Revisão e Editoração Eletrônica João Carlos de Pinho



Yüklə 1,94 Mb.
səhifə13/35
tarix02.03.2018
ölçüsü1,94 Mb.
#43800
1   ...   9   10   11   12   13   14   15   16   ...   35

— Pensei que tudo estivesse acabado. Nunca imaginei que depois de tantos anos a vida viesse nos pedir contas.

— Então é verdade. Esse moço pode ser Marcelo mesmo.

— Pode, meu filho. E seu pai nunca poderá descobrir minha parti­cipação nessa história, senão vai acabar comigo.

Gabriel levantou-se e abraçou-a com carinho.

— Nunca permitirei que ele toque em você, seja o que for que te­nha feito. Estou aqui para defendê-la. Você pode contar comigo incondi­cionalmente.

Obrigada, meu filho — disse ela com voz que a emoção embar­gava. — Eu sei que posso contar com você. Vou contar-lhe tudo. Na ver­dade, não agüento mais manter esse segredo.

Emocionada, Maria Júlia iniciou seu relato:

— Como você sabe, sempre tratei nossos empregados com respeito e consideração. Logo que nos casamos tivemos uma empregada que nos serviu durante alguns anos. Veio para nossa casa com quinze anos. Era de­dicada e eu gostava muito dela. Porém apaixonou-se por um dos amigos de seu pai que freqüentava nossa casa. Sem pensar em nada, entregou-se a ele e ficou grávida. Ele pertence a uma família muito importante e, cla­ro, exigiu que ela fizesse um aborto. Mas Maria recusou-se e a família dele, quando descobriu, passou a ameaçá-la, exigindo que deixasse seu filho em paz. José Luís ficou muito irritado. Mantinha boas relações com essa fa­mília, não se conteve e exigiu que Maria fizesse o aborto. Pressionada, ela me procurou pedindo ajuda e eu condoída dei-lhe dinheiro para fugir. Ela foi para Petrópolis e eu a ajudei até que nascesse o menino e ela pudesse trabalhar. A criança nasceu alguns dias depois de Marcelo. Era um lindo menino. Ela arrumou emprego em uma fábrica e foi vivendo. José Luís des­cobriu que eu a ajudava e ficou muito zangado comigo. Foi ele que uma noite atendeu o telefonema de Maria desesperada. O menino havia caí­do de uma janela do segundo andar, onde ela morava, e havia morrido. Ela não tinha dinheiro para o enterro.

— Era noite e eu, chocada, decidi viajar para Petrópolis para socor­rê-la. José Luís não queria, mas, como eu disse que iria de qualquer forma, mandou Bóris me levar. Fiquei contrariada, sempre achei que ele me vigiava, mas, naquelas circunstâncias, o que eu queria era ver Maria e fazer o possível para ajudá-la.

— Fomos. Chegando lá, o corpo do menino ainda não havia sido li­berado do hospital. Bóris foi vê-lo e não me deixou entrar, dizendo que ele caíra com o rosto nas pedras e ficara completamente irreconhecível. Tratei de confortar a mãe e quando o dia amanheceu conseguimos libe­rar o corpo para o enterro.

— Quando saímos, estranhei. Quem estava nos esperando era o car­ro do Dr. Camargo com Alberico, o motorista dele, na direção. Maria es­tava tão abalada que nem percebeu. Em vez de irmos para a casa de Ma­ria, fomos direto para a mansão dos Camargo. José Luís nos esperava na entrada, o que muito me surpreendeu.

— A família estava passando as férias de verão em Petrópolis, como faziam todos os anos. Marcelo estava dormindo, os pais haviam ido ao Rio para uma recepção. Na casa estavam apenas Eleutéria, a ama de Mar­celo, e Alberico, o motorista.

— Entramos e eu não me contive:

— "O que estamos fazendo aqui? O que está acontecendo?"

— "Tenho um plano que vou pôr em ação. Estou cansado de ficar em segundo lugar enquanto eles desfrutam do bom e do melhor. Meu pai sempre me dizia que havia sido lesado por tio Antônio na herança de fa­mília. Chegou a hora de ter de volta com juros o que me pertence."

— Assustada perguntei:

— "O que você vai fazer?"

— "Vou cuidar de tudo e você vai fechar a boca. Se abrir, vai se arrepender."

— "Onde está Maria?"

— "Dei-lhe um calmante e está dormindo. Estava muito nervosa. Quando acordar estará melhor."

— "E o enterro?"

— "Deixe por minha conta. Vai ser o maior enterro que você já viu. Com tudo de primeira."

— Eu estava cansada. Havia passado a noite, em claro e resolvi descansar um pouco. Tio Antônio nos oferecia a casa sempre que qui­séssemos, por isso fui para o quarto de hóspedes e deitei um pouco ten­tando dormir.

— Não consegui. Estava muito tensa. Ouvi vozes no quarto ao lado, levantei-me e apurei o ouvido.

— Alberico e Eleutéria conversavam.

— "É pegar ou largar. É a chance de nossas vidas. O menino já mor­reu mesmo. Não vamos matar ninguém" — dizia Eleutéria.

— "Não sei, não. Vai ser uma tragédia. O Dr. Antônio é louco pelo menino. Vai sofrer muito. Não é justo fazer isso com ele" — respondeu Alberico.

— "Qual nada. Gente rica logo esquece. Isso passa. E nós vamos fi­car ricos! Sem falar que nossa fortuna nunca vai acabar. Eles vão ter que pagar sempre para nos manter com a boca fechada. Você vai poder com­prar aquela casa que andava namorando. Já pensou?"

— Fiquei assustada. O que eles estavam tramando? Custou, mas Eleutéria convenceu Alberico.

— "Vamos levar Marcelo para a casa de D. Diva. Quando ela viajou, deixou a chave comigo para molhar as plantas e cuidar dos passarinhos."

— "O que vão fazer com ele? Não quero que nada de mal aconteça."

— "Não vão fazer nada. Só sumir com ele."

— "Sumir como?"

— "Sei lá, homem. Isso não me interessa."

— Fiquei horrorizada. Fui procurar José Luís. Ele estava reunido com Bóris a portas fechadas. Entrei na sala ao lado e tentei ouvir o que diziam:

— "Vai dar tudo certo, você vai ver" — dizia Bóris.

— "Não sei, não. Estou preocupado com minha mulher. Nunca vai aceitar uma coisa dessas. Pode dar com a língua nos dentes."

— "Ela sempre faz o que você quer. Use o mesmo argumento de sem­pre. Ela ficará calada. Depois, vai usufruir de tudo também. Será cúmpli­ce e nunca abrirá a boca."

— "É. Você está certo. Mas e o menino? O que faremos com ele?"

— "O melhor é acabar com ele."

— "Isso, não. E uma criança. Repugna-me fazer isso. Vamos levá-lo a um lugar de onde nunca poderá sair."

— "Mas ele tem quatro anos. Fala e pode nos delatar. O melhor é mesmo acabar com ele. Para vencer é preciso ter coragem. Já combinei com Eleutéria e Alberico, que levarão Marcelo para uma casa cujos donos via­jaram e ela tem a chave. Lá veremos quem vai cuidar de sumir com ele."

— "Não quero mais gente metida nisso. Ninguém mais pode saber de nossos planos."

— "E quanto a Maria?"

— "Vai dormir por algum tempo. Quando acordar, informá-la-emos que enterramos o menino."

— "Ela vai querer saber onde. Eu posso arranjar isso no cemitério lo­cal. Só preciso do nome todo dele."

— "Temos no atestado de óbito."

— Eu estava apavorada. Percebi que a vida de Marcelo corria peri­go. Mas eu ainda não havia entendido o que eles iam fazer. Esperei Bóris sair da sala para que eles não desconfiassem de mim e abordei José Luís.

— "Quero saber o que vocês estão tentando fazer."

— "Não precisa. Só tem que ficar calada."

— "Estou metida nisto e tenho o direito de saber."

— "Está certo. Você vai ter que cooperar mesmo. Marcelo acaba de morrer em um acidente de carro. O corpo ficou irreconhecível. Eleutéria e Alberico vão testemunhar e eu vou dar o atestado de óbito. Por acaso nós viemos hoje a Petrópolis e ao chegar soubemos da tragédia. Tentamos socorrê-lo, mas a morte foi instantânea. Bateu o rosto nas pedras."

— "Isso é uma loucura! Ele está vivo!"

— "Vamos enterrar o corpo do filho de Maria como sendo ele."

— "Isso nunca dará certo. É um horror! Já pensou na dor da famí­lia? O que espera ganhar com isso? Com a morte dele você não herda nada. Ainda há Cláudio e Carolina! Só uma cabeça doente poderia pen­sar uma coisa dessas!"

— "Você vai calar e fazer tudo direitinho, senão já sabe o que vai lhe acontecer."

Gabriel não se conteve:

— Por que ele domina você desse jeito? Do que tem medo?

— Trata-se de um segredo de minha família que não posso revelar. Prefiro morrer a que alguém descubra.

— Por causa disso você concordou em fazer o que ele queria!

— Foi. Concordei. Só Deus sabe como foi horrível. Fizeram tudo de tal forma que ninguém desconfiou de nada. Eu estava atormentada. Sa­bia que Bóris era perverso e eu temia pela vida de Marcelo. Depois do en­terro do corpo como sendo o de Marcelo, procurei Alberico sem que nin­guém soubesse. Ele gostava muito do menino.

— "Você tem que me ajudar. Marcelo corre perigo. Nós temos que salvá-lo."

— "D. Maria Júlia, não quero levar isso na consciência. Já chega o que eles fizeram."

— "Você sabe onde ele está?"

— "Sei. Mas eles podem tirá-lo de lá."

— "Precisamos agir depressa. Se me ajudar, não se arrependerá."

— "O que quer fazer?"

— "Salvar Marcelo. Levá-lo para longe, onde ninguém possa fazer-lhe mal."

— "Deixe comigo."

— Depois ele me contou que se comprometera com Bóris a matar o menino, na intenção de protegê-lo. Recebeu dinheiro por isso e ficou sa­tisfeito de poder enganá-los. Escondeu-o de todos alguns dias. Eu, pretex­tando abalo nervoso, convenci José Luís de que queria ficar algum tem­po no convento das irmãs onde eu fora educada e ele concordou de bom grado. Temia que eu não suportasse e acabasse pondo tudo a perder. Com­binando com elas a pretexto de ver uma amiga doente na Inglaterra, aju­daram-me a preparar a viagem sem contar para minha família.

— Essa é a mesma história que você me contava quando mandava dinheiro.

— Isso. Alberico me ajudou levando Marcelo ao aeroporto na hora do embarque. Fizemos tudo de tal jeito que ninguém desconfiou. Deixei-o no melhor colégio da Inglaterra, recomendando uma educação esmera­da. Era o mínimo que eu podia fazer por ele depois de haver compactua­do com aquela infâmia.

— Você lhe salvou a vida!

— Graças a Deus. Apesar de tudo, é isso que me conforta. Mandei-lhe dinheiro durante muitos anos. Ele estava já na universidade quando Bóris descobriu que eu remetia esse dinheiro e José Luís me pressionou para saber por que e para quem eu o mandava. Fiquei apavorada. Se eles sou­bessem o que eu havia feito, certamente me castigariam. Suspendi a re­messa do dinheiro. Eu havia deixado um recado para que ele nunca vol­tasse ao Brasil. Agora vejo que ele não atendeu.

Gabriel, pálido, segurava as mãos da mãe penalizado. Ela se arrisca­ra para salvar a vida de Marcelo.

— Mãe, ele tem o direito de reivindicar sua herança. Vocês lhe rou­baram tudo, o amor da família, os bens, até o país. Tenho a impressão de que ninguém vai poder impedir agora que a verdade apareça. Vocês não vão poder fazer nada! E Maria? O que houve com ela? Tomou conheci­mento do que aconteceu?

— Não. José Luís, a pretexto de poupá-la, internou-a em um hos­pital psiquiátrico onde fez sonoterapia por um mês. Saiu de lá arrasa­da, visitou o túmulo em Petrópolis cuja lápide tem o nome de seu fi­lho e sumiu.

— Você sabe onde se encontra?

— Não. Ela desapareceu. Nunca mais soube dela.

Maria Júlia segurou as mãos do filho apertando-as com força e olhando-o emocionada:

— Está decepcionado comigo, meu filho?

— Não, mãe. Você foi mais vítima do que culpada. Só não entendo por que se submete a ele. Conheço seu coração nobre, sua postura ética, seus sentimentos bons. Que segredo é esse que a acovarda desse jeito, fa­zendo-a suportar uma situação tão contra seus princípios?

— Sinto muito, meu filho, mas não estou ainda preparada para fa­lar sobre isso.

— Só quero ajudar. Estou e sempre estarei do seu lado. Eu a amo in­condicionalmente. Por que não confia em mim?

— Um dia, talvez. Agora não posso falar. Estou esgotada.

— Estou pensando... uma desconfiança começou a me incomodar.

— O que foi?

— A morte de Marcelo não era suficiente para fazer papai receber a herança. Tio Antônio era vivo e havia seu filho e a nora, que eram her­deiros diretos. O que eles tinham em mente quando fizeram isso? Será...

Maria Júlia sobressaltou-se tapando a boca de Gabriel com a mão:

— Não diga isso. Essa suspeita tem me incomodado a vida inteira. Tenho pesadelos com ela, não quero pensar que possa ser verdade.

— Claro, mãe. Quando eles planejaram essa fraude, pensaram tam­bém em eliminar os outros herdeiros.

— Não, meu filho. Seria demais!

— Seria muita coincidência pensar que todos os três morreram em menos de dois anos.

— José Luís não seria capaz disso. É médico!

— Um médico tem muitos recursos para acabar com quem quiser. Ele era o médico de tio Antônio.

Maria Júlia mergulhou a cabeça nas mãos arrasada. Gabriel continuou pensando alto:

— Claro. Teria sido fácil acabar com a saúde de alguém que já esta­va deprimido.

Maria Júlia levantou a cabeça:

— Mas e os outros dois? Eles morreram em um acidente de barco na Itália. Seu pai estava comigo em Paris e nunca se ausentou.

— E Bóris, onde estava?

— Ele viajou conosco para Europa.

— Esteve o tempo todo com vocês?

— Não. Ele tinha alguns amigos russos e foi passar algum tempo com eles.

— Você consegue se recordar se ele estava fora quando aconteceu esse acidente?

— Deixe-me ver... sim, estava. Você acha que ele...

— Pode perfeitamente ter se ausentado para "providenciar". Que tipo de acidente foi?

— O motor do barco explodiu e incendiou-se. Os policiais disseram que foi um curto-circuito na parte elétrica.

Gabriel segurou as mãos da mãe dizendo pálido:

— Mãe, essa situação é muito suspeita. Se eles cometeram todos es­ses crimes, temos que descobrir.

— Isso, não. Se isso for verdade, o que será de nós? Podemos ser ar­rolados como cúmplices. Eu sabia que Marcelo estava vivo e fiquei cala­da. Posso ser presa por causa disso. Eu não quero ser presa. Prefiro morrer a passar essa vergonha. Seu nome e o de sua irmã estariam para sempre na lama. A sociedade não perdoa.

— Mãe, não importa o que a sociedade pensa. Minha consciência não consegue calar diante dessa suspeita.

— Prometa que não vai fazer nada. Vai esquecer isso e pronto.

— Não posso, mãe.

— É apenas uma suspeita. Não podemos levar isso adiante.

— Uma suspeita muito justificada. Tanto que se encaixa perfeitamen­te aos fatos. Entretanto, concordo que antes de qualquer coisa temos que descobrir a verdade.

— Isso é impossível. Bóris é perigoso. Se desconfiar, sua vida cor­re perigo.

— O que não podemos é ficar à mercê de um assassino que a qual­quer momento pode querer nos matar para salvar a pele.

— Meu filho, nunca deveria ter contado.

— Ao contrário, mãe. Agora estarei de olho neles para defendê-la.

— Prometa que não fará nada sem falar comigo antes.

— Prometo. Não pretendo fazer nada de mais. Apenas observar e in­vestigar. Se tudo o que imagino for verdade, papai também está nas mãos desse marginal. Eu já suspeitava que Bóris estivesse fazendo alguma chan­tagem. Nunca vi nenhum mordomo ter tantas regalias e fazer o que ele faz. Praticamente manda em tudo e em todos. Nem você faz o que quer dentro de sua própria casa.

— Se eu pudesse, já o teria despedido. Mas seu pai não quer nem ou­vir falar nisso. ,

— Claro. Tem medo de que ele dê com a língua nos dentes.

— Pensando nisso sinto o coração apertado. Meu Deus, aonde nos levará essa desgraça?

— Não será compactuando com os erros que eles fizeram que nós vamos nos livrar. Penso até que está na hora de dar um basta e ir para o lado oposto.

— Não está pensando em fazer isso!!

— Não, mãe. O que eu quero é ir para o lado do que é certo e justo. Oprime-me ficar conivente com a maldade deles.

— A mim também.

— Nesse caso, vou investigar. Se tudo que suspeitamos for verdade, tomarei providências.

— O que pensa fazer?

— Ir viver minha vida longe daqui. Eu, você e Laura poderíamos ir morar em outra cidade e sair da vida dos dois.

— E nos separarmos de seu pai? Ele jamais vai concordar.

— Não faz mal. Iremos assim mesmo. Ele não vai poder fazer nada.

— Será um escândalo. Não podemos fazer isso. Toda a sociedade vai falar.

— A nossa felicidade vale mais do que o falatório dos desocupados. Mãe, se eles praticaram esses crimes, como poderemos viver lá com esse peso no coração? Não me sinto capaz. Você tem sofrido ao lado dele du­rante todos esses anos. Não se queixa, mas eu sei. Por que quer continuar um relacionamento que só lhe causa dor?

Maria Júlia apertou as mãos com força. Havia infinita tristeza em sua voz quando disse:

— Se eu pudesse, há muito teria feito isso. Infelizmente, não dá para fazer.

Gabriel ia retrucar, mas ela continuou:

— Você nunca gostou de seu pai, não é? Desde pequeno não o su­porta. Ele tem se esforçado em conquistar sua estima, mas nunca conse­guiu. Porquê?

— Não sei explicar. A proximidade dele me causa sensação desa­gradável. Nós não temos nenhuma afinidade. — Ele fez ligeira pausa, abraçou a mãe com carinho e prosseguiu: — Já com você é diferente. Gosto de ficar a seu lado, sentir seu perfume, beijar seu rosto, abraçá-la. Compreendemo-nos.

Maria Júlia apertou o filho nos braços com amor:

— Você é meu tesouro. Por mim, você nunca tomaria conhecimen­to dessas coisas.

— Não sou ingênuo. Cresci, mãe. Sou um homem, quero estar a par de tudo, defendê-la como merece, cuidar de sua felicidade. Seja o que for que acontecer, nunca a deixarei.

Os dois permaneceram silenciosos, abraçados, sentindo-se bem den­tro do afeto que os unia.

Capítulo 12
Daniel entrou no escritório eufórico.

— Elza, conseguimos. O juiz deferiu nosso pedido. Rubinho apareceu na porta de sua sala:

— Verdade? Você leu o parecer?

— Li. Marcou prazo para apresentação das provas em juízo para se­rem analisadas.

— Puxa! Finalmente. Não agüentava mais esperar. Temos que avi­sar Alberto. Ele vai ficar radiante.

— Vou telefonar a Lanira.

— Faça isso. Agora temos que seguir adiante. Se Jonas obtiver aque­las provas, estamos feitos.

— Ele deu notícias?

— Por enquanto, não. Vou telefonar a ele para contar a novidade e saber como vão as investigações.

— Se ele tivesse conseguido as provas, já teria nos procurado.

— É. Mas não custa tentar.

Na hora do almoço, quando os dois conversavam com Alberto, La­nira apareceu:

— Vim almoçar com vocês para comemorar.

— Faço questão de pagar esse almoço — disse Alberto.

— Não posso sair agora. Marquei com um cliente. Vão vocês — res­pondeu Rubinho.

— De modo nenhum. Sem você, nada feito — disse Lanira.

— Nesse caso, convido-os para um jantar, onde quiserem.

— Pretendia sair com Marilda — respondeu Rubinho. — Ela está com uma amiga que chegou do exterior e combinamos jantar juntos.

— Se não se importa, poderemos levá-las conosco. Fica por minha conta — sugeriu Alberto.

— Não teremos liberdade para falar de nossos assuntos — comen­tou Daniel.

— Vamos conversar agora. À noite poderemos ir a um lugar alegre, dançar, ouvir música. Estou precisando espairecer, aliviar a tensão — tor­nou Alberto.

— Boa idéia — interveio Lanira. — Vocês têm trabalhado muito e terão ainda muito mais a fazer daqui para a frente. Marilda é a filha do Dr. Edmundo?

Foi Daniel quem respondeu:

— É. Ela anda dando voltas à cabeça de Rubinho.

— Ela dá voltas à cabeça da maioria dos rapazes do Rio de Janeiro. É muito bonita, elegante, mas muito reservada. Nunca conversei com ela — considerou Lanira.

— E muito agradável. Temos nos encontrado algumas vezes, como amigos — esclareceu Rubinho.

— Fale a verdade — disse Daniel sorrindo.

— Estou dizendo. Por enquanto somos só amigos.

— Bem, eu gostaria muito — disse Alberto. — Acho que seria bom aparecer publicamente. Ainda ontem, na empresa onde trabalho, um ami­go do diretor quis conhecer-me. Quando fui apresentado ele disse: "Fui ami­go do Dr. Camargo. Você me recorda muito ele. Seu sorriso, seu jeito de olhar, seu andar. Estou impressionado". Meu avô tinha muitos amigos. Era querido, admirado. Essa semelhança é uma prova de que sou mesmo Marcelo.

— Acho que tem razão. Aliás, muitos amigos meus têm pedido para conhecê-lo. Estão morrendo de curiosidade. Muito bem. Falarei com Ma­rilda. Se ela concordar, iremos.

Marilda concordou e combinaram jantar em uma boate. Às oito, Da­niel foi buscar Lanira em casa. Não entrou para não encontrar o pai. Man­dou a criada avisá-la e Maria Alice ficou olhando atrás da cortina quan­do Lanira, linda em seu vestido verde-escuro, saiu e entrou no carro. O marido não havia chegado ainda. Daniel poderia ter entrado para abra­çá-la. Sentia o coração oprimido.

Essa situação era insustentável. Sentiu raiva do marido. Ele não ti­nha moral para expulsar o filho de casa. Era um homem de aparência. Por fora, irrepreensível; por dentro, cheio de hipocrisia. Ela estava can­sada de tolerar aquela ligação com a secretária. Todo o Rio de Janeiro sa­bia que eram amantes. Ela fingia ignorar na tentativa de conservar a dig­nidade. Mas sentia-se humilhada, deprimida, desvalorizada. Até quan­do suportaria?

Tinha uma filha para casar. Precisava manter as aparências para não prejudicá-la. Depois, enquanto fingia não saber, não era obrigada a tomar nenhuma atitude. Era uma vítima e eles é que eram os culpados.

Ela estava torcendo para Daniel ganhar aquela causa só para ver a cara de Antônio. Ele ficara contra o filho, do lado errado. Se isso acon­tecesse, ele com certeza procuraria Daniel para prestigiá-lo e usufruir do sucesso dele.

Suspirou angustiada. Sentia-se só e deprimida. O que seria de sua vida quando Lanira se casasse e deixasse a casa? Onde encontrar forças para manter um casamento fracassado como o seu? As lágrimas estavam pres­tes a cair e Maria Alice reagiu. Não queria que nenhum dos criados a vis­se chorar. Respirou fundo, apanhou uma revista e acomodou-se no sofá ten­tando ler.

Quando Daniel e Lanira chegaram na boate, Alberto já estava lá, mui­to elegante. Lanira admirou-se:

— Como você está elegante! — comentou.

Ele sorriu e ela notou que mesmo sorrindo seus olhos continua­vam tristes.

— Para sair com vocês eu precisava caprichar. Você está bonita como sempre.

Daniel olhou-os surpreendido. Vira um brilho de admiração nos olhos de Alberto e inquietou-se um pouco. Ele estaria interessado em Lanira? Não gostaria que ela se envolvesse com ele. Arrependeu-se de haver con­cordado com esse jantar. Porém Alberto adotara uma postura discreta e Daniel acalmou-se. Ele estava apenas sendo educado.

O lugar era fino e bonito. Iluminação discreta, música ao vivo, am­biente requintado e agradável. Alguns pares dançavam na pista.

— Que bom estar aqui! — comentou Lanira.

— Vamos dançar? — pediu Alberto.

Ela concordou e saíram dançando enquanto Daniel deixava-se ficar ouvindo a beleza do blues e tomando seu aperitivo. Estava tão absorto em seus pensamentos que só percebeu a chegada de Rubinho acompanhado das duas moças quando ele tocou levemente seu ombro. Levantou-se ime­diatamente, cumprimentando Marilda.

— Quero apresentar-lhe minha amiga Lídia Vasconcelos.

Daniel fixou os olhos nela e o sangue fugiu de seu rosto. Estaria so­nhando? A mulher de seu sonho estava diante dele. Mais jovem, mas os mesmos cabelos dourados, os mesmos olhos verdes. Atordoado, balbuciou:

— Como disse?

— Esta é Lídia, minha amiga de infância.

Daniel respirou fundo tentando dominar-se. O mesmo nome! Esta­ria enlouquecendo?

— O que foi? — estranhou Rubinho. — Você parece que viu fan­tasma. Aconteceu alguma coisa?

— Não. Nada. Desculpe. Estava distraído. Muito prazer — disse ele estendendo a mão que ela apertou olhando-o nos olhos.

— Não nos conhecemos de algum lugar? — perguntou admirada. Daniel estremeceu:

— Não. Acho que não.

— Você já esteve em Nova York? Eu morei lá durante muitos anos.

— Conheço Nova York, mas não tive o prazer de encontrá-la.


Yüklə 1,94 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   9   10   11   12   13   14   15   16   ...   35




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin