Ah, sim, aqui estamos. Scholem diz que a tradição judaica "fala de 36 tzaddikim, ou homens justos, sobre os quais, embora sejam desconhecidos ou estejam ocultos, se apóia o destino do mundo". — Lia examinando mais abaixo a página. — "Já nos Provérbios bíblicos de Salomão, encontramos a afirmação de que os justos são os sustentáculos do mundo, e desse modo, por assim dizer, sustentam o mundo."
Espere, rabino Mandelbaum. — Era TC, de repente sentada na beira da cadeira. — Onde nos Provérbios está essa referência?
Devagar, o rabino folheou uma página para trás.
— Capítulo 10, versículo 25.
Num instante, ela enfiou a mão na mochila e retirou sua pilha de Post-its escritos por conta das pistas das mensagens de texto que os levaram aos Provérbios 10. Folheou-os até encontrar o que queria. Sorriu e passou-o a Will. Versículo 25: Quando passa a tormenta, desaparece o perverso, mas o justo descansa sobre fundamentos duráveis.
Fundamentos — disse em voz baixa. Depois, olhando para Will: — Os justos são os alicerces sobre os quais se apoia o mundo. Sem eles, o mundo entra em colapso.
Tova Chaya resumiu muito bem. Há alguma divergência sobre a origem da idéia. Alguns estudiosos acham que remonta à discussão de Abraão com o Todo-Poderoso sobre o povo de Sodoma.
TC percebeu que Will não sabia nada dessa discussão de Abraão e que o rabino Mandelbaum não parecia propenso a explicá-la. Tomou então a palavra.
— Basicamente, Deus ia destruir toda a cidade de Sodoma porque o povo havia se tornado pecaminoso — disse, mais ansiosa para esclarecer do que começar uma nova discussão com o antigo professor. — Abraão tenta fazer um acordo, propondo que se ele conseguir achar cinqüenta pessoas boas dentro na cidade, Deus devia poupá-la por causa delas. Deus concorda e Abraão começa a negociar. Nesse caso, pergunta, se a salvaria por cinqüenta, então que tal quarenta? Deus também concorda mais uma vez. Continuam negociando até Abraão por fim dobrar Deus, reduzindo para dez as pessoas boas. Muito bem, disse Deus. Encontre para mim dez homens justos e salvarei Sodoma. Assim se estabelece o princípio de que, enquanto houver pessoas verdadeiramente justas, o resto de nós ficará bem. Estamos salvos porque elas existem no mundo.
O rabino Mandelbaum continuou.
Há alguma discordância sobre os números exatos. Uns dizem 30, outros 45. Mas do século IV em diante, estabeleceu-se o número em 36. É como escreve o rabino Abaye "não existe mais do que 36 pessoas justas em cada geração sobre a qual se apoia a Shekhina.