Português: contexto, interlocução e sentido



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. Acesso em: 1º mar. 2016.

Preocupado em cumprir uma tarefa claramente definida na proposta da Fuvest, o autor do texto concebe uma estrutura argumentativa que encaminha o olhar do leitor para aspectos que demonstram a participação política como necessária, em termos coletivos e individuais, para fazer valer o direito dos cidadãos.

Linguagem

Por ser um texto que se desenvolve por meio da análise de diversos aspectos associados à questão central, a dissertação apresenta algumas características bem definidas com relação à linguagem.

A primeira observação a ser feita diz respeito ao uso dos verbos. O presente do Indicativo predomina em textos expositivos. Releia e observe.

“O homem é um ser político”, já dizia Aristóteles. Com efeito, uma das principais características que nos diferencia dos outros seres vivos é a nossa capacidade de tomar decisões que visem ao bem comum, levando a pólis à felicidade. Entretanto a lógica neoliberal, vigente no mundo pós-moderno, conduz a


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sociedade para o caminho oposto, apresentando a participação política como algo já superado, num contexto que provoca nos cidadãos o desejo de proclamarem-se “apolíticos”, embora não devesse ser assim, visto que a participação política é indispensável para a organização da vida em sociedade.

O presente do Indicativo não tem, no caso de uma análise, uma conotação temporal, ou seja, ele não faz referência a acontecimentos que ocorrem no momento da enunciação. Sua função é permitir a generalização própria do encaminhamento analítico. Nesse sentido, assume um valor atemporal.

Outra característica distintiva da linguagem das dissertações é a preferência por substantivos abstratos. Isso se explica pela necessidade que temos, quando analisamos, de definir, de comparar, de argumentar, sempre buscando a construção de um discurso mais generalizante.

Também como uma necessidade decorrente da construção de um discurso mais abrangente, deve-se evitar o uso das formas de 1ª pessoa no texto dissertativo. Esse cuidado se explica pelo desejo de fazer com que o texto seja encarado não como expressão de um olhar subjetivo, particular, mas sim como uma argumentação racional, válida para todas as pessoas.

Pelo mesmo motivo, espera-se que as dissertações sejam redigidas respeitando as regras da variedade escrita de prestígio do português.



Exposição de um ponto de vista: produção de texto dissertativo-argumentativo

1. Pesquisa e análise de dados

Estou em tratamento. Sou a paciente e minha própria médica. Tomei consciência de quanto viciada e intoxicada estou de tecnologia.

Demorei a perceber. Achava que sempre era eu quem estava no comando da situação. É assim com qualquer dependência. Achei que sabia tirar o melhor proveito dos eletrônicos, dos sistemas, dos sites, das redes sociais. Mas agora reconheço que não.

Agora reconheço que quem mandava no meu tempo não era eu: era o fluxo dos aparelhos e sistemas eletrônicos que uso. Era qualquer um, menos eu.

STRECKER, Marion. Detox digital. Folha de S.Paulo. Disponível em: . Acesso em: 1º mar. 2016. (Fragmento).

Foi nesses termos que a jornalista Marion Strecker confessou ser dependente de tecnologia. Tomou consciência dessa dependência no dia em que se deu conta de que não era ela quem controlava o próprio tempo: vivia em função dos aparelhos eletrônicos que tinha à sua volta.

Hoje é difícil encontrar pessoas, em grandes centros urbanos, que não tenham a sua vida atravessada pelos gadgets: smartphones, tablets, GPS, MP3 players. A questão essencial é se a nossa relação com esses e outros aparelhos produz uma maior qualidade de vida, ou se essa relação acaba por gerar dependência e uma sensação de angústia a ela associada.

Os textos apresentados a seguir foram selecionados para permitir que você reflita sobre o seguinte tema: Tecnologia: caminho para a liberdade ou para a escravidão?.

> O que vale mais: um rim ou um tablet?

Um adolescente chinês, de 17 anos, vendeu um rim para comprar um iPhone e um iPad, segundo reportagem publicada [...] no site da Xinhua, agência estatal de notícias da China. Cinco pessoas foram acusadas de envolvimento na compra do órgão e vão responder por lesão corporal dolosa.

Entre os cinco, há um cirurgião que removeu o rim em abril do ano passado. O menino, identificado apenas pelo sobrenome Wang, agora sofre de deficiência renal, segundo promotores da cidade de Chenzhou, província de Hunan.

Adolescente chinês vende rim para comprar iPhone e iPad. O Globo. Disponível em: . Acesso em: 1º mar. 2016. (Fragmento).


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> Os sinais da dependência

Arriscar coisas perigosas, como escrever no celular enquanto caminha ou dirige. Ouvir reclamações por dar mais atenção ao seu “bichinho” eletrônico do que a pessoas do seu lado. Não se lembrar do que as pessoas falaram, pois sua atenção estava com o aparelho. Ter a sensação de que nada é realidade a não ser que seja contado pelo Twitter ou publicado como foto instantânea no Facebook ou no Instagram.

Gastar mais tempo na internet do que em pessoa com os melhores amigos. Ter a ilusão de saber como estão os familiares apenas pelo que publicam no Facebook. Pôr o telefone sobre a mesa do restaurante, antes de pegar o cardápio. Frequentar ambientes em que todos ficam lendo mensagens em vez de conversar. Usar aparelho escondido para não parecer viciado.

Acho que essa hiperconectividade é no fundo um desejo infantil e irrealizável de ter tudo ao mesmo tempo agora. Sinto culpa e angústia por estar off-line, demorando para reagir a uma mensagem que talvez tenha chegado, embora eu ainda não saiba.

[...]

STRECKER, Marion. Detox digital. Folha de S.Paulo. Disponível em:


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