QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NAS REGIÕES DA GRANDE NATAL/RN
¹Carmem Sara Pinheiro de Oliveira; ²Rodrigo Freitas Machado Barbosa; ³Lara Machado Alves.
¹Aluna do Curso de Graduação em Ciências Biológicas; ²Aluno do Curso de Graduação em Engenharia Ambiental; ³Aluna do Curso de Graduação em Ecologia. ¹,³Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Av. Senador Salgado Filho, Lagoa Nova, 59072-970, Natal/RN. ²Universidade Potiguar. Av. Nascimento de Castro, 1597, Dix-Sept Rosado, 590154-180, Natal/RN. ¹,³Bolsistas do Programa Água Azul; ²Estagiário da Escola de Governo. ¹,²,³Instituto de Gestão das Águas do Rio Grande do Norte, Rua do Calcário, 1989, Lagoa Nova, 59076-240, Natal/RN.
sarinhac.s@hotmail.com, digobarbosa_@hotmail.com, larayasha@yahoo.com.br.
RESUMO
A água é um recurso natural de extrema importância para a manutenção da vida na Terra. Mesmo assim, com os crescimentos das cidades, a contaminação das águas (principalmente as subterrâneas) vem causando bastante preocupação devido à contaminação destas por substâncias químicas e biológicas nocivas que possam causar doenças. Este presente trabalho tem como finalidade mostrar o nível de Nitrato e Coliformes Total e Termotolerantes nas águas subterrâneas da região da Grande Natal. Após os estudos, foi concluído que o nível de Nitrato encontra-se elevado na metade das amostras coletadas, enquanto os coliformes estão com os níveis extremamente elevados em quase todas as amostras. Estes níveis proporcionam uma maior tendência a proliferação de doenças infecto-contagiosas, causa preocupações à população. Para mitigar este problema, se é necessário uma melhora na gestão do saneamento básico da Grande Natal.
Palavras-chave: Monitoramento, Poços e Qualidade.
INTRODUÇÃO
Considerado um recurso natural de extrema importância, a água desempenha diversas funções ao longo do seu ciclo hidrológico. Além da demanda biológica para a manutenção dos ecossistemas e dos organismos vivos, a água é utilizada para diversos fins nas atividades humanas. Através do ciclo hidrogeológico, a água continua se renovando desde a época do surgimento da vida na Terra, no qual uma grande parte deste recurso ainda não é acessível ao ser humano. Apenas 1% de toda a água doce pode ser usada para o consumo dos seres humanos ressaltando que, desse total, 29,9% está armazenado em fontes subterrâneas.
Praticamente todos os países do mundo - desenvolvidos ou não - utilizam água subterrânea para suprir suas necessidades, seja no atendimento total ou suplementar do abastecimento público, seja em outras atividades como irrigação, produção de energia, indústria, etc., (INSA, 2011).
Com o crescimento da demanda do uso da água começam a surgir conflitos entre os usuários, e a água passa a ser escassa e precisa ser gerida como um bem econômico ao qual deve ser atribuído o valor adequado. A escassez, por sua vez, está associada a uma situação em que a disponibilidade hídrica é insuficiente para atender às demandas e manter as condições ambientais mínimas necessárias para o desenvolvimento sustentável. A caracterização do risco de ocorrência da escassez hídrica requer um conhecimento apropriado, tanto da disponibilidade como das demandas. A escassez também pode decorrer de aspectos qualitativos quando a poluição afeta de tal forma a qualidade que os padrões excedem os admissíveis para determinados usos. (INSA, 2011).
A região metropolitana de Natal possui uma área de 170,30 m² que comporta uma população de 803.739 habitantes (IBGE, 2010). O clima da região é tropical chuvoso com verão seco com meses chuvosos de Fevereiro a Setembro. Sua pluviometria é em média 1.583 mm/ano (IDEMA, 2007). Quanto a sua hidrogeologia, Natal tem uma formação do Aquífero Barreiras que é composto por arenitos finos e grosseiros. Este aquífero encontra-se confinado, semi-confinado e livre em algumas áreas. Os poços construídos mostram capacidades máximas de vazão, variando entre 5 e 100m³/h, com águas de excelente qualidade química, com baixos teores de sódio, podendo ser utilizada praticamente para todos os fins. (IDEMA, 2007). O município encontra-se com 31,19% do seu território inserido na Bacia Hidrográfica do rio Potengi, 15,30% na Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi, 23,43% na Bacia Hidrográfica do rio Doce 30,08% na Faixa Litorânea Leste de Escoamento Difuso. (IDEMA, 2007).
A região da Grande Natal não dispõe de grandes cursos d’água devido as suas condições climáticas (clima tropical quente com verão seco) características fisiográficas, feições geomorfológicas e características litológicas. No entanto, essa região é privilegiada em termos de disponibilidade hídrica subterrânea, cujas águas são de excelente qualidade e encontradas em forma de aquíferos livre, confinado e semiconfinado. (BORGES, 2002.)
Segundo Nunes (1996), o aqüífero livre ocorre em regiões com relevos ondulados, formados por depósitos arenosos superficiais inconsolidados, composto de areias finas a médias. Caracteriza-se como aqüífero livre em função de sua litologia e estratigrafia que apresenta uma boa capacidade de infiltração, armazenamento e circulação de água. Nunes (1996) ainda afirma que, embora a qualidade da água natural do aqüífero livre seja considerada excelente por possuir condições físico-químicas adequadas, é desaconselhável o consumo humano devido à susceptibilidade desse aqüífero à contaminação de suas águas. Esta contaminação ocorre principalmente por efluentes sanitários (sistemas individuais de fossas sépticas/sumidouros) e lagoas de captação de águas pluviais. Com uma recarga de esgotos domésticos, dentre outros efluentes in natura ligados clandestinamente às galerias destinadas à coleta exclusiva de águas pluviais, as águas subterrâneas podem ser contaminadas por causa da sub-superficialidade do lençol freático e suas características geológicas e pedológicas, podendo originar ambientes de proliferação de microorganismos patogênicos, gerando assim riscos à população de contrair doenças através, sobretudo, da veiculação hídrica.
Este presente trabalho objetivou analisar o parâmetro físico-químico (Nitrato) e microbiológico (Coliformes Totais e Termotolerantes) que são potenciais fatores de contaminação das águas subterrâneas. Estes quando submetidos a análises, se encontrados em níveis altos nos poços, são extremamente prejudiciais ao consumo humano.
MATERIAL E MÉTODOS
Para este presente trabalho foram realizadas coletas no ano de 2012 de águas subterrâneas em diferentes regiões do município e nas regiões da grande Natal no estado do Rio Grande do Norte, pelos técnicos do Instituto de Gestão das Águas do Rio Grande do Norte (IGARN) e da Companhia de Águas e Esgoto do Rio Grande do Norte (CAERN). Onde foram retiradas amostras de 14 pontos aleatórios distribuídos em 4 bacias.
Estas coletas foram realizadas nos seguintes pontos em suas respectivas bacias: CAERN P-01 Felipe Camarão, Iate Clube de Natal, Hospital Santa Catarina e Prefeitura do Natal, localizados na Bacia Potengi; CAERN P-3 Nova Descoberta, Colégio Nossa Senhora das Neves, IFRN e San Vale, localizados na Bacia Difusa Leste; CAERN P-33 Pajuçara, CAERN P-7 Lagoa Azul, Guararapes e Posto Nossa Senhora Santana, localizados na Bacia Rio Doce; CAERN ETA do Jiqui e CAERN P-10 Parnamirim, localizados na Bacia Pirangi.
Para o recolhimento dessas amostras, foi utilizado o bombeamento por um período mínimo de 15 minutos para que fossem obtidos dados representativos da água subterrânea, minimizando a coleta de águas paradas no interior da captação. O procedimento adotado na campanha de amostragem consistiu na coleta dos seguintes volumes: 2,0L de água em recipiente plástico de polietileno, sendo lavados com a água a ser coletada por três vezes antes da coleta final, e 200 mL de água em frasco de polipropileno esterilizado.
Após o recolhimento das águas dos poços, as mesmas foram encaminhadas para a Central Analítica NUPRAR (Núcleo de Processamento Primário e Reuso de Água Produzida e Resíduos), onde as amostras foram lidas e tiveram posteriormente os dados analisados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Podemos citar como um dos principais fatores de contaminação das águas subterrâneas a falta de saneamento básico nas regiões da Grande Natal. Além disso, deve haver uma manutenção adequada na rede coletora, porque caso contrário, a não higienização do mesmo pode acarretar a contaminação deste por microorganismos presentes no solo.
Tomando por base os padrões de qualidade das águas que utilizamos, segue abaixo os índices do nitrato (NO3), dos coliformes totais e termotolerantes encontrados nas águas subterrâneas da grande Natal.
Figura 1: Este gráfico repersenta o nível de nitrato nos poços da grande Natal no estado do RN, onde as barras em azul simbolizam a bacia do Potengi; as barras em vermelho pertencem a bacia da Difusa Leste, já as barras em verde representam a bacia do Rio Doce e as barras em amarelo são a bacia do Pirangi. A barra em preto representa o valor máximo permitido, onde valores abaixo dela são considerados aceitáveis.
O aquífero de Natal não tem uma proteção argilosa que costuma separar o lençol freático do aquífero confinado. Sendo assim, o que se despeja no subsolo se infiltra pelo aquífero e atinge as camadas mais profundas de onde se retira água para consumo humano.
Alguns pontos mostrados na figura 1 apresentam uma boa qualidade da água, tais como, Prefeitura do Natal, Hospital Santa Catarina, Iate Clube de Natal, Nova Descoberta, San Vale, Guararapes e Estação de Tratamento de Águas do Jiqui; contudo para esta água ser considerada potável a concentração do Nitrato, expresso em mg/L N, deve ser inferior a 10mg por litro. É possível perceber que a maioria dos pontos estão em uma faixa considerada ruim para o abastecimento da população. Dessa forma, a conclusão das adutoras e a implantação integral do sistema de esgotamento sanitário são as possíveis soluções para o problema do Nitrato elevado, que possivelmente pode ocasionar doenças no ser humano.
Figura 2: Este gráfico repersenta o nível de coliformes totais nos poços da grande Natal no estado do RN, onde em alguns pontos pode-se preceber um alto valor de contaminação.
Figura 3: Este gráfico repersenta o nível de coliformes termotolerantes nos poços da grande Natal no estado do RN, onde em poucos pontos pode-se preceber um alto valor de contaminação.
Essas bactérias são prevalentes em esgotos e no solo, onde sua concentração está relacionada com o grau de poluição da água, no qual coliformes se encontram em pequenas quantidades. Contudo o nível elevado de coliformes termotolerantes pode desencadear agentes de doenças infecto-contagiosas que não dependem de contato direto para sua disseminação, podendo ser veiculados pela mesma. É de extrema importância que se obtenha um controle adequado das águas dos poços para que se possa obter uma qualidade boa da água de consumo.
O consumo consciente é um dos caminhos para buscar a solução deste problema. Entretanto a gestão das águas subterrâneas é uma questão complexa e envolve uma boa gestão técnica e conscientização de todos os indivíduos de uma sociedade, no qual a mobilização de fatores econômicos, sociais e políticos podem vir a contribuir para um melhoramento significativo na qualidade dessas águas.
CONCLUSÃO
Após terem sido analisados e discutidos os resultados obtidos das amostras físico-químicas e microbiológicas de águas subterrâneas que abastecem o município da grande Natal, Estado do Rio Grande do Norte, podemos concluir que:
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Foi observado que em 50% dos pontos coletados, o limite máximo do Nitrato foi ultrapassado.
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Dentre as amostras foi possível observar que 92,85% dos pontos coletados estavam contaminados por coliformes totais, e que 85,71% estavam contaminados por coliformes termotolerantes o que representa riscos para a população, estes últimos principalmente por serem tolerantes a diferentes níveis de temperatura.
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Após os estudos foi concluído que o Nitrato provém do uso das fossas sépticas devido ao mal gerenciamento e ocupação do solo, além da má gestão ocupacional e administrativa de algumas áreas.
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Com relação aos coliformes, a ausência de manutenção das instalações dos poços e a própria microbiota do solo (por não ter uma adequada higienização) são fatores que desencadeiam um maior nível de contaminação.
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Para finalizar, conclui-se que é necessário uma melhor gestão na parte de saneamento básico da região metropolitana de Natal. Para que isso aconteça, é necessário que haja uma classificação e cadastro de fontes potenciais de contaminação já que geralmente algumas atividades humanas são associadas a tipos específicos de contaminantes.
AGRADECIMENTOS
Como contribuição para este trabalho agradecemos a Deus em primeiro lugar. Deixamos nossos agradecimentos a toda equipe técnica do IGARN, da CAERN e do NUPRAR. Aos nossos familiares também deixamos nosso sincero agradecimento.
REFERÊNCIAS
BORGES, A.N. Implicações ambientais na bacia hidrográfica do rio Pitimbu (RN) decorrentes das diversas formas de uso e ocupação do solo. 2002. (Mestrado em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental) - Programa de Pós-graduação em Engenharia Sanitária, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Perfil dos municípios de Natal, Parnamirim e Macaíba. 2010.
Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte – IDEMA. Perfil dos municípios de Natal, Parnamirim e Macaíba. 2008.
Instituto Nacional do Semiárido – INSA. Recursos hídricos em regiões áridas e semiáridas. 2011.
NUNES, E. Aspectos morfo-estruturais, fisiográficos e de coberturas de alterações intempéricas da grande Natal (RN), como base para o macrozoneamento Geo ambiental.
1996. Tese (Doutorado em Geociências) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rio Claro.
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