Revisão e Editoração Eletrônica João Carlos de Pinho



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— Vou ligar para Gabriel e pedir — disse Daniel.

— Faça isso. Mandarei um homem buscar.

Daniel telefonou para Gabriel, que atendeu ao primeiro toque.

— Alô.


— Gabriel, até agora nada. Eles desapareceram sem deixar nenhu­ma pista. Jonas precisa de fotos recentes dos dois para rastrear a busca.

— Vai ver que saíram do país — disse ele nervoso. — Conheço meu pai. Ele não se arriscaria a ficar aqui depois de ter tomado uma ati­tude dessas.

— É possível que ele tenha viajado com falsa identidade. Acha que ele teria como fazer isso?

— Acho. Vou dar uma busca no escritório dele ver se acho algu­ma pista.

— Arrume as fotos. Isso é urgente.

— Está bem. Sei onde há algumas. Pode mandar buscar.

Daniel desligou prometendo que ligaria a qualquer notícia. Jonas conversava com o delegado:

— Vamos dar um aperto no malandro. Daniel, que se aproximava, avisou:

— Gabriel disse que sabe onde estão as fotos. Pode mandar buscar. Disse também que vai dar uma busca no escritório dele.

— Vou mandar alguém que possa ajudá-lo nessa busca. Agora vamos ver como Bóris reage à traição do cúmplice.

Marques mandou levar o russo para uma sala onde fazia os interro­gatórios. Jonas entrou com ele enquanto Rubinho e Daniel em outra sala ouviam a conversa que estava sendo gravada.

Ouviram o delegado dizer:

— Tenho uma péssima notícia para você.

Bóris olhou e não respondeu. Marques continuou:

— Acho melhor abrir o jogo. Seu patrão fugiu ontem à noite levan­do a mulher sob a mira de uma arma. Desapareceu. Suspeitamos que te­nha viajado para o exterior. Abandonou você.

— Vocês estão mentindo. Não acredito em nada disso.

— Ligamos para o advogado dele, que respondeu que não tem mais nada a ver com ele e muito menos com você. Ele se retirou do caso.

— Isso não é verdade. Quero falar com meu advogado agora.

— Vou fazer-lhe a vontade. Tem aqui um telefone. Pode ligar. Bóris apanhou o telefone que o delegado havia colocado sobre a mesa e discou.

— Quero falar com o Dr. Eugênio... é um cliente dele.

— Alô.

— Doutor Eugênio? É Bóris. Quero que venha aqui agora. O dele­gado está me contando uma história e eu não acredito.



— Sinto muito, Bóris, mas não sou mais advogado do Dr. José Luís. Retirei-me do caso.

— E eu?


— Também. Procure outro. Estou fora.

— Não pode fazer isso comigo!

— Quando aceitei o caso, não sabia tudo a respeito. Vocês menti­ram. Tenho um nome honrado a zelar e não posso me envolver em um caso tão desastroso. Passar bem, Bóris. Faça o favor de não ligar mais para minha casa.

Bóris desligou o telefone com mãos trêmulas. Por mais que tentasse controlar-se, fingir, seu rosto estava pálido, em seus olhos havia um bri­lho de rancor.

— Acredita agora? — disse Jonas.

— Você está sozinho para levar a culpa de tudo. Não tem ninguém para defendê-lo. Vai pegar muitos anos de cadeia. Aliás, levantamos sua ficha e você cometeu vários delitos usando outras identidades. Chegou a hora de responder por seus crimes.

Bóris trincou os dentes com raiva. Aquele cachorro covarde tinha fu­gido sem pensar nele. Havia de pagar caro por essa traição.

— Se você confessar tudo que sabe sobre o Dr. José Luís, arranjare­mos um advogado para você e tentaremos reduzir sua pena.

— Quando ele desapareceu?

— Ontem à noite.

— Deve ter viajado para o exterior.

— Não estava na lista de passageiros — disse Jonas.

— Ele tinha passaportes falsos.

— Você sabe em nome de quem?

— Não. Ele sabe onde conseguir um e deve ter feito isso. Ele sem­pre pensa em tudo. Planeja com detalhes e se prepara com cuidado para nada dar errado. A estas horas já deve estar chegando em outro país.

— O que o faz ter tanta certeza? — indagou o delegado.

— Sempre foi o plano dele. Se um dia a coisa estourasse, ele sairia do país, mudaria a identidade e ninguém nunca o encontraria.

— Você precisa cooperar e contar tudo que sabe. Nós temos que encontrá-lo.

— Ele só tem um ponto fraco: a paixão pela mulher. Sempre disse que isso iria levá-lo à loucura.

— Ele a obrigou a ir junto — disse Jonas.

Ele deixaria tudo, menos ela. Depois, ela sabe muito.

— Gabriel acha que ela corre perigo. Ele seria capaz de maltratá-la?

— Ele fica furioso quando ela o despreza/ É capaz de qualquer coisa nessa hora. Ele nunca deveria tê-la levado junto. Assim que ele descui­dar, ela vai denunciá-lo. É agarrada aos filhos e tem raiva dele. E ela quem vai pôr tudo a perder. Bem feito! Sempre disse que ele não deveria con­fiar nela. Separar-se. Deixá-la seguir seu caminho. Se tivesse feito isso quando eu disse, nada disso teria acontecido.

— Agora é tarde para falar isso. Você está perdido. É melhor contar tudo que sabe.

— Já falei tudo.

— Lembra-se de Alberico e de Eleutéria? — perguntou Jonas.

— O que é que tem? Alberico era o motorista e já morreu, que eu sei. Quanto a Eleutéria, a ama do menino, desapareceu desde que ele mor­reu. Nunca mais soube dela.

— Deixe de ser mentiroso — interveio o delegado. — A audiência do caso vai ser hoje à tarde. Se quer que eu faça alguma coisa em seu fa­vor, comece a falar de verdade.

— E bom saber que Eleutéria foi intimada pelo juiz a comparecer na audiência de hoje — interveio Jonas.

Bóris remexeu-se na cadeira inquieto:

— Como assim? Sabem onde ela está?

— Não só sei como tenho algumas provas contra ela. Bóris levantou-se irritado:

— Não pode ser! Vocês estão querendo me enganar.

— Acho que estamos perdendo tempo com ele — disse o delegado a Jonas. — Vamos embora.

Os dois fizeram menção de sair. Bóris não se conteve:

— Esperem. Que provas têm contra ela?

— Todas — respondeu Jonas. — Levantamos a vida dela desde que deixou os Camargo. Ela vai ter que provar na justiça como arranjou tan­to dinheiro. Além disso, ela fala muito com o marido. Temos algumas gra­vações dessas conversas que são muito claras. É bom dizer também que le­vantamos todos os depósitos em dinheiro que você leva à casa de sua amante Pola e que ela deposita na conta de Eleutéria todos os meses.

Bóris estava trêmulo e pálido. Foi naquela hora que tomou consciên­cia de que estava perdido. Eles sabiam de tudo. Fora traído por José Luís. Estava sozinho naquela enrascada.

De repente Bóris foi acometido de um acesso de raiva. Seu rosto de pálido passou ao rubor e seus olhos fuzilavam de ódio. Gritou nervoso:

— Eles me pagam! Se eu cair, levo todos comigo! Não vai sobrar nin­guém, nem a mulher intocável, a responsável por nossa desgraça.

— Fale. Conte tudo. Talvez eu possa diminuir sua pena — tornou o delegado.

Jonas aproximou-se dele e olhando-o nos olhos disse com firmeza:

— Sabemos quem ajudou a criar a identidade falsa do menino, mas Eleutéria disse para o marido que foi você quem matou os pais do garoto naquele acidente.

— Ela disse isso? Ela me paga! E bom saber que não fui eu quem fez isso. Foi ele quem planejou tudo nos mínimos detalhes. Eu só arranjei as pessoas para realizar tudo. Mas quem envenenou o Dr. Camargo foi ele. Foi ele! Ele matou o próprio tio para roubar a herança. Eu não fiz nada. Só cumpri o que ele mandou para salvar minha pele. Creia. Ele me chantageava. Eu cometi alguns erros no passado, ele sabia. Eu fui obrigado a fazer o que ele mandou. Senão ele dizia que ia me denunciar. Eu seria pre­so e talvez expatriado para a Rússia. Eu tinha medo!

— Saiba que tudo quanto você disse aqui foi gravado. Vou mandar tirar uma cópia dessa confissão e você vai assinar agora mesmo.

Bóris estremeceu e olhou-os assustado:

— Por que não me avisaram que estavam gravando?

— Isso não importa agora. Você disse o essencial. Se foi obrigado a fazer tudo quanto seu patrão mandou, se foi ameaçado, essa confissão ser­virá para atenuar sua culpa.

A um gesto do delegado, um dos policiais que estavam guardando a porta pegou o braço de Bóris, convidando-o a voltar para a cela.

Jonas e Marques saíram da sala satisfeitos e foram para a sala ao lado, onde estavam Daniel e Rubinho.

— Deu certo — disse o delegado. — Depois de hoje, Bóris não po­derá mais negar nada. Que trama! Vários crimes!

— Há muito estávamos desconfiados de que a troca de identidade do menino era apenas uma parte da verdade. Só a morte do garoto não daria a José Luís a posse da tão cobiçada fortuna. Ele precisava ir mais lon­ge. E ele foi!

— Ele envenenou o Dr. Camargo! — disse Rubinho admirado.

— Acabou com os pais de Marcelo! Eles morreram em um horrível acidente! Tudo programado por eles!

— Chegou a hora de esclarecermos todos esses crimes — garantiu Jonas com satisfação. — Essa história vai sacudir a alta sociedade do Rio de Janeiro. Vocês serão os heróis!

— Estou preocupado com a captura dele. Assim que a bomba estou­rar, a imprensa vai publicar em manchetes! Se ele souber, pode querer vingar-se em D. Maria Júlia. Em minha opinião ela tem sido uma vítima — tornou Daniel.

— Gabriel me disse que muitas vezes pensou na possibilidade de sua mãe estar sendo chantageada pelo marido. Ela ficava apavorada quando pensava em desobedecer a suas ordens — lembrou Rubinho.

— Se ele estiver fazendo isso, vamos descobrir. Estou sentindo que chegou a hora da verdade e que toda essa história vai ser desvendada — garantiu Jonas.

— Faro de policial! — comentou o delegado sorrindo. — Podem crer, nunca falha.

— Alberto precisa saber de tudo — disse Rubinho. — Precisamos vê-lo para preparar nossas providências para a audiência de hoje à tarde. Eleutéria pode não comparecer.

— Meus homens estão vigiando-a de perto. Se ela tentar fugir, eles darão voz de prisão — informou Jonas.

— Gostaria de ter uma cópia da confissão de Bóris — pediu Rubi­nho. — Vou entregá-la ao juiz durante a audiência e pedir-lhe que, após tomar conhecimento dela, inclua-a no processo.

— Acho que com isso vocês ganharam definitivamente esta causa. Só vão faltar as providências legais — disse Jonas.

— De posse dessa confissão, farei uma investigação completa sobre as mortes dos Camargo, solicitarei a abertura de um inquérito para apu­ração dos fatos e a punição dos culpados — completou o delegado.

— Enquanto isso, continuarei investigando o paradeiro dele — tor­nou Jonas.

O escrevente entrou e entregou algumas folhas de papel ao delega­do. Ele apanhou, leu e tornou:

— Está tudo aqui. Agora vou lá para que ele assine.

— Deixe-me fazer isso — pediu Jonas —, quero conversar um pou­co com ele a sós. Tenho impressão de que ele pode nos ajudar a encon­trar nosso homem.

— E uma boa idéia — concordou Daniel. — Ele mentiu quando disse que estava sendo ameaçado pelo Dr. José Luís. Pelo que sei, era o con­trário. Ele mandava e desmandava em casa do patrão e todos faziam o que ele queria, inclusive o dono da casa. Gabriel nos contou isso várias vezes.

— Ele é matreiro. Mesmo na crise de ódio em que se encontrava ar­rumou um jeito para tentar salvar a pele. Eu encorajei para que ele se abrisse, mas nunca acreditei nesse pedaço. Trata-se de um criminoso cal­culista, mau. Conheço o tipo. Todo cuidado com ele é pouco — tornou o delegado.

O investigador que fora buscar as fotos do casal entrou e entregou um grande envelope nas mãos do delegado, que abriu e colocou as fotos so­bre a mesa.

— Pode escolher as que quiser. Vou mandar copiá-las para distribuir aos companheiros.

Jonas escolheu uma de cada um e respondeu:

— Vou reproduzir estas fotos para minha equipe e nossos contatos no exterior.

— Eu gostaria que Bóris assinasse essa confissão para irmos embora logo. Estamos sem tempo de esperar mais — pediu Rubinho.

O delegado respondeu:

— Vou com você, Jonas, pego a assinatura e saio. Você fica e con­versa com ele.

Os dois foram e dentro de alguns minutos Marques voltou olhando os dois advogados com satisfação:

— Tudo pronto. Ele relutou um pouco, quis ler, mas no fim acabou assinando. Vou tirar cópias para vocês.

Alguns minutos depois eles saíram levando o precioso papel na pas­ta. Conforme o combinado, Alberto já deveria estar no escritório espe­rando para as últimas providências antes da audiência. Passava do meio-dia e não tinham tempo para almoçar.

— Vamos embora — disse Rubinho. — Pediremos a Elza que com­pre um lanche para nós.

Ouvindo os detalhes da confissão de Bóris, Alberto empalideceu e não conseguiu ocultar a emoção.

— Sempre suspeitei da morte de meus pais, contudo nunca pensei que ele tivesse envenenado meu avô. Essa revelação me choca e entriste­ce. Que espécie de homem é esse, que foi capaz de tanta maldade?

— É difícil dizer — respondeu Daniel. — Principalmente tratando-se de um médico, que tem fama de caridoso, de homem bom, educado. Ele sempre foi muito respeitado na melhor sociedade do Rio de Janeiro. Era amigo de minha família! Meu pai tinha para com ele especial deferência.

— Tanto que você precisou deixar sua casa quando resolveu assumir minha causa.

— Para ver como eles estavam enganados — disse Rubinho. — Tam­bém fui pressionado por minha família para abandonar o caso.

— Ainda bem que escolhi vocês. Agora posso dizer que foi o espíri­to de meu avô, que tem me acompanhado e que aprovou essa escolha. Ele sabia que podia contar com a competência e com a honestidade de vocês.

Pode ter certeza de que não esquecerei o que vocês estão fazendo por mim. Não só quanto aos honorários, mas também com a amizade e gratidão. Têm em mim um cliente para sempre.

— Espero que não tenha mais nenhum crime para ser desvendado — brincou Daniel.

— Mas terei os negócios para assumir e a gestão da fortuna. Vocês vão me ajudar a fazer isso.

— Tudo bem — concordou Rubinho. — Agora vamos trabalhar. Temos a audiência logo mais. O tempo é curto.

— Vou ligar para Gabriel e Lanira. Contar como estão as coisas.

— Ela está com ele? — perguntou Alberto com interesse. Daniel estava ao telefone e foi Rubinho quem respondeu:

— Está. Foi dar um apoio.

— Já notei que ele gosta dela. Estão namorando? Rubinho olhou-o curioso e respondeu:

— Oficialmente, não. Por quê, também está interessado nela?

— Confesso que ela me atrai. Acha que tenho chance?

— Não sei. Lanira é uma incógnita para mim. Sempre foi muito cor­tejada, mas nunca a vi dizer que estava gostando de alguém. Só se refere a Gabriel como amigo.

— Não é o que ele quer. Seus olhos brilham quando se fixam nela.

— Já percebi. Eles saem muito juntos. Ela diz que gosta da compa­nhia de Gabriel. Mas vamos ao nosso assunto. Temos pouco tempo.

Daniel telefonou para casa de Gabriel, que atendeu ao primeiro to­que. Ouvindo a voz de Daniel, indagou:

— Alguma novidade?

— Sim. Conseguimos a confissão completa de Bóris.

— O que foi que ele contou?

— Agora não tenho tempo. Temos a audiência daqui a pouco. Quan­do eu voltar, passarei em sua casa e conversaremos melhor. Quanto à sua mãe, ainda não temos nenhuma notícia. Jonas pegou as fotos e vai distri­buir para todos. Ele está tentando arrancar de Bóris alguma provável pis­ta. Agora preciso ir. Assim que sair da audiência, irei à sua casa.

Daniel desligou e ficou pensando na situação de Gabriel. Não teve coragem para contar-lhe pelo telefone a extensão dos crimes que seu pai cometera. Sabia que ele estava deprimido e preocupado, não queria per­turbá-lo ainda mais. Pessoalmente, com calma, revelaria a verdade.

Gabriel desligou o telefone e Lanira perguntou:

— E então?

— Bóris confessou, e acho que isso resolve o caso para Alberto e para Daniel e Rubinho. Quanto à minha mãe, nada ainda.

Lanira apanhou a mão dele, apertando-a com carinho e dizendo:

— Fique calmo. Tia Josefa disse que iria reunir os médiuns e fazer uma corrente espiritual. Ficou de ligar se tiver alguma orientação.

— Numa hora dessas, só Deus pode nos ajudar.

— Vamos confiar e esperar.

— Bóris confessou e por certo não poupou ninguém. Ele odeia ma­mãe porque ela sempre foi contra tudo quanto eles faziam.

— O que pode valer a palavra dele contra a do próprio Alberto? Ele é grato à sua mãe. Ela lhe salvou a vida e o sustentou, deu-lhe boa educa­ção, custeou seus estudos e só não lhe deu um diploma universitário por­que foi impedida. Depois, Daniel e Rubinho garantiram que tudo farão para defendê-la. Até Jonas está do lado dela.

Gabriel suspirou fundo e iria responder quando Laura entrou no quar­to olhando-o assustada:

— O que estão fazendo no quarto de mamãe? O que está acontecen­do aqui? Jazilda disse que papai e mamãe sumiram, que a polícia esteve aqui. Por que não me avisaram?

Gabriel pegou a irmã pelo braço e fê-la sentar-se. Respirou fundo e respondeu:

— Vou contar-lhe tudo. Infelizmente estamos vivendo uma tragédia.

— Aconteceu algum desastre com eles? Fale logo. O que Lanira está fazendo aqui?

— Lanira está nos ajudando.

— Acho que depois do que Daniel está fazendo contra nossa famí­lia, ela nunca deveria entrar nesta casa.

— Lanira não é culpada do que nosso pai fez. Ele, sim, é o respon­sável por tudo quanto estamos passando agora. Apontou uma arma e obri­gou mamãe a acompanhá-lo. A polícia está à procura deles. Bóris está preso e confessou toda a culpa dele e de papai. Ele pode ser preso a qual­quer momento.

Laura empalideceu, passou a mão pelos cabelos enquanto sacudia a cabeça negativamente:

— Não posso crer! Isso não pode ser verdade! Vocês estão todos en­ganados. E uma calúnia. Você não pode acreditar em uma coisa dessas.

— Eu gostaria que não fosse verdade Laura. Infelizmente é. A polí­cia descobriu tudo. A ama que ajudou a forjar aquela farsa, a confissão de Bóris, e, como se isso não bastasse, a fuga de papai quando viu que esta­va perdido e que tudo viria à tona.

Laura começou a chorar e Gabriel abraçou-a com carinho dizendo:

— Laura, nós estamos juntos. Não temos culpa de nada. Ele fez o

que fez, mas nós somos pessoas de bem. Vamos erguer a cabeça e seguir

em frente. Temos que enfrentar essa situação com coragem. Deus há de

nos ajudar.

Lanira olhou-os emocionada. As lágrimas rolavam por suas faces e ela se deixou ficar assim, olhando-os abraçados, sem saber o que dizer para con­fortá-los. Aquele momento era deles e ela respeitava sua dor. Esperava que, quando tudo passasse, eles pudessem refazer suas vidas e continuar.


Capítulo 20
Passava das seis quando Daniel chegou em casa de Gabriel. Lanira ainda estava lá tentando confortar Laura, que entrara em terrível depres­são. Para ela, era difícil suportar a idéia da vergonha, da perda da posição de destaque que ocupavam na sociedade, do dinheiro e do poder.

Havia momentos em que voltava a dizer que todos estavam engana­dos e que seu pai haveria de aparecer com provas para desmascarar toda aquela farsa que estava sendo urdida contra ele.

Nesses momentos, Gabriel procurava convencê-la da inutilidade de conservar aquela ilusão. Ele tinha provas de que tudo quanto Alberto afir­mara em juízo era verdade.

Quando Daniel entrou na sala onde os três estavam, ela o olhou com raiva e gritou:

— O que ele está fazendo aqui? Veio tripudiar sobre a nossa vergo­nha? Vangloriar-se da lama que está atirando sobre nossa família?

Apanhado de surpresa, Daniel não respondeu. Foi Gabriel quem disse:

— Cale-se, Laura. Você não sabe de nada. Mamãe corre perigo e Daniel está tentando nos ajudar a encontrá-la.

— Ela nunca correria perigo ao lado de papai. Vocês estão todos loucos!

— Ela só soube agora e ainda está em estado de choque — disse Ga­briel. Voltando-se para Laura, continuou: — É melhor ir para seu quarto. Tenho que conversar com Daniel.

— Não. Quero ficar e escutar tudo que vão dizer. Você acreditou em tudo porque não gosta de papai. Eu sei que você tem raiva dele.

— Você não .sabe o que está dizendo. Se quer ficar, fique, mas se não ficar calada ponho-a para fora da sala. O assunto é muito sério e não te­mos tempo a perder. Sente-se, Daniel, e diga. Tem alguma notícia deles?

— Por enquanto, não. Jonas está tentando. Esteve conversando com Bóris, que lhe deu algumas informações. Alguns dados sobre contas ban­cárias no exterior e sobre quem lhe teria fornecido passaportes falsifica­dos. Nesta hora Jonas já deve ter feito contato com o falsário. Pode pelo menos saber os nomes que eles devem estar usando.

Laura, atenta, não perdia nada do que eles diziam e começou a sen­tir que realmente algo de muito grave estava acontecendo. Tudo aquilo seria verdade?

— Como foi a audiência? — indagou Lanira com interesse.

— Bem, levamos a confissão de Bóris e isso certamente deu força para resolver tudo. Como prevíamos, Eleutéria não compareceu e assim Jonas teve o pretexto para prendê-la. A polícia vai trazê-la de São Paulo, pelo menos para prestar declarações. O juiz ficou muito impressionado com a confissão de Bóris. Vai estudar os autos, dar a sentença quanto ao reco­nhecimento de Alberto como sendo Marcelo Camargo. Depois, vai abrir um processo-crime para apuração de todos os fatos relatados na confissão de Bóris. Aguarda apenas a conclusão do inquérito policial para isso.

— Ela ficará presa? — indagou Gabriel.

— Pouco tempo. Ainda não temos como prendê-la. Não tem ain­da culpa formada e mesmo que tivesse é primária. Mas isso não impor­ta. Durante o processo, sua culpa será provada e ela terá que responder pelo que fez.

— Se ficar em liberdade, ela pode tentar fugir — disse Lanira.

— Não conseguirá. A polícia está vigiando seus passos. Seria deti­da se tentasse deixar o país.

— Como conseguiram arrancar a confissão de Bóris? — pergun­tou Gabriel.

— Quando ele soube que seu patrão havia fugido, ligou para o ad­vogado. O Dr. Eugênio abandonou o caso, alegando que quando assu­miu desconhecia a culpabilidade do cliente. Em vista das provas contrá­rias ao que seu cliente lhe dissera, ele se julgava no direito de recusar-se a continuar defendendo-o. Estava pronto a subestabelecer a procuração. Então Bóris teve uma crise de raiva. Sentiu-se traído, abandonado, e contou tudo.

— Vocês acreditaram! — gritou Laura com raiva. — Ele, sim, é cul­pado. Papai fugiu de medo dele. Garanto que quem fez tudo foi ele.

— Ele não merece a confiança de ninguém — interveio Gabriel. — Mas nunca faria tudo isso sozinho. O que foi que ele contou?

— Sua confissão foi além de nossas expectativas. Disse coisas mui­to graves, que, se confirmadas, darão ao caso novas dimensões.

— O que foi que ele disse?

— Como Laura sugeriu — respondeu Daniel —, ele pode estar men­tindo para vingar-se do Dr. José Luís. Portanto, vamos aguardar as inves­tigações da polícia.

— Você está querendo nos poupar — tornou Gabriel, preocupado. —Sei que Bóris é perigoso, mas também sei que eles agiam de comum acor­do. Ele pode estar dizendo a verdade. O que mais ele confessou?

— Deixemos isso para mais tarde. E melhor.

— Não, Daniel. Temos o direito de ser informados de tudo. Por fa­vor. Conte-nos a verdade.

Daniel respirou fundo e depois decidiu:

— Está bem. Ele contou que o acidente que matou os pais de Mar­celo foi provocado e que a morte do Dr. Camargo não foi natural.

Gabriel deixou-se cair em uma poltrona sem encontrar palavras para responder. Lanira interveio:

— Trata-se apenas de uma hipótese. Bóris não merece crédito.

— Tudo é possível — tornou Daniel. — Em todo caso, a polícia vai investigar. A verdade vai aparecer.

Gabriel passou a mão pela testa em um gesto desesperado. A situa­ção poderia ser pior do que ele imaginara.

— Tantos crimes por causa de posição, dinheiro! E pensar que mi­nha mãe está nas mãos dele! Temos que encontrá-la. Cada minuto pode ser precioso.


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