Sam bourne o código dos justos


OITO QUARTA-FEIRA, 15H13, ESTADO DE WASHINGTON



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OITO
QUARTA-FEIRA, 15H13, ESTADO DE WASHINGTON
O vôo sobre o estado de Washington fora breve, embora aos solavancos, e a ida de carro, saindo de Spokane, deslumbrante. As montanhas chegavam quase a ser exageradamente belas, cada cume polvilhado de neve que parecia feita do mais refinado açúcar. As árvores, fileiras e fileiras, eram retas como lápis e tão densamente amontoadas que a luz que filtrava por entre elas parecia piscar.

Ele se dirigia para leste, logo cruzando a divisa com o estado de Idaho — ou pelo menos a longa e esguia parte superior do estado onde os Estados Unidos parecem se encontrar com o vizinho do norte, o Canadá. Passou por Coeur d'Alêne, que se assemelhava com uma al­deia de esqui suíça, mas que era mais famosa como sede de um movi­mento racista conhecido como Nações Arianas. Will vira as fotos nos recortes: homens vestidos de uniformes quase nazistas, a plaqueta "só brancos” na entrada. Seria uma fascinante parada, mas ele não saiu da estrada. Will já tinha um algum lugar certo para onde ir.

Seu destino, ficava no outro lado de Idaho, na parte ocidental de Montana. As estradas eram estreitas, mas ele não se sentiu frustrado. Adorava dirigir pelos Estados Unidos, a terra das estradas sem fim.

Adorava as placas e os outdoors, em que se promoviam lojas de mó­veis a quase sessenta quilômetros de distância; adorava as paradas de descanso Dairy Queen; os adesivos de pára-brisas, sobre política, reli­gião e as preferências sexuais dos colegas motoristas. Além disso, pla­nejava seu ataque.

Já falara com Bob Hill, que o esperava. Hill, devidamente, corres­pondera à caricatura da mídia de um caipira louco por armas. Pediu o nome completo de Will e sua carteira de identidade:

— Assim posso ver quem cê é. Ter certeza de que cê é quem diz.

Will tentou imaginar o que Bob descobriria sobre ele olhando seus documentos. Britânico? Até aí, tudo bem. Os americanos em geral gos­tavam dos britânicos. Embora detestassem bichas européias, desmunhecadas, os britânicos eram legais: uma espécie de americanos honorários. Pai juiz federal? Isso poderia ser problemático; as autoridades federais eram desprezadas. Mas os juízes nem sempre se enturmavam com o resto dos odiados burocratas que representavam "o governo". Alguns eram até vistos como os protetores da liberdade, defendendo-se da inva­siva mão dos políticos. Contudo, se Hill examinasse, encontraria mui­to na ficha do Juiz Monroe que o ofenderia. Will desejou que o anfitrião não fosse muito fundo.

Que mais?

Pais divorciados: isso talvez aborrecesse os homens da milícia. En­tendam, ali não era o Alabama; os sobrevivencialistas não eram como os da direita cristã. Havia alguma semelhança, mas não eram idênticos.

O devaneio terminou assim que ele viu as placas. "Bem-vindo a Noxon. População: 230." Baixou os olhos para a anotação que tinha no colo: as coordenadas de Hill. Precisava virar à esquerda no posto de gasolina, seguir uma estrada que se tornaria uma trilha. A caminhone­te começou a balançar de um lado para o outro nos sulcos de lama, merecendo, ou assim Will gostava de pensar, o valor extra que ele — e, portanto, o Times — tivera de pagar.

Logo chegou a um portão. Nenhuma placa. Ia telefonar para Hill, como combinado, mas estava a meio caminho de digitar o número quan­do um homem apareceu na frente do seu pára-brisa. Sessenta e poucos anos, jeans, botas de caubói, jaqueta surrada; sério. Will saltou do carro.


  • Bob Hill? Will Monroe.

  • Então nos encontrou fácil?

Will elogiou as orientações de Hill, tentando quebrar o gelo com uma bajulação descarada. O anfitrião grunhiu sua aprovação enquan­to se arrastava para um barranco de terra acima, em direção ao que parecia uma densa área florestal. Quando eles chegaram mais perto, Will começou a vislumbrar um ponto de luz: uma cabana, muito bri­lhantemente camuflada.

Hill olhou para sua cintura, onde um molho de chaves pendia de um ilhós no cinto. Conduziu-o ao interior.

— Tem uma poltrona ali. Fique à vontade. Tenho uma coisa para lhe mostrar.

Will usou os poucos segundos que tinha para olhar em volta: um escudo de metal na parede, exibindo uma insígnia com alguns elemen­tos militares. Franziu os olhos: MM. Milícia de Montana. Viam-se al­gumas fotografias emolduradas, incluindo uma do anfitrião exibindo a cabeça de um cervo. Nas prateleiras de metal, uma caixa de folhetos. Ele bisbilhotou dentro: "A Ordem do Novo Mundo: Operação Toma­da do Poder."

— Fique à vontade, pegue um. — Will deu uma brusca meia-volta e encontrou Bob Hill bem atrás dele. Ex-fuzileiro naval, Vietnã; claro que saberia como se aproximar furtivamente de um mero civil como ele. — Eu mesmo escrevi. Com a ajuda do finado Sr. Baxter.

— Então ele estava... profundamente envolvido?

— Como eu lhe disse ao telefone, um excelente patriota. Pronto a fazer o que quer que fosse necessário para garantir a liberdade desta nação... embora sua nação tivesse sido enganada demais, o cérebro es­tragado demais pela propaganda da elite de Hollywood, para com­preender que a liberdade dela achava-se sob ameaça.

— O que fosse necessário?



  • Por qualquer meio necessário, Sr. Monroe. Sabe quem disse isso, não sabe? Ou foi antes de sua época?

  • Foi antes de minha época, mas eu sei. Este era o lema dos Pante­ras Negras.

  • Muito bem. E se foi bom para eles na luta contra o "poder bran­co", é bom o bastante para nós em nossa luta para manter os Estados Unidos livres.

— Quer dizer violência? Força?

— Sr. Monroe, não ponhamos o carro adiante dos bois. Pode me fazer todas as perguntas que quiser, tenho muito tempo. Mas primeiro preciso lhe mostrar uma coisa. Ver se isso interessa aos grandes inte­lectuais do New York Times, da Costa Leste.

A essa altura sentara-se atrás de uma velha escrivaninha de metal surrada que não pareceria deslocada no escritório de uma oficina de automóveis. Entregou a Will, ainda em pé, duas folhas de papel gram­peadas.

Will levou alguns segundos para entender o que olhava. As anota­ções da necropsia realizada no cadáver de Pat Baxter.



  • Missoula enviou por fax esta manhã. Missoula, a cidade grande mais próxima.

  • O que diz?

— Oh, não queira que eu estrague a surpresa. Acho que você mes­mo deveria ler.

Will sentiu uma pontada de pânico: era o primeiro relatório de necropsia que via na vida. Quase impossível decifrar. Cada título estava escrito em confusa linguagem médica; a caligrafia do restante do docu­mento era igualmente inescrutável. Ele se viu lutando contra o papel.

Finalmente, entendeu uma frase.

"Grave hemorragia interna compatível com ferimento provocado por projétil; contusões da pele e vísceras. Observações gerais: marca de agulha na coxa direita, sugestiva de anestesia recente."

— Ele foi baleado — começou Will, inseguro. — E parece ter sido anestesiado antes de levar o tiro. O que parece muito estranho, admito.

— Ah, mas há uma explicação. Continue a leitura, Sr. Monroe.

Will esquadrinhou o documento, à procura de pistas. A caligrafia rabiscada, enviada por fax, não facilitava em nada.

— Segunda página — propôs Hill. — Observações gerais.



  • Lesão nos órgãos internos: fígado, coração e rim (único) grave. Outras vísceras fragmentadas.

  • O que lhe salta aos olhos, Sr. Monroe? Quero dizer, que palavra salta e se destaca?

Will quis dizer "vísceras", apenas porque a palavra era inegavelmente poderosa. Mas sabia que não era a resposta que Hill procurava.

— Único.


— Mas ora veja só, vocês, garotos de Oxford, são tão espertos quan­to dizem. — Hill não estava brincando quando falou em pesquisar so­bre Will. — Correto. Único. O que acha que aconteceu, Sr. Monroe? Que estranho conjunto de fatos os mais excelentes de Montana até agora pre­feriram ignorar? Bem, vou lhe dizer.

Will sentiu-se aliviado; o jogo de adivinhação fazia-o suar.

— Meu amigo, Pat Baxter, foi anestesiado antes de ser morto. E seu corpo foi encontrado sem um rim. Some dois e dois, e o que temos?

Will resmungou quase consigo mesmo:

— Quem fez isso removeu o rim dele.

— Não só isso, mas foi por isso que o mataram. Quiseram fazer parecer um roubo, um "arrombamento desastrado", como disseram na TV. Mas tudo isso é uma cortina de fumaça. A única coisa que queriam era roubar o rim de Pat Baxter.

— Por que diabos iam querer fazer isso?


  • Ora, Sr. Monroe. Abra os olhos! Trata-se de um governo federal que vem fazendo experiências com biochips! — Percebeu que Will não acompanhava o seu raciocínio. — Códigos de barra implantados sob a pele! Para monitorar nossos movimentos. Há razoáveis indícios de que eles têm feito isso com recém-nascidos, bem ali na enfermaria da mater­nidade. Um sistema de etiquetagem eletrônica que permite ao governo acompanhar-nos do berço à sepultura... muito literalmente.

  • Mas por que iriam querer o rim de Pat Baxter?

  • O governo federal percorre caminhos misteriosos, Sr. Monroe, para realizar suas ações. Talvez quisessem implantar alguma coisa no corpo de Pat e o plano tinha dado errado. Talvez o anestésico tenha acabado e ele tenha começado a resistir. Ou talvez tenham posto algu­ma coisa dentro do corpo dele anos atrás. E agora precisavam recuperá-la. Quem sabe? Talvez os federais apenas quisessem examinar o DNA de um dissidente, ver se podiam descobrir o gene que forma um verdadeiro americano amante da liberdade e trabalhar para erradicá-lo.

  • Isso parece meio forçado.

  • Admito. Mas estamos falando de um complexo industrial-mili­tar que gastou milhões de dólares em técnicas de controle da mente. Sabe que eles tinham um projeto secreto no Pentágono para ver se os homens conseguiam matar cabras simplesmente olhando para elas? Não estou inventando isso. Portanto, pode ser forçado. Mas aprendi que algo for­çado e uma inverdade são duas coisas muito diferentes.

Will acabou conduzindo Hill para águas mais calmas e sãs à procu­ra de detalhes da vida de Baxter que sabia que ia precisar. Obteve al­guns, inclusive uma história pregressa sobre o pai do morto: a verdade era que o pai de Baxter fora um veterano da Segunda Guerra Mundial que perdera as mãos. Sem poder trabalhar, ficara desesperado; mal con­seguia alimentar a família com a pensão de ex-combatente. Hill reco­nhecia que Baxter tinha sido criado com ressentimento contra um governo que mandava um jovem para matar e morrer pelo país e depois o abandonava quando ele voltava para casa. Quando a história se re­petiu com a própria geração de Baxter no Vietnã, o ressentimento che­gou ao ápice.

Isso cairia muito bem, servindo como a chave psicológica fácil de digerir e necessária a todas as boas reportagens — tanto nos jornais quanto nos filmes. A matéria começava a tomar forma.

Ele pediu a Hill que o levasse até a cabana de Baxter. Usaram o car­ro de Will, o motor acelerando para vencer o caminho acidentado. Logo Will viu a cor — a fita amarela de um cordão de isolamento policial.

— Só podemos chegar até aqui. É o local do crime. — Will enfiou a mão no bolso. Como se lesse sua mente, Hill acrescentou: — Mesmo sua elegante credencial da imprensa de Nova York não lhe dará aces­so. Está lacrada.

Will desceu do carro, só para sentir a situação. Pareceu-lhe um abri­go: uma cabana de toras, do tipo que uma família abastada poderia usar para estocar lenha. As dimensões tornavam difícil acreditar que um homem fizera dela seu lar.

Pediu a Hill para descrever o interior o melhor que pudesse.

— É fácil — disse ele. — Não tinha quase nada lá dentro: uma cama estreita de metal, uma poltrona, um fogão e um rádio de ondas curtas.

— Parece uma cela.

Pense num alojamento militar; é o que parecia. Pat Baxter vivia como um soldado.


  • Espartano, quer dizer?

  • Sim, senhor.

Will perguntou com quem mais ele poderia falar. Amigos, família...

— A Milícia de Montana era a sua única família — disparou de volta Hill, um pouco rápido demais, pensou Will. — E até nós o conhecía­mos pouca A primeira vez que vi esta cabana foi quando a polícia me trouxe aqui. Queriam que eu identificasse quais roupas eram dele e quais poderiam ter sido deixadas pelos assassinos.

— Assassinos, no plural?

— Não acha que alguém começa a fazer uma importante cirurgia como essa, sozinho, acha? Teriam precisado de uma equipe. Todo ci­rurgião precisa de uma enfermeira.

Will deu uma carona a Bob Hill de volta à cabana dele. Desconfia­va que, embora seu escritório fosse básico, sua casa ficava em outro lugar — e não devia ser tão despojada quanto a de Baxter. O morto era claramente uma espécie extrema de extremista.

Despediram-se, trocaram e-mails, e Will continuou sua viagem. Bob Hill obviamente era maluco — DNA para dissidência, ora vejam —, mas aquele negócio do rim era definitivamente estranho. E por que iriam os assassinos de Baxter dar-lhe uma injeção?

Ele saiu da Rodovia 200 para abastecer o carro e o estômago. En­trou num restaurante e pediu um refrigerante e um sanduíche. Tinha uma TV ligada, sintonizada na Fox News.


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