. Acesso em: 3 mar. 2016.
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Cena de 1984, de Michael Radford (1984), filme baseado na obra homônima de George Orwell (1949). Vê-se, ao fundo, a imagem do Grande Irmão.
ALBUM CINEMA/LATINSTOCK
Sempre é possível identificar o planejamento que deu origem a um bom texto dissertativo-argumentativo. No caso do exemplo citado, o que fizemos foi explicitar os passos expositivos e argumentativos seguidos para promover a articulação das informações necessárias para que um leitor que desconheça a questão possa compreendê-la, e também acompanhar o raciocínio desenvolvido pela autora do texto para defender sua tese.
É importante observar que o projeto de texto não é um rascunho. Trata-se de um plano geral, da identificação de aspectos essenciais a serem abordados e, além disso, do tipo de relação a ser estabelecida entre as informações que serão apresentadas no texto.
O grau de detalhamento de um projeto de texto dependerá, sempre, do conhecimento que o autor tem do tema. Quanto mais seguro ele estiver, menor será a necessidade de registrar de modo detalhado os passos a serem seguidos. Algumas palavras-chave poderão bastar para delinear o percurso argumentativo.
No caso do Enem ou de um exame de seleção, porém, a situação é um pouco diferente: somente no momento de fazer a prova é que o candidato toma contato com o tema e com as informações que o acompanham. É mais prudente, portanto, que faça um projeto de texto bem detalhado, já que a articulação das ideias, responsável pela coerência textual, é um dos aspectos mais valorizados no momento de avaliação da redação.
Exposição de um ponto de vista: produção de texto dissertativo-argumentativo
1. Pesquisa e análise de dados
Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema Padrões de beleza e distúrbios alimentares: como enfrentar esse problema?, apresentando proposta de conscientização social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para o desenvolvimento de seu ponto de vista.
> Mídia e padrões de beleza
Em nenhuma época o corpo magro e esbelto esteve tão em evidência como nos dias atuais. O corpo nu ou vestido, exposto em diversas revistas femininas e masculinas, está definitivamente na moda; é capa de revistas e matéria de jornais. Revistas semanais brasileiras realizam constantemente matérias de capa abordando temas como: dieta; medo de engordar; estar/entrar em forma; a ciência em prol da saúde e do corpo, indicando, primeiramente, que questões envolvendo, direta ou indiretamente o corpo – e mais precisamente como evitar o corpo gordo – vendem, encontrando leitores ávidos pelo tema.
SUDO, Nara; LUZ, Madel T. O gordo em pauta: representações do ser gordo em revistas semanais. Ciência & saúde coletiva. Rio de Janeiro, n. 4, v. 12, jul./ago. 2007. (Fragmento). Disponível em . Acesso em: 3 mar. 2016
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Devido à natureza dinâmica da internet, com milhares de sites sendo criados ou desativados diariamente, é possível que alguns dos indicados não estejam mais disponíveis. Alertar os alunos sobre isso.
> Distúrbios alimentares: manifestações precoces
Até recentemente, os diagnósticos de bulimia e anorexia ocorriam, em geral, na adolescência. O dado alarmante, divulgado na edição de dezembro da revista da Academia Americana de Pediatria, é a incidência crescente do problema entre crianças e pré-adolescentes. Segundo o estudo, as internações entre menores de 12 anos cresceram 119% nos Estados Unidos, entre 1999 e 2006. No Brasil, faltam estudos epidemiológicos específicos, mas, na prática clínica, a tendência se repete. “Observamos que a idade de início dos transtornos diminui. Atualmente, já vemos meninas com anorexia com idades entre 10 e 11 anos”, diz Mara Maranhão, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein. [...]
Foi esse o caso de Juliana. Aos 13 anos, ela passou a criar um critério para excluir alguns alimentos do cardápio. Começou pela carne, com o argumento de que não era saudável. A segunda restrição foi para a massa. Já sem o macarrão e o bife, outros alimentos vieram na sequência. Comia só o arroz em vez de misturar com o feijão. Depois de diminuir a quantidade das porções, ela passou a evitar refeições, com desculpas das mais variadas. A rotina de privação fez com que Juliana perdesse entre um e dois quilos por mês — quase dez quilos no total. Hoje, aos 15, a estudante tem o Índice de Massa Corporal (IMC) próximo a 13 (o normal é entre 20 e 25) e o diagnóstico de anorexia nervosa.
CUMINALE, Natalia. Distúrbios alimentares aumentam entre as crianças. (Fragmento). Disponível em: . Acesso em: 27 abr. 2016.
> Uma charge
© DALCÍO/CORREIO POPULAR
DALCÍO. Correio Popular. Campinas: 22 mar. 2013. Disponível em: . Acesso em: 19 abr. 2016.
Professor: veja no Guia de recursos orientações para esta proposta.
> Um depoimento
Eu me tornei bulímica aos 9 anos de idade, anoréxica aos 15. Não consegui me decidir entre as duas coisas, e fui e voltei de uma e outra até os 20 anos. [...] Ao longo dos últimos 13 anos, meu peso variou entre 61 e 23 quilos, aumentando um pouco e depois caindo em queda livre. [...]
Entre outras coisas, descobri que sou “crônica”, um “caso perdido”. [...] Eu não sou nem delirante, nem inválida. Contrariando as fichas médicas que me qualificavam para expiração iminente, até onde sei, eu não expirei. Eu não faço mais cirurgias no menor dos muffins, dividindo-o em pedacinhos infinitesimais nem fico mordiscando como um coelho psicótico. Eu não salto mais da minha cadeira ao final da refeição e saio correndo para o banheiro. Eu moro numa casa, não num hospital. Sou capaz de viver dia após dia, independentemente do fato de, numa certa manhã, eu ter ou não a impressão de que o meu traseiro aumentou magicamente durante a noite. Não foi sempre assim. Houve uma época em que eu era incapaz de sair da
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cama porque o meu corpo, com os músculos se alimentando de si mesmos, recusava-se a se sentar. Houve uma época em que as mentiras saíam da minha boca com facilidade, quando para mim era muito mais importante me destruir do que admitir que eu tinha um problema, muito menos permitir que alguém me ajudasse. [...]
Eu tenho um transtorno alimentar, não há dúvidas quanto a isso. Ele e eu vivemos num desconfortável estado de antagonismo mútuo. Isto é, para mim, de longe melhor do que costumava ser, quando ele e eu dividíamos uma cama, um cérebro, um corpo, quando meu senso de valor estava inteiramente relacionado à minha capacidade de passar fome.
[...]
HORNBACHER, Marya. Dissipada: memórias de uma anorética e bulímica. Tradução de Cássia Zanon. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2006. p. 8-10. (Fragmento adaptado).
De olho na internet
Em sites de busca e na Wikipédia, é possível obter mais informações sobre diferentes dietas, transtornos alimentares (bulimia e anorexia) e o impacto que têm na vida contemporânea. O site do dr. Drauzio Varella também permite buscas com os termos obesidade e magreza, para os quais oferece interessantes informações.
• http://www.google.com.br/
• http://br.yahoo.com/
• http://pt.wikipedia.org/
• http://drauziovarella.com.br/
2. Elaboração
> Lembre-se de que o texto dissertativo-argumentativo precisa apresentar uma análise articulada da questão tematizada.
• O que significa viver em uma sociedade que estigmatiza os corpos que não correspondem aos padrões de beleza impostos pela mídia?
• Pode-se afirmar que existe uma relação entre esses padrões e o crescimento dos distúrbios alimentares?
> Qual é o ponto de vista (sua tese) que você pretende defender sobre a questão tematizada?
• Identifique, na coletânea (e nas informações obtidas por você), argumentos que possam sustentar o seu ponto de vista.
> Faça um esquema do encaminhamento analítico que você pretende desenvolver:
• Como será introduzida a questão? Procure encontrar uma maneira que torne mais compreensível, para o leitor, o que será tratado no texto.
• Que aspectos do tema precisam ser abordados ao longo do texto? Em que ordem devem aparecer?
• Que tipo de proposta de conscientização social pode ser feita com relação ao problema analisado? Lembre-se de evitar que sua proposta seja apresentada em termos muito generalizantes.
• Como você conduzirá o leitor até a conclusão pretendida?
> Crie um título que sintetize, para o leitor, não só o tema abordado, mas também o foco da análise desenvolvida por você.
3. Reescrita do texto
Troque sua dissertação com um colega. Peça a ele para avaliar o encaminhamento analítico que você fez do tema proposto: há passagens confusas, truncadas, ou argumentos pouco claros? Que modificações ele faria para tornar o texto mais articulado? Leia a dissertação de seu colega considerando os mesmos aspectos.
Depois de ouvir as observações do colega sobre sua dissertação e apresentar as suas sugestões sobre o texto dele, releia seu texto, analisando os aspectos em que ele pode ser melhorado. Reescreva a dissertação, fazendo as alterações necessárias.
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A introdução e a conclusão
"Um bom escritor exprime grandes coisas com pequenas palavras; pelo contrário, o mau escritor diz coisas insignificantes com palavras grandiosas."
Ernesto Sabato (escritor argentino — 1911-2011). Disponível em:
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