Português: contexto, interlocução e sentido



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. Acesso em: 29 fev. 2016.

Verbo no gerúndio

Nossos parentes do interior chegaram ontem, trazendo-nos muitas notícias da família.

Verbo no infinitivo impessoal

É importante alertá-los para os riscos do consumo de bebidas alcoólicas.

Convém dar-lhes o aviso agora mesmo.

Próclise

A gramática normativa recomenda o uso da próclise nos seguintes contextos:



Na presença de “atratores”

Existem determinadas palavras da língua que são consideradas “atratores” dos pronomes pessoais oblíquos átonos, porque, nos enunciados em que elas ocorrem, esses pronomes devem anteceder o verbo que complementam.



Palavras ou locuções de sentido negativo

Ninguém me contou que eles haviam sido expulsos do colégio.

Dinheiro algum nos compra a consciência.

Advérbios

Ontem o vi no cinema.

Sempre lhe pedem que conte histórias para as crianças.

Atenção: quando há uma pausa (marcada por vírgula, na escrita) entre o advérbio e o pronome, recomenda-se a ênclise. Nesse contexto, para fins de colocação pronominal, é como se ocorresse o início de um novo enunciado:

Ontem, vi-o no cinema.

Pronomes relativos

Os discos que lhes foram emprestados deverão ser devolvidos em 15 dias.

Conversamos longamente com os alunos, os quais nos pareceram bastante preocupados com o exame vestibular.

Pronomes indefinidos

Alguém me procurou?

Todos nos pediram que trouxéssemos carne para o churrasco.

Pronomes demonstrativos neutros

Isso me lembra as brincadeiras da infância!

Aquilo nos provocou horror.

Conjunções e locuções subordinativas

Os trabalhadores ficaram frustrados, porque nos esperavam para a festa e não pudemos comparecer.

Ainda que o admire muito como pessoa, não votarei nele para deputado estadual.

Nos enunciados exortativos, exclamativos e nas perguntas diretas

Costuma-se optar pela próclise nos enunciados que traduzem uma exortação, uma exclamação ou uma interrogação direta.



Deus lhe proteja!

Quanto me é doloroso ver-te neste sofrimento!

Quem nos ajuda a enfeitar o salão para a festa?

Nas locuções verbais e nos tempos compostos

Nos enunciados em que ocorrem tempos verbais compostos e locuções verbais, a tendência generalizada no português brasileiro é a de colocar o pronome átono depois do verbo auxiliar e antes do verbo principal:



Esta música alta está me incomodando muito.

O professor de redação tem nos explicado pacientemente os temas propostos nos exames vestibulares.

De olho na fala

Deve-se observar que é frequente, na fala e nos textos escritos mais informais, a ocorrência da próclise no início de enunciados, como em “Me parece que...”, “Nos avisaram que...”, etc.

Em situações de maior formalidade, porém, no início de enunciados, os pronomes oblíquos átonos devem ser empregados sempre após o verbo, quando não houver a presença de um atrator que possa justificar a ocorrência de próclise.

O caso dos pronomes oblíquos átonos o (os), a (as) é um pouco diferente. A gramática normativa recomenda que eles sejam usados quando a função sintática a ser exercida pelos pronomes for a de complemento verbal. Em contextos informais de uso da língua, contudo, no lugar dos pronomes o, a, os, as, são empregados os pronomes do caso reto de 3ª pessoa (ele, ela).

O pronome a, por exemplo, em uma frase como Encontrei-a com a ajuda do satélite, provavelmente seria substituído, em um contexto informal, por um pronome do caso reto: Encontrei ela com a ajuda do satélite.

Mesóclise

A gramática normativa recomenda o uso da mesóclise sempre que o verbo estiver no futuro do presente ou no futuro do pretérito e não vier precedido por uma das palavras que atraem os pronomes átonos, vistas anteriormente.


Página 258

Observe.



Conformar-nos-emos em ser para sempre o país do futuro?

(Mas: Não nos conformaremos em ser para sempre o país do futuro.)



Ajudar-nos-ia muito mais a oposição se fizesse críticas construtivas.

(Mas: Todos nos ajudariam se fizessem críticas construtivas.)

Sobre o uso da mesóclise, convém lembrar que essa forma de colocação pronominal está em franco desuso na língua, ficando hoje restrita apenas a alguns contextos formais de uso escrito da linguagem.

De olho na fala

Nas raras ocorrências de mesóclise na linguagem coloquial, ela costuma ser utilizada para provocar um efeito de humor ou de ironia, ou para criar uma imagem associada ao formalismo excessivo e ao pedantismo.



ATIVIDADES

Leia atentamente as tiras abaixo para responder à questão 1.

I.

GARFIELD



JIM DAVIS

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© 1983 PAWS, INC. ALL RIGHTS RESERVED/ DIST. BY UNIVERSAL UCLICK

DAVIS, Jim. Garfield, 10: o rei da preguiça. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 21.

II.


NÍQUEL NÁUSEA

FERNANDO GONSALES



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© FERNANDO GONSALES

GONSALES, Fernando. Níquel Náusea: minha mulher é uma galinha. São Paulo: Devir, 2008. p. 44.

1. Nas tiras apresentadas, verifica-se a recorrência de um determinado tipo de colocação pronominal. Transcreva no caderno essas ocorrências.

a) Qual é a posição ocupada pelo pronome oblíquo nessas ocorrências?

b) Qual seria a colocação pronominal considerada adequada, nesses casos, de acordo com a gramática normativa?

c) O que explicaria, no contexto de cada tira, a opção por uma colocação pronominal que contraria o uso prescrito pela gramática normativa? Justifique.
Página 259

Leia o texto a seguir para responder às questões de 2 a 4.

Papos

— Me disseram...

— Disseram-me.

— Hein?


— O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”.

— Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”?

— O quê?

— Digo-te que você...

— O “te” e o “você” não combinam.

— Lhe digo?

— Também não. O que você ia me dizer?

— Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz?

— Partir-te a cara.

— Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me.

— É para o seu bem.

— Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu...

— O quê?

— O mato.

— Que mato?

— Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem?

— Eu só estava querendo...

— Pois esqueça-o e para-te. Pronome no lugar certo é elitismo!

— Se você prefere falar errado...

— Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me?

— No caso... não sei.

— Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não?

— Esquece.

— Não. Como “esquece”? Você prefere falar errado? E o certo é “esquece” ou “esqueça”?

Ilumine-me. Mo diga. Ensines-lo-me, vamos.

— Depende.

— Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não sabes-o.

— Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser.

— Agradeço-lhe a permissão para falar errado que mas dás. Mas não posso mais dizer-lo-te o que dizer-te-ia.

— Por quê?

— Porque, com todo este papo, esqueci-lo.

VERISSIMO, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 65-66. © by Luis Fernando Verissimo.



2. O texto trata, de forma humorística, da questão da colocação pronominal. Qual parece ser a intenção do cronista ao criar o contexto de uma conversa informal para tratar desse assunto?

3. Quando um dos interlocutores do texto afirma que o correto é “disseram-me” e não “me disseram”, está fazendo referência a uma das regras da gramática normativa para a colocação pronominal. Que regra é essa?

a) Em uma conversa informal, como na situação apresentada na crônica, essa correção é adequada? Justifique sua resposta.

b) Em certo momento do texto, o uso da próclise do pronome oblíquo o gera uma ambiguidade. Transcreva no caderno a passagem em que isso ocorre, explicando em que consiste seu duplo sentido.
Página 260

4. Explique que equívocos são cometidos, no que diz respeito à colocação pronominal, nos trechos “vê se esquece-me” e “não sabes-o”.

a) No caderno, reescreva os dois trechos, adequando-os às regras de colocação pronominal.

b) Na questão 3, você identificou um emprego da próclise que contraria as regras da gramática normativa, mas que é aceito em contextos informais. Por que o emprego da ênclise nos casos mencionados nessa questão não pode ser visto da mesma forma?

Leia atentamente a tira abaixo para responder às questões 5 e 6.

DEUS


LAERTE

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© LAERTE


LAERTE. Deus 3: a missão. São Paulo: Olho d’Água, 2003. p. 43.

5. Na tira, a expressão “descolai-me” causa estranheza. O que pode ser considerado inadequado nessa expressão?

a) Há nessa expressão uma estrutura típica de invocações religiosas: verbo na 2ª pessoa do plural (descolai) acompanhado por um pronome oblíquo enclítico. Por que a personagem reproduz essa estrutura?

b) Se o pedido fosse feito a outra pessoa, em um contexto informal, qual, provavelmente, seria a construção utilizada pela personagem? Por quê?

6. Por que a personagem que representa Deus não atende ao pedido?

> O humor da tira está na incoerência do comportamento dessa personagem. De que maneira a incoerência é representada?

Enem e vestibulares

1. (FGV – adaptada)

Reescreva no caderno o trecho a seguir, extraído e adaptado da matéria Fabrique você mesmo (Época, 14 abr. 2014), adequando-o à norma-padrão da língua portuguesa, considerando as informações entre parênteses.

A evolução que trouxe-nos das cavernas para o mundo conectado pela internet foi uma sequência de eventos complexos, os quais se valeram de um conserto de novas tecnologias e ideias. (Ortografia e colocação pronominal)



2. (Enem)

A colocação pronominal é a posição que os pronomes pessoais oblíquos átonos ocupam na frase em relação ao verbo a que se referem. São pronomes oblíquos átonos: me, te, se, o, os, a, as, lhe, lhes, nos e vos. Esses pronomes podem assumir três posições na oração em relação ao verbo. Próclise, quando o pronome é colocado antes do verbo, devido a partículas atrativas, como o pronome relativo. Ênclise, quando o pronome é colocado depois do verbo, o que acontece quando este estiver no imperativo afirmativo ou no infinitivo impessoal regido da preposição “a” ou quando o verbo estiver no gerúndio. Mesóclise, usada quando o verbo estiver flexionado no futuro do presente ou no futuro do pretérito.

A mesóclise é um tipo de colocação pronominal raro no uso coloquial da língua portuguesa. No entanto, ainda é encontrada em contextos mais formais, como se observa em:

a) Não lhe negou que era um improviso.

b) Faz muito tempo que lhe falei essas coisas.

c) Nunca um homem se achou em mais apertado lance.

d) Referia-se à D. Evarista ou tê-la-ia encontrado em algum outro autor?

e) Acabou de chegar dizendo-lhe que precisava retornar ao serviço imediatamente.
Página 261

Gramática

Unidade 5 - Aspectos da convenção escrita

Todas as línguas que fazem uso do sistema alfabético estabeleceram, durante o processo de desenvolvimento de sua representação escrita, uma convenção para regulamentar o uso das letras, dos acentos gráficos e dos sinais de pontuação.

Nesta unidade, trataremos das ocorrências de uso do acento grave, indicativo da crase, e discutiremos os contextos associados a cada um dos diferentes sinais de pontuação.

Capítulos

15. A crase e seu uso, 262

16. Pontuação, 269
Página 262

Capítulo 15 - A crase e seu uso

Crase

O anúncio abaixo faz parte de uma campanha institucional. Leia-o com atenção para responder às questões de 1 a 3.

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REPRODUÇÃO



Pasta. São Paulo: Clube de Criação de São Paulo, n. 2, p. 74, fev.-mar. 2006.

PARA MUITA GENTE, O TRABALHO NÃO COMEÇA ÀS OITO, COMEÇA AOS OITO.

O motivo para que tantas crianças brasileiras em idade escolar não frequentem a escola é o trabalho infantil. No Brasil, um milhão de meninos e meninas trocaram os estudos pelo trabalho. O XXX ajuda a levar essas crianças e adolescentes de volta às salas de aula. Mas, para isso, precisa de seu apoio. Se você conhece algum caso de exploração do trabalho infantil, denuncie.

1. Qual é o objetivo da campanha?

> De que modo os elementos visuais do anúncio ajudam a chamar a atenção do leitor para a questão tematizada?

2. Além da imagem, o enunciado que aparece na parte inferior do anúncio também contribui para tematizar o problema abordado. Explique como isso é feito.

3. Compare.

“... o trabalho

não começa às oito [horas],

“... o trabalho

começa aos oito [anos].”
Página 263

> O que o numeral oito especifica em cada uma das ocorrências?

> De que maneira a preposição a, necessária para vincular o verbo a seu adjunto adverbial de tempo, combina-se com os artigos que precedem o numeral oito?

No anúncio do Unicef, a ocorrência de um mesmo numeral (oito) associado a um substantivo feminino (horas) ou masculino (anos) está na base do jogo de palavras responsável pela identificação do tema da campanha: o combate ao trabalho infantil.

A compreensão do enunciado “Para muita gente, o trabalho não começa às oito, começa aos oito” depende em parte da identificação dos substantivos elípticos horas e anos. O caminho para a identificação desses substantivos é a observação dos adjuntos adverbiais às oito e aos oito. Essa identificação exige que o leitor reconheça o artigo que antecede o numeral oito em cada caso. Em termos gráficos, uma pista importante permite essa identificação: o uso do sinal indicativo da crase antes da primeira ocorrência do numeral oito.

Tome nota

Crase é o resultado de um processo fonológico por meio do qual dois fonemas vocálicos idênticos realizam-se, na fala, como um fonema, apenas. Na escrita, esse fenômeno é marcado pelo uso do acento grave (`) quando a crase é desencadeada pela ocorrência da preposição a seguida do artigo definido feminino a (as), ou dos pronomes demonstrativos a, aquele, aqueles, aquela, aquelas, aquilo ou ainda dos pronomes relativos a qual, as quais.

A crase não é um sinal gráfico

A crase é um processo fonológico mais geral nem sempre indicado na escrita por um sinal gráfico. Se temos, na fala, a sequência Pedr[o] [o]uvi[u] [u]m tiro, ela vem naturalmente pronunciada, em uma velocidade fluente de pronúncia, como Pedr[o]uvi[u]m tiro.

Do ponto de vista fonológico, diz-se que o que aí ocorreu foi um processo de crase de dois fonemas vocálicos idênticos, ambos em posição átona.

Observe, agora, os exemplos abaixo.



ao médico

Cristina precisa ir aa aula à aula

A preposição a é exigida pela regência do verbo ir. O artigo a é exigido pelo substantivo aula. A ocorrência dos dois fonemas vocálicos idênticos desencadeia a crase que, na escrita, é marcada pelo uso do acento grave (`).

Na escrita, o processo fonológico da crase é marcado pelo acento grave apenas quando envolve sequências específicas (apresentadas acima, no boxe Tome nota).

Para descobrir se há a ocorrência de preposição + artigo antes de um termo feminino e, assim, decidir se a crase deve ser indicada, basta substituir o termo feminino por um termo masculino. Caso haja preposição + artigo, isso ficará evidente pela ocorrência da combinação ao diante do termo masculino. No feminino, portanto, a crase deve ser indicada. Observe.



Antônio foi a (?) feira.

Antônio foi ao cinema.

Antônio foi à feira.

Vamos conhecer, agora, os contextos morfossintáticos em que, na escrita, é necessário o uso do acento indicativo da crase.


Página 264

Regras para o uso do sinal indicativo de crase

Locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas

A crase deve ser indicada nas locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas formadas a partir de palavras femininas, pois, nesses casos, estaremos diante da sequência constituída de preposição + artigo feminino. Veja a tira.

BICHINHOS DE JARDIM

CLARA GOMES

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© CLARA GOMES

GOMES, Clara. Bichinhos de jardim. Disponível em:


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