O homem jogou o facho de luz da lanterna pelo chão mais uma vez, notando um pedaço de papel amarelo que não tinha visto. Dizia: versículo 11. A boca do justo é uma fonte de vida; a do ímpio, porém, esconde injustiça.
Enfiou o papel no bolso e virou-se para Pugachov.
— Muito bem, filho. Agora é a sua vez.
Usou o revólver para gesticular em direção à porta.
Quando Pugachov ergueu a mão para a maçaneta, virou ligeiramente as costas e ficou lado a lado com o homem. Agora, lembrando o treinamento que recebera como antigo reservista do Exército Vermelho, tinha chegado o momento. Num instante, agarrou o mascarado pelo pulso e prendeu a arma dele embaixo do ombro, logo derrubando o homem no chão.
A arma caiu, Pugachov estendeu a mão para pegá-la e foi chutado, com força, nos colhões. Dobrou-se em dois e sentiu um braço em volta do pescoço. Tentou soltar-se lançando com ímpeto os cotovelos para trás, mas não conseguiu se mover. Viu-se preso numa chave de pescoço, e o homem que o segurava parecia ter uma força sobre-humana. Pugachov sentia a respiração dele em sua orelha.
De algum modo, e só com supremo esforço, conseguiu girar o braço direito, desprendê-lo e levá-lo à cabeça do homem. Mas não a tocou. Balançou as mãos até finalmente agarrar alguma coisa. Levou um segundo para perceber que não eram cabelos. Pelo canto do olho, viu o que segurava: ele tinha arrancado a máscara do homem.
De repente, o golpe de pescoço se afrouxou. Pugachov tombou, quase sufocando. Já não era mais a máquina de luta bem condicionada da juventude; aquele período de serviço militar no Afeganistão havia ficado no passado longínquo. Talvez o mascarado tivesse percebido isso; talvez entendesse que ele não poderia causar nenhum dano grave e o deixasse ir embora.
— Acho que acabou de cometer um grande erro, meu amigo.
Pugachov ergueu os olhos e viu um homem muito mais jovem do que ele esperava. Agora sem a máscara, o zelador viu que os olhos eram do mais excepcional azul que já vira, quase feminino. Pareciam emitir raios de luz brilhante e incisiva.
Não teve muito tempo para encará-los, porque sua visão logo se obscureceu — pela boca do que reconheceu ser um silenciador apontado direto entre seus olhos.
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