Livros
Análise de textos: fundamentos e práticas, de Irandé Antunes. São Paulo: Parábola, 2010.
A construção do argumento, de Anthony Weston. Tradução de Alexandre Feitosa Rosas. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
Pensamento crítico: o poder da lógica e da argumentação, de Walter A. Carnielli e Richard L. Epstein. São Paulo: Rideel, 2009.
Produção textual, análise de gênero e compreensão, de Luiz Antonio Marcuschi. São Paulo: Parábola, 2008. (Obra indicada no PNBE do Professor).
É possível facilitar a leitura: um guia para escrever claro, de Yara Liberato e Lúcia Fulgêncio. São Paulo: Contexto, 2007.
Ler e compreender: os sentidos do texto, de Ingedore Villaça Koch. São Paulo: Contexto, 2006.
Redação e textualidade, de Maria da Graça Costa Val. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
A comunicação nos textos, de Norma Discini. São Paulo: Contexto, 2005.
Gêneros textuais e ensino, de Anna Rachel Machado, Angela P. Dionisio e Maria Auxiliadora Bezerra (Orgs.). 4. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
Gêneros orais e escritos na escola, de Bernard Schneuwly et al. Tradução de Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas: Mercado de Letras, 2004.
Linguagem e ideologia, de José Luiz Fiorin. 8. ed. São Paulo: Ática, 2004.
Atividade de linguagem, textos e discursos, de Jean-Paul Bronckart. Tradução de Anna Rachel Machado e Péricles Cunha. São Paulo: Educ, 2003.
O texto e a construção dos sentidos, de Ingedore Villaça Koch. São Paulo: Contexto, 1997.
A inter-ação pela linguagem, de Ingedore Villaça Koch. 5. ed. São Paulo: Contexto, 1995.
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PROPOSTAS PEDAGÓGICAS E REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DOCENTE
Práticas interdisciplinares
Introdução
O trabalho com a língua portuguesa é, no ambiente escolar, um dos espaços mais propícios ao desenvolvimento de propostas interdisciplinares. Como responsável pelo programa de três campos de saber (Gramática, Literatura e Produção de texto) considerados componentes indispensáveis de qualquer grade curricular, o professor de português precisa desenvolver recursos para abordar desde esquemas lógicos (do qual a análise sintática é um exemplo) até a observação de elementos naturais, culturais e histórico-sociais para analisar objetos, eventos e fenômenos (uma prática comum, por exemplo, no estudo das escolas literárias e no reconhecimento das propriedades dos gêneros discursivos).
À luz dos eixos programáticos do Ensino Médio Inovador, o papel do professor de Língua Portuguesa assume uma importância singular: é impossível que o conhecimento científico-tecnológico, a formação cultural e a aquisição de habilidades para a vida profissional sejam construídos sem a intermediação da linguagem. Dessa perspectiva, o profissional da área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias pode ser o protagonista do esforço interdisciplinar demandado pelos objetivos que guiam o Ensino Médio: o trabalho satisfatório com Gramática, Literatura e Produção de texto pressupõe o emprego de conceitos, noções, dados e informações que compõem o conteúdo de outras áreas de conhecimento. Citando alguns exemplos: a noção de contexto, indispensável na análise de textos literários, é fundamental para o trabalho na área de Ciências Humanas; dados e informações na área de Ciências da Natureza são frequentemente utilizados para embasar práticas de produção textual; e muitas das abstrações relevantes à área de Matemática (relações, recursividade, funções, distribuição, sistema) são também necessárias à análise gramatical.
Sob essa ótica, o que se espera dos professores de Língua Portuguesa e de outras disciplinas da área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias é um esforço em direção a uma interdisciplinaridade marcadamente dialógica. Tal esforço será estéril se não visar à interação com professores de outras áreas, nem promover a articulação de estratégias que congreguem ações produzidas em diferentes campos disciplinares.
Eixos cognitivos
Vamos sugerir, a seguir, como este volume pode ser explorado no trabalho interdisciplinar, considerando os eixos cognitivos apontados no âmbito do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): I. Dominar linguagens, II. Compreender fenômenos, III. Enfrentar situações-problema, IV: Construir argumentação e V. Elaborar propostas. Faremos sugestões pontuais sobre como alguns assuntos e conceitos trabalhados em Literatura, Gramática ou Produção de texto podem ser articulados com tópicos pertencentes ao programa de outras disciplinas.
Antes de avançar, é importante atentar para um fator que tem sido apontado como um obstáculo a práticas interdisciplinares: nem sempre o programa curricular elaborado para duas ou mais disciplinas permite que temas, informações e conceitos passíveis de um tratamento transdisciplinar sejam trabalhados em um mesmo período. Para enfrentar produtivamente esse obstáculo, a ação docente deve se dar não no sentido de construir a interdisciplinaridade a partir de conteúdos em comum entre as diferentes áreas, mas na direção de estabelecer conceitos e/ou noções que não pertençam a priori a essa ou àquela disciplina e cuja fixação dependerá do trabalho em diferentes áreas, em estágios do ano escolar que podem ou não correr em paralelo. Em outras palavras, a ação docente pode, no campo da interdisciplinaridade, construir redes conceituais que sirvam a duas ou mais disciplinas ou a duas ou mais áreas de conhecimento, independentemente das especificidades que marcam a sequência programática determinada em cada disciplina. Essa ideia irá nortear a apresentação de propostas atreladas aos cinco eixos cognitivos destacados a seguir.
Dominar linguagens
Dominar uma determinada linguagem pressupõe saber operar os diferentes recursos na base de sua estrutura e funcionamento. No trabalho voltado a esse eixo, os professores de Literatura, Gramática e Produção de texto assumem um importante papel na detecção de conceitos e dados, trabalhados em outras áreas, para alimentar a construção de redes conceituais.
A título de exemplo, podemos citar a noção de representação, que perpassa as mais diferentes disciplinas: a Química se vale de representações
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geométricas no trabalho com as propriedades de estruturas moleculares; a Geografia recorre à linguagem cartográfica para representar aspectos naturais, humanos e econômicos identificados em uma determinada região; a História pode recorrer a linhas do tempo para representar uma cadeia de fatos que conduziram à emergência de um determinado contexto. Para não deixar de fora as disciplinas no campo da Linguagem, a Gramática pode se valer de representações variadas (árvores, diagramas, fluxogramas, etc.) para mostrar relações hierárquico-estruturais entre termos da oração; e a Literatura se ocupa das diferentes formas de representação artística por meio da linguagem verbal (em especial, a escrita). A noção de representação é, portanto, um exemplo de categoria que prontamente se presta a integrar uma rede conceitual em torno do eixo “dominar linguagens”. Professores de diferentes disciplinas podem, nesse sentido, reunir esforços para levar seus alunos a depreender aspectos em comum entre os diversos sistemas de representação explorados no decurso do ensino básico. Uma possibilidade de trabalho interdisciplinar em torno desses sistemas envolve os conceitos de sinal, símbolo e ícone, que entram em jogo na estruturação de linguagens exploradas em diferentes campos de saber.
Neste volume, os Capítulos 15 e 16 apresentam recursos específicos (respectivamente, o acento grave e os sinais de pontuação) para sinalizar certos fenômenos da língua que são representados na escrita padrão. Especificamente no trabalho com a escrita, o professor pode desenvolver atividades em que o aluno seja solicitado a reconhecer sinais não convencionais, símbolos e ícones que costumam ser empregados em textos de diferentes gêneros. O próprio Capítulo 16 traz vários sinais que podem motivar esse reconhecimento: para que servem, por exemplo, sinais como •, •, ▶, [SÍMBOLO] e [SÍMBOLO] empregados ao longo de todo o volume?
A partir de reflexões desse tipo, os alunos podem ser incentivados a descrever a função de diferentes sinais, ícones e símbolos empregados nas linguagens que são exploradas por outras disciplinas. A linguagem matemática, por exemplo, se vale de inúmeros sinais (<, >, ≤, ≥, +, ÷, =, [ ], { }, ≈, etc.) e símbolos (Σ, √, Δ, π, etc.), com os quais os alunos entram em contato desde antes de ingressar no Ensino Médio.
A linguagem cartográfica, indispensável à Geografia, também faz uso de sinais, símbolos e ícones, que são fundamentais na interpretação de um mapa. Alguns sinais podem ser empregados para indicar o tamanho das cidades (por exemplo: [círculo grande], [círculo médio], [círculo pequeno]) ou a sua importância político-administrativa e econômica (por exemplo, sinais como ◙, ⊚ ou ✫ para indicar que um determinado município é a sede política de um governo). Há ainda ícones ou símbolos para indicar a localização de aeroportos, portos, estações rodoviárias e ferroviárias, serviços, atividades industriais, etc.
Para enriquecer a atividade, os alunos podem ser orientados a elaborar um dicionário de sinais, símbolos e ícones usados nas diversas disciplinas, indicando o significado e/ou a função dessas marcas dentro de um determinado sistema. Práticas interdisciplinares desse tipo podem motivá-los a explorar os recursos linguísticos disponíveis em diferentes sistemas de comunicação e informação para interpretar os mais diversos modelos de linguagem e, até mesmo, criar seus próprios modelos de representação. Na realidade pós-escolar, a habilidade de aplicar ou criar ferramentas de linguagem pode ser um fator diferencial para determinar o sucesso profissional.
Compreender fenômenos
Para atuar na promoção de práticas interdisciplinares voltadas ao eixo “compreender fenômenos”, o profissional da área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias deve ter em mente que fenômenos de natureza diversa, abordados por campos disciplinares de diferentes áreas, podem convergir em determinados aspectos e, por extensão, levar à emergência de conceitos e informações que poderão ser trabalhados de uma ótica interdisciplinar. Dessa perspectiva, professores de Língua Portuguesa podem, a partir do diálogo com docentes de outras áreas, investir na identificação de diferentes fenômenos que, quando sobrepostos, deem origem a conceitos ou ideias passíveis de tratamento sob diversos ângulos e impactem positivamente sobre o conteúdo de diferentes disciplinas.
O estudo das estéticas literárias que marcaram o século XX no Brasil é um campo que facilmente se presta a práticas interdisciplinares em torno do eixo “compreender fenômenos”. No Capítulo 6 (A geração de 1945 e o Concretismo), por exemplo, há várias referências que podem guiar a ação do professor na busca de apoio em conceitos e informações abordados em outros campos disciplinares.
A título de sugestão, informações relacionadas ao período imediatamente pós-guerra, bem como aos fatos da história recente que derivam direta ou indiretamente desse período, podem ser o ponto de partida para fundamentar práticas interdisciplinares que envolvam as áreas de Linguagens e Ciências Humanas. Por meio dessas práticas, o aluno deve ser levado a construir uma visão integrada em torno de eventos sociais, políticos, econômicos e culturais que marcaram o século XX e cujos efeitos são ainda fortemente sentidos no início do século XXI.
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Enfrentar situações-problema
Um problema se diferencia de um exercício pelo fato de requisitar aos alunos que apresentem soluções para uma questão inusitada, apartando-se do padrão que envolve a aplicação automática de procedimentos. Ao serem apresentados a uma situação-problema, os alunos se veem diante de uma questão com a qual não haviam lidado e, por isso, só terão sucesso em sua resolução se recorrerem à reflexão, pesquisa e argumentação aliadas a uma boa dose de intuição, ousadia, criatividade e persistência.
Se elaborada em uma perspectiva interdisciplinar, a situação-problema deverá levar os alunos a selecionar, relacionar e aplicar conceitos de diferentes áreas. Espera-se que, com dados e informações provenientes de dois ou mais campos disciplinares, ampliem-se as chances de sucesso dos alunos na tentativa de resolver um problema inusitado.
Um tema que possibilita aproximar diferentes campos disciplinares em torno do eixo “enfrentar situações-problema” é o das relações de causalidade, determinadas a partir de um vínculo de causa e efeito entre dois ou mais fatos. A capacidade para reconhecer essas relações é requerida em todo e qualquer campo de investigação. Um esforço direcionado ao seu desenvolvimento pode congregar professores de diferentes disciplinas na elaboração integrada de práticas que levem seus alunos a exercitar os reconhecimentos de causas e efeitos na análise de um fato. O esforço não deve necessariamente ser dado na direção de buscar relações de causalidade que possam ser trabalhadas em mais de uma disciplina. O principal objetivo deve ser o de mostrar ao aluno que o raciocínio aplicado na identificação de uma causa e/ou de um efeito pode ser aplicado a diferentes problemas, nos mais variados campos de saber.
Neste volume, os tópicos de que se ocupa a Unidade 4 (Articulação dos termos na oração) estão entre os que podem ser explorados pelo professor de Língua Portuguesa nesse esforço interdisciplinar. Boa parte das atividades propostas requer que os alunos confrontem a visão prescritiva com fatos do português coloquial. Em vez de se limitar a exigir que o aluno reconheça, da perspectiva normativa, a incorreção de um determinado padrão de concordância, regência ou colocação pronominal, o professor pode, a partir das sugestões de atividades, elaborar práticas para levar o aluno a buscar a causa dessa incorreção, bem como a refletir sobre o porquê de o efeito vinculado a essa causa se manifestar de uma determinada forma, e não de outra.
Dessa perspectiva, se tratar o “erro” como um efeito, o fator responsável por esse erro será explicitamente caracterizado como uma causa, configurando-se aí a relação de causalidade. Em outras palavras, se os desvios à norma padrão forem considerados como efeito de algo, e os alunos forem motivados a buscar a(s) causa(s) desse efeito, toda e qualquer atividade voltada à prescrição de regras gramaticais poderá ser encarada como uma “situação-problema”, e não como uma prática de imposição normativa.
De uma perspectiva interdisciplinar, o mais importante é levar o aluno a perceber que as relações de causalidade observadas em outros campos científicos de estudos também são observadas nos estudos sobre a língua. Dentro dessa visão, a gramática deixa de ser vista como um “manual de etiqueta” a ser seguido para se tornar um campo de investigação que leva a conclusões interessantes sobre a forma e o uso dos recursos expressivos que a língua põem à disposição dos seus usuários.
Construir argumentação
Os três volumes que compõem esta obra trazem inúmeras atividades nas quais os alunos são instigados a explorar habilidades relacionadas ao eixo “construir argumentação”: explicar seu ponto de vista, justificar sua resposta, motivar uma determinada ideia ou visão, validar uma análise ou opinião, etc. Dentre os tópicos tratados neste volume, citamos a Unidade 9 (Exposição e argumentação no Enem e nos vestibulares) como um espaço privilegiado para o trabalho em torno desse eixo. Nos dois capítulos que compõem essa unidade, os trabalhos propostos na seção Produção de..., por exemplo, podem mobilizar professores de diferentes áreas. Todas as práticas propostas precisam ser desenvolvidas sem perder de vista que o texto dissertativo-argumentativo é um dos gêneros mais cobrados nas provas de redação dos exames de seleção. O trabalho em conjunto com profissionais de outras disciplinas certamente ajudará o professor de português a investir em estratégias para desenvolver no aluno capacidades indispensáveis ao sucesso nesses exames: a de analisar, explicar, interpretar e avaliar, de modo claro e coerente, aspectos associados a uma determinada questão.
Elaborar propostas
Por meio de atividades desenvolvidas em torno do eixo “elaborar propostas”, é possível avaliar se o aluno é capaz de responder a diferentes expectativas da sociedade pelo recurso simultâneo às mais variadas habilidades que, espera-se, terá desenvolvido ao longo do Ensino Básico. Trata-se, talvez, do único eixo que, por seu apelo agregador, não pode dispensar o trabalho interdisciplinar: o incentivo à elaboração de propostas (desde o projeto inicial até sua execução) deve envolver docentes de diferentes áreas, sem o que o desenvolvimento de uma percepção mais realista, por parte dos alunos, daquilo que terão de enfrentar no espaço pós-escolar corre o risco de não ser alcançado.
Neste volume, há diferentes sugestões de trabalho que convidam à interdisciplinaridade dentro do eixo “elaborar propostas”. O exemplo que vamos citar envolve o tópico trabalhado no Capítulo 19 (Textos publicitários). Ao desenvolver atividades em torno do gênero anúncio, os alunos podem ficar responsáveis pela elaboração de uma campanha pela separação dos resíduos sólidos e pelo descarte responsável desses resíduos, encaminhando para a reciclagem tudo o que puder ser aproveitado.
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As orientações para o desenvolvimento dessa atividade podem ser as mesmas sugeridas na seção A arte de persuadir: produção de anúncio que propõe um trabalho em duas etapas: 1 – Pesquisa e análise de dados; 2 – Passos para a elaboração da análise comparativa. A ideia é que os alunos façam uma pesquisa para identificar os critérios de separação dos resíduos sólidos. Para garantir o caráter interdisciplinar da atividade, é fundamental orientar o aluno a entrar em contato com professores de outras disciplinas da área de Ciências da Natureza em busca de informações sobre os benefícios ambientais e econômicos associados à reciclagem de resíduos sólidos.
A avaliação no processo de ensino-aprendizagem
Os recursos empregados para mensurar as competências e habilidades desenvolvidas pelo aluno devem ser uma forma de trazer para o espaço da escola uma oportunidade de ele mesmo refletir sobre sua formação nos campos profissional, científico e cultural. Nesse sentido, todo processo de avaliação deve propiciar ao aluno reflexões do seguinte tipo:
• Estou adquirindo as competências necessárias para exercer a profissão que almejo?
• As habilidades que estou desenvolvendo podem ser colocadas a serviço do avanço científico-tecnológico, para melhorar minha vida e a vida das pessoas ao meu redor?
• Estou em condições de lidar com diferentes formas de manifestação cultural, aceitando a diversidade social e contribuindo para preservar o patrimônio histórico da comunidade em que vivo?
Os processos de avaliação devem, além disso, ser vistos como um espaço privilegiado para que o próprio avaliador invista na realização de um autodiagnóstico, de modo a verificar se suas ações têm colaborado positivamente para o sucesso dos alunos.
Também não se pode perder de vista que uma das funções da avaliação é a de permitir ao professor verificar, após o cumprimento de uma determinada etapa, qual é o nível atingido pelo aluno na aquisição ou desenvolvimento de diferentes competências e habilidades. A ação do professor não deve ser norteada pela prática do “avaliar para aprovar ou reprovar”, mas avaliar para, dentre outros objetivos, ajudar o aluno a identificar os aspectos necessários para que atinja um nível de formação compatível com o que dele se espera no período escolar e pós-escolar.
Frente a essa visão, qual deve ser a ação do professor de Língua Portuguesa na busca de formas, possibilidades, recursos e instrumentos de avaliação a serem utilizados no processo de ensino-aprendizagem? Essa ação pode ser guiada pelo investimento em estratégias que permitam avaliar o quanto as competências relacionadas ao trabalho com Gramática, Literatura e Produção de texto foram satisfatoriamente desenvolvidas, em atendimento aos objetivos a serem alcançados em uma determinada etapa da vida escolar.
Apresentamos a seguir sugestões sobre estratégias de avaliação, levando em conta algumas competências relacionadas à área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias na matriz de referências para o Enem 2009. Procuramos explorar o próprio conteúdo desta obra didática para trazer exemplos de práticas que poderão subsidiar diferentes processos de avaliação.
Avaliando a competência de área 1: Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida.
As linguagens verbais (fala e escrita) podem ser tratadas como tecnologias da comunicação. Os alunos devem, portanto, ser avaliados quanto à habilidade de aplicar socialmente os recursos que essas tecnologias põem a sua disposição no ato da comunicação. As partes de Gramática e Produção de texto que compõem esta obra didática são espaços apropriados para a avaliação da competência de área 1, bem como das habilidades a ela relacionadas.
No plano gramatical, o professor pode recorrer ao modelo de reflexão e atividades propostas nas seções Usos de... e Pratique. A seção Usos de... analisa como um determinado aspecto linguístico participa da estrutura de textos representativos de diferentes gêneros. A seção Pratique traz propostas para que os alunos ponham em prática o que foi observado na análise do aspecto linguístico, sendo solicitado ou a criar um texto ou a aplicar a mesma análise em outro texto. O desempenho em atividades dessa seção pode indicar quão satisfatória é a atuação do aluno na tentativa de aplicar recursos de expressão associados a uma importante tecnologia de comunicação no mundo contemporâneo: a língua escrita.
Na parte de Produção de texto, as diferentes atividades sugeridas no final dos capítulos podem dar base a um modelo de avaliação em torno de habilidades associadas à competência de área 1. Por exemplo, a habilidade de “recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais” (H2) pode ser mensurada pela observação da ousadia e criatividade do aluno na seleção de diferentes recursos linguísticos para executar o projeto proposto.
Avaliando a competência de área 4: Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da própria identidade.
A introdução dos capítulos que compõem a parte de Literatura trazem atividades que são uma excelente oportunidade para avaliar habilidades atreladas a essa competência. Nessas atividades, o aluno é colocado
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frente a imagens e textos cuja análise pressupõe, muitas vezes, reconhecer características definidoras de diferentes manifestações artísticas (não apenas a literatura) e associadas a estéticas específicas. O grau de dificuldade demonstrado pelo aluno nesse trabalho de reconhecimento pode evidenciar em que nível ele se encontra no desenvolvimento de certas habilidades, como a de “analisar as diversas produções artísticas como meios de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos” (H13).
Avaliando a competência de área 5: Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
A avaliação dessa competência exigirá do professor de Língua Portuguesa buscar estratégias para verificar o sucesso do aluno no enfrentamento de desafios que entram em jogo na leitura de textos representativos dos mais diferentes gêneros, como aqueles pertencentes à esfera literária. Uma possibilidade de trabalho nessa linha é investir em avaliações que solicitem ao aluno o desenvolvimento de atividades que objetivam levá-lo a organizar as informações trabalhadas em um determinado capítulo a partir de uma questão específica. Apresentamos a seguir um exemplo de uma atividade desse tipo, voltada à reflexão sobre temas trabalhados no Capítulo 6 deste volume. Para esta prática de avaliação, é necessário fornecer orientações (“identifique...”, “releia...”, “compare...”) para que o aluno não se perca no desenvolvimento da questão.
• Leia o excerto abaixo para desenvolver a atividade que segue.
Entre os miseráveis moradores das palafitas e os remediados pequeno-burgueses de casas e roupas gastas, o poeta [Ferreira Gullar] descobriu algo de comum, o pano de fundo do cotidiano, com suas agruras e seus breves relâmpagos de vida. A medida poética utilizada para exprimir esse outro pobre foi o coloquial, que o Modernismo forjou aproveitando-se, amplamente, da nossa linguagem oral e (em parte) popular. [...] O coloquialismo prestava-se bem a seus propósitos, à necessidade de representar, em tom menor, a vida humilde nos bairros pobres de São Luís do Maranhão. Neste sentido, talvez não seja exagero afirmar que o seu poema estica ao máximo as possibilidades da linguagem modernista de empenho social.
LAFETÁ, João Luiz. Dois pobres, duas medidas. In: PRADO, Antonio Arnoni (Org.). A dimensão da noite. São Paulo: Duas cidades/Editora 34, 2004. p. 238. (Fragmento).
• Na análise que faz do “Poema sujo”, texto muito conhecido de Ferreira Gullar, João Luiz Lafetá identifica importantes aspectos da poesia desse autor. Redija um parágrafo argumentativo em que você explique de que modo as imagens típicas do cotidiano e a linguagem coloquial são elementos essenciais para Gullar desenvolver a temática social em sua obra.
Antes de desenvolver seu parágrafo, sugerimos que você considere os seguintes passos:
1. Releia os poemas de Ferreira Gullar apresentados no Capítulo 6 do seu livro.
2. Identifique, nesses poemas, elementos que revelem o trabalho com a temática social.
3. Procure determinar de que modo a linguagem coloquial ajuda a tornar mais “reais” (e, portanto, mais convincentes) as imagens apresentadas.
Atividades desse tipo permitem verificar não apenas a assimilação de conhecimentos trabalhados ao longo do capítulo, mas também o sucesso dos alunos na análise da relação de “textos com seus contextos [...] de acordo com as condições de produção e recepção em cada época”, tal como indicado na descrição da competência em questão.
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