Revisão e Editoração Eletrônica João Carlos de Pinho



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Ele passou a mão pelos cabelos e remexeu-se na cadeira. Fundo sus­piro saiu de seu peito.

— Desde quando você percebe que sai do corpo? — indagou Josefa com interesse.

— Eu saí do corpo? — respondeu ele assustado.

— Saiu. Desde quando vem sentindo essas sensações? — repetiu ela.

— Há algum tempo tenho tido sonhos esquisitos.

— Esquisitos, como?

— É melhor contar — interveio Lanira.

— Se ele não quer, não precisa. O que eu desejo é que Daniel per­ceba que tem essa capacidade. Que pode deixar o corpo, encontrar-se com pessoas, deste mundo e do astral, e lembrar-se depois. O que aconteceu esta noite? Não precisa explicar, só contar o que foi.

Daniel inquietou-se um pouco:

— Explicar eu não saberia mesmo. Dormi e sonhei que estava em uma sala onde encontrei...

— Quem? — indagou Josefa com naturalidade.

— Bem, por mais estranho que possa parecer, com o Dr. Camargo. Alberto estremeceu. Ele bem que sentira a presença do avô. Daniel

continuou:

— Ele disse coisas estranhas que não entendi muito bem. Disse que eu não estava me lembrando do passado.

— E natural. Você está reencarnado. Não se preocupe com as expli­cações. Descreva só as palavras que ouviu.

— Não sei se devo. Ele tratou de um assunto muito particular que envolve outras pessoas e que eu não me sinto autorizado a falar.

— Nesse caso — disse Josefa —, o melhor é você apanhar uma fo­lha desse papel e escrever tudo que se lembra. Não omita nada. É prová­vel que muitas coisas que ele lhe disse você esqueça amanhã. Faça isso ape­nas para fixar a memória. Enquanto isso, passemos para a outra sala, va­mos tomar nosso café.

Enquanto eles se dirigiram à sala ao lado, Daniel apanhou o papel e o lápis, procurando lembrar-se do que ele dissera. Foi fácil. Pareceu-lhe es­tar novamente naquela sala e ouvir tudo de novo. Escreveu tudo, dobrou o papel e guardou-o no bolso.

Embora Marcelo, Rubinho e Lanira estivessem curiosos para saber o que o Dr. Camargo tinha dito, tiveram que esperar até que todos os pre­sentes se despedissem. Quando se viram a sós com Josefa, Marcelo pediu:

— Agora conte o que disse meu avô.

— Nesse caso, vou até a cozinha — disse Josefa.

— Prefiro que fique — tornou Marcelo. — Conto com sua ajuda para nossa causa.

— Ele tem razão. Precisamos da opinião de quem entende desse as­sunto — concordou Rubinho.

— Tia Josefa é perfeita para nos ajudar — confirmou Lanira. Daniel tirou o papel do bolso, leu tudo e finalizou:

— O mais engraçado é que eu queria falar e não podia, mas ele sa­bia tudo que eu estava pensando e respondia. Chegou a falar de Lídia. Isso me emocionou muito. Ele disse que eu era a porta para a libertação de D. Maria Júlia e de Gabriel. Não acreditei, mas ele confirmou várias vezes.

— Eu senti que D. Maria Júlia podia não ser cúmplice — lembrou Rubinho.

— Eu gosto muito de Gabriel. Ele é uma pessoa especial — decla­rou Lanira.

— Mas continuo não entendendo por que eu. Ele quer que eu me aproxime deles. Depois que abrimos o caso na justiça, eles estão contra mim. Não vão confiar, por mais boa vontade que eu tenha. Ele pediu, mas não vai dar certo.

— Se ele pediu — interveio Josefa com voz firme —, é porque vai ajudar. Quando os espíritos querem, eles fazem acontecer. Não duvide. Fi­que atento. Quando chegar a hora, não perca a oportunidade.

— Só se for um milagre — tornou Daniel.

— Vocês aqui em uma sessão já é um milagre. Daniel com essa mediunidade! Que beleza!

— Preferiria não ter que passar por essas emoções. Fico inseguro, não consigo controlar.

— E natural. Você foi criado dentro de regras e de conceitos racio­nais. Tem medo de tudo que sua cabeça não consiga explicar. Quando es­tudar melhor a natureza, descobrir os potenciais do espírito, suas possibi­lidades, perceberá a riqueza da vida e como você é privilegiado por já es­tar maduro a ponto de desfrutar desses conhecimentos.

Eles continuaram conversando um pouco mais e combinaram voltar na semana seguinte e participar de outra sessão. Nessa noite, Daniel, dei­tado em sua cama, rememorando tudo quanto havia acontecido, perce­beu que a vida era muito mais do que ele acreditava que fosse.

O passado, embora esquecido, ainda repercutia no presente. Atitu­des antigas ainda se repetiam atraindo os problemas não resolvidos. Pes­soas e fatos novos apareciam em seu caminho, desafiando suas emoções, obrigando-o a rever conceitos, modificar crenças, confrontar sentimen­tos. Mas apesar de tudo isso, ele sentia que era um caminho sem volta que, uma vez aberto à sua frente, ele teria que trilhar.

Capítulo 13


Alberto saiu do escritório da empresa em que trabalhava e olhou o relógio. Passava das oito. Tivera uma reunião importante com os mem­bros da diretoria e, apesar de cansado, sentia-se muito satisfeito. Fora promovido e além do salário*bom havia ainda a possibilidade de progre­dir muito.

Sentiu vontade de dividir com alguém aquela alegria. Pensou em Lanira. Ela o atraía muito. Bonita, elegante, alegre, inteligente. Tinha todas as qualidades que ele desejava em uma mulher.

Chegou em seu apartamento dez minutos depois e ligou para ela convidando-a para dar uma volta.

— Eu vou. Só que não posso voltar tarde. Está bem?

— Está. Passarei em sua casa dentro de dez minutos.

Ela foi se arrumar. Seus pais haviam ido a uma recepção e só estariam de volta depois da meia-noite. Ela pretendia chegar antes deles para não ter que dar explicações. Sabia que eles não concordariam que ela saísse com Alberto. Principalmente o pai, que o tinha como falsário.

Uma vez no carro com ele, Lanira disse:

— Hoje estou como cinderela. Terei que voltar antes da meia-noite. Ele riu alegre. Ela continuou:

— Você deveria rir mais. Fica muito melhor sem aquele ar de tragé­dia que costuma ter.

— É que estou alegre. Fui promovido hoje. Vou poder comprar aque­le carro novo que eu queria.

— Parabéns! Por isso quis sair.

— Foi. Queria dividir com alguém minha alegria. Sempre fui tími­do, nunca tive com quem compartilhar minhas emoções. Vocês são meus únicos amigos.

— Deve ter sido duro para você ter vivido toda a sua vida sozinho, sem família.

— Foi. Durante muitos anos acreditei ter sido rejeitado por meus pais. Isso me tornou retraído, desconfiado. Apesar de tudo, fiquei aliviado ao descobrir a verdade.

Ao lado de Lanira, Alberto sentia vontade de falar de sua vida, de seus sentimentos. O olhar dela como que penetrava nele de tal sorte que ele se sentia seguro o bastante para fazer confidencias como nunca fizera com ninguém antes.

Lanira sentia que ele se posicionava com sinceridade e isso a emo­cionava. Sentia que podia confiar nele. Desde que começaram a ir todas as semanas às sessões em casa de tia Josefa, eles haviam se aproximado mais. A tia os convidava para o chá nas tardes de domingo ou para conversar aos sábados à noite quando reunia em casa alguns amigos.

Como Daniel não comparecia e Rubinho preferia sair com Marilda, apenas Alberto e Lanira gostavam desses encontros em que se podia con­versar de tudo, principalmente de assuntos espirituais.

Naquela noite eles conversaram muito não só sobre o trabalho dele como também sobre sua forma de ver a vida. Percebendo o interesse dele, que várias vezes segurara sua mão e fizera menção de abraçá-la e até de bei­já-la, Lanira resolveu conversar.

— Gosto muito de você — disse de repente. — Mas não estou pron­ta para namorar.

— O quê? — disse ele surpreendido.

— O que você ouviu. Gosto de você, mas não pretendo namorar ninguém. Tenho horror ao casamento, pelo menos por enquanto. Noto que você está sentindo atração por mim. Não desejo que nossa amiza­de acabe.

— Quer dizer que se eu quiser namorar você, acaba nossa amizade?

— Se você se apaixonar, vai querer controlar minha vida, insistir, e não vai dar mais para sermos amigos. Eu quero manter nossa amizade.

Sem que ela esperasse Alberto abraçou-a e beijou-a longamente nos lábios. Apanhada de surpresa, Lanira sentiu o coração disparar e um for­te rubor subiu-lhe nas faces. Ele a largou, respirou fundo, depois abraçou-a novamente, beijando-a apaixonadamente.

Lanira não soube o que dizer. A surpresa paralisara-a. Nunca ninguém fizera isso com ela. Ficou sem ar e não conseguiu articular palavra. Alber­to apertava sua mão e iria beijá-la de novo quando ela conseguiu dizer:

— Por que fez isso?

— Porque não consegui me controlar. Desde que a conheci, deseja­va beijá-la.

— Você não devia ter feito isso. Não ouviu o que eu disse? Não pre­tendo namorar.

— Se não quer me namorar, o que posso fazer? O que eu não pude foi olhar para você sem beijá-la.

Olhando-a nos olhos, ele fez menção de beijá-la novamente. Ela o empurrou dizendo:

— Vamos embora. Leve-me para casa. Você não deveria ter feito isso. Ele ligou o carro e levou-a para casa. Foram em silêncio durante todo

o trajeto.

— Você está zangada?

— Estou.


— Não tem razão — apanhou a mão dela e levou-a aos lábios com carinho. — Não quis ofendê-la. Foi mais forte do que eu. Ainda agora sin­to uma vontade louca de beijá-la de novo.

— Vou entrar. Boa noite.

Ela abriu a porta do carro e saiu apressada. Seu coração batia forte e ela correu para dentro sem olhar para trás.

Alberto suspirou fundo. Aquele beijo deixara-o excitado e ele inti­mamente sentiu que faria tudo para ter aquela mulher. Acionou o carro pensando no que faria para conquistar definitivamente o amor de Lanira. Ia tão distraído que nem percebeu que seu carro estava sendo seguido.

Ao chegar diante do prédio de apartamentos em que morava, colo­cou o carro na garagem e foi esperar o elevador quando, de repente, sur­giram dois homens mascarados apontando um revólver e agarraram-no. Um deles disse:

— Fique calado senão você morre! É um assalto. Alberto sentiu um arrepio de medo.

— O que vocês querem? Podem levar o dinheiro.

— Nós queremos você. Vamos andando.

Empurraram-no e um deles imediatamente colocou um capuz na ca­beça de Alberto, que, atordoado pela surpresa, foi jogado para dentro de um carro que arrancou em alta velocidade.

Rodaram durante algum tempo em silêncio, sem responder as pergun­tas que Alberto de quando em quando fazia. Por fim pararam e ele foi pu­xado para fora. Entraram em uma casa e ele sentiu um cheiro forte de mofo. Tiraram seu capuz e um deles o empurrou para dentro de um peque­no aposento, fechando a porta pelo lado de fora.

Alberto passou os olhos pelo quarto. A casa era antiga. Havia uma janela de madeira, com uma trava de ferro e um cadeado. Uma cama de solteiro, um criado-mudo com um abajur barato, o mesmo cheiro desagra­dável de mofo. Havia outra porta que Alberto abriu. Era um pequeno ba­nheiro. No alto um pequeno vitrô que ele imediatamente abriu para que entrasse um pouco de ar.

A noite estava quente. Alberto tirou o paletó e a gravata, abrindo a torneira da pia e molhando o rosto na tentativa de refrescar um pouco.

Quem seriam aqueles homens? Se fosse um assalto, teriam levado seu carro, seu dinheiro, até subido a seu apartamento para roubar. Mas não. Angustiado, ele se lembrou do pedido de Jonas para que tivesse cuidado.

Por que não lhe dera ouvidos? Aqueles homens só podiam ser man­dados por José Luís e Bóris. Se isso fosse verdade, sua vida estava corren­do sério perigo. Eles fariam tudo para livrar-se dele. Se não o mataram à queima-roupa foi porque pretendiam fazê-lo de forma a não despertar ne­nhuma suspeita.

Tentou forçar a porta do quarto, mas foi inútil. Ele ouvira o ruído do carro saindo. Eles o haviam deixado só. Foi até a janela, mas não tinha como abri-la.

Em sua angústia, lembrou-se do avô. Ajoelhou-se ao lado da cama e rezou pedindo ajuda. Só Deus poderia socorrê-lo naquela hora difícil.

Lanira entrou em casa nervosa. Até então Alberto havia sido come­dido, respeitoso. O que dera nele para beijá-la daquele jeito? Apesar de tudo, ela sentia o coração bater descompassado quando recordava aque­les beijos. Sempre se julgara imune à tentação e ria quando os rapazes lhe dirigiam galanteios.

Deveria ter reagido com mais força. Mas ao mesmo tempo estreme­cia lembrando-se do brilho dos olhos dele, do beijo carinhoso em sua mão. O que estaria acontecendo com ela? Estaria ficando fraca?

Deitou-se mas custou a dormir. A lembrança dos beijos de Alberto não a deixava e ela se inquietava, virando na cama, tentando encontrar uma explicação para o que estava sentindo.

Na manhã do dia seguinte Rubinho procurou Daniel dizendo:

— Estou esperando Alberto para fazermos aquela reunião sobre a au­diência e ele não apareceu. Liguei para o escritório dele: não foi trabalhar.

— Ligou para o apartamento ?

— Ninguém atende.

— Estranho. Ele nunca faltou a nenhuma reunião nossa. Tem cer­teza de que ele sabia que era hoje?

— Tenho. Ontem falei com ele para confirmar.

— Vou ligar para o apartamento novamente.

Daniel tentou mas o telefone tocou, tocou e ninguém atendeu.

— Vai ver que ele saiu. Logo deve estar chegando.

Mas chegou a hora de almoço e ele não apareceu. Rubinho ficou preocupado:

— Vou até a casa dele.

— Vou com você.

Chegaram ao prédio onde Alberto morava e falaram com o portei­ro. Ele só vira Alberto sair para o trabalho no dia anterior.

— Eu fui bater no apartamento porque achei a chave do carro dele no chão da garagem, perto do elevador. Mas ninguém atendeu. Como o carro dele está na garagem, pensei que ele deve ter saído com algum ami­go e nem percebeu que derrubou a chave.

Os dois advogados olharam-se assustados.

— Tem certeza de que o carro dele está na garagem?

— Tenho. Vocês podem ver.

Os três foram ao subsolo e viram o carro.

— O zelador tem as chaves dos apartamentos. Somos os advogados dele. Achamos que ele está correndo perigo de vida. Vamos examinar o apartamento.

O zelador imediatamente abriu o apartamento, mas lá não havia ninguém.

— O que faremos? — disse Daniel. — Vamos chamar a polícia?

— Vamos avisar Jonas.

Dali mesmo ligaram para Jonas informando-o do ocorrido. Em me­nos de meia hora ele estava no apartamento de Alberto com um investi­gador. Examinaram tudo e não encontraram nada.

— Ao que parece ele não entrou em casa. Tudo indica que chegou aqui, colocou o carro na garagem e quando ia tomar o elevador deve ter sido agredido e levado para algum lugar — concluiu o investigador.

— Espero que não o tenham matado — disse Jonas. — Eu preveni. Estamos lidando com assassinos da pior espécie. Nós o vigiamos, mas nem sempre pudemos estar ao lado dele.

— O que faremos? — perguntou Daniel inquieto.

— Marcos vai avisar no departamento dele para que dêem uma bus­ca. Precisamos de fotos.

Eles procuraram no apartamento e encontraram algumas em um álbum.

— A audiência será dentro de uma semana. Foi por causa disso que eles agiram — lembrou Rubinho.

— Se ele não comparecer, o trabalho será prejudicado — comentou Daniel.

— Se ele estiver morto, eles serão indiciados. Isso eu prometo. Com as provas que tenho, nós os colocaremos na cadeia — disse Jonas.

— Se ele estiver vivo em algum lugar, nós o acharemos. Estou co­meçando a implicar com esses malvados. Depois de tudo quanto fize­ram com o moço, ainda querem dar cabo dele. Vou me empenhar, vo­cês vão ver.

— Vou redobrar a vigilância em Bóris. Não podemos perder um mi­nuto. O Dr. José Luís nunca faria nada pessoalmente. Bóris é quem dá as cartas para ele. É nele que precisamos centrar nossa atenção.

— Você está certo, Jonas — concordou Daniel. — A amante dele também tem que ser vigiada.

— Pode deixar — garantiu Jonas. — Vamos embora. Nada mais te­mos que fazer aqui.

Deu um cartão ao zelador, dizendo:

— Qualquer coisa estranha que aconteça, ligue para nós. Qualquer pista pode ser a chave para salvar Alberto.

Rubinho e Daniel voltaram ao escritório preocupados. Daniel ligou para Lanira e contou-lhe o que havia acontecido.

— Estivemos juntos ontem até as onze e meia — disse ela assustada.

— Verdade? Seria bom que viesse até aqui para nos contar tudo.

— Irei. Pode esperar.

Naquela tarde, Maria Júlia procurou Gabriel.

— Queria que você me acompanhasse a uma visita a Carolina. Ele a olhou admirado, mas ela lhe fez pequeno sinal e ele respondeu:

— Está certo. Quando quer ir?

— Agora. Prometi estar lá antes das quatro. Quando se viram no carro, ela disse:

— Precisamos conversar. Estou preocupada.

— Aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu. Ouvi José Luís conversando com Bóris. Eles preten­dem resolver definitivamente o caso com Marcelo.

— Como assim? Ele vai dizer a verdade?

— Nada disso. Eles querem acabar com ele. Gabriel parou o carro dizendo nervoso.

— Um crime? Com isso nós não podemos consentir. Temos que dar parte na polícia.

Maria Júlia agarrou o braço do filho dizendo aflita:

— Isso não! Você não vai fazer isso.

— Mãe, não podemos permitir que eles tirem a vida de uma pessoa. Isso é crime e não estou disposto a carregar esse peso.

— Polícia, não. De forma alguma. Temos que arranjar outro jeito.

— Tem certeza do que está dizendo? O que você ouviu?

— Eles estavam falando em voz baixa. Não me viram. Eu ia ao ca­beleireiro, cheguei a ir até o carro, mas mudei de idéia, voltei e sentei-me na poltrona do hall para descansar üm pouco. A porta do escritório esta­va aberta e eles conversavam. Bóris dizia:

— "Ele já está preso lá. Temos que decidir como vamos fazer. Ele não pode comparecer à audiência de jeito nenhum. Estive lendo os autos. Eles têm inúmeras provas. Temos que agir depressa. Vou falar com Antunes e faremos tudo de jeito que pareça acidente."

— "Não quero mais gente metida nisso. Você pode fazer tudo sozinho."

— "Não dá. Antunes ajudou-me a apanhar o pato, não vai abrir o bico. Tem mais interesse em ficar calado do que nós. Depois, ele gosta mui­to de dinheiro."

— "Esse é meu medo. Dinheiro. Ele pode querer chantagear, como Eleutéria."

— "Antunes não fará isso. Já tem trabalhado para nós e fez tudo direitinho. Aceita o dinheiro e pronto. Nunca fez chantagem."

— "Está bem. Faça isso. Mas não quero que ninguém desconfie."

— Então, meu filho — finalizou * -íaria Júlia —, eu saí dali e fui es­conder-me no quarto.

— Mãe, é fora de dúvida que eles pretendem acabar com o moço. Temos que ir à polícia. Não podemos deixar isso acontecer. Estou choca­do. Ele ameaçou você! Quer vingar-se. Temos que denunciá-lo.

— Prometa que não fará isso. Pelo amor de Deus!

Por que tem tanto medo assim, mãe? Há alguma coisa que não me contou?

— E que, quando a polícia descobrir a verdade, serei presa como cúmplice. Fiquei calada durante todos esses anos.

— Arranjaremos bons advogados. Você foi coagida. Teve medo.

— Ainda assim, não quero que vá à polícia.

Ela apertava o braço dele desesperada. Vendo sua aflição, ele não insistiu.

— Acalme-se. Vamos pensar em outra coisa. Você não pode deixar que eles saibam que escutou a conversa. Tenho medo de que se voltem mais ainda contra você. Vamos nos acalmar e pensar em outra solução.

— Isso sim.

— Enquanto isso procure se acalmar. Trate de controlar-se para que em casa ninguém note nada.

Gabriel fez o que pôde para que Maria Júlia ficasse mais calma, en­tretanto ele se sentia preocupado, aflito.

— Seria bom que você fosse mesmo ao cabeleireiro, porque assim nin­guém desconfiaria de nada.

— Não estou com disposição para isso.

— Por isso mesmo. Vai fazer-lhe bem e não despertará suspeitas. Deixá-la-ei lá e mais tarde virei buscá-la.

Depois de deixá-la no cabeleireiro, Gabriel entrou no carro preocu­pado. Ele precisava fazer alguma coisa. Mas o quê? Sua mãe temia a polí­cia. O jeito era tentar encontrar Marcelo e libertá-lo. Mas para onde o te­riam levado? Precisava descobrir.

Inquieto, não conseguia deixar de pensar, tentando encontrar uma solução satisfatória. A cabeça doía-lhe, e quanto mais pensava menos en­contrava saída. A única coisa que ele sabia era que não queria que esse cri­me se consumasse. Precisava fazer alguma coisa, mas o quê?

Passava das seis quando apanhou a mãe no cabeleireiro e voltaram para casa. Ele, recomendando-lhe calma, foi para o quarto. Precisava pensar, encontrar uma alternativa. Precisava vigiar Bóris. Ele estava em casa, ficaria atento, não iria dormir. Se ele saísse, iria atrás sem que ele notasse.

Apesar disso, Gabriel não conseguia acalmar-se. De repente um te­mor o assaltou. E se Antunes fizesse tudo sem Bóris, para não despertar suspeitas? Levantou-se da poltrona e começou a andar de um lado a ou­tro do quarto. Ele não podia esperar. Um minuto poderia ser tarde demais. Tinha que fazer alguma coisa.

Decidido, apanhou o telefone e ligou para Lanira. Pouco depois ela estava ao telefone:

— Alô.

Como vai, Lanira?



— Gabriel!!

— Sim. Desculpe incomodá-la, mas preciso conversar com você ur­gente. Por favor.

— Está certo.

— Vou passar aí dentro de dez minutos. Obrigado por me atender.

— Estarei esperando.

Ela desligou e Maria Alice aproximou-se interessada:

— Era o Gabriel?

— Era. Vamos dar uma volta. Ele quer conversar.

— Vai ver que se arrependeu e deseja reatar a amizade.

— Pode ser, mamãe.

Lanira não disse que percebera o nervosismo dele. Sua voz estava trêmula. O que ele desejaria? Teria alguma coisa a ver com Alberto?

Quando ele passou, ela já estava no portão esperando. Ele desceu do carro e, depois de cumprimentá-la, disse:

— Vamos dar uma volta.

Ela entrou no carro e ele tornou:

— Estou muito angustiado e, nesse momento, a única pessoa que eu senti que poderia ajudar-me é você. Por isso, apesar de tudo resolvi pro­curá-la. Você ainda sente alguma amizade por mim?

— Claro. Devo lembrar que telefonei várias vezes e foi você quem nunca quis me atender.

— Eu sentia vergonha. Entretanto, hoje, em minha angústia, você não me saiu do pensamento. Eu preciso que me ajude. Eu queria ir à po­lícia, mas minha mãe não quer de forma alguma. Ela tem medo. E eu não quero que nada de mal lhe aconteça.

— Você sabe alguma coisa sobre o desaparecimento de Alberto?

— Sei o suficiente para ficar apavorado. Temos que fazer alguma coisa. Impedir que eles cometam esse crime.

— Temos que pedir ajuda para Daniel e Rubinho. Sozinhos não po­demos fazer nada. E bom que saiba... que estamos lidando com crimino­sos.. . — ela parou com medo de magoá-lo.

Ele finalizou:

— Perigosos. Ninguém mais do que eu sabe disso. Antes eu nada sa­bia, mas, agora que eu sei, não desejo de forma alguma ser cúmplice des­se crime. Temos que impedir, e não sei como. É melhor não falar com Da­niel e Rubinho. Eles irão à polícia e tudo estará perdido. Minha mãe não vai suportar.

— Não há outro jeito. Infelizmente sua mãe foi cúmplice deles e por causa disso você não pode deixar que outro crime aconteça. Ela pre­cisa reconhecer isso.

— Ela não foi cúmplice. Foi coagida por eles. Ameaçada. Arriscou a própria vida para salvar Marcelo da morte e cuidou de seu bem-estar en­quanto lhe foi possível.

— Nesse caso, ela deveria juntar-se a nós e não defender esse homem que infelizmente é seu pai.

— Nunca nos demos bem. Apesar das aparências, ele sempre mal­tratou minha mãe. Ela suportou tudo. Estou sempre me perguntando por quê. Se ela tivesse querido separar-se dele, eu a teria apoiado. Mas não sei, às vezes chego a pensar que existe algum segredo, alguma coisa que a im­pede de fazer isso e que a obriga a suportar tudo que ele quer.

— Pode ser. Nunca tentou descobrir?


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