VINTE E CINCO
SÁBADO, 11H53, MANHATTAN
Todo mundo os olhava diretamente ou fingia não olhar. TC tentava acalmar Will, que acabara de dar um soco na mesa e depois atirara uma xícara de café na parede. Um faxineiro surgiu com um pano úmido.
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Vamos tentar pensar direito — dizia TC.
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Como posso pensar direito? É uma ameaça de morte, porra.
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Ele talvez esteja tentando nos prevenir.
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Prevenir? Disse que vão matar Beth. — Will ergueu os olhos vermelhos.
O telefone vibrou mais uma vez. TC pegou-o primeiro, antes que Will tivesse qualquer chance. Pela primeira vez, uma frase correta.
Pra frente é que se anda
TC examinou-a apenas um segundo, antes de experimentar a alternativa do texto. Não fazia sentido algum. Não, concluiu, era um tipo diferente de pista. Talvez nem fosse uma pista. Talvez fosse apenas uma advertência. Apresse-se, não há tempo a perder. Virou a tela para Will poder ver. Isso de alguma forma o acalmou: ele não viu nenhuma ameaça direta. Parecia mais um apelo para que fizessem algo.
Ela examinou a mensagem por mais algum tempo, depois anotou-a na página de cima do bloco, logo abaixo das três primeiras mensagens. Will viu que ela escrevera com todo capricho a primeira versão, codificada, à esquerda, e depois a segunda, decifrada, à direita. Por um instante, imaginou TC na escola: a garota que sempre mantinha um estojo de lápis prontos para serem usados.
Enquanto ela mordia a caneta e olhava fixo o último enigma, tentando entendê-lo, ele tentava passar o tempo. Beliscava o resto da comida, roía as unhas, tamborilava os dedos na mesa; tentava ler o jornal, mas não conseguia concentrar-se. Ouviu um casal discutindo. "Eu não acredito em você," dizia a mulher ao homem. No instante em que ouviu essas palavras, ele se empertigou imediatamente na cadeira, lembrando aquela noite na Carnegie Deli. Beth dissera-lhe uma bela frase sem ironia, embora ele houvesse tentado estragar o momento com uma piada. "Acredito em você e eu", ela afirmara. De repente, desejou haver repetido as palavras para ela. Porque era verdade. Ela era sua fé.
O celular anunciou outra mensagem.
A dúvida é o princípio da sabedoria
Desta vez Will leu-a em voz alta. Sabia a resposta à pergunta seguinte, mas fez assim mesmo:
— Você decifrou a primeira: "Pra frente é que se anda?"
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Ainda não. A dúvida é o princípio da sabedoria. O que podia querer dizer isso? — TC anotava as palavras no canto de uma página já cheia de desenhos.
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Não consigo sacar o sentido — disse ele, mais para dizer alguma coisa. — É uma contradição. Na primeira mensagem, ele nos diz para não hesitar. Só para continuar mantendo o contato. Agora diz que é bom duvidar. Você sabe, só um idiota não tem dúvidas.
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Duvidar não é a mesma coisa que hesitar.
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Qual a diferença?
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Não sei. Estou tentando pensar. Ele quer nos dizer alguma coisa. Você sabe, "mexa-se". Ou "pense atentamente nas coisas". Não sei. Mas dá a impressão de que quer nos ajudar.
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Não. Se estivesse tentando nos ajudar, não ficaria se comunicando por meio de enigmas. Outra mensagem.
A felicidade não bate duas vezes à mesma porta
Assim que Will a leu em voz alta, TC começou a murmurar.
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Duas vezes é interessante. Talvez ele esteja mandando multiplicar alguma coisa. Talvez a gente esteja vendo tudo isso sob um prisma diferente. Talvez ele queira que a gente olhe as letras como números!
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Como?
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Você sabe, assim como funcionam as mensagens de texto, só que ao contrário. São letras e palavras formadas de números. Talvez essas sejam o contrário. Devemos pegar as letras e pensar nelas como números.
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Do que está falando?
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Bem, uma coisa podia ser contar o número de letras em cada pista. Esse número talvez seja significativo. Você sabe, A é um, B é dois.
Will sentia-se confuso, mas ela o ignorou. Escrevia freneticamente no bloco, computando, enlouquecida, uma soma após a outra. Mais uma mensagem; talvez um minuto após a anterior.
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