. Acesso: 13 abr. 2016.
4º parágrafo: o autor do texto expande a análise que faz das diferenças entre moradores de bairros mais pobres e mais ricos. Introduz, como argumento para sustentar o raciocínio apresentado, informações de natureza histórica.
É interessante observar, portanto, que a argumentação por raciocínio lógico pode se apoiar em exemplos (como no 3º parágrafo) ou recorrer ao resgate de informações históricas a serem apresentadas ao leitor como “prova” do que se afirma. É com base nessas informações que a tese inicial, referida no subtítulo, é reafirmada.
6º parágrafo: o autor identifica os fatores que mantêm a desigualdade social observada no país (o sistema capitalista é concentrador de riqueza; produz um exército de reserva de mão de obra, o que dificulta as conquistas da classe trabalhadora). Está preparado o terreno, em termos argumentativos, para trazer ao texto a contribuição, por meio de um argumento por citação, de uma autoridade no estudo das relações de poder ao longo da história humana: Karl Marx. Com base nessa citação e no raciocínio desenvolvido até este momento, Ferreira Gullar expõe a tese principal de seu artigo: o problema da sociedade não está nas pessoas (“excluídas”), e sim no sistema capitalista que produz tal exclusão para favorecer o ganho de capital.
Toda a articulação argumentativa presente no texto pode ser analisada de modo a explicitar a estratégia adotada por seu autor. Por meio de perguntas retóricas deliberadamente distribuídas ao longo dos parágrafos, Ferreira Gullar cria o contexto ideal para desenvolver sua análise, conduzindo o olhar do leitor para os mesmos aspectos que recupera como argumentos por raciocínio lógico.
A citação feita no último parágrafo funciona, nesse contexto argumentativo, como a comprovação final da tese defendida no texto. Não se trata de atribuir às pessoas uma condição que é causada pelo sistema. Enquanto elas forem vistas como excluídas (e não o sistema como excludente), não há esperança de modificação das condições precárias em que vivem. E isso interessa ao sistema, porque realimenta o exército de aflitos por ele explorados.
A capacidade de construir uma análise, expondo de modo claro e seguro o raciocínio no qual se baseia o ponto de vista defendido, é fruto não só do domínio dos recursos argumentativos disponíveis na língua, mas também de um profundo conhecimento da questão que deu origem à análise.
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Capítulo 19 - Textos publicitários
Leitura
Em jornais e revistas, outdoors, televisão, cinema, rádio e na internet, observamos a presença frequente de textos que procuram nos vender alguma coisa: um produto, uma ideia, uma causa social. São os textos publicitários. A seguir você verá três anúncios de uma mesma campanha publicitária.
Texto 1
FUNDAÇÃO ONDAAZUL/QUÊ COMUNICAÇÃO
Já foi o tempo em que o único cuidado ao comer peixe era com a espinha.
A poluição de rios, mares, oceanos, nascentes, lagos e lagoas e o uso irracional da água está [sic] levando o planeta à destruição. Preserve-se. 19 de setembro. Dia Mundial pela Limpeza da Água.
Texto 2
FUNDAÇÃO ONDAAZUL/QUÊ COMUNICAÇÃO
Não são elas que andam devagar. A poluição é que não espera.
Os principais fatores de degradação dos rios, mares e lagoas vêm da poluição e contaminação por produtos químicos. Preserve-se. 19 de setembro. Dia Mundial pela Limpeza da Água.
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Texto 3
FUNDAÇÃO ONDAAZUL/QUÊ COMUNICAÇÃO
Quem é que está andando pra trás aqui?
Atualmente, cerca de um milhão de habitantes no planeta não têm acesso a água potável. Em breve não haverá mais água doce. Preserve-se. 19 de setembro. Dia Mundial pela Limpeza da Água.
Análise
1. Qual o objetivo da campanha para a qual os anúncios foram criados?
2. O que chama a atenção nas imagens utilizadas nos três anúncios?
> Podemos afirmar que os criadores desses anúncios consideram essas imagens como parte de sua estratégia de convencimento dos leitores. Por quê?
3. Cada um dos anúncios traz um enunciado destacado na parte superior. Releia:
Texto 1: “Já foi o tempo em que o único cuidado ao comer peixe era com a espinha.”
Texto 2: “Não são elas que andam devagar. A poluição é que não espera.”
Texto 3: “Quem é que está andando pra trás aqui?”
a) O que há em comum entre esses enunciados?
b) Que finalidade eles cumprem nos anúncios?
4. Na parte inferior dos anúncios há diferentes textos. Releia:
Texto 1: “A poluição de rios, mares, oceanos, nascentes, lagos e lagoas e o uso irracional da água está [sic] levando o planeta à destruição. Preserve-se. 19 de setembro. Dia Mundial pela Limpeza da Água.”
Texto 2: “Os principais fatores de degradação dos rios, mares e lagoas vêm da poluição e contaminação por produtos químicos. Preserve-se. 19 de setembro. Dia Mundial pela Limpeza da Água.”
Texto 3: “Atualmente, cerca de um milhão de habitantes no planeta não têm acesso a água potável. Em breve não haverá mais água doce. Preserve-se. 19 de setembro. Dia Mundial pela Limpeza da Água.”
> Qual a função das passagens destacadas no contexto geral dos anúncios? Explique.
5. A intenção dos textos é levar o leitor a agir de uma determinada maneira. Transcreva no caderno o termo presente nos anúncios que explicita essa intenção.
a) Que característica formal do termo identificado por você torna clara a intenção dos textos? Justifique.
b) Por que, na escolha desse termo, podemos reconhecer mais um elemento que contribui para a estratégia persuasiva dos autores?
Textos publicitários: definição e usos
Em diferentes circunstâncias da vida cotidiana, convivemos com textos que procuram nos convencer a agir de uma determinada maneira. Embora variem muito na forma e no conteúdo, mantêm sempre um mesmo objetivo: persuadir o leitor por meio da publicidade.
Tome nota
Os textos publicitários compreendem gêneros discursivos que procuram despertar no interlocutor o desejo de comprar algo (seja um produto, seja uma ideia) ou aderir a uma causa. São, por essa razão, considerados persuasivos. Estabelecem uma interlocução direta e valem-se de diferentes recursos da linguagem para conseguir a adesão do leitor àquilo que vendem ou sugerem. São gêneros que exemplificam o discurso publicitário: anúncios (em revistas e outdoors, televisivos e radiofônicos, em portais da internet), cartazes, panfletos, folhetos, fôlderes, etc.
Na análise da estrutura dos anúncios publicitários, utilizamos a terminologia própria da redação publicitária (título, assinatura, slogan, etc.). Mais informações a esse respeito podem ser encontradas nas seguintes obras:
• Contribuições da Língua Portuguesa para a redação publicitária, de Marina Negri. São Paulo: Cengage Learning, 2011.
• Criação sem pistolão, de Carlos Domingos. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
• Redação publicitária, de João Anzanello Carrascoza. São Paulo: Futura, 2003.
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Como atividade humana, o desejo de persuadir vem de muito tempo. Podemos imaginar que, a partir do momento em que um indivíduo decide usar a palavra para convencer outra pessoa a agir de uma determinada maneira, já há no texto resultante as marcas estruturais dos textos persuasivos. Quando a intenção persuasiva passa a ser associada à divulgação de produtos ou ideias específicos, surgem então os textos publicitários.
Desde a sua origem, os textos publicitários procuram responder a um desejo, muitas vezes inconsciente, das pessoas: o produto anunciado aparece não como um bem de consumo qualquer, mas como a possibilidade de realização de um sonho ou como o modo de satisfazer uma necessidade particular. É por esse motivo que os publicitários costumam afirmar que ninguém compra produtos, compram-se promessas. Nesse sentido, compreende-se a conhecida afirmação do fundador da indústria de cosméticos Revlon, Charles Revson: “Na indústria fabricamos cosméticos, na loja vendemos esperança”.
O desafio dos textos publicitários, portanto, é promover a associação entre um produto ou ideia a ser divulgado e alguma necessidade ou desejo, ainda que inconsciente, do seu público leitor.
Publicidade ou propaganda?
Embora usados como sinônimos, os termos publicidade e propaganda têm, originalmente, sentidos diversos. O termo latino propaganda (“para ser divulgado, propagado”) foi utilizado, pela primeira vez, em 1622, quando o Papa Gregório XV fundou o Congregatio Propaganda Fide (Congregação para a Propagação da Fé, em latim), um comitê de cardeais que deveria supervisionar a propagação do cristianismo. Por isso, os textos criados para divulgar uma ideologia ou crença são considerados propaganda. Já publicidade costuma fazer referência aos textos que anunciam produtos ou realizam campanhas sociais.
Nos dias de hoje, os redatores publicitários precisam dispor de bons argumentos e de uma retórica convincente, porque não podem partir do princípio de que a simples exibição do produto (“a vista do artigo anunciado”) seja um argumento suficiente para levar os leitores a adquiri-lo.
Veja, por exemplo, um anúncio publicitário de uma livraria, que pretende convencer as pessoas a comprarem livros.
LÁPIS RARO/LIVRARIA CORRE CUTIA
Clube de Criação de São Paulo. Disponível em:
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