, então, quer seja do ponto de vista urbanístico, quer do demográfico e social, que o Rio são apenas os bairros em que reside a parte mais abastada da população? Se fizermos isso, então, sim, estaremos excluindo parte considerável do território e da gente que constitui a cidade do Rio e que, portanto, pertence a ela.

Consideremos agora a questão de outro ponto de vista. Nos morros e favelas da cidade residem cerca de 1 milhão de pessoas, que têm vida social ativa, pois trabalham, estudam, participam de organizações comunitárias e recreativas. A maioria delas trabalha fora de sua comunidade, no comércio, na indústria, no serviço público, ou desenvolve atividade informal. Logo, participa da vida econômica, cultural e esportiva da cidade. Em que sentido, então, essa gente estaria excluída? Não resta dúvida de que as famílias faveladas, na sua ampla maioria, vivem em condições precárias, tanto no que se refere ao conforto domiciliar quanto à alimentação, às condições de higiene e saneamento, educação, saúde e segurança. Mas não estão excluídas da preocupação dos políticos que, na época das eleições, vão até lá em busca de votos. Há, nessa comunidade, cabos eleitorais, pessoas que atuam em associações de bairro e fazem a ligação com os centros políticos de poder. É certo que a grande maioria dessa gente não participa da vida política, mas isso ocorre também com as demais pessoas, morem onde morarem. Por todas essas razões, somos obrigados a concluir que os pobres e favelados estão incluídos na vida econômica, social e política da sociedade.

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ELOAR GUAZZELLI



2º parágrafo: Ferreira Gullar começa a desenvolver sua argumentação por meio do raciocínio lógico: analisa o sentido que o termo excluído tem originalmente, para demonstrar por que não é possível considerar “excluído quem nunca foi “incluído”. Uma nova pergunta retórica é introduzida, para que o leitor compreenda melhor as razões que levam o autor a rejeitar a designação de excluídos para os moradores de bairros pobres. Logo após a pergunta retórica, a análise é retomada, para dar prosseguimento à argumentação por raciocínio lógico iniciada neste parágrafo.
Página 306

5º parágrafo: introduzido pela quarta pergunta retórica, que encaminha a reflexão do leitor do texto para aquilo que Ferreira Gullar vai apresentar como a verdadeira razão para o uso da expressão “exclusão social”. A análise continua a ser desenvolvida por meio da argumentação por raciocínio lógico.

Argumento por citação (ou argumento de autoridade): para demonstrar uma perspectiva analítica, o autor do texto recorre à “autoridade” de outra pessoa, geralmente um autor consagrado. A citação é feita com o intuito de “emprestar” ao texto a confiabilidade de que goza o autor citado.

No entanto, isso não significa que estejam em pé de igualdade com as pessoas das classes médias e ricas. Não estão e, na sua grande maioria, descendem de gerações de brasileiros que tampouco gozaram dessa igualdade. Muitos descendem de antigos escravos e de brancos pobres que, pela carência de meios e pela desigualdade que rege o processo social, jamais tiveram possibilidade de ascender econômica e socialmente. Eles não foram excluídos simplesmente porque jamais estiveram incluídos entre os mais ou menos privilegiados.

Por que, então, cientistas políticos, sociólogos e jornalistas, entre outros, falam de exclusão social? Por ignorância não será, já que todos eles estão a par do que, bem ou mal, tentei demonstrar aqui. Creio que, consciente ou inconscientemente, procura-se levar a sociedade a pensar que a desigualdade social não é consequência de fatores objetivos, do sistema econômico, mas sim resultado da deliberação de pessoas cruéis que empurram os mais fracos para fora da sociedade e os condenam à miséria.

Em vez de admitir que esse sistema, por visar acima de tudo o lucro e ser, por definição, concentrador da riqueza, é que dificulta, ainda que não impeça, a ascensão dos mais pobres, procura-se fazer crer que a desigualdade é fruto de decisões pessoais. Ignora-se que, no sistema capitalista, quem não tem emprego também está incluído nele, como exército de reserva de mão de obra, com a função de pressionar o trabalhador e limitar-lhe as reivindicações. A eliminação da miséria beneficia o sistema pois amplia o mercado consumidor. O empresário pode ser, como você ou eu, bom ou mau, generoso ou sovina, mas, como disse Marx, “o capital governa o capitalista”. O problema está no sistema, não nas pessoas.

FERREIRA GULLAR, J. Ribamar. Folha de S.Paulo. São Paulo, 13 abr. 2016.

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