Revisão e Editoração Eletrônica João Carlos de Pinho



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O perfume das mulheres misturava-se ao perfume das flores dos en­feites arrumados com gosto e em profusão.

O ambiente era agradável e Lanira deixou-se envolver pela magia do lugar. Fosse pela situação singular que ela estava vivendo, pelo mistério que cercava o caso que estavam tentando resolver, pelo perfume gostoso que vinha de Gabriel, em cujos braços ela se sentia leve, ou pela música romântica e bem tocada, ela se sentiu viva. Nunca o prazer de dançar fora tão intenso, nem a proximidade de alguém tão agradável.

O rosto de Lanira ganhara vivacidade. Seus olhos brilhavam e seus lábios entreabertos pareciam querer beber toda a alegria de viver. Gabriel, fitando seu rosto expressivo, não se conteve:

— Como você é linda! Eu queria que essa música nunca acabasse!

Aconchegou-a mais de encontro ao peito e ela se deixou ficar, sen­tindo a respiração dele perto de seu rosto, o calor que vinha de seu corpo forte, a sensação de euforia que ela não tentou explicar.

Quando a música acabou, ele a largou e conduziu-a de volta à mesa onde Laura e Daniel conversavam.

— Preciso deixá-la. Tenho que dar atenção a algumas pessoas, mas quero dançar novamente com você.

Ela sorriu e concordou com a cabeça. Ele se afastou. O olhar de La­nira seguiu-o enquanto ele parava aqui e ali, sorrindo para uns, conver­sando ligeiramente com outros. Ela. teve que reconhecer que ele era um anfitrião impecável. Percebeu que ele cumpria todas as regras que a sociedade considerava de bom tom. Notava-se que recebera excelen­te educação.

Seu olhar deteve-se em Maria Júlia. Vendo-a, podia entender por que Gabriel era tão bem-educado. Seu porte de rainha, sua roupa de clas­se, seu charme, sua simpatia faziam de sua casa um ponto alto de relacio­namento que a mais alta sociedade se orgulhava de freqüentar. Seu mari­do, homem bonito, elegante e discreto, possuía a arte de manter uma boa conversa. Todos, sem exceção, achavam-no encantador.

Observando tudo isso, Lanira sentiu um pouco de preocupação. O que eles pretendiam fazer não seria uma injustiça? E se Alberto estivesse en­ganado? E se eles não tivessem nada a ver com aquele caso?

A uma música lenta, Daniel convidou Laura para dançar e Rubinho, que estivera circulando pelos salões, sentou-se a seu lado.

— Estive conversando com Bóris — disse ele baixinho.

Lenira meneou a cabeça pensativa, depois perguntou:

— Descobriu alguma coisa?

— Não. Foi uma conversa informal. Só de aproximação. Sabe como é. Preciso de algum tempo para ganhar sua confiança.

— Não sei, não. Observando o Dr. José Luís, D. Maria Júlia, o res­peito e a consideração que desfrutam na sociedade, não sei se faremos bem levantando esse caso.

— Por quê? Está com medo?

— Estou. Não de enfrentar as conseqüências, mas de mexer com isso e descobrir que Alberto estava enganado. Já pensou que pode ter ha­vido uma coincidência de nomes e eles não serem os responsáveis?

— As provas que Alberto tem me parecem bastante conclusivas.

— Trata-se de mexer com pessoas altamente respeitáveis. E se esti­vermos enganados?

— Por isso ainda não abrimos a ação. Estamos investigando. Só quando confirmarmos todas as provas entraremos na justiça.

— Concordo. Em sociedade é fácil destruir a reputação de uma pes­soa, o difícil é reverter a situação se ela for inocente.

— Quanto a isso, pode ficar tranqüila. Tanto eu quanto Daniel estamos interessados em fazer justiça, não em difamar pessoas inocen­tes. Gabriel não tira os olhos de você. Vou dar uma volta para que ele se aproxime.

Rubinho levantou-se e foi para a outra sala. Lanira fingiu-se interes­sada em observar os pares que rodopiavam pelo salão. Logo Gabriel se aproximou:

— Posso me sentar?

— Por favor.

— Em que estava pensando?

— Nada de mais. Observava o baile. Sua festa está maravilhosa.

— De fato. Foi idéia de minha mãe. A princípio eu não queria, mas agora penso que fiz bem em concordar.

— Sua mãe tem muito bom gosto. Sabe receber.

Pelos olhos dele passou um brilho de emoção quando disse:

— Ela sabe o que fazer em qualquer circunstância.

— Tem muita classe. Seu pai é um homem feliz.

Ele ficou sério e mudou de assunto. Lanira teve impressão de que ele não gostava de falar no pai. Para amenizar a situação, Lanira perguntou a respeito de seu barco. Então seu rosto se distendeu e ele passou a discor­rer sobre ele com entusiasmo.

Daniel, dançando com Laura, tentava conduzir o assunto para onde lhe interessava.

— Nós não conversávamos desde uma festa de aniversário em sua casa, anos atrás. Acho que foi quando Lanira fez quinze anos.

— Tanto tempo assim?

— Faz. Nós fomos a várias festas e reuniões em sua casa, mas você nunca estava. Não gosta de festas?

— Não gosto muito de formalidades. Nessas ocasiões algumas pes­soas me parecem muito cheias de regras, a maledicência anda solta e eu prefiro ignorar essas coisas.

— Sei o que quer dizer. Também não gosto de bajulação nem de ma­lícia, mas gosto de festas. Adoro música, adoro dançar, adoro belas rou­pas, lugares requintados, classe, arte, beleza. Prefiro não me privar desses prazeres só porque há pessoas maldosas e fúteis que freqüentam esses lu­gares. Para dizer a verdade, eu as ignoro, não lhes dou ouvidos, mas não me isolo como você. Estou viva e participando, desfrutando de todas as alegrias da vida. Não permito que elas me afetem.

Daniel olhou-a admirado.

— E tem conseguido?

— Tenho. Nossa família freqüenta muito a sociedade e eu penso que isso seja uma forma de valorizar nossa posição. Além do que temos obri­gações sociais a cumprir.

— De que forma?

— Somos uma classe privilegiada. Uma minoria que teve a felicida­de de estudar, de viajar, de possuir bens. Temos que devolver isso traba­lhando em favor das classes mais pobres. Você sabe como é. Seus pais tam­bém participam.

— Sei. Festas beneficentes em favor de entidades filantrópicas.

— Isso mesmo. Minha mãe dedica boa parte de seu tempo à carida­de. Sempre a acompanho.

— Por prazer ou por obrigação?

— Vou porque quero. Minha mãe não me obriga.

— Ah!...


— Soube que você e Rubinho abriram um escritório de advocacia.

— Ê verdade.

Ela sorriu, hesitou um pouco e depois disse:

— Contra a vontade de seus pais. Como estão indo?

— Estamos no começo. Por enquanto pequenas causas sem grande repercussão. O que é bom para praticar.

— Se vocês quisessem, poderiam subir depressa. Tanto seu pai como o de Rubinho têm boas amizades. Estou sendo indiscreta tocando nesse assunto?

— De forma alguma. O que está dizendo não é segredo para ninguém. Talvez você não tenha condições de entender. Sempre fez tudo que seus pais queriam.

— Eles só desejam meu bem.

— Mas você não é eles, é outra pessoa. O que parece bom para eles talvez não o seja para você. Cada pessoa é diferente.

— Não gosto de correr riscos desnecessários. Eles têm experiência. A música acabou e Daniel conduziu Laura para a mesa onde Lanira

e Gabriel conversavam. Daniel afastou-se a pretexto de procurar Rubinho. A conversa com Laura o entediara. Ela era bem a filha do distinto casal. Educada no mais moderno figurino da alta sociedade do Rio de Janeiro. Quando fosse oportuno, faria um casamento de conveniência e passaria o resto da vida tentando esconder a infelicidade, cuidando das aparências e desempenhando seu papel.

Ela representava tudo quanto ele não aceitava e estava lutando para sair. Vendo Rubinho conversando animadamente com Bóris, fi­cou observando a certa distância. Quando viu que o mordomo se afas­tou, aproximou-se.

— Então, conseguiu alguma coisa interessante? Rubinho pegou Daniel pelo braço, dizendo:

— Ele me contou suas aventuras antes de vir para o Brasil. Está aqui desde 1927. Trata-se de um homem esperto e culto. Tenho impressão de que ele é mais do que um simples mordomo para o Dr. José Luís.

— É?

— Não vai ser fácil arrancar alguma coisa dele. Me pareceu ser o ho­mem de confiança de seu patrão.



— Deve conhecer tudo quanto aconteceu naquele tempo.

— Com certeza. Mas como fazê-lo falar?

— Ele não vai dizer nada.

— Eu mencionei a morte de Marcelo. Disse que minha mãe havia nos contado que fora uma tragédia horrível. Depois perguntei:

— "Você trabalhava para o Dr. Camargo naquela época?"

— "Sim. Fazia quase um ano que eu estava aqui."

— "Minha mãe era amiga de D. Carolina. Ela sofreu muito com o acidente. O Dr. Antônio adoeceu por causa disso.”

— "É verdade. O Dr. José Luís cuidou do tio com dedicação, mas ele não conseguiu mais recuperar a saúde. Perdeu o gosto de viver."

— "Minha mãe não esquece a tragédia desta família. Por fim o Dr. Cláudio e D. Carolina também morreram de forma inesperada."

— "Toda família tem sua tragédia. Eu também perdi toda a minha família na revolução. O que fazer? É preciso se conformar, levar a vida para a frente."

Rubinho calou-se. Daniel ficou pensativo por alguns instantes, de­pois perguntou:

— Você notou alguma coisa nele durante a conversa?

— Só quando falei do desastre que vitimou os pais de Marcelo. Por um segundo seus olhos brilharam emotivos. Foi uma fração de segundo, logo ele voltou a ser como antes.

— Isso não significa muito. Ele mencionou a guerra, onde perdeu a família. Isso pode tê-lo emocionado.

— E verdade. Ou ele sabe mais sobre o desastre que vitimou os pais do Marcelo. Nunca pensou como esse acontecimento foi conveniente para o Dr. José Luís?

— Você quer dizer que a morte deles pode ter sido provocada? — sus­surrou Daniel olhando para os lados com medo que alguém o ouvisse.

— Vamos para o jardim. Lá estaremos mais à vontade. Uma vez sentados em um banco, Rubinho respondeu:

— Se eles raptaram o menino e simularam sua morte por causa da herança, precisavam afastar os outros dois. Eles haviam herdado toda a for­tuna do pai.

Daniel passou a mão pelos cabelos pensativo:

— Você acha que não foi acidente? Que eles foram assassinados?

— É uma suposição lógica. Era a única forma de se apossarem da herança.

— Tem razão. Isso ainda me parece impossível. Olhando para eles, é difícil acreditar que tudo isso seja verdade.

— As aparências enganam.

— Aproveitar-se de uma situação, criar uma farsa por ambição pode ser tentador para algumas pessoas, mas chegar ao crime, eliminar os primos!

Estou quase certo de que eles fizeram isso. De que adiantaria toda a farsa se os pais do menino estavam vivos, gozando de boa saúde? Daniel respirou fundo.

— Você acha que seria possível descobrir alguma pista sobre isso?

— Não sei. Mas podemos tentar. Amanhã mesmo vamos visitar a se­pultura deles, ver a data da morte, procurar os jornais da época. Fazer as investigações preliminares.

— Vamos falar com Jonas, ele é investigador. Além disso, é muito

meu amigo e nos ajudará.

— Boa idéia. Voltaram ao salão.

— Lanira está indo muito bem — comentou Rubinho. — Veja, está dançando com Gabriel. Ele está fascinado e ela está sabendo tirar parti­do disso.

— Para você ver como as mulheres são. Para elas, fingir é fácil. Eu

não consegui nada com Laura.

— E que você não se empenhou. Antes de ir, já estava contra.

— Veja: meu pai conversando animadamente com o Dr. José Luís. Quando ele descobrir o que estamos fazendo, vai querer me matar.

— Está com medo?

— Não. Mas sei que não vai ser agradável. Antônio conversava animadamente com José Luís:

— Você não pode querer que ele volte — dizia ele com ênfase.

— Não se trata de minha vontade. Você sabe que nunca gostei de

Getúlio.


— Você diz isso, mas freqüentava o Catete com assiduidade.

— Claro. Você também andou lá. Era uma ditadura. O que podía­mos fazer? Porém nunca fui getulista. Mas em eleição é o voto que conta. Dutra só ganhou porque foi indicado por ele. Agora que o deixaram can­didatar-se, você vai ver. Ele vai ganhar mesmo.

— Não acredito que nosso povo possa ser tão ignorante. José Luís riu ao responder:

— Não? Você vai ver. Seria melhor você ter se candidatado pelo

Partido Trabalhista.

— Isso nunca. Sempre fui da UDN.

— Não sei, não. Está se arriscando.

— Você pelo menos vai votar em mim.

— Claro. Como sempre fiz. Você terá os votos dos nossos, como sempre. Acho até que vai conseguir ir para o Senado.

Maria Alice, segurando delicadamente uma taça de vinho branco, con­versava animadamente com Angelina:

— Veja Lanira dançando com Gabriel.

— Muito interessados por sinal — comentou Angelina.

Maria Alice olhou os dois e pensou: Lanira estaria interessada em Ga­briel? Desde que chegaram que ele só dançava com ela. Sorriu satisfeita. Ele seria o genro ideal para ela! Bonito, elegante, educado, rico. Era mui­to cedo para pensar nisso, mas a idéia era-lhe muito agradável.

Vendo que Bóris, parado em um canto da sala, observava como ia o serviço, Rubinho aproximou-se dizendo:

— Poderia mandar servir um copo com água gelada? Imediatamente o mordomo pediu ao garçom. Enquanto esperava,

Rubinho continuou:

— Gostaria de conversar com você em um lugar mais calmo. Bóris admirou-se:

— Comigo? Sobre o quê?

— Estudo sociologia. Gostaria de entender o que aconteceu na Rús­sia com a revolução. Você deve ter coisas muito importantes para contar.

— Coisas muito tristes, se quer saber. Quando falo nisso, sinto enor­me tristeza. Minha terra, tão linda, com um povo bom, religioso, inteli­gente, dominada por aqueles bárbaros!

— Gostaria de conversar mais com você. Quando é sua folga?

— Às segundas-feiras.

— Quer ir almoçar comigo na próxima segunda-feira? Bóris olhou-o um pouco assustado.

— Não posso. Tenho muitos compromissos nesse dia. Obrigado pelo convite.

Dizendo isso, afastou-se e Rubinho seguiu-o com os olhos. Daniel aproximou-se perguntando:

— E então?

— Convidei-o para almoçar no dia de sua folga e ele não gostou. Cor­tou a conversa e foi embora.

— Teria desconfiado?

— Não. Nem sequer toquei naquele assunto. Disse que estudava so­ciologia e gostaria de obter informações sobre a revolução. Aí, ele mudou. Percebi que se retraiu.

— Não vamos conseguir nada dele. E se tiver sido cúmplice?

— Vamos pedir a Jonas para investigar a vida dele. Laura aproximou-se com um sorriso:

— Lanira disse que você gosta de dançar, e está aí, parado. Não está gostando da festa?

— A festa está ótima. É que está muito calor e isso tira a disposição de dançar

— Não é o meu caso.

— Dá para notar — tornou Rubinho. — Você está acalorada!

— Ia convidá-la para dançar — disse Daniel —, mas diante disso acho mais agradável darmos uma volta no jardim. Que tal?

— É uma boa idéia.

— Você vem, Rubinho? — perguntou Daniel.

— Não. Acabei de ver Julinho. Vou cumprimentá-lo.

Os dois saíram para o jardim conversando animadamente. A noite estava bonita e o perfume das flores tornava-a mais agradável.

— Vocês têm um jardim maravilhoso — comentou Daniel.

— É a paixão de minha mãe. Ela adora plantas. Diz que elas preci­sam de amor, como as pessoas.

— Este jardim sempre foi muito bem cuidado. Inclusive no tempo de D. Carolina.

— Segundo sei, ela também gostava de plantas.

— Minha mãe era muito amiga dela e freqüentava esta casa quan­do ela ainda era viva. Em casa temos um retrato dela. Era uma mulher mui­to bonita. Vocês devem ter fotos no álbum de família.

— Não temos. Meu pai ficou muito sentido com a tragédia e se des­fez de todas as fotos.

— Do pequeno Marcelo também?

— Também. Não queria nada que lembrasse os dolorosos aconteci­mentos daqueles tempos.

— Segundo minha mãe, a morte de Marcelo abalou toda a socieda­de. Ela foi ao enterro e se comoveu muito com a dor dos pais dele e do Dr. Antônio. Foi acidente, não é?

— Parece que foi. Meus pais ficaram muito chocados na ocasião. Por causa disso esse assunto virou tabu em casa. Nunca o mencionamos. Afinal, já faz muito tempo, e eles conseguiram esquecer.

— Ainda bem.

Ela mudou de assunto e Daniel não insistiu. Laura não sabia de nada e ele estava perdendo tempo conversando com ela.

Assim que se encontrou com Rubinho e Lanira, foi taxativo:

— Inútil querer descobrir alguma coisa aqui. Laura não sabe nada da­queles tempos. E Bóris não vai falar. Temos que pensar em outra coisa.

— Também acho — concordou Rubinho. — Os moços ignoram o assunto e quem sabe não vai dizer nada.

— Acha que Bóris sabe de tudo? — inquiriu Lanira.

— Tenho a impressão de que sim. Mas não vamos conseguir nada dele.

— Segunda-feira vamos pesquisar os jornais e contratar Jonas — disse Daniel.

— Alberto está ansioso e não quer esperar muito para iniciar a ação. Se quisermos levar esse caso adiante, temos que nos preparar bem — tor­nou Rubinho.

— Vai ser uma bomba! — exclamou Lanira.

— Vai. Mas vamos detoná-la — considerou Daniel.

— Hum! Sinto um friozinho na barriga só em pensar no escânda­lo. Será um prato cheio para os jornais. Vocês não têm medo? — pergun­tou Lanira.

— Quando aceitamos o caso, sabíamos disso — respondeu Daniel.

— É. Conversamos a respeito e assumimos a responsabilidade. Nós acreditamos na história dele.

— E se ele estiver enganado? Olhando D. Maria Júlia e o Dr. José Luís, é difícil acreditar que eles tenham feito tudo isso com a própria fa­mília — tornou Lanira.

— As aparências enganam — contrapôs Rubinho. — As provas que Alberto possui são convincentes para mim. Eles simularam a morte do menino e suspeito até que tenham a ver com o "acidente" que vitimou os pais dele.

Lanira abriu a boca para responder e fechou-a de novo. Seus pais se aproximavam:

— Já nos despedimos e vamos embora — disse Maria Alice. — Vo­cês vão ficar?

Foi Daniel quem respondeu:

— Iremos em seguida.

Eles se foram e os três, percebendo que nada mais havia para fazer ali, despediram-se e saíram.

Uma vez na rua, continuaram conversando, fazendo planos para co­meçar as investigações no início da semana.

Capítulo 7

Na segunda-feira seguinte eles chamaram Jonas ao escritório e encar­regaram-no de investigar a vida da família Camargo. Resolveram que en­quanto esperavam não tomariam nenhuma providência legal, tentando encontrar as provas de que precisavam.

A custo conseguiram convencer Alberto a esperar. Ele estava impa­ciente, dizendo ter a certeza de que não havia mais nada a fazer senão abrir o processo. Entretanto, Daniel e Rubens não queriam arriscar-se a perder. A derrota em um caso desses iria levá-los ao descrédito. Por outro lado, a vitória iria dar-lhes fama e credibilidade. Era uma cartada ousada e eles queriam jogar da maneira certa.

Duas semanas depois, Jonas procurou-os levando uma pasta na qual além dos jornais da época havia as informações que ele conseguira obter.

A notícia do acidente que havia vitimado Marcelo. Várias notas sobre a saúde do Dr. Antônio Camargo depois da morte do neto e por fim seu passamento, vitimado pela dor que o abateu. Havia ainda notí­cias do acidente de barco, um ano depois, ocorrido em uma pequena ci­dade da Itália.

— Interessante observar — disse Rubinho — que, um ano e meio depois da morte de Marcelo, todos haviam morrido. Tudo aconteceu mui­to depressa!

— O que vocês não sabem é que, na data em que aconteceu o aci­dente com os pais de Marcelo, o Dr. José Luís e a esposa também esta­vam na Europa. Inclusive levaram o mordomo! Aliás, eles sempre via­jam com ele!

Daniel e Rubinho entreolharam-se admirados.

— Bem que eu desconfiava desse acidente! — observou Rubinho.

— Talvez você esteja exagerando — tornou Daniel.

— É, pode ser. Mas não deixa de ser uma hipótese plausível.

— Concordo — disse Jonas. — Nada mais conveniente para eles do que esse acidente. Mas eles estavam na França nessa data.

— Nesse caso, não tiveram nada com o acidente — aventou Daniel.

— Eu não acho. Quem nos garante que Bóris não tenha feito esse "serviço"? — sugeriu Rubinho.

— Ou contratado alguém — tornou Jonas.

— Não podemos fantasiar. Temos que nos ater às provas. O que es­tão fazendo são meras suposições — disse Daniel.

— Temos que aventar todas as hipóteses. Não se esqueça de que

quem teve coragem para fazer o que fizeram com Marcelo e a própria fa­mília é capaz de tudo.

— Investiguei a vida de Bóris. Ele pertencia à nobreza russa. Perdeu

a família e tudo que possuía na revolução. Nada pude descobrir sobre ele durante o tempo em que perambulou pelo mundo depois disso. Sei que che­gou ao Brasil trazido pelo Dr. José Luís, e desde então eles não fazem nada sem ele. Nunca se casou. Relaciona-se com uma alemã, que mora em uma bela casa, aonde ele vai em seus dias de folga. Tem dinheiro no banco, um belo automóvel e gosta de luxo.

— O Dr. José Luís deve ser muito generoso — comentou Rubinho.

— É de admirar, pois não é o que se comenta em sociedade, em que ele é tido como mão-fechada. É difícil arrancar dinheiro dele — esclare­ceu Jonas.

— Por que está sendo tão generoso com Bóris? — perguntou Rubinho. Daniel abanou a cabeça pensativo, depois respondeu:

— Isso é suspeito, na verdade. Precisamos ir mais fundo. A chave do problema pode estar aí.

— Estive pensando em ir a São Paulo ver o que descubro sobre a ama. Mas se preferem seguir essa pista primeiro, verei o que posso fazer.

— Vigiar Bóris, saber o que faz além de ser mordomo. Ele deve de­sempenhar outras atividades para o patrão.

— O Dr. José Luís tem se ocupado mais em desfrutar da vida social do que em trabalhar. A clínica que montou, com dinheiro da herança, é uma das primeiras da cidade, mantém em seus quadros profissionais de alto nível. Ele comparece apenas para cuidar da parte gerencial, não trabalha mais com os pacientes. A clínica é procurada por pessoas importantes. Os preços são caros e o atendimento, diferenciado. Suas finanças vão muito bem — informou Jonas. — Tanto ele quanto a esposa são muito estima­dos. Vai ser difícil conseguir saber o que vocês querem.

— Você quer dizer que podemos estar sendo enganados? — pergun­tou Daniel.

— Não. De forma alguma. Os fatos que sabemos indicam que eles não são o que parecem ser. Estou habituado com isso. As pessoas não que­rem mostrar sua maldade e se cobrem com atos de aparência. Pura facha­da. O que eu quis dizer é que eles fizeram isso tão bem que está sendo difícil apanhar o fio da meada. Mas isso para mim é um desafio, e eu gosto de vencer os desafios — respondeu Jonas.

— Então continue mais um pouco nessa pista. Deixe sua pasta co­migo. Quero estudar um pouco mais — pediu Rubinho.

— Está bem. Já vou indo. Darei notícias!

Ele saiu e os dois apanharam a pasta. Sentados lado a lado, começa­ram a examinar minuciosamente os recortes, anotando datas, informações. Eles queriam conhecer todos os detalhes, imaginar todas as hipóteses para cercar os vários lados do caso, preparando-se para qualquer eventualida­de, no decorrer do processo.

Lanira olhou-se no espelho com satisfação. O tom verde-escuro fi­cava-lhe muito bem. Ia encontrar-se com Gabriel. Desde a festa que ele a procurava, ora convidando-a para um cinema, ora para um sorvete na confeitaria ou mesmo uma conversa no clube.

Iria passar em sua casa às sete. Quinze minutos antes ela já estava pron­ta e desceu para esperar. Vendo-a, Maria Alice olhou-a com satisfação.

— Vai sair?

— Vou. Gabriel vai passar aqui às sete.

— Vocês estão namorando?

Ela abanou a cabeça negativamente.

— Não é nada disso. Somos apenas amigos.

— Quer dizer que ele ainda não se declarou?


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