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RAMATIS: Sim; e também com expressões peculiares, con­forme os tendes na Terra. Alguns ultrapassam a estatura comum e outros ficam aquém do normal, embora isso ocorra em menor percentagem do que no vosso mundo, porque os etnologistas marcianos já corrigiram as características somáti­cas, irregulares, dos tipos inferiores, mediante um processo científico que lhes permite atuar com êxito no fenômeno genéti­co, intervindo nos elementos hereditários e agindo na própria cromatina da vesícula seminal. Desse modo, orientam, gradual e progressivamente, os ascendentes biológicos no crescimento e na formação dos sistemas responsáveis pelas modificações organogênicas. Embora, como é natural, também se defrontem com as influências mesológicas, que caldeiam tipos excêntricos, na conformidade de cada região, já se denuncia um novo padrão geral, um terceiro tipo condicionado a princípios eugê­nicos mais adiantados. A restante minoria compõe-se de tipos mais heterogêneos, remanescentes das tribos primitivas que habitaram as zonas rurais, mas que também já se reproduzem sob diretrizes de controle científico.

PERGUNTA: Poderia indicar alguma raça, do nosso mundo que melhor se aproxime do padrão comum no planeta Marte?

RAMATIS: O tipo claro, alourado, de fisionomia algo trans­parente, aproxima-se dos vossos tipos nórdicos, porém de este-sia mais perfeita. O amorenado, baixo, de aspecto forte e nutri­do, mais nervos e fibras, em vez de ar seráfico, comumente o encontrais nos latinos puros, de cabelos negros, rostos cheios, movimentos vivos e dinâmicos.

PERGUNTA: Quais as características que mais os destacam da semelhança geral conosco?

RAMATIS: O seu metabolismo "psicofísico" obedece às mesmas leis fundamentais de vossa constituição orgânica; e as linhas fisionômicas, embora da mesma configuração, são desti­tuídas de rugas precoces e dos estigmas de vossas aflições, decorrentes de uma existência descontrolada. O semblante humano, que revela sempre o estado de alma da criatura, é neles límpido e sereno; inspira confiança e é convite à afeição pura. Os seus olhos cristalinos, expressivos de ternura, lem­bram aquele conteúdo formoso e angélico que iluminava conti­nuamente o semblante de Jesus. Principalmente a tonalidade da pele é o que mais os destaca dos terrícolas, pois é lisa, avelu­dada e luzidia como a pele das crianças; parece esticada sobre os ossos e não tem quaisquer sinais desagradáveis. Mesmo quando atingem a velhice, embora ela perca a exuberância da juventude, conserva o tom rosa-azeitonado; e suas fisionomias ascéticas, de perfis santificados, são isentas das rugas do ancião terreno. Os velhos que identificamos na população marciana refletem a figura veneranda de apóstolos, sadios, sem os acha­ques que provocam movimentos tardios e fatigados. Não se lhes notam vestígios dos traços violentos que golpeiam certas fisionomias terrenas; nem as expressões denunciadoras de quaisquer sentimentos ou recalques de emoções agressivas ou deprimentes. O homem amadurecido, da Terra, equiparado ao velho marciano, é um ancião decrépito e vencido.

PERGUNTA: Quais as causas que dão origem a esse tipo de fisionomias aveludadas, graciosas, de expressão quase infantil?

RAMATIS: São produto de uma alimentação puríssima, à base de sucos e essências vegetais e frutíferas; e o clima puro e sadio também contribui para isso.

As toxinas, que comumente desarmonizam a irrigação sadia da pele e dos músculos, foram eliminadas do sistema circulató­rio dos marcianos. Além disso, a medicina já adaptou os seres ao meio correspondente, tendo, ainda, solucionado completa­mente o problema das carências vitamínicas, calóricas ou de minerais. Igualmente, a suavidade do sol eliminou os tipos pálidos; e a ausência ou controle do frio excessivo diminui os tipos de faces congestas, resultantes do afluxo sangüíneo dema­siado.



São tipos rosados e louçãos; o sangue corre-lhes nas veias de modo suave, sob o ritmo inalterável de um coração equilibra­do, virgem dos exageros nutritivos e dos estimulantes pernicio­sos; e isento, também, das prejudiciais exaltações emotivas que irritam os sistemas simpático ou parassimpático. A cor rosada, translúcida, dos marcianos é devida, igualmente, ao sangue destituído de gorduras da alimentação carnívora, o qual, pela sua fluidez, transparece sob a pele, à "meia-luz", emprestando ao semblante uns reflexos de suave colorido rosa-louro. Imunes às neurastenias incontroláveis e cómuns dos terrícolas, os seus modos exibem certo donaire; e suas palestras agradáveis, emol­duradas de gestos expressivos, traduzem o encanto da graça espiritualizada.

PERGUNTA: Não há certa monotonia nessas características físicas ou estados emotivos comuns a todos?

RAMATIS: Essa monotonia é aparente, pois deixais de con­siderar os valores espirituais que são profundamente opostos nos seres humanos. O mundo terreno já vos tem apresentado criaturas xifópagas e quíntuplos gêmeos, cujo temperamento, intelecto e caráter divergem bastante entre si, comprovando-se a existência de personalidades diferentes e separadas por prin­cípios ou idéias contrárias. Sem embargo da harmonia física, a identidade geral dos marcianos no campo subjetivo cria-lhes estados que vos parecem monótonos, mas, na realidade, eles vivem um mundo mais vibrátil, mais intenso e rico de emo­ções, que vós não podeis avaliar tomando como padrão as vos­sas paixões terrenas. Neles, as gamas de emotividade espiritual superior multiplicam-se, afinam-lhes os recursos do intelecto e ampliam-lhes todas as concepções cósmicas, tornando-os con­templativos e supersensíveis às emoções estéticas. Seus estados psíquicos mais profundos encontram campo mais vasto para a receptividade de emoções superiores, desconhecidas para vós e que os tornam, individualmente, mais em intimidade com Deus.
A monotonia emotiva a que vos referis é uma dedução afim às espécies inferiores e não aos conjuntos ou humanidades evolvidas, como acontece em Marte. Se há um só instinto ou emotividade nos cardumes ou nas alcatéias, porque peixes e lobos são espécies exclusivamente instintivas, já entre os cães, que são um grupo em trânsito das fronteiras do instinto absolu­to para as da sensibilidade psíquica, verificais que começam a individualizar-se, pois já sabem amar e morrer heroicamente na defesa de seu dono. Assim, comparativamente, os recursos emotivos e estéticos são mais apurados em Marte, e mais mate­rializados na Terra, porque estais mais próximos da inconsciên­cia animal, dominados pelas paixões inferiores que confundem grupos e raças.

PERGUNTA: Os marcianos são dotados de cabeleira e capi­laridade idêntica às dos habitantes da Terra?

RAMATIS: Podeis obter ilações fáceis sobre esses detalhes, baseando-vos na própria morfologia terrena, pois sabeis que o "primata", o hirsuto habitante das cavernas, foi o ancestral peludo que deu origem aos tipos humanos da atualidade. Depois, à medida que esse bruto veio se refinando nas sucessi­vas gerações até à vossa civilização hodierna, ele foi perdendo o seu aspecto, todo eriçado de pêlos. Por sua vez, a mulher, que evolveu em sentimento mais rapidamente do que o homem, reduziu ainda mais cedo o seu invólucro capilar, devido, justa­mente, à sua maior proximidade da figura ou imagem angelical do futuro. Naturalmente que as modificações do meio, tornan­do a Terra menos inóspita e de atmosfera mais saneada, tam­bém influíram na quase extinção do espesso manto peludo. Igualmente, os vestuários, a alimentação mais débil, a redução biológica da supra-renal que nutre os capilares, atrofiaram ainda mais o crescimento dos pêlos no corpo.

Por conseguinte, é evidente que, à medida que o espírito da civilização avança, os corpos se apuram em beleza e, natural­mente, a indumentária cabeluda dos seres tende a extinguir-se. É fácil, então, compreender por que os marcianos são destituí­dos de excrescências capilares e dotados de corpos cuja pele rivaliza com o aveludado das pétalas de rosas. Seguindo, pois, a lei da genética espiritual, em que a figura admirável do anjo, com seus cabelos soltos, poéticos e resplendentes, traduz beleza e encanto sideral, também os marcianos cultivam a cabeleira como um ornamento de estesia angélica. E sendo profundos conhecedores do metabolismo magnético que regula o campo "quimiofísico" do sistema endocrínico, isentaram seu organis­mo das gorduras que sobrecarregam a circulação sangüínea dos terrícolas, provocando-lhes os estados enfermiços de sebor­réia que lhes dá cabo dos cabelos.

A riqueza vital do sangue e a ausência de ingurgitamentos sebáceos no couro cabeludo, tornaram os marcianos de tipo louro possuidores de cabelos semelhantes a fios de seda doura­da, translúcida; enquanto os amorenados apresentam cativan­tes adornos de natureza aveludada. As expressões físicas dos marcianos já estereotipam e denunciam os primeiros traços do futuro anjo das esferas edênicas. Em suas fisionomias manifes­tam-se as primeiras expressões da "criança divina"; e nos ges­tos os primeiros movimentos acolhedores dos "gênios celestiais". O binômio "razão-sentimento" já se revela em equilibra­da sintonia espiritual.

PERGUNTA: Os marcianos são dotados de dentes ao nosso modo?

RAMATIS: É o que possuem de mais perfeito. Assemelham-se a colares da mais admirável simetria. Afeitos a se alimenta­rem de sucos, pastas, "tablettes", filhós ou óleos aromáticos, vegetais tenros e frutas gelatinosas, os marcianos não possuem dentes caninos e incisivos, predominando os pré-molares e os molares quase idênticos entre si. De espessura delicada e com um aspecto brilhante de porcelana transparente, a arcada den­tária surge-lhes como um poético adorno na fisionomia atraen­te. Não existe a deformação facial peculiar aos terrestres, pois a sua alimentação não lhes exige esforços, nem os movimentos irregulares do maxilar inferior.

É de senso científico que, nos vertebrados inferiores, os den­tes aparecem em massa e, quando muito crescidos, também caem aos punhados. Só nas espécies superiores é que princi­piam a diminuir as mudas e o número de dentes, inclusive as reduções que modificam a configuração de acordo com o tipo de alimentação predominante. A nutrição forma os dentes, pois os paleontólogos conhecem a espécie de alimento preferido pelo animal morto, ao simples exame de sua dentadura, conse­guindo identificar os arrancadores e mastigadores de folhas, os roedores de cascas ou os carniceiros.

O homem terreno, na preferência alimentar mista, de carne e vegetais, apresenta um conjunto de dentes apropriados à masti­gação de alimentos heterogêneos. O tamanho das mandíbulas de algumas raças terrestres é resultante dos movimentos disper­sivos e largos que os seus maxilares fazem na mastigação, dando a esses tipos que sentem voluptuoso prazer na glutonaria um "facies" ou estigma "psicofísico" um tanto animalizado.

Conseqüentemente, a frugalidade dos marcianos dispensa-os de esforços triturativos e contribui para que eles possuam dentes semelhantes a um magnífico colar de pérolas níveas e simétricas, que deixam bem distantes os remendos precários da odontologia terrena. Finalmente: a evolução, ou refinamento dos sentidos do espírito, repercute nas modificações fisiológi­cas e estéticas que se operam no corpo.



PERGUNTA: Os marcianos caminham a pé, nas mesmas condições em que o fazem os terrestres?

RAMATIS: Eles, como vós, andam, correm ou firmam-se de pé, se assim o desejarem. Porém, devido à densidade atmosféri­ca ser bem mais tênue do que a vossa, sofrem menor pressão, podendo, sem esforço pronunciado, saltar além de cinqüenta metros ou, se apressados, deslizar, ligeiros, sobre a grama ave­ludada ou nos caminhos forrados de substância flexível. Nesta espécie de vôos deslizantes, para se equilibrarem, erguem os braços e, arqueando os ombros em conexão com as omoplatas, forma-se-lhes nessa parte uma espécie de protuberância, algo parecida com uma membrana muscular, que lhes dá mais equi­líbrio e segurança. Fazem lembrar a pose do pássaro no seu vôo estática4

PERGUNTA: Essas protuberâncias deixam-nos um tanto confusos, devido à nossa configuração, que, normalmente, achamos ser um padrão estético, fundamental, da espécie humana. E quase não podemos compreender em nossas condi­ções terrenas as figuras "desses homens marcianos deslizan­tes". Que diz?

RAMATIS: No vosso mundo existem atletas que alcançam além de dezesseis metros de distância, em saltos vigorosos. Desde que pudésseis demorar, abrandar esses saltos, algo de "câmara lenta", teríeis conjeturado o que os marcianos realizam normalmente e sem espanto. Não há exotismo nessa locomoção: lembrai-vos de que no reino das tartarugas ninguém acredita no salto da lebre. E por analogia, em vosso mundo, citaremos tam­bém, embora de plano inferior, o salto retardado do canguru e a agilidade dos felinos que parecem deslizar à superfície do solo. Se os marcianos já não vos conhecessem pela "televisão-inter­planetária" e pela telefotovisão, também duvidariam de vossas realidades humanas. Como vedes, tudo é relativo e na confor­midade necessária ao meio e à adaptação à forma.

PERGUNTA: Quais as características dos vestuários marcianos?

RAMATIS: Usam trajes apropriados às atividades, feitos de tecidos parecidos com o "nylon", mas que têm a propriedade de ser magnetizados, a fim de neutralizar as emanações radioa­tivas e maléficas do solo, ou os impactos vibratórios do meio ambiente astrológico.

PERGUNTA: Qual a forma e confecção dessas vestes?

RAMATIS: São roupas radioativas, confeccionadas sem botões, costuras ou excrescências, produzidas em massa, num processo alheio às vossas concepções. Enfiam-nas pela cabeça, adaptando-se hermeticamente ao corpo e possuindo a singular faculdade de auxiliarem a regulagem da pressão e da tempera­tura interna do corpo, em face das modificações do exterior. Em virtude de os glóbulos vermelhos aumentarem conforme a altitude, esse traje radioativo tem, ainda, a propriedade de atuar no campo magnético-vital que circunda a medula óssea, estimulando esta a produzir maior ou menor quota de glóbulos vermelhos para atender as alterações rápidas de altitude, muito comuns na vida marciana, que é, preferencialmente, aérea. Comumente, os trajes são de uma só peça, firmados por cintos largos, de metal ionizado, não opressivos; pois os marcianos não têm o abdome hipertrofiado como os terrícolas. Há outros tipos de vestuário, de jaqueta e calças à parte, também firmado pelo cinto ou faixa intermédia, na qual se encontra o centro de controle do magnetismo circulante no traje. Os sapatos são de material transparente, flexível, e adaptáveis exatamente aos movimentos anatômicos dos pés, que são delicados, sem as calosidades ou excrescências dos pés terrenos; pois, em vista de os recursos dietéticos já haverem eliminado os excessos de minerais circulantes mais afins à gravidade do orbe, a pressão do corpo marciano sobre o solo é suave.

PERGUNTA: Usam, então, poucos modelos ou tipos de ves­tuário?

RAMATIS: São vários os trajes, mas há um vestuário único, predominante, de tecido igual e confecção idêntica, que é o traje comum de trabalho. É flexível, de rápida adaptação aos movimentos, muito resistente às reações do exterior, com bol­sos internos facilmente acionáveis. Outro, de características apreciáveis, é o que usam para se deslocarem em viagens de turismo ou de estudos profissionais, o qual, além de auxiliar o equilíbrio termobarométrico em relação ao meio, possui minús­culo aparelho no cinto largo, que, por eflúvios símiles do radar, acusa as diferenciações energéticas suscetíveis de afetar os seus portadores. Nesse mesmo cinto conduzem um "telefonevisão" portátil e um registrador análogo ao ditafone terrestre, onde são gravados por projeção todos os assuntos desejáveis.

Enunciamos, ainda, que o traje mais importante, fruto de dezenas de pesquisas e experimentações, por vezes infrutíferas, é o que serve para as viagens interplanetárias. Esse é o vestuá­rio especial que resume, em si, todos os recursos de laboratório, defesa, controle de segurança fisiológica interplanetária, contra os imprevistos do exterior hostil. Possui notável campo magné­tico circunstante, formando uma espécie de invólucro atmosfé­rico que, envolvendo o ser, protege-o contra o atrito das rea­ções barométricas e termométricas do meio ambiente.



PERGUNTA: As vestes femininas são muito diferentes das masculinas?

RAMATIS: As mulheres marcianas vestem-se da mesma forma que os homens, embora olhos argutos possam notar gra­ciosos toques ou indícios que as identificam. Quase sempre há um pequeno emblema, um arabesco singelo, colorido e poético que distingue a figura feminina. Porém, em Marte, os afetos espirituais e fraternos sobrepõem-se a certas disposições precá­rias, muito comuns na Terra, a respeito de sexo; e, por isso, não existem quaisquer curiosidades ostensivas quanto a essas iden­tificações exteriores, pois o equilíbrio emotivo repousa nas afi­nidades eletivas de espírito para espírito, ou seja, nos afetos duradouros que visam aos planos divinos e eternos e não em quaisquer superficialismos de caráter transitório.

A mulher marciana participa, integralmente, de todas as ati­vidades comuns ou excepcionais do orbe com as mesmas prer­rogativas masculinas. E o vosso mundo também, um dia, alcan­çará o mesmo equilíbrio social e espiritual, assim que a mulher puder galgar os postos de comando mais essenciais; pois, então, ela com o seu sentimento delicado e terno, conseguirá influenciar o caráter do homem no roteiro da honestidade impoluta e do entendimento humano, operando uma completa reforma na estruturação moral da consciência coletiva.



PERGUNTA: As mulheres marcianas preocupam-se com o "maquillage"?

RAMATIS: Elas condenam todo artificialismo por ser inca­paz de superar a realidade, além de sua duração efêmera. A fisionomia pintada é contrária à beleza feminina, porque é este-sia de um mundo de bonecas e não de seres humanos. Do mesmo modo, a flor de papel, por mais perfeita que seja, não substitui nem rivaliza com a beleza agreste da rosa verdadeira.

Entre as mulheres pintadas, do vosso mundo, a beleza estética é a que resulta da mulher "mais bem pintada". No entanto, entre as que se apresentam na sua beleza natural, essa estesia também se manifesta pela mulher de "beleza mais natural". O artificialismo da pintura feminina, além de transitória, é decep­cionante porque apresenta dois contrastes ostensivos e discor­dantes: num lado, a mulher pintada, que atrai e seduz pela arte do seu artificialismo; e, no outro, a figura oposta, sem "maquil­lage", abatida, pálida, rugosa e humilhada porque esta última é que é a verdadeira; e, por isso, tem de viver o triste complexo de ser apenas a sombra da "outra".



PERGUNTA: Os marcianos crêem, então, que a pintura ou "maquillage" inferioriza a mulher?

RAMAT1S: De maneira alguma, não vão a esse extremo. Contudo, o desinteresse que a mulher marciana tem pela pintu­ra fisionômica prende-se à lógica do seu raciocínio sensato; e, também, porque a sua atração afetiva se exerce mais pelas afi­nidades espirituais do que, realmente, pelos encantos físicos. Neste ponto, há que levar em conta a distância espiritual que Marte evidencia sobre a Terra.

PERGUNTA: E como interpretam o fato de a mulher terrena se pintar, movida pela faceirice de se tornar mais atraente?

RAMATIS: Para o homem terreno, ávido de emoções e caprichos exóticos, a mulher, que o atrai exclusivamente pelos recursos artificiais da pintura, arrisca um tanto a sua ventura íntima, pois, mais tarde, na sua vida conjugal, ela terá de mos­trar-se na sua expressão verdadeira; e, então, a decepção emoti­va do homem será mais intensa porque a figura real que se lhe apresenta, na vulgaridade do lar, diverge completamente da "'outra", repleta de garridice e cores sedutoras. E como a escu­ridão muito forte, que se faz após a luz muito intensa. A não ser quando esses contrastes ilusórios são supridos pela beleza moral, pela renúncia de almas femininas excelsas, a atmosfera doméstica será destituída de encantos para o homem egotista; pois o artificialismo que ateia fogo ou põe em alvoroço as pai­xões inferiores dificilmente se acomoda às decepções fortes de tal realidade.

PERGUNTA: Os marcianos usam jóias, distintivos, orna­mentos ou enfeites? As mulheres marcianas apreciam colares, pulseiras ou decorações?

RAMATIS: Isso seria incompatível com o grau de espiritua­lidade que já alcançaram. Vivendo ardentemente o conceito de "ser útil e verdadeiro", evitam motivos ou recursos que as valorizem artificialmente. Nas estatísticas de ascensão espiri­tual, observa-se que, à medida que a alma se vai libertando das contingências das formas, vai revelando, também, que se apos­sa de uma concepção de beleza real e superior. As pinturas ber­rantes, os enfeites excessivos na forma de berloques, brincos ou condecorações, tão ao gosto terreno, lembram ainda o deleite primitivo dos silvícolas, enlevados nas suas quinquilharias e penduricalhos exteriores. Eles compensam a ausência de racio­cínio espiritual, com os entretenimentos e exterioridades infan­tis, assim como algumas seitas religiosas compensam a vacui­dade espiritual das massas na ostensividade das cerimônias idólatras e nas liturgias de colorido fascinante. O verdadeiro desapego ao mundo ilusório das formas sugestivas é apanágio das almas já afeitas ao "reino silencioso do Cristo".

PERGUNTA: Mas os enfeites humanos da Terra não deixam de revelar essa delicada estesia a que o irmão alude com refe­rência a Marte, pois são confeccionados nas mais sedutoras ourivesarias. Não acha?

RAMATIS: Embora sejam enfeites de safiras, turmalinas, diamantes, topázios ou rubis, engasgados em rendilhados de ouro ou de prata, ou pendentes de ricos colares ou, ainda, em pulseiras refulgentes – na realidade, é tudo a ingênua sublima­ção dos zulus das contas de vidro ou dos pajés com os seus penduricalhos de ossos. A diferença consiste, apenas, na quali­dade ou natureza dos objetos. As pinturas ostensivas e berran­tes, nas máscaras dos selvagens, ainda encontram o seu reflexo no "maquillage" da civilização ou nos folguedos de carnaval. Aliás, no vosso mundo, já conceituais que os homens sábios são modestos e avessos a jóias ou bens materiais. Isto vos compro­va que os descobridores dos tesouros que "a traça não rói e a ferrugem não come"' não colocam a sua ventura na transitorie­dade dos superficialismos terrenos, que se findam à beira do túmulo.

O estado espiritual dos marcianos, de maior grau evolutivo do que vós, afasta-os de exterioridades exibicionistas, tal é a riqueza de sua sensibilidade sideral. Eles preferem revestir o solo, os umbrais e os pisos dos edifícios e dos lagos, com lâminas de metais preciosos, a retalhá-las para os enfeites do corpo perecível.



PERGUNTA: É desairoso, porventura, o uso de um cronô­metro no pulso, a fim de se verem as horas que marcam a disci­plina cotidiana?

RAMATIS: Folgamos em que tenhais determinado: "a fim de se verem as horas que marcam a disciplina cotidiana"; pois confundis a função intrínseca do relógio humano com a sua virtual aparência de enfeite, o que vos leva ao uso de custosos e ricos cronômetros, mais ostensivos como "ornamentos de pulso" do que, propriamente, pela sua utilidade prática. No entanto, é comum agravardes os vossos orçamentos domésti­cos, no sacrifício do "essencial útil", como é um cronômetro para marcar as horas, pelos espalhafatosos enfeites, que são ainda um eco longínquo do bugre ornamentado de lentejoulas exóticas.

PERGUNTA: Notamos que o irmão, quando se refere às coi­sas e seres marcianos, alude a aspectos translúcidos, deixando-nos a impressão de que se refere a uma luminosidade "extra­terrena". Como poderemos assimilar a idéia desses aspectos translúcidos a que vos tendes referido diversas vezes.

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