TRINTA E TRÊS
SÁBADO, 3H08, SAG HARBOR, NOVA YORK
A casa em Sag Harbor, pelo menos, não apresentou surpresas. A chave estava embaixo do vaso de flores, como sempre; o ambiente era bastante acolhedor, graças à eficiência do casal de caseiros que o pai de Will tinha contratado para manter tudo em ordem fora de temporada.
Ele circulou rapidamente, acendendo luzes, pondo água para esquentar no fogão, preparando chá. Pegou um pacote de biscoitos e afinal se sentou defronte de TC, vendo-a do outro lado da imensa e antiga mesa de carvalho que dominava a cozinha em estilo rústico da casa do pai.
Logo as lembranças voltaram a invadi-lo. Os longos invernos na escola, quando sentia cada um dos milhares de quilômetros que o separavam do pai. A alegria quando chegava um pacote no correio, quase sempre com uma deliciosa amostra de produtos da exótica cultura americana — talvez um pacote de chicletes ou, nunca faltava, uma bola de beisebol de couro. E depois a emoção quando era colocado num avião durante as férias de verão, "um menor desacompanhado" que ia ver o pai. Aquelas semanas de agosto em Sag Harbor, caçando caranguejos na praia ou comendo mariscos no cais, eram o ponto alto do ano para Will. Ainda sentia, ainda hoje, anos depois, um vazio no estômago quando setembro chegava, ameaçador, e ele seria levado de volta ao aeroporto — e afastado do pai por mais um ano.
Forçou-se a voltar ao momento presente. Ele começara a explicar tudo ainda no trem, mas agora explicava com todos os detalhes o que o afligia desde que recebera aquele telefonema. Era a primeira vez que ela ouvia falar de Jay Newell ou da conversa de Will com ele mais cedo naquela noite. Mas TC era uma aluna esperta; quando Will lhe contou sobre a mensagem de Jay, ela não precisou dele para juntar os pontos.
-
Então Baxter e Macrae foram drogados antes de ser assassinados; ambos eram considerados justos por pessoas que os conheceram; e, segundo YY e os Provérbios 10, se sua leitura disso estiver correta, é esse código dos justos que importa. O que de algum modo explica a trama hassídica sob um ponto de vista mais amplo. Por que levaram Beth, por que mataram o cara em Bancoc, por que puseram alguém para seguir você, ou a nós, esta noite. Em essência, essa é a teoria, não é?
-
É mais que uma teoria agora, TC. "2 abaixo: mais virão." "Mais mortes virão logo." Foi o que ele disse. Dirigia-se a mim diretamente! Tinha lido as matérias no Times e me dizia: "Muito bem, você resolveu duas delas, mas outras virão." O que significa que temos de associar isso com tudo o mais que vem acontecendo! Não está vendo?
-
Claro, eu vejo, sim. — Ela escolheu as palavras com cuidado. — Vejo que isso tudo parece estar associado. O problema é que... Ou melhor, o meu problema é que, pessoalmente, não consigo ver como juntar isso tudo, Macrae/Baxter/justo, que admito ser fascinante e incrível, às "outras" que supostamente virão.
Will desabou na cadeira.
— Não, Will. Não fique assim. É um grande progresso. Estamos quase chegando lá, tenho certeza. Escute, vamos dormir um pouco e depois examinaremos com calma essa última parte — disse ela, pondo a mão no ombro de Will e desencadeando uma avalanche de lembranças nos dois. — Nós vamos conseguir...
Dostları ilə paylaş: |