Sam bourne o código dos justos


QUINZE SEXTA-FEIRA, 16H10, CROWN HEIGHTS, BROOKLYN



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QUINZE
SEXTA-FEIRA, 16H10, CROWN HEIGHTS, BROOKLYN
Sua primeira reação foi de confusão. Saltou do metrô na Sterling Street e seguiu a pé direto para o que lhe pareceu um bairro negro: as revistas Ebony, Vibe e Black Hair à venda no jornaleiro, grafites em todas as paredes, grupos de rapazes negros em pé, com roupas largas em estilo militar.

Mas assim que atravessou a New York Avenue, sentiu o pulso ace­lerar, o sexto sentido de repórter lhe dizendo que se aproximava da matéria. Surgiram placas em hebraico. Algumas das palavras eram escritas em caracteres ingleses, embora o sentido não ficasse tão claro. Chazak V’Ematz!, prometia uma, enigmaticamente. Outra palavra apa­recia várias vezes, em adesivos de pára-choques, fôlderes, até em anún­cios colados em postes de luz, como aqueles de pessoas que procuram animais de estimação desaparecidos. Logo conseguiu decorar a pala­vra, embora não tivesse a mínima idéia de como pronunciá-la: Moshiach.

Em seguida, passou por um negro do tamanho de uma geladeira, com uma criancinha numa das mãos e um cigarro na outra. Will ficou confuso novamente. Encontrava-se agora no Empire Boulevard, notan­do restaurantes indianos e caminhonetes decoradas com a bandeira na­cional de Trinidad e Tobago. Estava no bairro hassídico ou não?

Desviou-se para as ruas residenciais. As casas eram grandes, com fachadas de arenito pardo ou feitas de tijolos vermelhos e sólidos, como se num Brooklyn de muito tempo atrás elas houvessem sido, sem som­bra de dúvida, chiques, alinhadas. Cada uma tinha alguns poucos de­graus até a porta da frente, que ficava ao lado de uma varanda. Em outras casas americanas, imaginou Will, aquela área externa às vezes tinha uma cadeira de balanço, talvez algumas lanternas, e com certeza uma abóbora no Halloween, e quase sempre a bandeira dos Estados Unidos. Em Crown Heights, isso não parecia ser comum, embora mes­mo ali Will identificasse mais uma vez aquela palavra — Moshiach — em adesivos de janela — e uma vez numa bandeira amarela com a ima­gem de uma coroa, que ele julgou ser algum símbolo local.

Acima de cada entrada, via-se uma varanda, um andar acima, com uma balaustrada de madeira. Will pensou em Beth, presa atrás de uma daquelas portas: sentiu vontade de subir correndo os degraus de cada casa e bater numa porta atrás da outra, até encontrá-la.

Em sua direção vinha um grupo de meninas adolescentes de saias compridas, empurrando carrinhos de bebê. Atrás delas, umas dez cri­anças ou mais. Will não soube dizer se eram irmãs mais velhas ou mães excepcionalmente jovens. Não se assemelhavam a quaisquer mulheres que ele já tivesse visto antes, pelo menos não em Nova York. Pareciam de uma época diferente, talvez dos anos 1950, ou do reinado da rainha Vitória. Não havia qualquer parte do corpo à mostra, as mangas das blusas brancas, pudicas, cobrindo-lhes os braços; as saias batiam na al­tura dos tornozelos. E os cabelos: as mais velhas pareciam usá-los num coque sobrenaturalmente perfeito, que mal se mexia ao vento.

Will não quis olhar muito; não gostaria que ninguém pensasse que as encarava. Além disso, não precisava mais de confirmação. Era Crown Heights hassídico, tudo bem. Caminhando, montava seu disfarce, sua história de fachada. Diria que era redator da revista New York e fazia uma matéria para sua nova coluna "Comunidades da Big Apple", na qual pessoas de outros lugares escreviam sobre diferentes segmentos da maravilhosa diversidade de aspectos humanos, blablablá. Posaria como um verdadeiro explorador vestido para um safari, enviado para registrar as curiosas maneiras dos nativos.

E sem dúvida era uma paisagem estranha. Ele procurava, desespe­radamente, alguma coisa que pudesse dar-lhe um ponto de apoio — um escritório, talvez, onde pudesse descobrir quem era responsável por aquele lugar. Talvez pudessem explicar o que acontecera e o ajudas­sem. Precisava apenas de uma posição segura, alguma coisa naquela estranha região que pelo menos entendesse.

Mas não havia nada. Cada adesivo de pára-choques parecia trans­mitir uma mensagem que talvez valesse a pena decodificar, mas era impossível. Acenda velas no Shabat e iluminará o mundo! Viu o anúncio de um espetáculo: Prontos para a Redenção. Até as lojas pareciam fazer parte desse fervor religioso. O supermercado Kol Tov ostentava um slogan: Tudo é perfeito.

Continuou andando e parou em frente a uma loja cuja vitrine era mais cheia de avisos que mercadorias. Um deles logo chamou sua atenção.


Crown Heights é o bairro do rabino. Por respeito aeleeà sua comuni­dade, pedimos que todas as mulheres e meninas, moradoras ou visitan­tes, adotem em todas as ocasiões as leis de recato, ou seja:


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