). Ceia elenca ainda as características que costumam ser associadas a esse paradigma: pluralismo, ecletismo, desconstrução, desintegração, desmistificação, entre várias outras.
Em outras palavras: uma sociedade fragmentada, que vê seus valores e certezas ruírem, favorece um contexto de produção artística que reflete os novos dilemas e parece orbitar em torno da ideia da multiplicidade e da dispersão.
É claro que o conceito de pós-modernidade é posterior à produção dos autores brasileiros apresentados neste e no próximo capítulo, mas isso não impede que se reconheçam, em suas obras, muitas das marcas da pós-modernidade. Como negar, por exemplo, que o texto de Guimarães Rosa apresente um sem-número de citações literárias que remetem a autores e estilos de épocas diferentes?
Nesse sentido, sua obra pode ser vista como uma precursora das tendências que hoje seriam imediatamente identificadas como pós-modernas.
A leitura do texto “Os estudos literários na era dos extremos” (reproduzido no Guia de recursos deste volume em Fundamentação teórico-metodológica, na seção “Sugestões de leitura”, da parte de Literatura), do crítico brasileiro Alfredo Bosi, ajuda a compreender melhor o cenário de multiplicidade de estilos que caracteriza o Pós-Modernismo. Como afirma o autor: “Não há consolidação de estilos, não há tradição cultural sem a vigência de certos padrões temáticos e formais”.
Literatura e sociedade (p. 96)
> A adoção de um plano de metas (pela primeira vez na história do país) para orientar as ações do governo nos setores
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de saúde, alimentação, transporte e energia e a construção de Brasília para ser a nova capital federal sugerem a intenção de executar um plano previamente concebido, com etapas cuidadosamente definidas. Guardadas as devidas diferenças, esse procedimento é muito semelhante ao adotado na criação literária, porque ilustra o desejo de controlar o resultado de um processo de criação/ação a partir do planejamento detalhado das etapas que o irão integrar.
Texto para análise (p. 97)
1 A primeira parte trata do nascimento da manhã, que surge pelo canto de vários galos. A segunda, do resultado dessa ação conjunta: a manhã já “tecida”, que se “eleva” cheia de luz, brilhando para todos.
a) O significado é que uma manhã só pode ser tecida pelo canto de vários galos. Um galo sozinho não consegue fazer nascer uma manhã.
b) O primeiro galo lança seu grito a outro, que o passa adiante, e assim sucessivamente. Dessa forma, o canto de cada galo vai se juntando aos dos outros que o precedem e sucedem, em uma comunicação contínua que anuncia a manhã que surge.
2 a) Os dois primeiros versos apresentam uma estrutura sintática que poderíamos chamar de convencional, com frases “completas”: sujeito, verbo e complemento. Nos versos de 3 a 7, há uma interrupção da sintaxe convencional, uma “quebra” das orações. Elas não terminam no próprio verso: são interrompidas pelo início do seguinte. Além disso, algumas expressões estão subentendidas.
b) O termo “galo” (de um [galo] que apanhe) e o verbo “lançar” (esse grito que ele [lançou]).
c) Não. No verso seguinte, os dois termos são explicitados.
d) A estrutura sintática de certa forma imita o conteúdo tratado no poema: assim como cada canto de galo é interrompido e retomado pelo canto de outro galo, as orações também interrompem-se e retomam-se entre si.
3 O surgimento da manhã é associado a uma “teia tênue”, tecida pelo canto dos galos.
> “se encorpando em tela”; “se erguendo tenda”; “no toldo / (a manhã) que plana livre de armação”; “toldo de um tecido tão aéreo”.
4 Entre todos / entrem todos; entretendendo para todos, no toldo.
> As expressões utilizadas revelam o processo que vai fazendo nascer a manhã. Por meio do sentido das expressões entre, entrem, entretendendo, associadas a “todos”, o eu lírico simboliza a “trama”, o entrelaçamento que vai produzindo o tecido da manhã, até que ela se transforme em um toldo que plana sobre todos aqueles que a construíram com seu canto.
5 Os galos simbolizam os poetas, cujas “vozes” se juntam umas às outras, ao longo dos tempos.
a) O canto de cada galo representa, metaforicamente, o “canto” de cada poeta. O trabalho literário de cada um é lançado a outros, inspirando outros poetas a construírem outros poemas, criando um diálogo contínuo entre os textos poéticos, da mesma forma que os cantos dos galos se entrelaçam.
b) Da mesma forma que os cantos de vários galos são necessários para “tecer” uma manhã, a voz de vários “artistas” constrói o “tecido” literário. A voz do poeta, nesse sentido, é sempre acompanhada por outras vozes, que o inspiram, que o precedem e sucedem, criando, entre todos os textos literários, uma comunicação contínua. É assim que o “tecido” literário nos será revelado, desde que tenhamos “ouvido” para perceber as várias vozes que o compõem.
6 Podemos dizer que cada quadra representa uma espécie de “reza” ou de “fala” final quando se enterra alguém. Nesse caso, essa última “fala” dirigida ao defunto dá aos espectadores/leitores a dimensão do drama dos trabalhadores rurais.
> É um lavrador pobre, que desejava ter sua própria terra, mas que não conseguiu realizar esse objetivo.
7 Possibilidades: “com palmos medida”; “É de bom tamanho, / nem largo nem fundo”; “não é cova grande”; “é cova medida”.
a) Na segunda e na terceira quadras, as comparações entre o tamanho da cova e o tamanho do latifúndio marcam a diferença entre o que o defunto esperara receber da vida e o que recebeu, a injustiça entre um ter tanta terra e o outro apenas uma cova.
b) Porque a cova é definida como grande em razão do “pouco defunto” do lavrador, isto é, sua miséria faz com que o seu túmulo pareça maior, já que sua morte significa uma forma de libertação. Por isso, a contradição entre esse verso e o da fala anterior é apenas aparente.
8 Ao usar o adjetivo para caracterizar tanto a vida quanto a morte tematizadas no auto, o eu lírico expressa, em uma única palavra, o significado de ser nordestino. Derivado do nome próprio “Severino”, que representa todos os retirantes que sofrem com a seca, com a falta de trabalho e, via de regra, encontram a morte em seu caminho, o adjetivo “severina” acaba por fazer referência ao sofrimento de todos os nordestinos. Nesse sentido, “severina” equivale a tudo o que é pequeno, sofrido, dífícil, “pouco” e que representa a “sina” de tantos retirantes.
9 O lavrador enterrado representa todos aqueles que morrem sem ter seu direito à terra garantido. Nesse trecho, por meio do funeral do lavrador, o leitor é levado a perceber que essa é a realidade de muitos trabalhadores rurais.
> Resposta pessoal. Espera-se que os alunos percebam que os “severinos” atuais são todos os migrantes que saem do interior ou das regiões mais afastadas em busca de melhores condições de vida nos grandes centros econômicos. Representam uma grande parcela da população brasileira que não tem acesso a condições dignas de sobrevivência e incham as favelas; enfim, todos os que não têm os direitos básicos garantidos em um país marcado pela desigualdade social.
Texto para análise (p. 103)
1 Resposta pessoal. Espera-se que os alunos percebam que o tema do poema é uma descrição do movimento das nuvens e da visão que alguém tem do horizonte enquanto observa o céu.
> “Movimento”, “nuvem”, “horizonte” são as mais evidentes. Os alunos podem ainda associar a elas as palavras “compondo” e a metáfora “campo de combate”, usada pelo eu lírico para descrever com essa imagem o significado que esse movimento do céu poderia ter para quem o observa.
2 A combinação entre a disposição dos versos de forma sinuosa e a palavra movimento representa a ideia associada a esse termo. Percebe-se, nesse caso, a intenção de recriar, por meio da disposição gráfica, a mesma ideia do movimento no céu observado pelo eu lírico.
> A concretude do poema é garantida pela organização sinuosa das palavras dispostas na página, além da atribuição de um papel central ao signo verbal na construção do poema.
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3 A nordestina é descrita como mulher e mãe e, por isso, o poema afirma que ela é “rainha da vida”. Depois, destaca-se que essa mulher está descalça, vestida de trapos e pede esmolas em razão da sua miséria.
4 Além do fato de ser miserável e pedir esmolas, essa mulher poderia pensar em “desistir da vida” por ter “a alma aberta em ferida”, viver sob o sol escaldante e em uma terra “ressequida”, por não ter amor e por não ter comida.
> O eu lírico afirma que, por ser uma pessoa, nada fará essa mulher desistir da vida. Além disso, o fato de ser mulher e mãe faz com que ela seja “rainha da vida”, isto é, seja forte e aguente as desventuras por que passa.
5 Por meio dos versos, o eu lírico revela que a nordestina, na sua essência, é uma rainha, embora, por estar vestindo trapos e pedindo esmolas, pareça ser uma mendiga.
> A conclusão apresentada é a de que há algo errado “nesta nossa vida”, já que a nordestina “é uma rainha / e não há quem diga”.
6 Por meio da caracterização dessa mulher nordestina, o poema denuncia uma grande questão social que determina a situação em que vivem muitos nordestinos: a seca, que os torna miseráveis e os obriga a esmolar. Todos os elementos apresentados refletem a realidade de uma região sofrida que, em razão do subdesenvolvimento causado pela seca, não garante condições dignas de sobrevivência aos seus habitantes.
CAPÍTULO 7
A prosa pós-moderna
Leitura da imagem (p. 106)
1 Ao observar o formato da escultura, o aluno deve concluir que a matéria-prima para sua confecção foram as raízes da árvore.
> Na sua forma final, a escultura apresenta ao observador um tronco vazado (oco) e as raízes todas polidas. Se considerarmos o estado natural de um tronco de árvore e suas raízes, podemos imaginar que foi necessário muito trabalho para eliminar toda a madeira do espaço interno do tronco e também para polir cada uma das muitas ramificações das raízes dessa árvore.
2 Resposta pessoal. Espera-se que os alunos levem em consideração que a matéria-prima utilizada pelo artista são os restos de árvores da Mata Atlântica. Quando relacionamos esse fato ao sentido dos dois termos que constituem o título da obra, podemos imaginar que Hugo França pretendeu evocar a ideia de que a transformação dos resíduos florestais (produzidos pela destruição da natureza provocada pelo ser humano) em escultura podem resgatar parte da função original da floresta: acolher, abrigar, proteger os seres que ali habitam. O termo perequê pode ser uma alusão ao processo caótico de desenvolvimento e de destruição da natureza praticado no Brasil. Em nome do “progresso” e das necessidades humanas, vastas áreas da Mata Atlântica foram devastadas.
3 A brutalidade, aspecto “pesado” da obra de Hugo França, é consequência da matéria-prima utilizada por ele: imensos pedaços de árvore. A solidez e o peso natural desse material não podem ser ignorados ou apagados pelo artista. Porém, a partir do momento em que começa a esculpir a madeira, França suaviza, com suas intervenções, a “brutalidade” original do material, revelando formas que, como diz Adélia Borges, aquela matéria-prima “quer ter”. É a sua sensibilidade de artista que permite que ele domine a linguagem por meio da qual se expressa. O resultado da transformação produzida por Hugo França é a combinação da solidez da madeira com a gentileza das formas reveladas.
Da imagem para o texto (p. 107)
4 a) Riobaldo se apresenta como um sertanejo, um homem sem muita cultura, um “pobre coitado”.
b) Pela fala de Riobaldo, concluímos que o interlocutor é um homem instruído, ponderado, e que é visto pelo narrador como alguém que pode lhe ajudar a esclarecer algumas importantes questões: “Inveja minha pura é de uns conforme o senhor, com toda leitura e suma doutoração”.
c) A conversa é importante porque Riobaldo espera obter algumas respostas para perguntas que o angustiam. Como esse interlocutor é um homem ponderado e instruído, Riobaldo valoriza muito sua opinião.
5 Riobaldo explica ao interlocutor que, quando “vivia puxando difícil de difícel”, não tinha tempo de pensar em muita coisa. Agora, está “de range rede”, descansando, sem muita ocupação. E passou a cismar com algumas questões para as quais não encontra resposta.
> É justamente o fato de não ter mais algo que lhe ocupe, que acaba fazendo com que Riobaldo reflita sobre algumas questões que lhe atormentam (“inventei neste gosto, de especular ideia”).
6 Riobaldo deseja encontrar uma resposta definitiva sobre a existência do diabo: “O diabo existe e não existe?”.
a) Ele pergunta se o interlocutor acredita na possibilidade de se fazer um pacto com o diabo (“o senhor acredita, acha fio de verdade nessa parlanda, de com o demônio se poder tratar pacto?”).
b) Se Riobaldo deseja saber a opinião de seu interlocutor sobre a possibilidade de fazer um pacto com o diabo, necessariamente acredita que o diabo existe.
7 Aleixo é um homem mau, que um dia mata um pobre sem qualquer provocação. Em seguida a esse acontecimento, seus três filhos pegam sarampo e terminam cegos. Depois disso, Aleixo muda completamente de comportamento e passa a ser um homem de Deus, “suando para ser bom e caridoso em todas suas horas da noite e do dia”.
> Porque o comportamento mau de Aleixo não é uma reação a alguma situação violenta. É nesse sentido que suas “ruindades” são “calmas”. Ele simplesmente mata o velho por “graça rústica”, ou seja, por um desejo ignorante, sem justificativa, de eliminar alguém cuja existência lhe incomodava.
8 Riobaldo apresenta essa história como uma evidência de que todas as coisas têm um lado bom e outro ruim. Como ele mesmo diz, ao introduzir a história de Aleixo: “Quase todo mais grave criminoso feroz, sempre é muito bom marido, bom filho, bom pai, e é bom amigo de seus amigos!”. Essa linha de raciocínio leva Riobaldo a concluir que, se há o bem (Deus), também deve haver o mal (diabo).
> Para Riobaldo, a família (ou o amor da família) é uma força capaz de provocar a transformação de um indivíduo ruim. O exemplo de Aleixo ilustra essa crença: quando viu os filhos cegos, arrependeu-se de seu comportamento e passou a agir de modo caridoso.
9 Ao descrever a inflamação provocada pelo sarampo e que resultaria na cegueira dos filhos de Aleixo como olhos que “vermelhavam altos”, o autor cria uma imagem que produz uma intensificação da informação a ser dada pelo leitor. O adjetivo altos, que costuma fazer referência à dimensão vertical, atua como um qualificador dos olhos (sugerindo que eles sobressaem em relação ao restante do rosto) e, assim, reforça a gravidade da inflamação que atingiu as crianças. No segundo exemplo, “nessas altas ideias navego mal”, vemos outro uso para o termo (altas), agora como um modificador
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do substantivo ideias. Mais uma vez, é utilizado como um intensificador, referindo-se à complexidade das ideias, que se mostram muito difíceis para a compreensão de um sertanejo como ele. A metáfora inicial (altas ideias) é ampliada pela continuação também metafórica: ao dizer que “navega mal” nas “altas ideias”, Riobaldo faz referência ao que considera ser sua ignorância e despreparo diante de um interlocutor mais culto.
10 Sim. Assim como Guimarães Rosa atribui novos sentidos ou novas formas às palavras, explorando todo seu poder de significação, Hugo França atribui novos sentidos a formas preexistentes na natureza. Ambos partem do sentido original associado ao material com que trabalham para, por meio do processo de criação artística, atribuir-lhe novos sentidos, em um processo de acumulação e renovação de significados que enriquece elementos aparentemente “pobres” ou de significação evidente.
Literatura e contexto histórico (p. 110)
> Espera-se que os alunos percebam que, depois de duas grandes guerras, o mundo passa por uma ruptura da ordem preestabelecida e por uma transformação nos valores sociais, políticos e culturais que até então vigoravam. É um momento marcado pelos protestos estudantis em 1968; pelas ditaduras em Cuba e no Brasil, que tolhem a liberdade de ação e de expressão do indivíduo; por acontecimentos que abalaram o mundo, como o assassinato de John F. Kennedy. No Brasil, o AI-5 será a representação máxima da repressão aos direitos dos cidadãos, revelando um mundo em que os conceitos de Estado livre e bem-estar da população deixam de existir. Todos esses acontecimentos revelam um mundo sem limites claros, o que determinará, nas manifestações artísticas, uma busca pela experimentação nas produções desse período.
Texto para análise (p. 112)
1 Ele é um homem alto e claro, muito bom, vindo do Curvelo. Usa óculos (também é míope), que empresta a Miguilim, quando descobre sua miopia.
> Que o doutor era visto por Miguilim como alguém que poderia fazer qualquer coisa, diferente do menino e daqueles que viviam no Mutum, cujas perspectivas eram limitadas. Além disso, considerando seu papel na narrativa, o doutor simboliza as possibilidades de uma outra vida, que será aquela que se abrirá para Miguilim no momento em que partir do Mutum.
2 “Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. [...] E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo...”
a) Miguilim ficou emocionado com a capacidade de ver de fato. A emoção de enxergar nitidamente tudo à sua volta provocou-lhe tonturas, fez seu coração bater descompassado e, mesmo depois de tirar os óculos, continuou apontando aquilo que tinha visto claramente.
b) A frase traduz a emoção do garoto assim que passa a ver o mundo. O uso de “aqui”, “ali” indica aquilo que o menino aponta no momento em que passa a enxergar claramente. A interjeição “Meu Deus” revela o espanto e o encantamento de Miguilim diante dessa nova realidade, reforçados pelos termos “tanta coisa” e “tudo”. Essa frase apresenta aos leitores o deslumbramento do menino diante da visão nítida que passa a ter.
3 Nesse trecho, fica evidente a confusão de Miguilim diante das mudanças que ocorrem em sua vida e a sua sensação de “pequenez” diante delas (“as coisas eram grandes demais”). É a perspectiva de uma criança que não compreende as transformações ocorridas ou que não sabe como reagir diante delas.
4 “Miguilim não sabia. Fazia peso para não soluçar. Sua alma, até ao fundo, se esfriava.”
a) Essas sensações do garoto são indicadas pelas expressões que revelam seu desejo de chorar (“fazia peso para não soluçar”) e o “frio” que o menino sente na alma (“sua alma, até ao fundo, se esfriava”).
b) Ela tanto pode estar se referindo aos óculos que Miguilim receberá, partindo com o doutor José Lourenço, quanto, metaforicamente, às novas possibilidades que o garoto terá na cidade: o fato de poder estudar e de aprender uma profissão.
5 A partida comovente é transmitida ao leitor pelas atitudes de Miguilim no momento da despedida e pela reação das pessoas ali presentes. Miguilim abraça a todos um por um, diz adeus aos animais de estimação e fica abraçado à mãe. Depois, pede os óculos novamente ao doutor José Lourenço para ver nitidamente mais uma vez aqueles que deixa e também o Mutum. Todos estão emocionados e choram, inclusive o doutor, e a mãe beija o menino.
> A descoberta de sua miopia e a possibilidade de ver o mundo nitidamente com a ajuda dos óculos simbolizam a construção do olhar individual de Miguilim, que agora percebe a realidade à sua volta com clareza, o que antes não acontecia. Sua partida significa o abandono da proteção da família, do ambiente conhecido, pela descoberta de um mundo novo, repleto de possibilidades.
Texto para análise (p. 114)
1 Os dois são caracterizados como nordestinos que se reconhecem como tal. Ela é datilógrafa e ganha menos que um salário mínimo; ele, operário em uma metalúrgica. A referência à profissão de cada um indica também a classe social humilde a que pertencem. Olímpico tem “voz cantante de nordestino”, “leve verniz de finura”, é filho de pai desconhecido e aprendera com o padrasto a tratar bem as pessoas para se aproveitar delas e a pegar mulher.
> Que os dois não estavam habituados a uma situação como essa. Pode-se dizer que, simbolicamente, o narrador revela a inadequação das personagens para a manifestação de algo simples, como um passeio entre duas pessoas que iniciam um romance.
2 Possibilidades: “o coração batendo como se ela tivesse englutido um passarinho esvoaçante e preso”; “bastou-lhe vê-lo para torná-lo imediatamente sua goiabada-com-queijo”; “com voz cantante de nordestino que a emocionou”; “Mas ela já o amava tanto que não sabia mais como se livrar dele, estava em desespero de amor”.
a) Elas indicam o grande amor de Macabéa por Olímpico, a sua devoção a ele e o seu desespero para manter essa relação. Olímpico representa aquilo que é mais precioso para ela, a “sua goiabada-com-queijo”.
b) Não. Nada no texto indica que Olímpico nutria por ela os mesmos sentimentos. Ao contrário, o fato de nem mesmo pegar na mão de Macabéa e de demonstrar irritação com ela no terceiro encontro revelam que ele não sentia um envolvimento mais profundo.
c) Essa expressão indica que Olímpico é o primeiro homem por quem Macabéa nutre um sentimento amoroso e com quem se relaciona durante algum tempo. Por isso, ele é definido como “a primeira espécie de namorado” da vida dela. Além disso, a expressão antecipa a relação que haverá entre os dois: algo que se assemelha a um namoro, mas não se caracteriza como tal, dada a relação distante e pouco afetuosa entre eles.
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3 Pode-se dizer que a chuva imprime a cada encontro uma sensação de desagradável melancolia.
> O fato de Macabéa se desculpar com Olímpico, apesar de ter sido tratada de forma ríspida pelo “namorado”, como se ela de fato fosse a responsável pela chuva.
4 Isso fica evidente pelo fato de Macabéa considerar que ela e Olímpico formavam um casal de classe em razão da “posição social” que tinham. Macabéa, ingenuamente, acreditava que uma datilógrafa e um metalúrgico “eram alguém no mundo”.
> O narrador deixa claro que, embora Olímpico trabalhasse como operário em uma metalúrgica, fazia questão de se apresentar como metalúrgico.
5 Ao escolher Macabéa como protagonista desse romance, Clarice Lispector, além de enfatizar aspectos da realidade, manifesta uma intenção explicitamente social que não aparece em seus outros textos, embora não seja essa dimensão mais valiosa dessa narrativa. A representação da vida de Macabéa e de suas misérias pode ser vista como uma tentativa de retratar a condição dos milhares de nordestinos que migravam para o Sudeste em busca de melhores oportunidades na época em que o romance foi escrito.
CAPÍTULO 8
Tendências contemporâneas.
O teatro no século XX
Leitura da imagem (p. 119)
1 Resposta pessoal. Espera-se que o aluno perceba que a obra é composta por uma série de borrões de tinta. Não há, no conjunto, a formação de uma imagem. A impressão geral pode ser de caos, de confusão, de fragmentação, de descontinuidade. Não existe uma resposta correta para essa questão. O objetivo é levar os alunos a observarem atentamente o quadro.
> Espera-se que o aluno perceba que, na parte superior do quadro, predominam tons mais escuros (preto e vermelho); na inferior, os tons mais claros estão mais presentes (amarelo e branco). Essa combinação cria certo movimento no interior da obra.
2 Resposta pessoal. Espera-se que os alunos observem como a tela de Pollock reproduz em certa medida a fragmentação e o caos característicos da sociedade pós-moderna. Pode-se imaginar que essa mistura de formas, cores e ritmos represente, de modo simbólico, uma sociedade em que diversas tendências estéticas convivem, em que o indivíduo perde a própria identidade, em que acaso, intuição e controle fazem parte da “arte” de sobreviver em uma sociedade dominada pelo materialismo e pelo consumo.
Da imagem para o texto (p. 119)
3 a) Espera-se que o aluno perceba que o fato de o protagonista chegar com uma pasta cheia de papéis relacionados ao trabalho indica a possibilidade de que ele pretenda continuar trabalhando em casa.
b) Os filhos são “coisificados” pelo protagonista, que os apresenta como “sons”. Esse modo de introduzi-los no conto já indica afastamento.
4 O hábito descrito é isolar-se na biblioteca sem fazer nada.
> Espera-se que o aluno perceba que “como sempre” indica que ficar ali na biblioteca, isolado, esperando, é um hábito que se repete. A utilização do verbo “esperar” dá a primeira dica de que algo vai acontecer. Cria no leitor uma expectativa.
5 O serviço à francesa só é usado em situações de grande formalidade. O fato de o jantar ser servido dessa maneira indica que o relacionamento familiar é também muito formal e distante e que a situação econômica da família é muito boa.
a) O comentário indica que o casamento e a situação familiar não são recentes, mencionando o fato de os filhos já haverem crescido. Comentar que ele e a mulher estão gordos é uma forma de indicar acomodação.
b) O relacionamento é distante, como indicado no primeiro parágrafo, e baseado no interesse. Não há qualquer diálogo entre os membros da família. Filho e filha só se dirigem ao pai para pedir dinheiro. De modo irônico, o protagonista observa que a esposa não pediu nada porque tinham conta bancária conjunta.
c) As informações apresentadas indicam que o protagonista é um empresário e que ele, a esposa e os filhos formam uma família de classe alta. Os filhos têm quartos separados, e a casa, além de três quartos, tem também uma biblioteca e uma sala de jantar. O som do filho é quadrifônico. A filha estuda impostação de voz. A mulher bebe uísque e, aparentemente, não trabalha (está jogando cartas quando ele chega). A família tem uma copeira que serve “à francesa”. Após o jantar, durante o qual bebem vinho, é servido licor. Na garagem, os carros dos filhos bloqueiam o carro esporte do pai. Todos esses sinais indicam uma condição socioeconômica privilegiada para os padrões brasileiros.
6 A esposa parece ser uma mulher insuportável que, além de se interessar somente pelo dinheiro do marido, está sempre bebendo e fazendo críticas a tudo o que ele faz.
a) A apresentação da fala da esposa permite que o leitor construa a sua própria imagem dessa personagem, quase como se não estivesse sendo influenciado pelo narrador — o que ocorre, evidentemente, porque o foco do texto está em 1ª pessoa e é o protagonista quem escolhe o que conta sobre sua mulher.
b) Espera-se que o aluno perceba que a mulher se embriaga: na mesma noite, toma uísque, vinho e licor.
7 O protagonista é cínico ao convidar a esposa para dar uma volta de carro, pois sabe que ela não aceitará, já que é a hora em que assiste à novela. O objetivo dessa atitude pode ser causar a impressão de inocência.
> A fala da mulher questiona o passeio e a compra do carro. Há um certo desdém em seu comentário. A ênfase com que dispara as críticas parece indicar que ela desconfia de que ele não vai apenas dar uma volta de carro. Ela pode estar com ciúmes.
8 Toda a cena inicial apresenta um ambiente extremamente tenso que se soma ao cansaço do dia de trabalho do protagonista: quando chega em casa, é atormentado pela esposa, tem que aturar o barulho dos filhos, não consegue um lugar sossegado para descansar. Esse modo de conduzir a narrativa sugere um nível de tensão crescente, que atinge o ponto máximo durante o jantar. Retirar os carros dos filhos da garagem e colocá-los de volta é o auge da tensão: ele foi bloqueado pela família, tolhido, ignorado.
a) A personagem fica visivelmente excitada: seu coração bate disparado de euforia ao ver o carro.
b) Ele diz que procura uma rua deserta, o que é um problema em uma cidade muito grande e cheia de gente. Diz ainda que a rua mal-iluminada e cheia de árvores é o “lugar ideal”. Nenhuma dessas pistas é condizente com o comportamento de alguém que deseja somente passear de carro. Ele está procurando o lugar perfeito para fazer algo que, aparentemente, não pode ser visto pelos outros.
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c) Pelas características do local procurado (deserto, mal-iluminado), pode-se imaginar que o protagonista procura um encontro sexual anônimo.
9 Espera-se que o aluno reconheça a surpresa que o protagonista prepara, pois, por mais tenso que ele estivesse, sua rotina e seus desafetos não seriam motivo para atropelar alguém. Portanto, é pouco provável que o leitor imagine que é o que vai acontecer. Além disso, é mais difícil ainda supor que ele saia todas as noites para atropelar alguém somente para se acalmar, como fica claro pelo fim do texto.
> Quando fala sobre a mulher que irá atropelar, o protagonista observa que ela carregava “um embrulho de papel ordinário, coisas de padaria ou quitanda”, depois observa que seu corpo havia caído sobre um muro “baixinho de casa de subúrbio”.
10 O prazer do protagonista é atropelar pessoas, tornando-as vítimas da força de seu carro esporte (“Motor bom, o meu, ia de zero a cem quilômetros em nove segundos”). É com ele que sai todas as noites à caça da próxima vítima. O enorme prazer que tem em ouvir o barulho dos ossos da moça atropelada se partindo se mistura com o orgulho com que corre as mãos pelos para-lamas e para-choques do carro que não conservam uma única marca do crime que cometeu.
> Essa personagem representa o indivíduo egocêntrico que acredita ter o direito de buscar o próprio prazer a qualquer preço. Para ele, as pessoas são coisas. Por esse motivo, não hesita em sair todas as noites e atropelar alguém. Embora exagerado, o comportamento do protagonista do conto traz os sinais identificáveis em muitas pessoas que não se importam com o que fazem, desde que alcancem seus objetivos. Além da relação coisificada com a família, o protagonista usa as pessoas que andam pelas ruas para alcançar o alívio para suas tensões.
11 Para a família, a frase não passa de mais uma justificativa para a ausência do homem, que dá prioridade à empresa e ao trabalho. Ele vai dormir porque terá um dia difícil na companhia. Para o leitor, porém, a frase tem outro impacto. O dia mais terrível em uma empresa não pode ser mais terrível do que o atropelamento frio e premeditado executado por ele. É como se ele desse boa-noite ao leitor (“boa-noite para todos”) e anunciasse que, na próxima noite, fará outra vítima, pois ficará tenso com os seus problemas.
Texto para análise (p. 127)
1 A cena de uma caçada: em primeiro plano, há um caçador de arco retesado, apontando para uma touceira; mais distante, aparece a figura de um segundo caçador, mais indefinido, que também espreita a caça.
a) Ele é caracterizado como poderoso, absoluto, com uma barba que se parece com um “bolo de serpentes” e com os músculos retesados, prontos para desferir a seta sobre a caça que espreita.
b) Porque ele tem a nítida sensação de ter participado da cena, mas não sabe quando isso ocorreu, nem onde.
2 As sensações que lhe são despertadas: ele tem certeza de que percorreu a “vereda” retratada, de que aspirou o vapor que baixava do céu ou subia do chão; além disso, está convicto de haver identificado o sorriso perverso do caçador.
a) Ele não sabe que personagem da tapeçaria é: o caçador em primeiro plano ou o seu companheiro. A única certeza que parece ter é de que faz parte daquela cena.
b) O protagonista afirma não gostar de caçadas, como se esse fato justificasse não ter pintado um quadro com esse tema.
c) O mesmo argumento, não gostar de caçadas, serve de base para a reflexão sobre o que ele estaria fazendo no quadro, ou por que se lembraria dessa cena, uma vez que não gosta de caçadas.
3 As folhas na sombra e o silêncio. Há, também, no texto, a referência àquilo que a personagem pressente por detrás da moita: “o vulto arquejante da caça”.
a) Ao destacar o silêncio que envolve tudo e o medo da caça, o narrador recria para o leitor as sensações que o protagonista tem diante da cena: parece que, de fato, ele estava naquele cenário, ouvindo o silêncio e pressentindo o pavor da caça que arqueja, escondida na moita. O que é descrito é algo que não poderia ser percebido simplesmente pela contemplação da tapeçaria. Por isso, a sensação de realismo da cena.
b) Ele se compadece “daquele ser em pânico”, que estava próximo da morte e esperava uma única oportunidade para continuar fugindo.
c) Sugerem a morte da presa. A primeira frase, exclamativa, sugere a proximidade desse desfecho fatal. A segunda, marcada pelas reticências, deixa em suspenso o que acontecerá caso a presa faça qualquer movimento: a seta a atingirá e ela encontrará a morte.
d) Espera-se que o aluno perceba que não gostar de caçadas, considerar os caçadores figuras ameaçadoras e compreender profundamente a situação da caça são indícios de que o protagonista poderia ser a caça.
4 O objetivo é destruir a tapeçaria.
a) Ao se colocar diante da cena de novo, o homem percebe que está dentro dela: está no bosque, com os pés cheios de lama, o cabelo molhado pelo orvalho, tudo ao seu redor está parado. Sente necessidade de correr e, ao ver-se ferido, ele se dá conta de que é a caça.
b) “Abriu a boca. E lembrou-se. Gritou e mergulhou numa touceira. Ouviu o assobio da seta varando a folhagem, a dor!”
c) Estão mescladas a cena da tapeçaria com a personagem no papel de presa, caindo depois de atingida pela seta do caçador, em algum momento do passado, e a cena, no presente, na loja de antiguidades, onde o homem rola encolhido, apertando o coração com as mãos.
5 A expressão se refere tanto ao caminho até a tapeçaria, dentro da loja, como ao caminho dentro do bosque em que o homem é a presa perseguida pelos caçadores. O primeiro sentido é dado pelo contexto em que a expressão é dita pela dona da loja: o homem retorna para ver a tapeçaria mais uma vez. O segundo é criado pelo desfecho do conto, pela sensação de familiaridade que impressionou o homem desde o primeiro instante em que viu a cena retratada.
Literatura e contexto histórico (p. 128)
> O fim da ditadura e da Guerra Fria e, por consequên cia, a ausência de “inimigos oficiais” contra os quais lutar, o desalento e a ignorância produzidos pela violência do governo militar são parte dos elementos que produziram o estado de espírito de medo e insegurança do indivíduo pós-moderno em geral. Espera-se que o aluno complete a resposta fornecendo informações sobre o que significa para ele ser um indivíduo do século XXI.
Texto para análise (p. 131)
1 Segundo o eu lírico, o processo de construção da individualidade é permeado pela relação com o outro: em si mesmo, ele vê diferentes indivíduos, isto é, a sua identidade é constituída a partir do contato com as outras pessoas à sua
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volta, com as quais se depara em seu cotidiano. Nesse sentido, o eu lírico parece sugerir que o ser humano só se constitui como indivíduo a partir da mediação do outro, no qual ele se reconhece e com o qual se identifica.
> Possibilidades: “em mim / eu vejo o outro / e outro / e outro”, “enfim dezenas”; “vagões cheios de gente”, “o outro / que há em mim / é você”.
2 Os versos podem ser interpretados como um desdobramento do que é tratado nas duas primeiras estrofes: cada “eu” é constituído por diferentes “outros”, isto é, existem, dentro de cada indivíduo, diversas facetas ou imagens que constituem a sua identidade. Da mesma forma que uma parte de um “eu” é formada pelo espelhamento com o “outro”, deixa, nesse outro, uma parte de si. Sendo assim, o poema parece sugerir que cada ser humano se reconhecerá como ser único a partir da constatação dos múltiplos “eus” que o definem como sujeito a partir da sua relação com os “outros”, com os quais convive e se identifica.
3 Os últimos versos sugerem que a única possibilidade de o indivíduo estar em paz é reconhecer em si mesmo a influência e a coexistência de vários “outros”, ou seja, perceber-se como “múltiplo”, um “nós”. Dessa forma, mesmo estando a sós, ele estará completo e em paz.
4 a) O mito de Narciso narra a história de um jovem de extrema beleza que fica obcecado pela própria imagem e, por isso, encontra seu fim. Esse mito deu origem ao termo narcisismo, que se refere ao comportamento de indivíduos que, assim como Narciso, são “apaixonados” por si mesmos. Pessoas narcisistas são completamente voltadas para si mesmas e, por isso, definidas como egocêntricas, já que se comportam como se fossem o “centro” do mundo e apenas seus desejos, vontades e aspirações interessassem. O “outro”, nesse sentido, só é considerado na medida em que possa satisfazer a algum tipo de necessidade ou ao desejo de afirmação ou de adoração do narcisista.
b) O título do poema, formado pela combinação dos termos contra e narciso, sugere a negação dessa postura de obsessão com o eu e do “apagamento” do outro, que pode ser depreendida do mito de Narciso. O desenvolvimento do poema mostra exatamente o contrário do que se verifica nos narcisistas: o eu lírico conclui que a única possibilidade de um indivíduo estar em paz é reconhecer que sua identidade é constituída por sua relação com os vários outros com os quais se identifica. Assim, ele é um “eu” porque se reconhece no outro e dele também faz parte. Por isso, o eu lírico é um “contranarciso”, pois, diferentemente do jovem do mito, vê na imagem refletida de si mesmo os outros que existem dentro dele.
Texto para análise (p. 134)
1 No plano da alucinação, Alaíde encontra-se com Madame Clessi e relata a ela como ficou sabendo da história da prostituta e como conseguiu o diário em que foram registrados os acontecimentos da vida dessa mulher. No plano da memória, lembra-se da conversa dos pais sobre Madame Clessi quando a família se mudou para a casa que pertencia a ela.
2 Madame Clessi é apresentada como uma mulher elegante do início do século (“elegância antiquada de 1905”), espartilhada, usando chapéu de plumas. Foi assassinada e o crime foi muito noticiado na época. A referência aos objetos pertencentes a ela e encontrados pelos pais de Alaíde (as ligas e o espartilho cor-de-rosa) sugere que ela era uma prostituta. A fala dessa personagem indica que ela teve fama e dinheiro.
a) Espera-se que o aluno perceba que a atitude da mãe é de preconceito. É possível chegar à essa conclusão pelo fato de ela decidir queimar os pertences de Madame Clessi e tecer comentário sutil, como se dissesse “Minhas filhas morando na casa de uma prostituta!”.
b) Alaíde fica sabendo da história de Madame Clessi quando se muda, com seus pais, para a casa que fora dela. No sótão são encontrados os objetos que lhe pertenciam. Antes que os pais os queimem, a jovem resgata o diário de Madame Clessi e fica conhecendo detalhes de sua vida, que complementa com os recortes de jornais da época lidos na Biblioteca.
c) O fato de Madame Clessi ter sido assassinada antes que Alaíde soubesse de sua existência.
d) O primeiro é denominado plano da alucinação, porque corresponde a fatos que não ocorreram na realidade: são projeções da mente de Alaíde em que ela se encontra com a prostituta do início do século que já está morta. O plano da memória refere-se às lembranças da vida de Alaíde, fragmentos de conversas que ela presenciou (como o diálogo entre os pais sobre Madame Clessi) antes do acidente que a deixou em coma.
3 O trecho começa no plano da alucinação, com o encontro entre Alaíde e Madame Clessi. Então, esse plano desaparece para dar lugar ao plano da memória, quando a jovem relembra a conversa dos pais; depois, o plano da alucinação retorna, com a retomada da conversa entre Alaíde e a prostituta.
> A última fala de Alaíde, no primeiro momento em que o plano da alucinação é apresentado, sugere a mudança de plano (“Deixe eu me recordar como foi... Já sei!”). Associada a essa fala, ocorre a alteração da luz, indicada pelo trecho entre parênteses (as marcações de cena): o plano da alucinação se apaga e o da memória se acende. Além disso, os pais entram em cena e a conversa entre eles indica que se trata de um momento passado. O mesmo ocorre depois de Alaíde se lembrar da conversa dos pais: nesse instante, apaga-se o plano da memória, a luz volta ao plano da alucinação.
4 a) Pelo questionamento de Alaíde sobre o motivo de estar ali, conversando com Madame Clessi, e pela afirmação da moça de que algo que tinha acontecido em sua vida a levara até ali.
b) Ficamos sabendo como ela soube da existência de Madame Clessi e que é casada com um rapaz chamado Pedro. Também tomamos conhecimento de uma moça chamada Lúcia, de quem a protagonista não se lembra, e da sensação de Alaíde de estar sendo ameaçada.
c) O fato de Madame Clessi ser uma personagem do plano da alucinação já é um dos elementos que permitem perceber o caráter psicológico da peça. Além disso, esse plano e o da memória se passam no subconsciente de Alaíde, o que também revela esse caráter.
5 “Clessi (forte) — Quer ser como eu, quer? / Alaíde (veemente) — Quero, sim. Quero. / Clessi (exaltada, gritando) — Ter a fama que eu tive. A vida. O dinheiro. E morrer assassinada?”. A figura de Madame Clessi, além de servir de apoio para que Alaíde reconstrua seu passado no plano da memória, também revela os desejos inconscientes da moça, que quer muito ser como a prostituta, viver uma vida como a dela, como se percebe pelo trecho. A própria “evocação” de Madame Clessi, no plano da alucinação, já revela esse desejo da moça, além da explicitação feita por ela.
Enem e vestibulares (p. 135)
1 Alternativa E.
2 Alternativa C.
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Jogo de ideias (p. 136)
> A atividade proposta tem por objetivo, além de aprofundar a discussão apresentada na unidade, levar os alunos a refletir sobre a produção literária durante o Pós-Modernismo. Além disso, achamos ser possível, por meio dessa atividade, estimular a análise dos aspectos presentes nos textos desse período que permitem identificar como a arte produzida durante esse movimento é marcada pela diversidade de linhas temáticas e de gêneros, bem como compreender de que maneira a literatura produzida durante o Pós-Modernismo expressa a profunda crise de valores por que passava o mundo. Acreditamos, também, que a tarefa de criar um blog literário (gênero digital tão difundido nos dias atuais) sobre a produção artística desse movimento, em que os alunos farão a seleção de textos (ou trechos de textos) de autores do Pós-Modernismo com comentários sobre cada um deles, contribuirá para que tenham a oportunidade de aprofundar o contato, de forma mais efetiva, com um gênero da internet que está muito presente na realidade deles. Além disso, o fato de terem de escolher textos desse período para serem publicados no blog que criarão permitirá que eles percebam de que forma a multiplicidade de temas, linhas estéticas e autores desse movimento revelam diferentes modos de expressão da realidade. Para que a atividade tenha o êxito esperado, é importante que os alunos sejam orientados a preparar muito bem cada uma das etapas apresentadas na proposta. A seguir, apresentamos algumas sugestões:
1ª etapa: Criação do blog literário
Nessa 1ª etapa, sugerimos que a definição dos textos que cada grupo deverá escolher para postar no blog (que representem os autores pós-modernos mais significativos) seja feita ou a partir da escolha de cada grupo ou por meio de sorteio. Feito isso, cada grupo deverá selecionar dois textos que serão postados no blog e redigir os comentários sobre eles, com base no que foi estipulado na proposta. No que diz respeito à escolha dos textos e/ou trechos de textos, é importante que os alunos percebam a importância de selecionar aqueles que representem os autores da geração de 45, do Concretismo, da prosa pós-moderna e das tendências contemporâneas que couberam ao grupo. Sendo assim, é necessário que o grupo responsável por postar textos de autores da prosa pós-moderna, por exemplo, escolha um que represente a obra de Guimarães Rosa e, outro, a obra de Clarice Lispector. Para isso, sugerimos que os alunos sejam orientados a reler os capítulos da unidade para relembrar os elementos e temáticas que caracterizam os autores do Pós-Modernismo. No que diz respeito à criação e à hospedagem do blog, o(s) participante(s) escolhido(s) para a tarefa poderá(ão) pesquisar nas plataformas digitais indicadas na proposta (ou em outras que desejarem), qual seria a que melhor atende às necessidades dos grupos. Também seria interessante pesquisar outros blogs literários na internet. Sugerimos alguns para que eles possam ter uma ideia de como estruturar a página que criarão:
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