CINQÜENTA E UM
SEGUNDA-FEIRA, 0H13, MANHATTAN
O primeiro instinto de Will foi observar. Acostumara-se a olhar, ver como as coisas se desenrolavam. Portanto, levou um ou dois minutos até que percebesse que não poderia apenas observar. Teria de seguir o perseguidor.
E ser cauteloso. Não havia quase ninguém em volta; ele seria notado. Então se manteve bem atrás, andando o mais silenciosamente possível. Amaldiçoava os sapatos de couro preto que usava: faziam barulho demais. Tentava impedir que os saltos batessem na calçada, para abafar o ruído.
Mas o homem que seguia à frente parecia com pressa quando entrou na Henry Street. Não estava correndo, mas num andar veloz que não lhe dava tempo algum de olhar para trás. Isso fortaleceu Will; pôs-se a andar mais rápido, esforçando-se para manter menos de uma quadra de distância entre os dois.
O perseguidor levava uma sacola de couro preto, a alça pendurada como uma faixa atravessada no ombro oposto. Bem-arrumado e autoconfiante, movia-se com agilidade. Will não era nenhum especialista, mas se surpreenderia se o cara à frente não fosse algum tipo de militar.
A essa altura, já atravessara a Clinton com a Jefferson. Aonde ia? Ao encontro de um carro de fuga? Se assim fosse, por que não o pegara antes? Talvez se encaminhasse para uma estação do metrô. Will amaldiçoou seu limitado conhecimento de Nova York: não tinha a menor idéia se havia uma estação do metrô perto dali.
Sem aviso, o homem de repente olhou para trás. Will viu o movimento da cabeça e, sem sequer pensar, saiu da calçada em direção aos degraus do bloco de apartamentos por que passava. Ao mesmo tempo, enfiou a mão no bolso e pegou as chaves. O que o perseguidor teria visto era um homem entrando em seu prédio. Ele seguiu em frente; Will suspirou profundamente. Prendera a respiração.
Agora o homem à frente fazia uma fechada curva à direita. Will tentou se posicionar de maneira a não ficar no campo visual dele.
— Ei, sou Ashley! Você tem meu telefone?
Ele não as tinha visto se aproximarem, mas estavam bem ali diante dele. Três adolescentes negras, tomando toda a calçada. Will tentou desviar-se ao passar, mas as meninas estavam dispostas a divertir-se um pouco.
— Por que a pressa, bonitão? Não gosta da gente? Não acha a gente legal?
E as duas outras caíram na gargalhada. Ele olhou acima de suas cabeças e viu o perseguidor dirigindo-se para uma rua lateral rumo a East Broadway. Não conseguia se desvencilhar das meninas.
— Ei, estou aqui, gatão!
Era a líder do bando, agora acenando a mão na cara de Will. Se ele houvesse nascido em Nova York, tinha certeza de que as empurraria para o lado com um curto e grosso: "Se mandem, porra." Mas mesmo ali, em missão para impedir um assassinato na calada da noite, continuava sendo inglês.
— Com licença, eu preciso passar. Por favor.
Com isso, contornou Ashley e companhia, enquanto ouvia mais zombarias e gritaria às suas costas.
— Minha amiga quer te dar o número dela!
Will agora tinha começado a correr, desesperado para alcançar o homem. Chegou à esquina e virou à direita, examinando a rua acima e abaixo em busca da presa. Um casal se beijava num alpendre. Mas nenhum sinal do perseguidor.
Ele via apenas dois prédios não residenciais; o homem poderia ter fugido para um dos dois. Sem dúvida ainda não havia chegado a East Broadway; caso contrário, ele o teria avistado. Diminuiu o passo, olhando para atrás, consciente de que aquilo era exatamente como caminhar para uma emboscada. Após 15 passos, desistiu: claramente perdera o homem que precisava seguir. Ele devia ter escapado para dentro de um daqueles dois prédios, em lados opostos da rua. Will agora se achava perto o suficiente para ver o que eram. Um, a Igreja do Cristo Renascido; o outro, uma sinagoga — afiliada aos hassídicos de Crown Heights.
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